Royal Hearts escrita por Cams, Tamires, nat


Capítulo 12
Julian - Um cavalheiro numa armadura doce


Notas iniciais do capítulo

Não sei porque, mas o Nyah! Esta com dificuldades em aceitar minhas notas iniciais, por isso terei que coloca-las no começo do capitulo.... Sinto muito....



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Bom dia meus amores! Estou muito feliz hoje ao postar esse capítulo... Queria agradecer do fundo do meu coração as duas recomendações que recebemos essa semana ♥ ♥ ♥ Juro, mas meus olhos encheram d'água quando as li. Eu amo vocês Erza e Eli ♥ Os outros leitores não precisam ficar com ciumes, também te amamos!
Tenho dois avisos: o primeiro é mais um pedido de desculpas pelo tamanho desse capítulo que escrevi. Estava empolgada e precisava escrever cada parte do jeito que ficou... O segundo aviso é para os leitores que ainda não sabem. Royal Hearts - Interativa tem um trailer! O link é esse aqui https://www.youtube.com/watch?v=CT2FnUIxPK4 (para quem for ver no celular, assista sem ser pelo aplicativo do youtube. Não sei o que fiz de errado, mas não é possível assistir por ele).
No mais, boa leitura!

~Cams

Estava a meia hora à espera do meu irmão em frente ao salão das mulheres, mais ansioso do que nunca. O que senti no dia da apresentação das selecionadas não era nada em comparação com o que estava sentindo no momento. Tentando me distrair, passava a mão no meu terno cinza, abrindo e fechando os botões até que finalmente um caiu no chão. Sem perceber meu desespero com minha roupa, Silva se aproxima de mim com um semblante sério.

–Antes que você se encontre com as selecionadas tenho o dever de lhe informar a situação de uma delas. – imediatamente comecei a pensar que uma delas havia desistido, começando toda essa história de Seleção com o pé esquerdo e mais desanimado ainda. Inconsciente dos meus pensamentos Silvia continuou: - Antes que venham ao palácio, todas as garotas são examinadas por médicos, e uma delas apresentou uma doença bastante séria. Conhecida como autismo, ela possui dificuldades em se relacionar com as outras pessoas, sendo muito introspectiva. Mas, ficou definido que ela não apresenta nenhum perigo a você ou qualquer um neste lugar.

– E qual delas seria? – o rosto das dez garotas passaram rapidamente pela minha cabeça e não conseguia imaginar como uma delas seria autista.

– Estou falando da senhorita Charlotte Gray. – Eu me lembrava dessa menina. Na primeira vez que a vi percebi que estava envolta a um mistério, porém nunca conseguiria imaginar isso.

– O Rei Maxon ao tomar conhecimento disso decidiu prosseguir com a Seleção, mas pediu para lhe avisar que se você se sentir incomodado com a situação, poderá eliminá-la ainda hoje.

– Eu preciso conhece-la primeiro. Não tomarei nenhuma decisão precipitada, principalmente pela razão que ela inscreveu-se na Seleção então, está no lugar certo. – Tudo seria mais complicado com ela, mas estava disposto a correr o risco.

Nesse instante Shay chegou para seguirmos com as apresentações. Meu cabelo provavelmente estava um caos, depois te tanto passar as mãos nele em completo desespero, mas na falta de um espelho tive que seguir adiante e entrar no salão.

Me encaminhei para o sofá que minha mãe sempre ficava, onde era possível avistar o jardim e observar as atividades dos criados e os frequentes treinamentos que eu e Shay fazíamos ao ar livre. Fiquei em pé esperando a primeira selecionada se aproximar e quando Solaria apareceu fiz uma pequena reverência, recebida com um sorriso e outra reverência.

– Bom dia senhorita.

– Bom dia alteza. Teve uma noite tranquila? – Solaria estava nervosa, mas tentava amenizar a situação com um sorriso e falando primeiro.

– Na medida do possível. – Respondi sorrindo. – Não consegui dormir muito bem sabendo que encontraria dez garotas desconhecidas num mesmo ambiente.

– Isso não é verdade. Você nos viu ontem. – Sol me corrigiu rindo. Como eu podia ter esquecido o episódio?

– Você está certa. Mas no final das contas não conseguimos ver nada atrás das cortinas. Minha ideia foi péssima. – Pelo menos minha mãe e meu pai não lembraram de me dar sermão.

