Royal Hearts escrita por Cams, Tamires, nat


Capítulo 18
Celeste - Problem Parte III


Notas iniciais do capítulo

Olaaaaaa leitores amados da Royal Hearts!! Sei que estamos meio sumidas mas saibam que ainda estamos vivas.. kkkkk Como sempre eu demorei a dar a luz pra este capítulo mas ele finalmente nasceu e chegou pra arrasar e alegrar vocês.. kkk Como sempre tbm ele foi feito com muuuuuito amor e carinho, além de ter ficado maior do que os meus capítulos costumam ser.. Estão aproveitem!!
Beijos, Tatá..



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O vestido tremulou um pouco e minha perna ficou à mostra pela fenda do tecido leve enquanto eu descia a pequena escada do palco. Tom estava conversando animadamente com o grupo de pessoas que eu não identifiquei, quando me viu ele demonstrou que viria ao meu encontro mas eu apenas acenei e segui na direção oposta. Eu finalmente sentia os efeitos das taças que havia tomado na euforia e raiva sentidos antes da apresentação. Um dos meus joelhos bambeou ligeiramente e eu busquei apoio na parede mais próxima.

Além disso, o que mais girava era minha mente e isso não tinha nada a ver com o álcool. Todos os acontecimentos da noite voltavam a minha mente, noite essa que provavelmente estava longe de acabar. Me lembrei das palavras de Dimitri, tão caloroso e incisivo, o desejo de ser o escolhido latente, pulsando em suas veias e em cada uma de suas palavras enquanto ele declarava seu amor. Eu nunca havia visto alguém inteiramente dedicado a mim como ele demonstrou ser. Mesmo eu sendo uma princesa sempre tive que dividir a atenção com meus irmãos, com Amberly por ser a primeira princesa e com meus irmãos por serem os próximos na linha de sucessão. Eu sempre era a princesinha Celeste que todos achavam fofa mas que ninguém olhava muito bem.

As lembranças da discussão com Julian também vieram à minha mente me fazendo repensar em tudo que dissemos. Nos momentos em que estava me arrumando para a apresentação a raiva ainda me fazia não querer vê-lo, porém depois do seu apoio antes de minha apresentação tudo se dissipou. Eu havia me sentido tão insegura ao entrar no salão e ver todos os olhos se desviarem de mim, aquele seria um dos únicos momentos que eu teria a chance de me destacar por um talento que eu tinha escondido por tanto tempo e que agora parecia estar sendo tirado de mim. Eu não culpava meu tio nem ninguém, mas a dor da rejeição me machucou mais do que eu imaginei.

Por fim eu achei que só o álcool poderia me dar a coragem necessária para me apresentar mas quando dou por mim lá estava Julian, me apoiando e incentivando, me fazendo rir quando tudo que eu queria era desaparecer. Um verdadeiro príncipe. Não pude evitar o pensamento que veio logo em seguida: “queria que Shalon também fosse assim.” Apesar de não sermos tão próximos, eu o amava tanto quando amava Jules e sentia falta de uma época no passado em que erámos apenas três crianças correndo pelo palácio, irmãos que conseguiam manter uma relação da mais pura amizade. Quando foi que perdemos isso?

Balancei a cabeça como se isso fosse levar pra longe todos os pensamentos que me incomodavam, zunindo em meus ouvidos como moscas irritantes. “Foque no presente Celeste!” Tirei a mão da parede em que me apoiava e olhei em volta buscando qual deveria ser minha próxima ação e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa um olhar do outro lado do salão me prendeu.

Daniel estava perfeitamente ereto, parado perto de alguns outros guardas que conversavam animadamente, mas ao contrário deles que já olhavam para o lado de fora do palácio, onde a festa continuaria, o garoto tinha os olhos verdes pregados em mim. Quando ele notou que eu o havia visto abriu um sorriso. Mas não qualquer sorriso. Daniel abriu o sorriso mais terno que meus olhos jamais haviam visto o que provocou a reação instantânea em meu coração de disparar de maneira audível. Agradeci por ele estar longe o suficiente para não ouvir. Eu sorri de volta e ele indicou o palco com a cabeça e logo depois seus lábios formaram devagar a palavra que ele queria que eu entendesse mesmo à distância. “Perfeita!” Eu sorri completamente sem graça e fiz uma reverência que foi retribuída por ele que não parava de sorrir. Eu realmente não fazia ideia do que acontecia ali, no entanto algo forte dentro de mim me impelia a continuar. Após alguns segundos em que apenas permanecemos nos olhando eu fiz menção de ir até ele e antes que eu pudesse dar o primeiro passo duas mãos se fecharam em torno de um dos meus braços e guiaram meu corpo em um giro completo em torno de si mesmo.

