Royal Hearts escrita por Cams, Tamires, nat


Capítulo 16
Julian - Problem Parte II


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores *-*
Queria agradecer os novos acompanhamentos que recebemos. Gostaria de falar seus nomes, mas infelizmente eu não sei, já que alguns estão bloqueados de uma forma que não entendo kkkk Já peço desculpas pelo tamanho do capítulo; eu comecei bem devagar, e quando vi tinha passado das 4000 palavras e não estava nem perto de acabar. Esse é um dos motivos por não ter falado de todas as selecionadas com o mesmo destaque; sinto muito por isso, mas saibam que as que não apareceram (Lara - Day, por exemplo) é porque tenho algo especial para elas...

Por último mas não menos importante (é justamente o contrário), demos uma manotinha no último capítulo. Vocês não viram a decoração, as comidas nem as músicas, por isso aqui está o álbum só com essas coisas
https://www.youtube.com/watch?v=4SvI9-GzMu8&list=PLj_vWWEOuK8LxJW5gmYLwUneDhSN5k9pe (Todas as músicas)
https://www.flickr.com/photos/126302431@N05/sets/72157647667467574/ (Decoração e comidas)
Isso é tudo por hoje
Bjo Cams
P.s: nesse capítulo tem vários links, mas são apenas para vocês terem uma noção de roupas, lembrarem quem são as pessoas e outros detalhes não tão importantes. Os links não são essenciais para sua leitura.



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O pior momento já passou. Você só precisa relaxar agora e aproveitar o restante da festa, começando pela garota que está na sua frente.

– Espero não ter pisado nos seus pés muitas vezes. – afirmei sem graça a Luna. Depois de tanto treino e tantas reclamações das minhas acompanhantes anteriores, consegui decorar todos os passos e ter uma dança muito especial. Não desviei em nenhum momento os meus olhos dos de Luna, que estava linda e incrivelmente delicada com sua máscara e seu cabelo cacheado moldando seu rosto.

– Acho que foram umas dez vezes apenas. – mesmo com o sorriso em seu rosto fiquei alarmado com a situação, o que a fez concluir: - É apenas uma brincadeira. Você dançou perfeitamente.

– Nunca usaram ‘dança’ e ‘perfeito’ numa mesma frase e se referiam a mim. – Eu não conseguia parar de rir. Não sabia quem era o pior dançarino então, eu ou minha selecionada, pois se achava que sou um bom dançarino alguma coisa tem que estar errada. De tanto rir com a sua resposta, Luna se juntou a mim, ficando ainda mais adorável com duas covinhas e uma risada engraçada.

– Luna, foi um prazer dançar com você. - infelizmente tenho que socializar com outros convidados, que incluem os príncipes que querem minha irmã e minha família. Dou um beijo nas costas de sua mão e faço uma reverência.

Príncipe Julian, foi um prazer ter os pés esmagados por você – Luna agradece um pouco ruborizada.

Me afastando, vejo Shay em um canto bebendo com Gabriel, com uma cara amarga e pedindo outra dose. Mesmo sem oportunidade para conversar com meu irmão, podia perceber que estava agindo com um idiota. Querendo me afastar da cena e fugir de qualquer ente familiar com mais de trinta anos, esbarro em um casal que queria conversar desde o começo da festa: Aaron e Char. A garota estava linda com os cabelos presos e um vestido claro que destacava suas feições delicadamente. Ela ria de algo que o alemão tinha lhe dito, contrapondo com a imagem séria que havia criado quando a conheci.

Tossindo para mostrar que estava presente, Charlotte nota minha presença e se transforma em uma pessoa séria, abaixando os olhos e pedindo licença. Fiquei com raiva de mim mesmo por transformar uma pessoa tão adorável em outra tímida e reclusa. Vendo meu desapontamento com a situação, Aaron tenta mudar meu humor.

–Jules, não é sua culpa ela ficar assim. Na verdade é sim, mas Char é assim com todos. - à distância alguém poderia dizer que nós dois estávamos discutindo por ciúmes, pela minha expressão nervosa e a pose de defesa do príncipe a minha frente. Porém a situação era exatamente oposta. - Eu demorei o fim de semana todo para conseguir que ela conversasse comigo, e olha que eu levei um bolo, fotos da minha família, passeamos pelo palácio e ainda a ajudei com a tarefa que a rainha passou para as selecionadas.

Eu estava verdadeiramente impressionado com o esforço que Aaron demostrava com uma desconhecida, porém acreditava que tudo se devia a falta que sentia do irmão.

– Não tenho nem como agradecer por tudo o que está fazendo por ela. Charlotte é uma garota impressionante e que mostra estar tentando se adequar a todas as nossas regras. Só não imagino como arrumou tanto tempo assim para ela. Alguns príncipes praticamente não saem dos seus quartos ou da biblioteca.

– Eu tenho todo o tempo do mundo para ela agora que sua irmã me dispensou. É isso mesmo o que você escutou. Celeste deixou bem claro que eu sou sua última opção quando a chamei para um encontro. Para piorar a situação, Zaki estava ao nosso lado ouvindo tudo. - o garoto cuja fama amorosa todos conheciam trocou de lugar comigo. Agora era ele quem estava com raiva e ao mesmo tempo cabisbaixo. Não gostando de vê-lo assim, resolvi me despedir e procurar minha irmã caçula. Antes que eu fosse embora completou:

– Depois parabenize Char pela festa, ela estava no grupo vencedor.

