Hoje muitos choram, mais não desistem de viver. Hoje muitos choram sorrindo.

Muitos Choram - Rosa de Saron

Acordar com Karina ao meu lado, com suas pernas por cima de mim, pode ser minha nova maneira favorita de acordar. Me desvencilho dela, e me levanto. De madrugada sentimos frio, então eu coloquei minha cueca e ela vestiu minha blusa, o que eu achei a coisa mais sexy. Fui a cozinha e dei uma olhada na hora eram apenas 9h da manhã, Karina disse que seu pai sempre chegava as 11h. Então com minhas pequenas habilidades na cozinha, coloquei dois pães na torradeira peguei a manteiga, e suco e iogurte na geladeira e deixei em cima da mesa.

– Bom dia, moleque. – minha linda namorada diz aparecendo na cozinha, toda gostosa na minha camisa que parava em sua coxa, e com a carinha amassada de sono.

– Melhor dia você quis dizer. – digo, a puxando para meus braços e lhe dando um beijo.

– Eca Pedro, acabamos de acordar. Nem escovei os dentes. – ela se esquiva reclamando.

– Nem ligo, mas se você dá tanta importância. – falo e revezamos para escovar os dentes. Resolvo tomar um banho, ela me dá uma toalha e eu a chamo para vir comigo, ela rir e me empurra para dentro do banheiro. Tomo um banho maravilhoso, e enrolo a toalha em minha cintura e vou até o quarto. Karina está na cama mexendo no celular, e assim que me ver percorre os olhos pelo meu corpo.

– Gosta do que vê? – pergunto parando na frente dela.

– Só vejo um frangote, todo magrelo. – ela desdenha.

– Nossa assim você me magoa. – digo, e então pego minha calça e a visto em sua frente. Ela me olha e morde o lábio, olhando diretamente para uma parte minha e em seguida ficando vermelha.

– Acho melhor você não me olhar assim, eu tenho que ir embora daqui a pouco, antes do seu pai chegar. – digo, abotoando a calça.

– Não sei do que está falando. – ela fala passando por mim, e indo para cozinha. Sorrio sozinho, e enfio a cueca no meu bolso, e pelo visto vou ficar sem minha camisa.

Depois a encontro na cozinha, e então sentamos e tomamos o nosso pequeno café da manhã, quando estávamos limpando a mesa escutamos a porta sendo destrancada.

– Ai meu Deus, meu pai. – Karina sussurra desesperada. – Anda Pedro, vai para meu quarto. Corre!

Saio correndo e vou pro quarto dela, e me enfio debaixo da cama. Tento escutar o que está acontecendo mas não dá para ouvir nada.

– Karina, eu juro que escutei um barulho. – escuto a voz do Gael bem de perto.

– Pai não pira, estou te falando que acabei de acordar. – Karina diz meio histeria.

– Okay se você diz vou acreditar. – ele fala, e então sinto alguém sentar na cama. – Sua irmã ainda não chegou?

– Não, nem vi ela. – ela responde, eu posso ver as pernas dela e sei que ela está nervosa, pois não para de mexer os pés. – O que acha de eu fazer um café da manhã para você pai?

– Já tomei na casa da Dandara, em falar nisso ela está vindo para cá com o João e a namoradinha dele vão almoçar aqui. – Gael diz se levantando. Eu o vejo indo em direção a porta. – Eu vou tomar um banho, e .... Ai.. – ele grita, tropeçando em algo.

– Pai? – Karina pergunta.

– O que é isso? – ele diz, pegando meu tênis no chão. - Karina Duarte, esse por acaso é o tênis do seu namorado? – ele diz com raiva contida.

– Lógico que não, nunca vi isso na vida. – Karina diz rápido demais.

– Sério? Então como isso veio parar aqui? – ele pergunta.

– Não sei, pode ser da Bianca. – ela responde, e então levanta os braços para cima e vejo a minha camisa subir pelas suas coxas.

– Karina o que você está fazendo com a blusa do Pedro? – Gael pergunta, e na hora penso. Ferrou!

– Ãn, que? Que blusa pai? – ela se enrola mais ainda.

– Essa que está em seu corpo. – ele responde. – É a blusa daquele guitarrista, ele veio com ela quando a pediu em namoro.