Duplamente tonta, pelo giro e pelas taças bebidas algum tempo antes, eu quase não distingui a pessoa parada a minha frente com um sorriso que ia de orelha à orelha e os braços abertos me esperando para um abraço. Eu arfei e perdi o ar por tantas emoções passarem por mim naquele pequeno segundo, as maiores delas sendo com toda certeza a euforia e a alegria. Meus lábios emitiram um pequeno grito e eu lancei meus braços em torno do pescoço da garota mais irritante do mundo. Minha melhor amiga.

–VICTORYA!! –A garota me abraçou com força e nós ficamos emitindo pequenos gritinhos por alguns segundos, como as duas adolescentes que realmente éramos –Eu vou matar você! Você está aqui! Não posso acreditar.

–Me chame de Vossa alteza, por favor. –ela forçou desdém na voz, não parando de me abraçar –E não brigue comigo por isso Vossa alteza, brigue com meus pais.

–Claro, vou agora mesmo brigar com o rei e a rainha de um dos maiores aliados de Illéa. –eu me soltei do seu abraço para olhar melhor para ela e vice versa. A garota a minha frente era alguns centímetros mais baixa que eu, com o corpo mais delineado, o cabelo castanho escuro combinando perfeitamente com os olhos do mesmo tom, em seu rosto de traços delicados fazia que ela parecesse delicada também. . Digno de uma princesa, que por acaso ela realmente era.

Victorya Star era a única herdeira dos Star, a família real que governava a séculos o país que era um dos maiores, senão o maior, aliado de Illéa. Katastoli era uma nação menor do que Illéa, mas ainda grande o suficiente para suas terras extremamente férteis serem de grande valor, o tornando um país muito rico. Eu e Victorya nos correspondíamos com bastante frequência, através de cartas e algumas ligações telefônicas, a certa de três anos e meio desde que meus pais e os garotos foram em uma visita oficial à Katastoli para tratar de negócios e sugeriram que nós trocássemos algumas cartas para quem sabe nos tornarmos amigas. E isso realmente funcionou, apesar de um incidente ocorrido naquela visita, causado por uma tentativa desajeitada de paquera da parte de Julian que resultou em um chute bem dado em um local bastante delicado. Nós demos gargalhadas por horas ao telefone quando nos lembrávamos do ocorrido e Vic sempre dizia com seu humor intempestivo e brincalhão “Juro de pés juntos que não me arrependo nem um pouquinho disso!”. Eu sorri ao lembrar de todas as risadas e choros compartilhados. Apesar da distância eu jamais tive dúvidas da veracidade da nossa amizade.

–Você está ainda mais bonita do que nas fotos que me mandou Celle. Olha essas pernas! –ela deu um assovio alto e eu corei pelos olhares dos que estavam próximos –Você vai ter que arrumar um partidão meu bem.

–Você não fica atrás Vic. Você está radiante com esse vestido! Mas você já é naturalmente encantadora. –ela fez uma careta diante das minhas palavras e eu ri.

–Encantadora? Radiante? Meus pais têm toda razão sobre você. –ela disse achando graça.

–Por falar nisso, me conte o que te trouxe aqui. –eu pedi completamente curiosa e feliz pela chegada repentina da minha melhor amiga naquele momento que eu sentia tanta dificuldade em enfrentar sozinha.

–Conto. Mas vamos indo lá pra fora pois a festa continua e eu já perdi o suficiente por uma noite. –ela enlaçou o braço no meu e seguimos juntas o caminho para os jardins –A propósito, cheguei no final da sua apresentação e você estava fantástica! Mas voltando ao assunto, o principal motivo para que eu esteja aqui são meus pais. Você acredita que eles me acham inexperiente? Me disseram que eu não sei me comportar como uma princesa e nem conviver socialmente. Isso tudo só porque eu disse algumas verdades doloridas à minha última professora de etiqueta e ela saiu chorando. E é claro por causa do incidente com o Julian. Acredita que eles brigam comigo por aquilo até hoje? Já deviam ter esquecido. Apesar de que ainda dou boas risadas me lembrando daquele dia. Espero que ele também se lembre e não tente nada novamente. Aaahh ele tem um monte de garotas agora não é?