Me sentia um lixo por não lembrar e agradecer às selecionadas pela festa maravilhosa que estávamos tendo. Não elogiei nem mesmo Luna, que estava comigo na dança principal. Aaron também piorou meu temperamento. Nunca conseguiria repreender minha irmã por causa de um homem; para ter discutido com o alemão, Celeste devia ter algum motivo. Para isso peguei a primeira bebida alcoólica que vi na minha frente e virei o copo todo em minha boca. Ela desceu queimando pela garganta, me fazendo tossir e meus olhos lagrimejarem. Olhando para o recipiente percebo que bebi a bebida que Gabriel ofereceu a todos os príncipes, mas que pelo cheiro de álcool puro tinha desistido de experimentar. Comecei a sentir um calor por todo o corpo; meu rosto ficando vermelho e quente. Mesmo me sentindo um pouco mais leve e ter sofrido com o primeiro copo, decidi pegar outro e ir com mais calma dessa vez, tudo para poder conversar com Celeste.

Já bem mais tranquilo com minha futura conversa, fui procurar minha irmã. Ela estava dançando com James, e os dois pareciam não tocar o chão durante a música. Eles ficavam muito bem juntos, tão absortos um no outro e embalados pela música, que não perceberam quando o restante dos convidados pararam de dançar para observá-los. Nunca tinha visto minha irmã tão bem na pista de dança quanto com o inglês; um sabia todos os passos que o outro iria fazer, mas justo no final, James a rodopiou uma última vez e a inclinou em direção ao chão. Celeste se surpreendeu, principalmente quando ele aproximou seu rosto em direção ao dela, quase a beijando; contudo antes de concretizar o ato, parou e a colocou novamente em pé.

Ainda vermelha da dança e do momento, Celeste encarava James com um pouco de encantamento enquanto todo o salão irrompia em aplausos e assovios. Minha irmã conseguiu ficar muito ruborizada que mesmo a máscara não conseguira esconder; já seu companheiro de dança mostrava-se todo orgulhoso pelo momento, mesmo com olhares de ódio de todos os príncipes que presenciaram a cena. Alexander estava com os punhos cerrados, preparado para dar um soco em alguém, Pierre fazia uma cara amarga, como se tivesse provado algo muito azedo; Lucca praguejava em italiano ao lado de um Gabriel vermelho. A última pessoa que ainda observava Celeste era Lorenzo, que mesmo com o rosto parcialmente tampado, notava-se olhar tudo com desprezo e antipatia.

Antes de alguma briga começar, decidi tirar Celeste do salão e conversar com ela sobre tudo o que estava acontecendo. Assim que ela me viu, veio ao meu encontro, pronta para sair de sua situação de desconforto e me utilizar como válvula de escape.

– Celle, você estava maravilhosa dançando. Parabéns irmãzinha, você estava linda. – com a mão em meu cotovelo, Celeste agradeceu o elogio, mas permaneceu calada enquanto caminhávamos para o jardim, que estava sendo preparado para o pós-baile. – Celeste, como você está? Sinto que gostaria de sumir do palácio num momento e em outros parece gostar da atenção que está recebendo. Quero que saiba que estou sempre aqui por você. - estava sendo completamente sincero com minha irmã, algo que nunca tinha feito com ninguém além de Shay. Porém, sempre tive uma ligação maior com minha irmã caçula. Queria protegê-la e entender pelo o que estava passando.

– Jules, eu não sei o que devo sentir por cada um desses príncipes. E estou ficando nervosa a cada dia que passa. – Celeste estava frustrada consigo mesma, e era perceptível em seus olhos e como gesticulava. – Ás vezes eu me sinto plenamente feliz por ter novos amigos, pessoas diferentes para poder conversar. Só que ai me lembro das minhas obrigações, que todos estão aqui por um dever e, no final, nós três deveremos nos casar. Como você consegue se divertir com alguma das meninas sem imaginar que a pessoa que está na sua frente será com quem se casará ou terá que mandar embora? Eu irei magoar nove desses meninos quando chegar a hora, e se não bastava apenas arrumar um marido, estou decidindo o futuro do nosso país! É frustrante imaginar que posso seguir meu coração, me arriscar, mas ao mesmo tempo arruinar ínfimas relações governamentais que você, nosso pai e todos os nossos avós e antigos governantes batalharam tanto para conquistar.

No final de seu discurso, Celeste já estava chorando por debaixo de sua máscara, puxou de uma vez para desfazer o laço e a jogou longe no jardim. Ninguém gostaria de vê-la chorando, por isso a abracei até que se acalmasse. Minha irmãzinha tremia de tanto chorar, e partia meu coração ter que presenciar todas as lágrimas e a força de toda a responsabilidade que estava sentindo. Ela estava me fazendo refletir sobre minha própria Seleção, todo o dever que preferia esquecer desde de que as selecionadas haviam chegado ao palácio. Depois do que pareceram muitas horas, Celeste parou de chorar, e desconfiava que sentiriam nossa falta se ficássemos muito tempo além dos já passados no jardim.