– Não tanto assim. Vocês três mostraram para nós que os príncipes também podem ser um pouco descontraídos. – comentou rindo. -Todas as meninas estavam preocupadas que vocês seriam sérios e nada divertidos.

–Por isso ficaram rindo da nossa cara ontem né? Precisamos nos redimir então. – Certamente o rei nos repreenderia por nossa inconsequência. – Contudo terá que ser em outra hora senhorita, nosso tempo acabou. -Com uma cara decepcionada, Solaria se despediu com um aceno de cabeça e um tchau discreto.

A próxima garota que se aproximava me olhou nos olhos até estar próxima a mim, sem desviar o olhar fez uma reverência em minha direção. Lara conseguiu me hipnotizar a ponto de esquecer de fazer uma reverência primeiro.

– Bom dia príncipe Julian. – Lara possuía um sorriso acolhedor e parecia estar sinceramente feliz.

– Bom dia senhorita Lara, mas você pode me chamar apenas de Julian. Ou Jules...- completei.

– Acho melhor não. – diante da cara confusa que eu fiz continuou. – Imagina eu te chamo de Jules na frente daquela mulher brava de terninho? Provavelmente levaria uma bronca por isso.

– Silvia não é fácil mesmo. Ela pode ser bem nervosa se você fizer algo que ela não goste. – quantas vezes ela não havia puxado nossas orelhas quando aparecíamos desarrumados poucos minutos antes de irmos ao ar? – Mas não se preocupe, minha mãe, a Rainha America, na verdade, nos permitiu o tratamento informal dentro do castelo. Portanto não se preocupe em se dirigir a mim ou aos meus irmãos por alteza.

– Isso é um alívio, porque é estranho chamar alguém que tem quase a minha idade como se fosse um velho barbado. – Apesar da postura séria a garota em minha frente me surpreendeu reagindo com divertimento diante da situação que estávamos. Em seguida um silêncio se instalou entre nós dois, e eu finalmente reparei no cordão que descia por seu decote.

– Você realmente está olhando para o meu decote?- Lara perguntou com certa ironia na voz.

– Não, eu não estava... Por favor.. Não.. Eu só... O seu cordão.... – eu não conseguia formular uma frase de tão embaraçado que estava. Não precisava ver meu reflexo para perceber que estava tão vermelho quanto um tomate.

– Aham, sei. – ela já não estava irritada, e notei que respondeu com certo divertimento. – Talvez eu te mostre o cordão no nosso próximo encontro. -Com isso levantou fazendo uma última reverência e me deixando sem palavras para a próxima selecionada.

– Ooooi? Tem alguém em casa? – uma loira já estava sentada em minha frente, tive que piscar algumas vezes para me concentrar.

– Me perdoe, é que a última conversa terminou um pouco estranha. – respondi sinceramente. Tentando melhorar a situação continuei com a conversa, falando a primeira coisa que me passou pela mente: - gostou do tour pelo palácio?

– Ah sim, principalmente a parte do grande salão. – Louise se segurava para não rir na minha frente, mas quando eu comecei a rir ela não se segurou mais.

– Acho que nunca conseguiremos fazer vocês esquecerem isso, não é verdade? – mesmo envergonhado precisava admitir que a cena do dia anterior foi muito cômica.

– Definitivamente não. Mas você pode fazer algo mais marcante que isso. – com a mudança drástica de humor, Louise piscou para mim e levantou-se. – Tenha um agradável dia Alteza.

– Me chame de Julian, por favor. – a garota se afastou com um sorriso travesso nos lábios, com cara de quem havia atingido seu objetivo. Apenas três garotas tinham se apresentado e eu já estava morto de fome. Só conseguia pensar em comer, mas dando uma olhada no salão perdi a fome ao avistar Charlotte.

Com um vestido vermelho que realçava a pele branca e os cabelos loiros, a menina com o nome impronunciável se aproximava. Quando tentei fazer uma reverência, ela se aproximou do meu rosto e deu um beijo em cada bochecha. Transtornado olhei em volta e encontrei o olhar mortífero de Sarah em nós dois.

– Me desculpe pelo tratamento, mas sempre cumprimento as pessoas assim. – a garota explicou com um sotaque carregado semelhante ao de Pierre.

– Eu que peço perdão senhorita, porque não me lembro de seu nome. – admiti envergonhado.