–Sim, tem. –ela havia parado para respirar sem parecer nem um pouco cansada por ter falado sem parar nem um segundo –Mas continue Vic, qual o motivo de estar aqui?

–Aaah claro, o motivo. Meus pais querem que eu faça uma espécie de intercâmbio no seu palácio para tentar aprender etiqueta e como conviver socialmente. Coisas de princesa, você deve saber. –ela deu uma gargalhada e eu ri junto, nós já havíamos chegado ao jardim mas ainda não estávamos no lugar onde a festa continuaria –Eles acreditam que com companhia de outras pessoas eu possa aprender. Além de que a fama de uma tal de Silvia chegou lá em Katastoli. Algo sobre ela ser muito rígida. Meus pais gostaram dessa parte. E enfim aqui estou eu! Pronta para aprender e causar um rebuliço nessa corte!

–Victorya! –eu não pude conter a gargalhada que suas palavras provocaram –Eu estou realmente muito feliz por ter você aqui.

–Disponha meu bem. –ela sorriu e me dirigiu um olhar convencido –Agora se me dá licença, eu vou circular um pouco pela festa antes que minhas aulas de etiqueta comecem e eu seja presa em uma torre. Besos.

Depois que Vic saiu eu pude olhar melhor ao meu redor. O jardim estava muito bonito, a decoração estava linda mas eu diminuiria um pouco a iluminação para dar um ar mais aconchegante ao lugar. Precisei lembrar a mim mesma que era só a primeira festa delas e que elas não haviam tido aulas com Silvia desde sempre como eu tive. Elas haviam feito um bom trabalho e eu as parabenizaria depois. Havia uma tenda cheia de mesas com um clima bastante agradável logo a minha frente onde alguns príncipes e selecionadas estavam comendo, rindo e conversando.

Mas o que me atraiu foi o pequeno palco, alguns metros ao lado da tenda onde uma banda se apresentava e o resto dos príncipes e selecionadas estavam. Me lembro que alguma das garotas disse que a banda se chamava Hotplay ou algo assim. Eu fui atraída pela e quando me aproximei do palco acabei começando a dançar um pouco, sem me importar muito com o que iam pensar de mim, até porque todos ali também se deixavam levar pela batida. Percebi alguém se aproximando e logo um garoto alto estava parado à minha frente, olhei para cima e com um sorriso reconheci Alexander que também sorriu para mim. Ele pegou na minha mão e me fez dar um giro em torno de mim mesma, em uma espécie de dança desajeitada que me fez cair na gargalhada e para de dançar.

–Como dançarino você é um exímio nadador. –eu disse quando parei de rir com um pouco de dificuldade; eu sentia o álcool finalmente causando seus verdadeiros efeitos.

–Agradeço pelo elogio princesa. –o loiro fez uma reverência e eu ri novamente provocando um olhar curioso dele –Vossa alteza bebeu algo oferecido pelo príncipe Gabriel?

–Pelo amor de Deus Alexander! Me chame de Celeste quando não precisarmos de tanta formalidade. –eu fiz um gesto exagerado com a mão indicando falta de paciência –E é claro que eu não bebi nada oferecido por ele.

–Hmmm... Tudo bem. O que eu queria realmente te dizer Celeste, é que você se apresentou divinamente. Estava maravilhosa. –ele falou com o tom bem mais suave e delicado, encantador, mesmo assim eu não contive a risada que escapou da minha boca.

–Você sabia que todo mundo está me dizendo isso? Acho que eu já sei que fui maravilhosa. –ele me olhou magoado pelo tom em minha voz, eu em uma tentativa frustrada de tentar reparar meu erro o puxei pela mão –Esqueça isso. Vamos dançar, tudo bem?