– Celeste, você me promete uma coisa? – eu queria que ela olhasse para mim, e quando o fez, ela já não era a mesma menina que eu estava acostumado. Ela cresceu sem eu ao menos perceber, uma garota com força, garra e coragem para enfrentar suas próprias escolhas. – Eu quero que você esqueça tudo o que você me disse pelo resto dessa noite. Se você prometer, eu também o faço. Pelo o resto da noite, nós iremos nos divertir e esquecer que estamos do lado do nosso futuro companheiro. Nós iremos rir, dançar, no seu caso, comer e se quiser, até ficar tonta. Nós iremos nos divertir e esquecer que todos nos querem. – terminei meu sermão rindo e gesticulando para todo o meu corpo, e o alivio me atingiu quando minha irmã me acompanhou.

– Não sei se fico triste ou aliviada dessa afirmação estar errada. Alguns dos nossos ilustres convidados nem notam minha presença, enquanto outros acham que sou um objeto. - Celle ainda estava rindo, mas notava a amargura em sua voz. A bebida e todo o choro fizeram-me esquecer do real motivo por tê-la procurado.

– Então é por isso que você tratou Aaron mal? Só por ciúmes sem fundamento? - sem querer minhas perguntas saíram como acusações, e Celeste as entendeu como um julgamento.

– Sem fundamento?! Você reparou como ele olha para uma de suas garotas? Ele a venera meu querido irmão. - o olhar em seu rosto tinha deixado de ser de companheirismo para pena e raiva, como se apenas eu não soubesse o que estava acontecendo. - E quem você pensa que é para me oferecer para ele? Eu tenho minhas próprias escolhas para serem feitas, como você deixou bem claro agora a pouco.

Antes que eu pudesse dar qualquer explicação, Silvia apareceu no jardim nos procurando. Como Celeste ainda gritava comigo, Silvia nos viu num instante.

– Finalmente encontrei vocês! As altezas esqueceram que esta é uma festa de boas-vindas oferecida para os seus selecionados? - Silvia não estava de máscara. Imaginava que não usava uma para evitar um bloqueio na sua visão e perder algum detalhe da cerimônia. No entanto eu só conseguia ver a fúria estampada em seu rosto, já vermelho de raiva por estarmos fazendo-a perder seu tempo. - Não importa agora. Julian, você irá voltar para dentro do salão e dançar com cada uma das meninas, além de procurar sua avó que quer te ver. Celeste, você não tinha uma apresentação para nossos convidados? Você irá para seu quarto, arrumar sua maquiagem e trocar de roupa. Estamos entendidos?

– Sim senhora. - respondemos juntos. Silvia era a ajudante da Rainha desde o tempo de minha avó Amberly, mas em momentos como este, ela era como uma quarta mãe, atrás de Marlee e minha avó.

Celeste seguiu para dentro do salão sem olhar para trás. Ela ainda estava brava comigo, e eu não fazia ideia de como me desculpar. Se ela realmente iria se apresentar era melhor não falar nada com minha irmã antes da apresentação, porém isso não me impediria de estar ao seu lado, apoiando-a silenciosamente para que nada desse errado.

Novamente na festa, Silvia me lembrou do meu dever, dançar com cada uma das garotas presentes no baile. Antes de qualquer coisa peguei uma taça de champanhe e algumas tortinhas para comer; a bebida alcoólica virei completamente, e as tortinhas mal terminava uma e logo comia a próxima. Não sei se por estar bebendo mais do que deveria, ou pela ansiedade, estava ficando com muita fome, querendo comer tudo pela minha frente. Quando estava quase pegando uma bandeja inteira e levando para onde estava sentado sozinho, vi Daniel gesticulando para mim, dando a entender que estava gordo e ficaria ainda mais se continuasse comendo. Com raiva fui encontrar com meu amigo e ter uma conversinha sobre limites, só que antes que chegasse até ele esbarrei em alguém.

– Príncipe Julian, finalmente me encontrei com você. Já estava me perguntando quando teria a honra de conversar com você. - Inicialmente não percebi quem era a garota. Minha cabeça flutuava como as bolhas do champanhe, e nenhum dos meus pensamentos eram coerentes; para completar todos usavam máscaras, impedindo uma identificação imediata. Com um pouco de esforço vi que era Solaria, que estava linda num vestido branco e prata, que ocupava um grande espaço ao seu redor. - Você está tão calado... O vestido foi demais não é? Muito espalhafatoso. Sabia que não iria gostar. Minhas criadas se esforçaram tanto para fazê-lo e te agradar, mas você obviamente...

– Gostei. Você está linda nele. Deveria agradecer às suas criadas pelo vestido. - eu realmente tinha gostado dele, mesmo sendo um pouco mais espalhafatoso que os das outras garotas. Porém ele a destacava de qualquer outra no salão, e eu adorava o fato de Solaria distinguir-se tanto e se arriscar. - Você gostaria de uma dança senhorita?

– Claro, Príncipe...- diante de minha cara feia Sol continuou casualmente: - Eu adoraria Jules.

A música que começava era lenta o bastante para eu poder ficar despreocupado. Era uma valsa simples, sem muitos giros, trocas de pares ou levantamentos. Com meu corpo leve puxei a garota para bem perto de mim, mas não a ponto de apertá-la demais. Para minha sorte, Solaria também não dançava muito bem, então permanecemos no nosso próprio ritmo, sem julgamentos de nenhuma das partes.