Com uma careta ela se apresentou: - Eu sou Lis Calès Tallet Bousquet Caillat Debet Mouret Ferrier Vignolle Schaeffer. Mas me chame apenas de Lis, alteza.

– Tudo bem, me chame apenas de Julian, Apenas de Lis. – falei rindo. Primeiro ela ficou com uma cara séria, me amaldiçoei eternamente pelo excesso de doces do dia anterior ou pela falta deles no momento. Porém, logo em seguida Lis explodiu em uma gargalhada estrondosa, chamando até mesmo a atenção do Shay que estava do outro lado da sala. Aliviado, me juntei a Lis nas risadas, pensando em me conter com as outras selecionadas.

– Ok Apenas de Julian. Este será nosso cumprimento a partir de agora. – disse ainda rindo.

– E você poderia me dizer o motivo do tamanho do seu nome? – perguntei curioso. Eu já havia percebido que, ou ela era francesa ou era descendente de um, e comecei a me preocupar com a presença de Pierre no palácio.

– Acho que meus pais escolheram esse nome apenas para me envergonhar. – Lis ainda sorria, então havia algo há mais na história. – Eu sou filha do prefeito de Carolina e tanto ele quanto minha mãe são da realeza francesa. Por isso meu nome gigante. – Então eu realmente não estava enlouquecendo, já tinha escutado esse nome, e de alguma forma, ela era relacionada a família de Pierre.

– Apenas de Lis, gostaria de lhe fazer outras perguntas, mas infelizmente nosso tempo acabou.

Com outros dois beijinhos Lis foi embora me deixando com diversas dúvidas.

A próxima pessoa a se aproximar era Sarah. Ela estaria linda se não fosse a carranca que possuía no lugar do rosto.

– Está tudo bem senhorita Sarah? – perguntei preocupado. Não tinha nem um minuto que estava com ela e eu poderia já ter feito algo errado.

– Eu estou bem sim, mas acho que algumas pessoas deveriam saber seu lugar. No mínimo como agir diante da realeza. – Sarah olhava na direção de Lis, e enquanto falava pude perceber uma certa irritação em sua voz. Percebendo como soava rude, logo se pôs a redimir. – Mil desculpas Alteza, eu não tinha a intenção de ser grossa, ou parecer ciumenta. – Me surpreendi com a sua última fala, refletindo na minha feição, fazendo-a coroar. Nunca imaginaria que faria alguém como ela ficar tímida.

– Então, por que você se inscreveu na Seleção? – esperava que assim ela ficasse menos envergonhada, porém tive a reação oposta: Sarah conseguiu ficar ainda mais vermelha.

– Eu estou aqui por sua causa. – respondeu com cabeça baixa. Agradeci, pois assim ela não pôde ver minha reação. Comecei a engasgar sem motivo e a ficar roxo de vergonha com sua resposta direta.

– Hmm, que bom que você foi escolhida então. – foi só o que eu consegui responder.

– Eu sei, e espero poder ficar aqui durante um bom tempo. – Sarah sorria

– Por hora, nosso tempo acabou, mas também espero que fique aqui. – respondi também sorrindo. Sarah foi embora com um clima mais leve do que chegou, o que me aliviou um pouco.

Depois de tanta confusão, a próxima garota que se aproximava possuía o andar leve e parecia caminhar nas nuvens. Com um vestido azul claro simples e sapatilhas, conseguia transmitir uma alegria genuína.

– Bom dia senhorita Luna.

–Alteza... – sorriu e fez uma reverência. Ao se abaixar para o cumprimento, senti um cheiro de cookies que despertou minha atenção. E minha fome.

– Você também está sentindo esse cheiro? –virei meu rosto na direção da porta do salão, mas nunca conseguiria sentir o cheiro daqui. Luna começou a cheirar seu cabelo, pensando que a culpa era dela, e logo após abriu um sorriso envergonhado.

– Cheiro de cookies? – depois que acenei em confirmação ela continuou: - acho que a culpa é minha. - Me aproximei dela para sentir o cheiro e, realmente, o cheiro delicioso vinha dela.