Ele ainda me olhava confuso, contudo continuei puxando-o para dançarmos e depois de alguns segundos ele cedeu. Eu comecei a me mexer conforme a música e ele só me olhava, o que me irritou bastante, então me aproximei mais dele e coloquei meus braços em volta do seu pescoço o puxando pra perto. Alexander me olhou assustado e eu ri debochada para ele, o trazendo para perto até que nossas bocas estavam a cerca de dez centímetros de distância e eu o olhava nos olhos.

–Está com medo de mim príncipe? –eu sussurrei e ele se retesou –Você parece assustado.

–Celeste, você bebeu? –ele perguntou com o tom de voz entre o medo e a repreensão. Eu gargalhei jogando minha cabeça para trás e quando voltei meu olhar para frente me deparei com outro par de olhos me encarando e caindo na risada. Pierre estava à alguns metros de nós e entre as risadas me dirigiu um olhar de falso desapontamento. Foi o toque que precisava para transformar minha súbita alegria em raiva.

–Eu já vou Alexander. –me soltei dele e me afastei, já começando a andar em direção a tenda –Nós falamos depois.

–Mas Celeste... –ele relutou mas eu o cortei com um aceno da minha mão.

–Você não está tão divertido hoje. –eu falei sem nem me virar para ver se ele havia ouvido ou qual tinha sido a sua reação. Continuei andando até entrar na tenda e a primeira coisa que vi foi um garçom com uma bandeja de taças de champanhe que eu logo tratei de pegar e beber uma delas de uma só vez.

Corri os olhos pelas mesas, algumas continham pessoas solitárias com taças e em outras trios ou duplas de selecionadas que conversavam animadamente, algumas tinham até selecionadas e príncipes conversando. Mas uma mesa em especial me chamou atenção, uma mesa que se encontrava mais aos fundos da tenda. Nela estavam sentadas duas garotas e um dos meus irmãos e pelo modo como uma delas saiu da mesa eu tinha certeza que era Shay. Ele gesticulava bastante e chegou a bater o punho na mesa algumas vezes, alternando isso com passar a mão nos cabelos ruivos. A expressão em seu rosto não era nada amigável e mesmo sem ouvir o que ele dizia a garota, que eu não reconheci a propósito, eu sentia sua dor. Tinha certeza que ela não merecia nada daquilo mas ela aguentou firme as palavras de Shalon e tentou argumentar algumas vezes mas foi em vão; meu irmão saiu da mesa deixando a garota para trás. Eu pude ver um brilho em suas bochechas refletindo a luz, e antes que eu pudesse ir consolá-la, se levantou e foi embora.

Enquanto eu continuava olhando as pessoas dentro daquele lugar, pensei em como Shay precisava melhorar seu comportamento e seu jeito de tratar as pessoas, do contrário seria quase impossível achar uma selecionada que o aguentasse.

Minha mente se dispersou totalmente desses pensamentos quando meus olhos se focaram em uma mesa próxima a que meu irmão estava. Nela estava um casal que parecia ter muito mais interesse um no outro do que uma selecionada e um príncipe da minha seleção deveriam ter. Não me surpreendi ao reconhecer o príncipe como Lorenzo.

Ele estava totalmente inclinado na direção da garota morena que eu não reconheci àquela distância, que também estava inclinada na direção dele, rindo de algo que ele dissera e o olhando bem dentro dos olhos. Uma das mãos dele estava em cima da dela sobre a mesa, e a outra estava calmamente colocada na perna da garota, que estava a mostra pelo vestido curto. Engasguei com aquela visão e me dirigi imediatamente para aquela mesa.

Enquanto eu me aproximava com o máximo de rapidez que eu conseguia sob o efeito do álcool, vi a mão de Lorenzo que estava na perna da garota subir até o cabelo dela e acaricia-lo delicadamente. A garota se inclinou como se derretesse ao toque dele e os dedos do moreno desceram até a bochecha dela, fazendo um carinho leve que a fez fechar os olhos. Meu sangue ferveu, não por ciúme e sim por raiva. Eu finalmente cheguei na mesa e fiquei parada em pé ao lado deles esperando que me notassem. Com a minha presença ali, a garota despertou do torpor e me olhou alarmada e envergonhada. Eu a reconheci como Katerina, selecionada de Shay.