– Tenho que te parabenizar pela festa, espero que não tenha se estressado muito com os preparativos, mas caso o tenha, saiba que valeu a pena.- Dessa vez lembrei de agradecer a selecionada primeiro.- Imagino se Gabriel tenha lhe dito alguma gracinha para você. Estamos tendo alguns problemas com o seu temperamento.

– Não, ele foi muito gentil. Elogiou meu vestido e meu cabelo, perguntou sobre o que estava achando da minha estadia no palácio e até me ofereceu uma bebida do país dele, que recusei uma vez que estou tomando alguns remédios.

– Ainda bem que você não tomou, é uma bebida muito forte, não seria do seu gosto. - com essa nova informação fiquei imaginando se Solaria conseguiria perceber que eu estava um pouco alterado, ou sentir o cheiro de álcool que pensava estar emanando. Para evitar comentários desnecessários afastei-me um pouco, deixando-a um pouco desapontada, mas tentou disfarçar sua reação com um sorriso – Tenho a leve impressão que ele está tentando embebedar todos neste salão.

– Por que, ele também ofereceu ao Rei Maxon? - Solaria estava espantada com a situação, me levando a uma crise de risos ao imaginar meu pai bêbado. - O que foi, falei algo engraçado?

– Não. Eu que fiquei imaginando meu pai bêbado conversando com vocês. - isso a fez rir também, e continuamos o restante da dança neste clima, conversando sobre a festa e como ela havia ajudado na organização. Mais rápido que eu gostaria, a dança acabou e tive que me despedir.

Assim que a música acabou pensei em chamar mais uma garota para dançar, mas ao tentar dar alguns passos em direção à Lara, comecei a andar diagonalmente, tropeçando em minhas próprias pernas. Provavelmente por causa da dança o álcool finalmente fez efeito, então me lembrei de um dos primeiros conselhos que Adam me deu: quando estiver se sentindo bêbado, coma e beba água. Para seguir a sugestão do meu cunhado resolvi escolher um canto mais afastado da orquestra, onde Dimitri, Lucca, Louise e Nicollet escutavam Royal contar alguma coisa, sentados em algumas poltronas organizadas em círculo.

Aproximando-me da cadeira de Royal percebi que talvez os príncipes não estivessem realmente conversando com as garotas, e sim apenas observando a beleza de cada uma das três. Louise estava com os cabelos cacheados jogados por cima do ombro, e usava um vestido que fez meu coração disparar, um preto colado ao corpo e com renda nas laterais, mostrando sua pele; já Nicollet estava de vermelho com os cabelos num coque, destacando ainda mais o decote profundo.

– Então eu chutei a porta do apartamento para abri-la e meu companheiro entrou devagar. Mas, havia duas outras pessoas além do suspeito, que atiraram na nossa direção – Royal refletia o entusiasmo e a emoção de uma de suas histórias, só que não percebia que o que estava contando era extremamente perigoso. – Eu consegui atirar no braço de um e meu companheiro na perna de outro, mas o terceiro tentou fugir pela escada de incêndio. Eu fui mais esperta e corri mais do que ele e consegui imobilizá-lo. E foi assim que eu prendi o traficante. Fim

– Jules, tenha cuidado com essa garota. Ela pode mata-lo se quiser. – Lucca se divertia com meu desconforto, enquanto Dimitri e as outras meninas batiam palmas para a coragem de Royal, que me notou apenas quando o italiano falou comigo.

– Por favor Royal, não mate nosso futuro pretendente. – Nick deu uma piscadinha para descontrair.

Enquanto me sentava um garçom se aproximou da nossa pequena reunião, oferecendo um prato russo que Dimitri nos explicou que era uma tortinha de peixe chamada kulebjaka. Todos gostaram, tanto que a bandeja foi deixada em nossa mesa.

– Fico feliz em saber que se precisar de ajuda em domar meus futuros cunhados terei um reforço. – Mesmo em minha frente Dimitri não possuía escrúpulos em demonstrar seus sentimentos pela minha irmã. Eu normalmente não tinha ciúmes com Celeste. Porém, com tantas pessoas querendo-a era difícil não querer bater em cada um deles.

– Você pode contar com mais dois outros apoios aqui. – Nicollet gesticulava para ela e Louise

– Parlando della bella principessa

Virando para onde Lucca encarava com boca aberta, Celeste entrava no salão completamente diferente de antes. Agora seu cabelo estava preso e usava um vestido com a saia azul, que quando andava abria duas fendas que mostravam praticamente suas pernas inteiras. Nós não éramos o único grupo observando minha irmã no salão; todos os príncipes olhavam para ela abismados com toda a sua beleza, mas algo estava errado no rosto de Celeste. Aproximando-me de minha irmã entendo o que estava acontecendo. As pessoas olhavam além do local onde estava, onde meu tio Gerad esperava a grande entrada de minha irmã.

Em poucos segundos todos os príncipes e selecionadas vieram em nossa direção para encontrar com meu tio. Alguns pediram autógrafos e outros tiravam fotos com o ex-jogador de futebol da seleção. Pensava que esse tipo de reação passaria ao longo dos anos depois dele ter se aposentado, no entanto, quando se tratava do melhor jogador de futebol que já existiu, reconhecido no mundo inteiro, essa situação nunca pararia de se repetir.