– Esse é um novo tipo de perfume? – perguntei rindo

– Me desculpe pelo cheiro. Eu realmente sinto muito. Eu não consegui dormir muito durante essa noite, e assim que levantei fui para a cozinha relaxar. – Minha expressão deve ter sido muito engraçada pois ela imediatamente começou a rir. – Você deve estar achando que sou louca. Mas isso é mais do que natural. Antes de vir ao palácio eu trabalhava num restaurante, e sempre ia dormir tarde e acordar cedo; então cozinhar agora é uma terapia para mim. Só que eu quase fui expulsa a colheradas da cozinha por uma senhora que estava lá. Acho que o nome dela é Maria.

Dessa vez foi a minha vez de rir. Conseguia imaginar a cena de Luna toda arrumada entrando na cozinha e Maria a xingando e mandando-a embora de lá com uma colher na mão e gesticulando abertamente.

– Maria é uma ótima pessoa, ela nunca faria isso se não fosse para o seu bem. –comentei sorrindo. – Provavelmente imaginava que a repudiaria se me encontrasse com farinha no cabelo ou algo do tipo. Mal sabe ela que seu cheiro me atraiu muito. – minha intenção não era flertar, mas o comentário acabou soando como um flerte. Envergonhado olhei para baixo e vi que o tempo havia passado depressa.

– Sinto muito Luna, mas nossa conversa terá que parar por aqui. – Com um sorriso triste Luna se levantou. Antes que fosse embora finalizei: - pode falar com a Maria que eu te dou a autorização para entrar na cozinha, principalmente se for para fazer cookies, minha segunda comida favorita.

Ainda sorrindo me virei para observar a próxima garota que vinha em minha direção e, em vez de um sorriso, meu queixo caiu. Nicollet usava um vestido curto sem alças que marcava completamente seu corpo. Vendo-a me lembrei de sua foto de inscrição, em que estava sem blusa. Conscientemente tentei controlar minha reação de forma a não ficar vermelho toda vez que uma das selecionadas me deixassem um pouco mais do que admirado.

– Bom dia Nicollet.

– Bom dia alteza.

– Eu realmente tenho que avisar a Silvia para ensinar a vocês a parar de me chamar de alteza ou príncipe. – comentei com um sorriso. – Você pode me chamar de Julian.

– Tome cuidado com o que vai pedir, senão daqui a pouco estaremos inventando apelidos carinhosos para você. Acho que não gostaria de ser chamado de pequeno cupcake não é? – perguntou rindo.

– E alguém gostaria de ser chamado assim? – indaguei rindo também

– Um dos meus irmãos tem esse apelido. Ele é como você, alto, todo musculoso, com cara de mau.

– Acho que você está falando com o gêmeo errado. – infelizmente

– Então você não é alto e musculoso? – com isso ela flexionou os braços, mostrando um pequeno músculo em seu bíceps.

– Alto posso até ser, mas musculoso e com cara de mau eu não sou. – falei debochadamente.

– É sim. – num ímpeto Nicollet pegou no meu braço e apertou. Fiquei surpreso, mas não a afastei. – Está vendo? Minhas mãos não se fecham ao redor do seu braço, e ele é durinho. – A última palavra ela disse me cutucando, fazendo cócegas em mim.

– Ok, você venceu. Talvez eu seja um pouco forte mesmo. Infelizmente não poderei provar isso a você, já que nosso tempo acabou. Quem sabe no nosso próximo encontro? – perguntei imaginando quando nos veríamos novamente.

– Combinado então. Mas pode apostar que você não conseguirá me derrubar facilmente cupcake. – com uma cara travessa Nicollet foi embora.

Levantei-me para receber Royal, a observava caminhar tranquilamente, mas no meio do caminho pisou no próprio vestido e tropeçou, indo em direção ao chão. Antes que pudesse cair, corri para ajudá-la, evitando sua queda. Levantando-se como se nada tivesse acontecido, me olhou no fundo dos olhos e continuou a caminhada até o sofá. Ainda com o seu olhar em minha cabeça me encaminhei para seu lado.

– Está tudo bem senhorita? – ainda estava preocupado com ela, mesmo que ela parecesse não ligar para o que havia acontecido.

– Por quê? Não aconteceu nada. – Royal respondeu com um ligeiro sorriso. Seu otimismo era encantador.

– Verdade, acho que me confundi.

– Então Royal, já está sentindo falta de casa? – Ao falar de casa seu rosto adotou um semblante sério, que me fez arrepender de ter perguntado.