–Eu não... Princesa eu... –as palavras se embolavam na língua dela e ela parecia confusa, muito mais bêbada do que eu. A garota provavelmente não sabia muito o que estava fazendo, me fazendo sentir pena dela.

–Katerina, certo? –ela assentiu, com a cabeça baixa agora –Aconselho você a ir para o seu quarto imediatamente. Esse tipo de abuso poderia ser gravemente punido; você tem sorte de ser eu e não um dos meus irmãos.

A garota se levantou, fez uma reverência e saiu andando com o equilíbrio meio duvidoso. Quando eu olhei para o garoto a minha frente, o choque e a raiva voltaram a tomar conta de mim, pois ele me olhava divertido e debochado. Parecia que eu havia virado motivo de piada para aqueles príncipes. Ele simplesmente se levantou e fez menção de começar a andar em direção a saída da tenda.

–Eu não estava falando com você quando disse sobre ir para o quarto. –eu falei usando o máximo de firmeza que consegui colocar em minha voz, apesar de isso ser um pouco difícil àquela altura da noite.

–Tem alguma coisa para me dizer Celeste? –o deboche não saia de forma alguma de sua voz ou de seu olhar.

–Para você é Vossa Alteza. E sim, tenho algo para te dizer. –as palavras soaram mais moles do que eu imaginei e fiz uma anotação mental de não beber da próxima vez que pretendesse brigar –Você tem ideia do que acabou de fazer Lorenzo? Ou do que estava prestes a fazer? Ou do que fez antes que eu chegasse?

–Para você também é Vossa alteza. –ele não havia se abalado nem um pouco e o sorrisinho ainda pairava em seu rosto.

–Aaaahh vá te catar! –eu repeti algo que já ouvi uma de minhas criadas dizendo e na mesma hora tampei minha boca com as duas mãos, envergonhada. Lorenzo caiu na gargalhada e me olhou, como sempre, divertido –Eu quis dizer que você não está em condições de fazer exigências.

–Se está preocupada com a minha lealdade com a senhorita, Vossa Alteza não precisa se preocupar. Eu não beijei ninguém. Ainda. –ele me dirigiu um olhar sedutor que não provocou nada em mim.

–Você não deveria nem flertar com nenhuma dessas moças Lorenzo. Em respeito a mim e aos meus irmãos. –falei sem me alterar.

–Aaah, qual o problema com um flertezinho? –ele riu mais uma vez, a risada dele já estava me irritando em escalas que eu não podia medir –Eu só estava me divertindo com a moça.

–Nem tente passar dos limites Lorenzo; os seus são bem delimitados. –se eu não soubesse que me machucaria já teria batido no garoto a minha frente só para tirar aquele sorriso do seu rosto.

–Quer me ajudar a conhece-los? Ou deseja criar novos? –a realeza da Espanha me devia agradecimentos por eu sempre ter me dedicado à música e não à lutas.

–Você é simplesmente des... –finquei as unhas nas palmas das mãos e segui para fora dali o mais rápido que pude, sem conseguir evitar ouvir a risada de Lorenzo.

Meus passos me guiaram, com um pouco de dificuldade, de volta para dentro do salão onde a festa principal havia acontecido e logo eu estava debruçada sobre a fonte me dedicando a escrita de alguns bilhetes, já sem me preocupar com o acontecido com Lorenzo. Eu fiquei de pé depois de um tempo, observando as pequenas garrafinhas girarem na água e não percebi o garoto ao meu lado até que ele falou.

–Já devem ter dito que você está fabulosa hoje certo? E também que você tocou como um anjo. –Lucca estava parado ao meu lado me olhando com humor, mas sem deboche.

–Muitas vezes, então não repita. –eu disse brincalhona e ele riu. Olhei mais uma vez para ele e me surpreendi com o que vi. Nossa, Lucca era lindo. Ainda mais lindo sorrindo, o que me fez sorrir.

–Aposto que muitos também já pediram para dançar com você, mas eu não tive essa chance hoje. Então por favor... –ele estendeu a mão para mim enquanto uma música suave e melancólica tocava ao longe pela banda. Sem pensar eu peguei sua mão e deixei que ele me puxasse para perto e me guiasse naquela dança.