Lembrando-me de Celeste novamente, virei-me em sua direção e encontro o lugar vazio. Durante alguns segundos continuo procurando, até avista-la já no palco, afinando seu violoncelo, sozinha. Penso ter visto uma lágrima em seu rosto concentrado, e antes que eu pudesse ter certeza, ela se levanta e vai até uma mesa com todas as bebidas que estavam sendo servidas. Ela bebe umas três taças de champanhe seguidas antes que eu chegue perto dela para evitar um pequeno desastre. Ao me ver aproximar foge para o palco novamente, apenas para encontrar com um Tom furioso. Perto deles consigo escutar o sermão que o seu instrutor lhe dizia:

– O que a senhorita pensa que está fazendo bebendo antes da sua apresentação? Acho que está querendo que uma calamidade aconteça nesse palco como na sua tentativa frustrada de apresentação uns anos atrás. – Celeste parecia pronta para chorar na frente de todos, magoada com o que tinha acabado de acontecer. Para evitar que os convidados vissem alguma coisa, Tom pegou em sua mão e continuou numa voz mais calma: - Meu docinho, não ligue para o que eu falei. Só não beba desse jeito novamente; não quero que algo ruim aconteça com você. E para todos aqueles imbecis que não viram o quão linda você está: eles que estão perdendo, porque eu sei que há alguém apaixonado por você e ninguém percebeu ainda.

– De quem você está falando? – me intrometendo na conversa, Tom e Celle se surpreendem com meu jeito autoritário.

– De ninguém especificamente príncipe Julian. De ninguém. – Eu sabia que ele estava mentindo. E ele não teve coragem nem de disfarçar a piscadinha que deu para minha irmã. – Querido, você está aqui para desejar boa sorte a sua irmã ou para ser seu cão de guarda?

– Ah, sim. – abraçando minha irmã rapidamente para que não me batesse ou me xingasse, aperto-a o máximo que consigo, fazendo até mesmo seus ossos estralarem. – Dará tudo certo! Você é perfeita tocando, e se quiser bato em cada um daqueles caras só para te fazer feliz. Esqueça que você está sendo observada por todos, e pense que está sozinha no estúdio, só você e o Lolo.

– Lolo? – Celeste estava mais tranquila agora, e minha piada havia funcionado.

–Violoncelo. Celo. Lolo. – eu tinha vergonha da minha própria piada dita em voz alta. Tom permaneceu um longo tempo em silêncio, mas quando abriu a boca o que saiu foi uma risada gutural, que se estendeu por todo o salão.

– Olha o que você faz comigo Jules! Agora minha risada vergonhosa foi filmada! Tenho certeza que Gavril fará questão de mostrá-la no próximo Jornal Oficial. – o instrutor tentava soar irritado, uma situação impossível com Celeste se contorcendo de rir ao nosso lado. – É bom rir mesmo docinho, que daqui a pouco será sua vez de chamar a atenção.

Celeste parou no mesmo instante, como se tivessem jogado um balde de gelo em cima dela em pleno entusiasmo. Despedi-me dos dois para finalmente se organizarem e Tom chamar a atenção do público. Tudo estava mais calmo agora que Tio Gerad estava com minha avó e minhas outras tias, e todos aguardavam em expectativa.

Enquanto Tom apresentava minha irmã, Daniel apareceu ao meu lado. Celeste percebeu nossa movimentação e ficou nos observando.

– Ela está muito nervosa? – Daniel perguntou preocupado com a amiga.

– Mais nervosa do que eu e Shay juntos no dia da divulgação das selecionadas. Agora disfarce e sorria. – sorrimos e levantamos os quatro polegares para Celeste. Isso fez com que ela descontraísse um pouco a tensão que aparentava, mas assim que Tom terminou de falar Celle se focou completamente.

Tomando fôlego para começar, logo o cômodo foi inundado com as notas que saiam do violoncelo. Eu estava hipnotizado com a cena. Nunca tinha escutado minha irmã tocando tão bem assim em toda a sua vida. Uma coisa era escutar o seu ensaio através de todas as paredes; outra era poder observá-la em um momento mágico. Ela parecia um anjo no meio do palco, com toda a iluminação do salão baixa para o foco ser apenas nela. Quando estava chegando ao fim, olhei em volta, e todos também estavam boquiabertos com o talento de minha irmã.

Quando ela acabou de tocar, estava sem fôlego do esforço e da concentração. Todos ficaram em silêncio enquanto ela se levantava e fazia uma reverência para o público. Apenas quando ela levantou a cabeça novamente o silêncio se rompeu. Palmas e assovios explodiram ao meu redor, retirando-me do meu torpor e me fazendo aplaudi-la também. Não conseguia conter meu orgulho pela minha pequena irmã e sabia que queria mais e mais e mais. Parecendo ler meus pensamentos Daniel gritou ao meu lado:

– Toca mais uma anjo! – cada convidado no salão voltou seu olhar para meu amigo, vermelho de vergonha por ter se manifestado tão inocentemente. Pela primeira vez era ele a pessoa tímida que queria ser absorvido pelo chão. Celeste não pareceu notar o elogio e já estava saindo do palco quando meu pai a impediu de descer.

– Você tocaria mais uma querida? – naquele momento ele não era o rei, e sim um pai cheio de orgulho de uma filha. Sem querer contraria-lo, Celle voltou para o palco, sorrindo abertamente.

