Sete anos atrás

Eu não acreditava que teria que ter essa conversa. Sempre pensei que depois de casados, Maxon e eu conseguiríamos extinguir toda a tradição e protocolo que existia por trás de cada príncipe e princesa de Illéa. Desde que Amberly nasceu vinha tentando encontrar uma solução para o casamento arranjado para a qual estava destinada, mas nada era bom o suficiente para o Conselho. Maxon sempre me apoiou, porém não havia como dobrarmos trezentos anos e relações internacionais apenas pelo bem estar do governo; pelo menos era isso o que os conselheiros argumentavam.

Finalmente depois de tanta procura e estar perdendo as esperanças, achei num diário de Gregory Illéa, a saída ou talvez uma alternativa para conquistar a felicidade da minha filha. Uma seleção.

Neste momento estávamos reunidos no escritório do rei, apenas eu, Maxon e Amberly. Ela parecia ansiosa, e nós dois nervosos por termos que impor uma situação tão desconfortável para nossa amada filha. Porém, ambos sabíamos que essa era a melhor situação, pelo menos ela teria a chance de se apaixonar, como Maxon havia se apaixonado por mim em sua própria Seleção.

– Querida, você já deve imaginar sobre o que queremos falar com você. - Disse Maxon o mais delicadamente possível. - Você estará fazendo dezoito anos em alguns meses, e já recebemos propostas de casamento para você de diversos lugares do mundo. – Enquanto dizia isso observava minha filha. Ao mesmo tempo em que aparentava a calma de seu pai, eu conseguia notar a força por trás de seus olhos, uma força que lembrava a mim mesma, além de seus cabelos vermelhos e ondulados como os meus.

– Sempre odiei essa situação pela qual todas as princesas devem passar, e por isso desde que nasceu procurei por uma solução, mas infelizmente não poderá fugir de seus deveres de princesa. - Quando acabei de dizer isso, a decepção estava estampada no rosto de Amberly, lembrando-me de sua avó no dia em que pronunciei meu projeto durante a Seleção para todos os habitantes do país. – Contudo, consegui driblar um pouco essa situação, e com a ajuda de seu pai, consegui convencer o conselho a aceitar uma nova Seleção. Desta vez para uma princesa.

Não conseguia imaginar o que se passava na cabeça da minha filha. Surpresa? Felicidade? Ou raiva por não termos conseguido evitar tudo pelo qual passaria? Apenas alguns segundos depois abriu um enorme sorriso, um igual ao que me apaixonei tantos anos atrás. Amberly correu ao redor da mesa e abraço primeiro o seu pai e depois a mim, falando vários “obrigada”.

Após essa demonstração de afeto, Amberly voltou a se sentar e assumiu uma postura séria e até mesmo um pouco nervosa, o que eu não conseguia entender.

– Mãe. Pai. Espero que aceitem o que eu irei propor agora. - Maxon e eu nos entreolhamos com caras de dúvida. O que nossa filha estaria aprontando? – Eu não quero uma seleção. Mas também não quero um casamento arranjado. Eu quero poder escolher meu marido, me apaixonar, assim como qualquer outra garota em Illéa.

– Mas você não é uma menina qualquer...- Maxon a interrompeu, meio desapontado.

– Eu sei, e graças a isso eu tive a oportunidade de conhecer o amor da minha vida. – Terminou um pouco nervosa. – A princípio essa é uma péssima ideia, mas vocês ficarão felizes. –Depois de um longo suspiro continuou: - Eu quero me casar com o Adam, e eu espero que vocês me deem sua benção.

Levei apenas um segundo para processar o que minha menina estava falando. Ela estava apaixonada pelo filho de August e Georgia, nossos queridos amigos e também governantes de Illéa. Agora que havia exposto o fato, comecei a lembrar de todos os momentos em que estávamos reunidos, e os dois garotos sempre foram muito unidos. Achava que era a proximidade das famílias e nada mais que uma amizade, mas começava a lembrar de alguns olhares trocados, sorrisos discretos e escapatórias que apenas eu e Georgia conseguíamos perceber.

A felicidade que sentia por minha filha era tamanha que pensava que meu peito iria explodir a qualquer instante. Ela havia conquistado a única coisa que lhe desejava: o amor sincero. Olhando para o rei, percebia que não era a única por se conter de felicidade.

Diante de nossa reação, Amberly começou a chorar, acreditando que seria possível ser feliz sem que alguém interferisse. O casamento dos dois era a situação ideal que as duas famílias poderiam querer.

Contornei a mesa para poder abraçá-la, e Maxon juntou-se a nós nesse momento de alegria e carinho.

– Ah mãe, não consigo acreditar que vocês aprovam nosso casamento- Amberly falou em meio as lágrimas.

– Mas quem disse que nós aprovamos?- Perguntou Maxon tentando parecer sério, o que fez todos nós rirmos.

– Mal posso esperar para contar para o Adam. – Sua voz conseguia transmitir todo o amor que nunca havia percebido.

– Antes deixe-me falar com o Conselho querida, para termos certeza que tudo começará bem. Mas não tenho dúvidas de que todos aprovarão essa nova notícia.

Continuamos ali abraçados por um longo tempo, cada um pensando no futuro que estava por vir.

Um ano atrás

Novamente estava no escritório do rei, prestes a mudar o futuro de Illéa. Dessa vez, além de Maxon, Amberly e eu, novos rostos estavam presentes, dentre eles nossos filhos gêmeos e nossa filha caçula Celeste. Todos estavam apreensivos sobre o que o rei iria anunciar, até mesmo eu, que já sabia de toda a história.

– Vocês devem estar se perguntando o motivo de estarem aqui, principalmente você Amberly, que não mora mais aqui. – Maxon estava com seu tom de voz tenso, preocupado com as reações que se seguiriam. – Mas América e eu concordamos que vocês deveriam estar juntos para receber a notícia que temos que lhes dar. – A cada palavra que meu amor dizia, mais apreensivos nossos filhos ficavam. Era quase palpável a tensão no ar, e depois do que pareceu um longo momento, Maxon continuou:

– Julian e Shalom, vocês não terão uma Seleção esse ano.