– Na verdade não, eu não tenho uma família para sentir saudades. A não ser que o Bocão e o Banguela que moram na delegacia onde eu trabalho sejam meus parentes. – Royal respondeu séria, mas o assunto era cômico, então comecei a rir. Como uma garota tão bonita como ela trabalharia numa delegacia?

– Qual a graça alteza? – Ela indagou parecendo meio irritada. Ouvindo o seu tom percebi que alguma coisa estava errada.

– Você estava falando sério? Realmente trabalha numa delegacia? – não sabia se ficava surpreso, intrigado ou preocupado por ter reagido como um canalha diante da triste história da garota a minha frente.

– Sim, e qual o problema nisso? -Antes que eu pudesse responder, continuou: - Além de trabalhar numa delegacia tentei virar guarda aqui no palácio, mas aparentemente para guardar o Rei ainda recrutam-se apenas homens.

Como eu poderia responder diante dessa acusação indireta? Por mais que há alguns anos já houvessem mulheres no exército, nenhuma delas era redirecionada ao palácio. Nunca parei para pensar no fato, mas no fundo ela tinha razão.

– Acho que te fiz refletir né? Então vou embora. Nos vemos novamente. – continuei calado, e apenas acenei com a cabeça diante de sua reverência. – Alteza.

Essa conversa me deixou transtornado e me virei para a janela para observar Amberly e Sarah brincar ao longe no parquinho. Nem percebi que outra pessoa também estava ao meu lado, observando a cena.

– Ora, ora, ora, se não é a famosa Samanta Wayne. – Sam estava mais bonita que eu me lembrava, e muito diferente em vestido preto solto mas com um corpete prata. Ela nunca perde seu estilo. Ao me levantar para fazer uma reverência, Sam deu um pulo e abraçou o meu pescoço.

– Sem essa príncipe. Acho que pulamos a parte em que temos que fazer reverência um para o outro. – Sam ainda estava me abraçando, só depois consegui reagir e a abracei forte. Por cima dos ombros de Sam conseguia ver todas as outras selecionadas, que lançavam olhares odiosos em nossa direção.

Me afastando argumentei: - Mas nenhuma das outras garotas sabe que nos conhecemos. Não olhe agora, mas acho que praticamente todas querem te matar ou estar no seu lugar.

– Imagina se elas soubessem que já o vi sem camisa? – cochichou perto do meu ouvido. – Acho que seria assassinada em menos de um dia. – Sam se divertia com a situação e não parecia se abalar com todos os olhares em nós dois. – E você, já contou para o Rei Maxon sua pequena peripécia?

– Não está sabendo e nem pretendo contar. – cismado, comecei a olhar para os lados para conferir se alguém não havia escutado a conversa.

– Tudo bem Jules. Seu segredo está guardado a sete chaves. – Sam trancou seu lábios e jogou a chave pela janela.

– Sam, posso fazer uma pergunta? – há dias eu me questionava e entrava em conflito com todo o sistema de governo e a própria seleção.

– Qualquer uma.

– Você ainda se arrepende de ter colocado a ficha de inscrição no correio? – eu sinceramente esperava que a resposta fosse não, mas ainda me lembrava do dia em que a conheci.

‘–Sinto muito que você perceba assim, mas saiba que assim que entreguei os papéis no correio me arrependi de ter feito isso. –Samanta soava sinceramente arrependida e completou tentando suavizar a situação: -Agora é torcer para que eu não seja escolhida.’

– Quando ouvi meu nome no dia da divulgação ainda estava trabalhando, e meu cliente mostrou minha foto na tv do estúdio. Eu não conseguia acreditar que tal infortúnio poderia ter acontecido, e só conseguia me amaldiçoar e a tudo isso... – ela dizia apontando para o nosso redor – por me fazerem passar por isso. – ela finalmente apontou para nós dois, me olhando no fundo dos olhos.

“Então Jules, a resposta é não, eu não me arrependo por poder te encontrar novamente e pela possibilidade de nos divertimos juntos”

Escutando isso soltei a respiração que estava prendendo, feliz pela resposta que escutei.

– Sam, infelizmente temos que acabar com nossa conversa. Eu ainda tenho mais uma garota para conhecer, e estou morrendo de fome, então quero acabar logo com isso. – disse sorrindo.

– Ok príncipe faminto. Nos vemos mais tarde. – me surpreendendo, Sam fez uma reverência para mim e sorriu para a última selecionada.