Nós não demos passos muito elaborados, apenas ficamos nos balançando e girando conforme o ritmo lento da música. As duas mãos de Lucca estavam pousadas carinhosamente na minha cintura e as minhas estavam no seu pescoço. Eu sentia o calor de sua bochecha contra a minha, a pele tão lisa que me fazia querer tocá-lo. Sem pensar muito deixei que meus dedos tocassem de leve a pele do seu pescoço e ele deu um suspiro audível que me fez rir.

–Celeste... –ele afastou um pouco o rosto para sussurrar no meu ouvido –Eu nunca imaginei que esse momento fosse ser possível, mas ao mesmo tempo sempre sonhei com ele.

–Mas você está na minha seleção Lucca. É óbvio que dançaria comigo algum dia. –meu coração havia disparado e eu não fazia ideia do motivo.

–Quando eu digo que sempre sonhei com ele não estou sendo exagerado. –ele roçou o nariz de leve em meu pescoço, meu corpo se tencionou e eu senti minha pele se arrepiar, esperando qual seria seu próximo movimento.

Meu cérebro me dizia para correr dali imediatamente, porém eu simplesmente não conseguia encontrar o caminho para comandar meus membros. Maldito champanhe! Lucca afastou o corpo do meu para olhar em meus olhos e eu notei suas pálpebras um pouco caídas e o olhar enevoado; ele provavelmente também havia bebido. Uma das suas mãos continuou em minha cintura e a outra subiu até meu rosto, ele acariciou minha bochecha e depois puxou meu rosto para aproximá-lo do meu, colocando nossos lábios próximos. Meu corpo tremia ainda sem encontrar a reação adequada para aquilo tudo.

–Celeste. Eu am... –antes que ele pudesse terminar a frase meu corpo resolveu finalmente obedecer meu cérebro e eu me desvencilhei de seus braços. Corri em direção aos jardins, sem olhar para trás ou atender aos gritos de protesto vindos do príncipe. Tudo que eu precisava era ar fresco e sair dali.

“Por favor, mais nenhuma confusão essa noite!”

Foi quando eu ouvi os gritos histéricos vindos de um local mais afastado do jardim. “Deixe elas se matarem”, parte da minha mente disse, mas como estava acontecendo frequentemente naquela noite eu ouvi a parte menos sensata e quando vi meus passos me guiavam para a direção das vozes. Quanto mais me aproximava, mais os gritos aumentavam. Eu ri um pouco comigo mesma até me aproximar das duas garotas e meu riso morreu.

Reconheci instantaneamente as garotas ali gritando. Uma por ter gostado logo de cara e a outra pelo extremo contrário. Sam, a garota de atitude com as tatuagens espalhadas pelo corpo, inclusive em seu belo rosto, e Sarah, a garota de aparência desesperada e obsessiva, respectivamente.

As duas estavam com os cabelos já fora do lugar e eu torci para que eles tivessem chegado àquele estado naturalmente. Elas gesticulavam e gritavam ao mesmo tempo, a ponto de entrar em um combate corpo a corpo e por mais que o meu lado bêbado achasse aquilo bem interessante, eu resolvi que intervir seria a melhor opção.

–CHEGA! –eu gritei e as duas garotas olharam para mim, primeiro com raiva e depois envergonhadas –O que está acontecendo aqui?

–Estávamos discutindo. –Sam falou sem graça e me provocou uma gargalhada.

–Jura? Eu nem pude perceber. –usei toda a ironia que restara em mim ao final daquela noite –O que eu realmente gostaria de perguntar é: Qual o problema de vocês? Qual é o maravilhoso motivo que fez duas candidatas a princesa se rebaixarem a esse nível?

–Ela me provocou. –Sarah levantou o nariz e disse com tom de provocação, olhando de esguelha para Sam.

–Eu provoquei você? –o tom de Sam subiu um pouco e ela dirigiu um olhar irritado para a outra garota –Nós nos esbarramos por acidente e você criou uma confusão desnecessária.

–Eu não estava me referindo a isso querida. –Sarah disse ironicamente, aquele parecia ser o único tom que ela usava –Você tem provocado a mim e a qualquer uma que tenha real pretensão de ser futura esposa de qualquer um dos príncipes. Isso apenas com a sua presença.

–Sarah, o que você quer dizer com isso? –eu perguntei preocupada com qual poderia ser o motivo dela se sentir tão ofendida com a presença de Sam; talvez ela tivesse quebrado alguma regra que não era de nosso conhecimento e isso me interessou.