– Eu não tenho mais nada preparado para hoje, então irei tocar uma de minhas músicas favoritas. Espero que gostem.

Mais uma vez o salão ficou em silêncio para escutar sua música. Completamente diferente da anterior, a que ouvíamos era mais animada. Alguns segundos depois percebi qual música ela estava tocando; não existia partitura para ela, pois era de uma banda. Celeste havia adaptado sozinha os sons dos instrumentos da música sem que perdesse sua identidade. O que estávamos presenciando era um talento nato florescendo bem em nossa frente.

Foi assim que o baile acabou. Minha irmã acabou a apresentação e fugiu para o jardim onde teria a próxima festa. Toda a minha família se despediu de mim para poder voltar para a casa que ficava próxima ao palácio. Os únicos a ficarem foram Amberly, Adam, Sarah e Astra, que conversava com o casal. Com os pais distraídos vi Sarah correr atrás de Shay, que via a menina correndo em seu alcance. Porém, ele virou as costas para a criança e saiu pelas portas que davam para o jardim. Quase fui atrás do meu irmão por fazer a pequena Sarah chorar, que cruzou em minha frente, me chutou e voltou chorando para a mãe. Nem senti o chute de tão leve que foi; desde pequena Sarah sempre descontou a raiva que sentia por qualquer um em mim, então nem me importei. Amberly olhava para mim como se eu fosse o culpado, mas no fundo sabia que nunca faria algo do tipo.

Vendo a pequena chorar sentada no sofá, Luna apareceu com um saquinho que entregou a Sarah, que parou de chorar no mesmo instante. Elas ficaram conversando durante alguns minutos, e só após minha sobrinha se acalmar, resolvi me aproximar.

– O tio Shay foi muito mal com você, não é Sara? – mantenho uma distância considerável da menina, sentando ao lado de Luna no sofá.

– Ele é um bobo, isso sim. Tô brava com ele. – Sarah respondeu com um pouco de raiva ainda, com a boca toda suja de biscoitos. – Ele vai ver, vou trocar ele por outro príncipe. Ele não é meu amigo mais.

Inclinando-me em um movimento arriscado, tento pegar um biscoito do pacotinho que Luna deu para a pequena, que deu um tapa em minha mão.

– Esse é meu. Só porque tô brava com o tio Shay não quer dizer que eu goste de você tio Jules. – A garota me magoou mais do que podia imaginar. Luna então pegou na minha mão, enquanto se inclinava para perto de mim, puxava meu smoking e guardava alguns biscoitos na parte de dentro.

– Sarah, o seu tio Jules também é meu amigo, por que você não pode ser amiga dele? – com medo da resposta, apertei a mão de Luna que retribuiu.

– Você é amiga dele Lulu? – Sarah estava confusa, e observava nos dois de mãos dadas com um pouco de descrença. – Eu não sou amiga dele porque ele é chato. E não brinca de cavalinho comigo. Eu prefiro o tio Shay. Quer que eu te apresente a ele? Ele é mais bonito também.

Depois dessa não consegui ficar sentado no sofá sem denunciar meu verdadeiro humor. Aproximei-me chorando de rir de Adam, que parecia um pouco perdido com a conversa das duas primas. Éramos praticamente os únicos no salão, enquanto a maioria já aproveitava a festa ao ar livre.

– O que a Sarah falou dessa vez? – Adam já esperava por uma bomba. A menina não se parecia em nada com ele. Enquanto Sarah era ruiva com alguns cachos, Adam era loiro e com o cabelo liso; provavelmente a única semelhança entre pai e filha era a inteligência, pois a petulância eu tinha certeza que vinha da mãe, ou da família inteira.

– Ela simplesmente falou com Luna que o Shay é mais bonito e mais legal do que eu, e quer apresentá-lo a ela. – Adam não conseguiu não rir. Balançava a cabeça em negação, pensando em como errou na criação da filha.

– O que eu posso fazer com essa menina? Ela faz o que quer... E nem adianta castigo, pois um dos avós acaba indo brincar com ela. A culpa é de vocês, que ficam mimando minha filha.

– O que podemos fazer? Ela é uma criança muito fofa. É impossível não querer agradá-la. – Luna falava baixinho, pois carregava uma Sarah adormecida nos braços.

– Obrigado senhorita, mas gostaria de saber o que você fez para ela dormir. Tem dias que nós dois dormimos primeiro que ela. – Amberly tinha se aproximado e pegava a filha nos braços.

– É um ingrediente secreto que coloco nos meus biscoitos. Ou também sou chata. – eu, Luna e Adam ficamos rindo, enquanto Amberly e Astra ficaram sem entender. Eles logo se despediram, sobrando somente eu e Luna. Estávamos num silêncio desconfortável pela primeira vez, e assim que um garçom passou peguei uma bebida para mim e para a garota em minha frente, que recusou, me deixando mais sem graça ainda.

Com o calor do álcool consegui lembrar o que levei metade da noite para fazer: meu pedido de desculpas e o agradecimento pela festa maravilhosa que estávamos tendo.

– Luna, eu nem sei o que dizer a você. Primeiro nem agradeço pelo esforço em tornar uma simples recepção de boas-vindas em uma festa inesquecível, e agora te ofereço uma bebida sendo que nem beber você bebe. Perdoe-me por isso. – estava falando mais do que de costume, talvez pela bebida ou por finalmente estar ganhando intimidade com as novas hóspedes.