– Bom dia senhorita Charlotte. – fiz uma reverência a ela, que respondeu apenas com um sorriso. A única coisa que eu lembrava sobre os autistas era que eles não gostavam de falar abertamente, então decidi ocupar todo o nosso tempo falando por nós dois. Porque a Silvia não me avisou antes?

– Espero que tenha tido uma noite agradável no palácio, e que nossa pequena irresponsabilidade não a tenha assustado, apenas a divertido. – Com isso fiz a doce menina em frente a mim rir um pouco. – Mas não se acostume, não é sempre que consigo fazer meu irmão desmaiar na frente de garotas tão bonitas como vocês.

“Sinto muito por ter feito você esperar tanto para conversar comigo, mas acho que deveria dar uma atenção a você. – Eu dizia tudo com muita sinceridade, e Charlotte também percebeu isso, me olhando rapidamente para depois desviar o olhar. – Imagino que tenha uma família. Eu estou certo? E você sente saudades deles?”

– Sim, sinto muita falta do meu irmãozinho George. Gostaria que ele estivesse aqui. – disse triste, passando a olhar pelo jardim, onde Sarah agora brincava sozinha.

– Se você quiser, você pode voltar para casa. Você não precisa ficar aqui por minha causa... Pode desistir de tudo, é só me falar. – resisti ao impulso de toca-la com medo de a assustar e causar uma reação indesejada. – Você gostaria disso?

Por um momento pensei que ela não tinha prestado atenção no que eu tinha falado, pois permaneceu imóvel durante muito tempo olhando pela janela.

– Eu gostaria de ficar... Se você quiser – Charlotte me respondeu baixinho, quase um sussurro.

Mesmo com todos os problemas, eu sentia que a garota em minha frente seria muito especial em minha vida. De uma forma ou de outra, não a abandonaria jamais.

– Eu adoraria que ficasse.

Não sei se foi a demora para comer ou as conversas que me deixaram com mais fome, mas a única coisa que eu pensava ao entrar no salão para tomar o café da manhã era nos cookies que a Maria impediu a Luna de ajudar a cozinhar. Ao abrir as portas, meu pai e minha mãe já estavam na mesa, junto com o restante da família; também sentados estavam os príncipes, que intercalavam o olhar entre Celeste e as vinte novas garotas no ambiente. Todas elas pararam para uma reverência, umas mais desajeitadas que as outras, mas todas com um sorriso no rosto.

– É impressão minha ou certos príncipes já estão de olho nas nossas selecionadas? – Shay parecia irritado com o comportamento deles, ou eu deveria dizer dele.

– Eu não sei porque o Lorenzo está aqui ainda. Será que a Celeste precisa de mais do que cinco minutos para se irritar com ele? – Com isso fiz Shay rir enquanto nos sentávamos lado a lado perto do Rei.

– E como vocês se saíram? – Meu pai não perdia tempo em desfazer sua curiosidade.

– Eu quase passei mal novamente, e no meio de uma conversa uma garota me deu chocolate – Shay respondia sério enquanto era servido por Maria.

– Uma delas quase caiu na minha frente e eu passei fome por causa de outra que tinha cheiro de cookie. – Nem Shay nem Maxon conseguiram conter a risada depois do meu ataque de espírito guloso.

– Eu não acredito que aquela menina não tomou banho depois que se meteu na minha cozinha! Eu tentei tirá-la de lá, mas ela não queria sair de jeito nenhum! – Maria estava desesperada achando que era algo ruim, o que fez nós três rirmos mais ainda.

– E eu posso saber o que os meus meninos estão achando tanta graça? – Minha mãe parecia intrigada, deixando de lado a postura de realeza, assim como meu pai. Nesse momento eu até poderia fingir que éramos uma família normal.

– Seus dois filhos tendo um primeiro encontro com as selecionadas. – Meu pai tentava manter uma postura séria, mas sem sucesso. – E nós dois achando que você gritando comigo não teria concorrentes na categoria “pior primeiro encontro”.

Meus pais riram em companheirismo, relembrando seus próprios momentos em sua Seleção. Eu realmente esperava que tivesse um futuro semelhante ao deles, e quem dirá, talvez um dia, ser o próximo rei.