–Por favor Vossa alteza, olhe para ela. Ou melhor, Sam, olhe para mim e para a princesa e depois olhe para você. Você possuiu essas coisas em seu rosto, admito a beleza delas, mas jamais se encaixariam em um ambiente real. E olhe os seus modos. Olhe o jeito como você fala. Digno da reles plebeia que você sempre será. –a voz de Sarah era ácida, cortante e fria. Ela não tinha a menor preocupação em machucar Sam ou não, e machucou. Mas os olhos de Sam se tornaram duros com as palavras da garota e ela ergueu a mão, pronta para dar um tapa no rosto da oponente.

–Sam! –eu ergui minha mão a tempo e segurei a dela –Não faça isso.

–Ela já disse que eu não tenho chance mesmo. Por que não sair em grande estilo e com a minha vingança? –o maxilar estava rígido pela força que ela fazia para não ceder ao instinto de bater em Sarah, que irrompeu em uma gargalhada.

–Olhe os seus modos! –ela disse em meio as risadas.

–Você me ofendeu! –Sam gritou e esse passou a ser o tom da conversa delas.

–E você estava prestes a me bater!

–Você mereceu!

–Você é uma tatuadora selvagem! Uma princesa de verdade jamais bate em alguém! Olhe pra você!

–Se olhe você garota! Sua cara parece a de uma pu... –eu tapei os ouvidos esperando o xingamento que viria e o que ouvi foi um grito masculino familiar que me confortou.

–PARE! –Julian se aproximou de nós em algo que não pode ser descrito como seu melhor estado, sem a gravata e o terno, com o colete meio aberto, sem falar do cabelo, que eu pensei ter sido causado pela bebida. Até ver Lis vindo correndo atrás dele em um estado parecido, exceto por aparentemente não lhe faltar nenhuma peça de roupa. –Não complete essa frase Sam, ou vai se encrencar.

Não só eu como as duas garotas ali não pudemos esconder o olhar espantado para os dois até que Sarah deu um grito de raiva e bateu os pés. Nossos olhares espantados passaram para ela. Nesse momento quem também chegou para completar a festa foi Lucca, com um olhar curioso e surpreso sobre o que acontecia ali. Eu não olhei na direção dele, envergonhada pelo momento que compartilhamos.

–O que significa isso?! –Sarah gritou, apontando para Julian e Lis.

–Não imagine coisas garota. –Lis falou sem se alterar.

–Eu não estava falando com você, até porque não falo com garotas como você. Eu perguntei ao Julian!

–O que você insinuou sobre mim?!! –Lis havia perdido o controle comedido e agora já se aproximava de Sarah, pronta para brigar.

–Parem vocês duas! –eu gritei e Sarah me olhou debochada.

–Me perdoe Vossa alteza, mas a senhorita e seu irmão não tem o direito de falar NADA! Ele estava em algum canto ou quarto se esfregando com aquela ali já nos primeiros dias. E a senhorita acha que eu não vi o modo como você estava com alguns príncipes e não príncipes hoje?!

A partir desse momento, quando as palavras dela fizeram sentido pra mim, eu perdi totalmente o resto de razão que eu tinha. Eu nunca havia sido tão ofendida. Eu vi a raiva de Julian e o espanto das outras garotas, porém a expressão que tomou conta da minha mente foi o medo de Sarah quando eu fechei meu punho e me preparei para me lançar em cima dela. E tudo aconteceu muito rápido. Lucca me segurou pela cintura instantaneamente, impedindo meu corpo de se lançar contra o de Sarah, mas sem conseguir impedir meu braço de continuar em seu movimento em busca de pele para atingir. Entretanto não foi meu punho que atingiu o rosto de Sarah, foi meu cotovelo que atingiu em cheio o olho direito de Lucca.

Afinal, uma princesa de verdade pode sim bater em alguém.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e que não queiram me matar.. E comentem!! Muito! kkkk Brincadeira sobre o muito mas acho que a maioria sabe que cada comentário nos deixa muito feliz e com mais vontade de escrever :3
É isso amores, obrigada por lerem.. :) Beijos e até o próximo capítulo..
Tatá..



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