– Eu não vou te perdoar. – ela estava falando sério?! – Porque não tenho motivos para isso. Você mal me conhece, então não saberia que não bebo. Já sobre a festa, eu agradeço por estar fazendo isso agora. Você é uma pessoa muito ocupada e possui muitos afazeres para reparar no que todo mundo faz dentro do palácio. -Estava estupefato com a reação de Luna. Ela estava agindo com muita naturalidade, como se não tivesse feito nada demais. E por sua fala, acabei acreditando que era verdade. – Agora que eu não aceitei seu pedido de desculpas, podemos ir lá para fora? Estão tocando minhas músicas favoritas.

Eu ainda estava com fome, então recusei sua companhia com um pouco de relutância para comer um pouco mais. Os funcionários já estavam limpando o salão quando peguei um prato de tiramisú e outro de pudim de frutas vermelhas e fui comer sozinho.

Já estava na metade do segundo prato quando senti uma presença perto de mim. Olhando para cima vejo que Charllote me observava com expectativa, e trazia uma pequena garrafinha dourada em suas mãos.

– Eu gostaria que lesse isso. – dizendo com um pouco de dificuldade, Char me entregou a garrafinha, contrariando a proposta de bilhetes anônimos.

“Julian, sei que não sou a pessoa ideal para você, e muitas vezes me pergunto por que ainda estou aqui. Mas queria que você soubesse que estou me divertindo muito. As pessoas são muito atenciosas comigo, principalmente Aaron, que se esforçou muito para que eu me divertisse hoje e não ficasse com vergonha de como sou. Sabia que ele tem um irmão como eu? Ele até me mostrou uma foto, e disse que talvez ele pudesse vir aqui nos visitar. Então gostaria de te agradecer pela oportunidade de conhecer novas pessoas e viver os melhores dias de minha vida. Obrigada.

Char.”

– Sabe, eu poderia te abraçar agora. Na verdade é justamente isso que eu vou fazer. – Tomado de coragem abracei Char por apenas dois segundos. Ela mais se assustou com meu abraço do que se afastou. Nós dois ficamos parecendo um gorila abraçando um chipanzé; eu bem mais alto e forte, e Charllote pequena e frágil. – Muito obrigado por isso. Vou guardar no meu quarto para ninguém jogar fora.

– Hmm, tudo bem. – A garota tinha voltado ao seu estado de timidez novamente, mal me olhando nos olhos. Pelo menos estava sorrindo, e julgava isso ao meu estado um pouco fora do normal. – Agora eu tenho que ir.

Quando ela já estava quase saindo do salão lembrei-me de mais uma coisa, e gritei para ela: - Hey, Char! A festa estava linda! – mesmo longe percebi que estava rindo da situação patética em que me encontrava. Durante muito tempo não me sentia assim, plenamente feliz e seguro comigo mesmo.

Enquanto caminhava para um banheiro quase secreto no final do corredor, fui acompanhando a festa no jardim de longe; as grandes janelas me proporcionavam uma boa visão do que acontecia do lado de fora. Os convidados já tinham retirado suas máscaras, e conversavam animadamente entre si; as garotas trocaram seus vestidos longos por outros mais curtos e até mesmo os príncipes retiraram seus paletós e ficaram apenas com as camisas sociais e as gravatas desarrumadas. Eu não conseguia distinguir ninguém ao longe, muito menos a plaquinha do banheiro que deveria informar o sexo. Resolvi entrar mesmo assim, com a garrafinha numa mão e uma bebida azul na outra, que não fazia a mínima ideia de como foi parar comigo, na qual terminei em um gole.

–Julian, essa foi a última coisa que você vai beber essa noite. Nem mais, nem menos. – o mundo estava girando ao meu redor e o simples fato de estar falando sozinho não era nada bom. Com dificuldades para acertar a entrada do privado, me tranquei e sentei no chão frio, numa tentativa ridícula de tentar fazer o mundo parar de rodar. Esperava que ninguém me achasse no meu esconderijo, alguém como Silvia ou minha mãe, o que não seria muito difícil de acontecer, uma vez que meus pés ficaram para fora do cubículo.

Logo que acabei de pensar nisso, escuto saltos do lado de fora do banheiro, seguidos por uma porta abrindo e mais saltos se aproximando de onde eu estava.

– Tem alguém vivo ai? – ao reconhecer a voz de Lis levantei num pulo, de repente sóbrio e arrumando meu cabelo e minha roupa. Ligeiramente mais sóbrio que antes, abri minha porta para me deparar com uma Lis de cair o queixo. Ela tinha trocado de vestido e colocado um muito mais curto, mostrando grande parte de suas pernas.

– Apenas de Julian, você está bem? – preocupada com meu estado colocou a mão em minha testa para sentir minha temperatura. Com sua aproximação consegui perceber o quanto seus olhos eram azuis. – Jules..?

–Oi? – me tirando do torpor, saí do transe e lembrei-me de falar. – Eu estou bem sim, Apenas de Lis. Sua beleza que me desconcertou.

– Obrigada, Apenas de Julian. Precisa de alguma ajuda? – eu me apoiei na porta do privado, mas a porta se abriu. Lis foi mais rápida e puxou meu braço, impedindo minha queda.