Enquanto terminava de tomar café fiquei observando tudo a minha volta. O comportamento das selecionadas umas com as outras, o companheirismo que algumas delas já demonstravam, e até mesmo os príncipes. A situação deles não era a ideal, porém estava bem diferente de quando chegaram. Olhando para um deles me lembrei de uma história há muito tempo contada no palácio. O príncipe possuía um irmão com transtornos mentais. Mais precisamente, autismo. Eu precisava conversar com ele. Logo.

– Todos terminaram? – minha mãe perguntou olhando para todos na mesa. Diante da nossa confirmação, continuou: - Estava querendo a opinião de vocês na primeira tarefa das selecionadas, então pensei em conversarmos agora. Podemos ir?

Nos encaminhamos para o escritório do rei, acompanhados de perto por Silvia. Quando toda a família estava presente, America começou:

– Eu sei que é uma decisão muito precipitada, e que as garotas mal chegaram no palácio, mas por estarem despreparadas essa tarefa pode ser útil para todos. – modo rainha: ativo. – Pensei em organizarem as vinte garotas em dois grupos para planejarem uma festa de boas-vindas.

– Acho uma boa ideia, mas para quando seria essa festa, já que os príncipes estão aqui já faz uma semana? – Celeste parecia interessada, e eu podia apostar que planejaria algo especial para a festa também.

Com uma cara amarga, Silvia respondeu: - Para daqui três dias.

– TRÊS DIAS?! – Shay e eu perguntamos em uníssono.

– America, nenhuma das garotas está preparada para organizar uma festa tão rápido. – Meu pai estava preocupado com as selecionadas, e era fácil entender o motivo. As meninas ainda não tinham se acostumado com todas as regras, na verdade nem as conheciam; além de que provavelmente estavam em choque por sua despedida.

– Isso não é verdade. Elas terão toda a ajuda que precisarem, tanto de mim quanto de Silvia, e são dez meninas por grupo; a organização delas será na verdade a primeira tarefa, não o sucesso ou grandiosidade da festa. – A tensão entre meus pais era nítida, mas nem por isso iriam discutir.

– Ela tem razão Majestade. Não há nada com que precise se preocupar. – Silvia tentava ser condescendente.

– Às vezes pai, isso será uma distração para todas elas. Com a festa, talvez fiquem empolgadas e estabeleçam amizades mais facilmente. – enquanto dizia isso meu pai me olhava com reconhecimento, e entendi que era isso que o preocupava. – Mamãe não teve que planejar uma festa para a corte italiana apenas com a ajuda de Kriss? – Meus pais trocaram um olhar, e percebi que minha mãe havia ganhado essa batalha.

– Tudo bem então. Reúnam as senhoritas e comunique-as da tarefa que elas têm que elaborar. - sendo assim, todos saíram do escritório para a suas devidas tarefas, e logo pedi para ser dispensado por algumas horas para conversar com o príncipe.

Assim que saí do escritório procurei por um dos guardas alemães que estavam no castelo junto com Aaron, que me informou que ele encontrava-se no quarto descansando. Não conseguia imaginar o motivo do seu descanso, mas o invejei. Dali para a frente cada dia seria mais longo que o outro, além de mais divertido e animador.

Bati na porta algumas vezes, e tive que esperar um bom tempo para ser atendido. Quando o príncipe abriu a porta estava completamente desgrenhado, com os cabelos bagunçados e uma blusa do avesso.

– Ainda bem que é você Schreave. Se fosse sua irmã estaria eliminado agora mesmo. – Aaron possuía um sotaque alemão carregado, e várias vezes durante esses dias falava em alemão sem perceber. Enquanto se afastava para eu poder entrar no quarto, percebi que sua cama estava desarrumada, mostrando o motivo do príncipe parecer tão desalinhado. – E então, qual o motivo de sua ilustre visita a mim?

Uma das características que eu mais admirava no cara em minha frente: direto, além de objetivo e determinado. Muitos o viam como um verdadeiro canalha por falar a verdade na frente de todos, mas eu sabia que era muito mais que isso. E um de seus segredos foi o que me levou ali.

– Eu preciso de sua ajuda. – Aaron fez uma careta muito engraçada, levantando uma sobrancelha enquanto abria a boca.

– Não me diga que em cinco minutos já conseguiu estragar tudo com alguma selecionada – seu tom era de deboche, mas conseguia perceber que fosse o que fosse, ele iria me ajudar. Me sentando em sua cama passei as mãos pelos cabelos em exasperação.

– Antes fosse eu. Eu estou completamente perdido e não sei o que fazer. – Decidi ser completamente sincero com Aaron, e para isso talvez eu o ofendesse. – Apenas hoje descobri que uma das garotas é autista. Assim como seu irmão.

Compreensão passou por seu rosto e um pouco de mágoa também. Aaron pôs-se a andar pelo quarto, inquieto com o assunto.

– E você quer minha ajuda.... – ele parou de andar para me encarar.

– Eu não sei como lidar com ela. A única coisa que sei sobre o autismo é que eles não conversam abertamente com qualquer um. E que não gostam de contato com desconhecidos. – Suspirei desanimado. Não queria que Charlotte fosse embora, mas não a obrigaria se sentir desconfortável. – Como seu irmão lida com tudo isso?

– Geralmente ele é muito tranquilo, e já se acostumou a estar rodeado de pessoas. Mas há dias em que fica inquieto, agitado, e apenas eu ou minha mãe conseguimos confortá-lo e fazê-lo se acalmar. – o famoso badboy da corte alemã estava completamente desarmado agora que falava do irmão. Lembrava do irmão com carinho, e eu acreditava no amor que nutria por ele. – A única coisa que posso te falar é que será difícil, mas não impossível. E a propósito, de quem estamos falando?

– Charlotte Gray. Uma morena com cabelo pretos. Linda.

– Eu sei quem é. Nunca passaria por minha cabeça que ela é como meu irmão. – o loiro estava pensativo, mas sabia que não pensava em Char como uma conquista, mas como alguém a proteger. – Te prometo Schreave, te ajudarei como puder.

O seu sorriso trazia confiança a mim, acreditando que realmente poderia encontrar um meio de me relacionar com Charlotte. Como ele disse, seria difícil, porém nunca desistiria de um desafio.

– Então o que eu faço agora?

– O que você já sabe: não a force a nada; não faça perguntas, deixe que ela as faça; não seja um idiota... Desse jeito vai dar tudo certo.

– E quanto ao primeiro encontro? Eu a levo onde? – esse pensamento passou pela minha cabeça, e eu não fazia a mínima ideia do que fazer para entretê-la.

– Meu irmão adora animais, e parece mais confortável quando um de seus cachorros está por perto. E ele também cavalga muito bem. Talvez ela goste de um dos cavalos daqui. – A ideia era muito boa, e definitivamente a levaria para conhecer Storm. Me levantando disse:

– Aaron, muito obrigado pela ajuda. Realmente me guiou e me tranquilizou quanto a situação da senhorita. Se tiver algo que eu possa fazer por você, apenas me comunique. – naquele momento faria qualquer coisa por ele. Só não imaginava que receberia um pedido tão rápido.

– Na verdade há algo que desejo desde que cheguei aqui. – Aaron me lançava o seu sorriso de conquistar corações, porém ele esquecia que eu era do mesmo sexo que ele. – Eu queria sua permissão para sair com sua irmã.

– Você está falando sério? - estava surpreso com o pedido, que seria concedido facilmente por mim.

– Creio que deveria ter a permissão de seu pai, mas você também pode me conceder um encontro com Celeste. – Aaron era sincero e, ao contrário do que todos pensavam, era um verdadeiro cavalheiro. – Além do mais, é o mais correto a se fazer.

– Seria uma honra que minha irmã tivesse o primeiro encontro com você. Mas acho que ela estará ocupada até a festa de domingo. – No fundo de toda a nossa conversa escutei a linda melodia de um violoncelo vinda do quarto de minha irmã. – Escute, acho que está praticando para uma apresentação.

– Então é ela quem toca todos os dias? - Aaron estava maravilhado com a notícia, como se um novo mundo tivesse sido descoberto.

– Sim senhor. Agora tenho que ir. – Indo em direção a porta fiz uma reverência e me despedi, escutando um Danke* ao sair. Aliviado por retirar a montanha que esteve presente durante todo o dia nas minhas costas, segui em direção ao escritório apenas para receber outro fardo para ocupar o lugar.

*Danke = obrigado.


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Notas finais do capítulo

Gente, sinto muito pelas piadinhas terríveis, mas como o Jules, acho que comi muito doce na hora de escrever o capítulo kkkk
Espero que tenham gostado!!!
Comentem, favoritem, recomendem e podem nos criticar também....
Bjooo Cams