– Eu acho que sim. E por favor, não conte a ninguém sobre isso. Seria muito vergonhoso ser levado do banheiro por uma garota. – Precisava voltar para o salão, beber um pouco de água e comer um pouco mais. – Espera um pouco. Você entrou no banheiro errado.

– Não entrei não. – Lis discordou sem muita certeza, e dessa forma percebi que não era o único alterado no cômodo. Já um pouco melhor, sai ligeiramente zonzo e abri a porta, mostrando para garota a placa onde deveria estar ‘masculino’, mas que mostrava outra coisa.

– Viu, eu tinha certeza que tinha entrado no banheiro certo. Agora eu vou te levar para seu quarto para ninguém ver você dando vexame pelo palácio. – colocando meu braço esquerdo em sua cintura e o seu na minha, continuamos a longa jornada até o terceiro andar.

– Sabe Lis, eu estava me lembrando de uma coisa, e isso vem na minha cabeça já faz alguns dias. Espere, tem uma passagem secreta aqui. Ela leva diretamente ao corredor do meu quarto, então nenhum guarda nos verá. – Paramos então em frente a uns dos quadros mais caros de Íllea: Guernica. Ele ocupava a parede inteira, e para entrarmos na escada secreta, era preciso das digitais de algum membro da família real. Assim que o quadro abriu o lacre, pude puxá-lo e passar por sua porta. Lis estava impressionada com a segurança e fez uma série de perguntas sobre a instalação desse tipo de tecnologia, quanto tempo ela já existia e quais quadros escondiam outras passagens secretas.

– Apenas de Lis, você é uma selecionada ou uma espiã? – eu estava brincando, mas a garota tomou o comentário como uma ofensa.

– Príncipe Julian, eu já fui tudo. Modelo, dançarina, trapezista, contorcionista, jogadora de basquete, cozinheira, professora e motoqueira. Mas nunca, em toda a minha vida seria uma traidora, comprometendo a vida de inocentes por uma causa não tão justa assim.

– Então quer dizer que você já foi contorcionista? – disse apertando a cintura de Lis. A tonteira causada pela bebida já havia passado, mas a coragem permaneceu para que continuasse abraçando a incrível garota ao meu lado. Nesse momento atravessávamos a passagem na parede ao lado do meu quarto. Não tinha nenhum guarda de fora dos nossos quartos; guardavam apenas o quarto do rei e do restante da família no final do corredor. Eles tiveram a decência de permanecerem em seus postos, sem ao menos se virar em nossa direção para descobrir qual dos príncipes tinha companhia para a noite.

– De todas as coisas que falei você só guardou isso? – ela estava incrédula com minha petulância. Não conseguia acreditar que estava pensando em seus talentos como contorcionista.

– Calma senhorita. Eu me lembro de tudo o que você falou, mas de todas as suas profissões essa foi a mais surpreendente. – encontrava-me tomado de lucidez depois da pequena caminhada que havia feito. Quando entrei em meu quarto percebi a carga de poder ao trazer uma selecionada a ele. Lis descobriria alguns de meus segredos apenas em olhar para a maior parede do quarto: toda a minha coleção de fotos, armas e desenhos guardados desde minha infância expostos para seu julgamento. Se não bastasse, ela poderia imaginar que alguma coisa aconteceria conosco agora que não seríamos interrompidos. Eu estou ferrado.

Fingi que não tinha nada demais em ter uma mulher que não tivesse o mesmo sangue que o meu ou fosse Maria. Encaminhei-me para a sacada para respirar um pouco de ar fresco, uma vez que estava sentindo muito calor, e as camadas de roupa não ajudavam. Deixei Lis perambulando pelo quarto, ouvindo ocasionais exclamações e seus passos de um lado para o outro.

Eu tentava tirar a gravata borboleta com muito custo, já que não achava a parte certa para puxar. Lis então surgiu em minha frente, pronta para desatar o nó da gravata e me ajudar a tirar o smoking. Naquele momento eu via apenas ela, linda e cuidadosa ao abrir os botões da minha roupa. Meu coração batia cada vez mais rápido e minhas mãos tremiam, deixando que ela fizesse todo o trabalho.

Com o toque de uma pena ela puxou a gravata de uma vez só e escorregou o paletó por cima de meus ombros. Antes de abrir os botões do meu colete, ela permaneceu com as mãos em meus ombros e eu só conseguia pensar em quão tentador seu perfume e sua boca eram. Delicadamente, afastei seus cabelos de seu rosto, puxando-a para perto para beijá-la. No último momento, um movimento no jardim chamou minha atenção: duas meninas gritavam uma com a outra e logo Celeste entrou no meio da confusão.

– Nós precisamos ir. AGORA. – puxei Lis pelo braço e saímos correndo pelas escadas para evitar um grande problema e causar a expulsão de alguém. Quando passávamos perto de um guarda, fingíamos estar apenas caminhando, conversando baixo para ninguém desconfiar. Depois do que pareceu uma eternidade chegamos ao jardim para descobrir um verdadeiro caos.


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Notas finais do capítulo

Eu espero, do fundo do meu coração, que tenham gostado deste capítulo e que não tenha ficado maçante. Eu queria terminar o ano com chave de ouro e espero ter conquistado o meu objetivo...

Então boas festas e que 2015 traga tudo o que estamos aguardando

Bjo, de uma escritora que escreve demais