Putz, como ela vai sair dessa agora. Estamos tão ferrados!

– PEDRO? PEDRO PODE SAIR AGORA. – Gael grita pelo quarto.

– Pai, ele não está aqui. Pelo amor. – Karina tenta.

– Pedro, estou avisando, se não sair e eu te achar. Não ficará vivo para contar essa história a ninguém. – ele ameaça.

– Pai, por favor. – escuto a Esquentadinha implorar.

– Eu falei: PEDRO SAIA AGORA. – ele grita mais uma vez e eu me tremo todo. Lentamente vou saindo debaixo da cama, vejo a Karina toda vermelha morrendo de vergonha e vejo Gael todo vermelho com um olhar assassino para mim.

– Bom dia, sogrão. – digo já em pé.

– Bom dia, garoto enormemente estupido. – ele responde calmo demais, o que me assusta demais. – Quero que os dois se vestem, e venham me encontrar na sala. Dou apenas minutos.

Ele sai do quarto e eu e Karina olhamos um ao outro com medo.

– Ele estava muito calmo, o que eu acho que pode resultar sua morte. – ela diz, enquanto se esconde atrás da porta do guarda roupa para tirar minha blusa.

– Você sabe que já te vi pelada né? Tipo horas atrás. – digo, pegando minha camisa e a vestindo, e tem o cheiro da Karina nela.

– Sim eu sei, mas ainda não me sinto à vontade ficando nua perto de você. Já você se sente bem à vontade. – ela fala, e eu sorrio só de imaginar o quanto ela está corando.

– Então o que faremos? O que vamos dizer para ele? – pergunto.

– Sei lá, na verdade estava pensando em você pular a sacada e ir para sua casa. – ela diz, assim que termina de se vestir.

– “Cê” ta louca Karina, eu vou me esborrachar no chão. – digo cético.

– Okay então. – ela diz, e pega minha mão. – Vamos encarar meu pai.

Seu Gael estava sentado em sua poltrona que estava virada para o sofá maior, eu e a K nos sentamos de frente para ele, e ele apenas ficou olhando nossas mãos entrelaçadas.

– Então, primeiro de tudo. Vocês fizeram o que eu imagino que fizeram? – ele pergunta.

– Depende do que o Senhor pensou. – eu digo.

– Na verdade, eu estou pensando em arrancar com um machado uma certa anatomia sua, então acho melhor você não me instigar a isso.

– Calma pai. – Karina diz.

– Estou tentando, então vamos supor que fizeram aquilo. – ele diz pausadamente. – Primeiro de tudo, você se cuidaram?

– É claro sogrão. – eu digo, mas quando fico nervoso tendo a falar coisas que não deveria, tipo isso. – Apesar de amar muito a Karina, não quero Pedrinhos ou Karininhas correndo por aqui.

– Cala boca, Pedro. – Karina diz horrorizada. Enquanto Gael manda punhais pelos olhos em minha direção.

– Ta bom, calei. Não falarei mais nada. – digo, fazendo um zíper na boca.

– O melhor que você faz. – Gael diz. – Não quero saber detalhes, imaginar minha menininha fazendo essas coisas de adulto, me deixa em pavor e traumas me aparecem. O que quero saber é se é a primeira vez que isso acontece, ou toda vez que durmo na casa da Dandara, esse moleque vem para cá.

– Pai foi a primeira vez que isso aconteceu, e eu prometo que não farei mais isso. – ela diz.

– O que? Sério, isso? Karina, mas eu gostei tanto. – digo desesperado e já fazendo biquinho.

– Pedro, eu quis dizer mentir para meu pai. – ela fala braba, mas vejo que quer rir.

– Acho melhor você ir moleque. – Gael diz. – Pois apesar de tentar tratar isso com calma, você está me irritando.

– Até mais Esquentadinha. – eu digo, e ela me dá um beijo na bochecha.

– De noite, eu passo no Perfeitão. – ela fala.

– Vamos ver se isso vi acontecer. – Gael resmunga.

Assim que estou saindo, abro a porta e encontro tia Dandara, João e Camila.

– Pedrinho, o que faz aqui tão cedo? – a tia pergunta.

– Bom dia, Pedrinho. – diz João debochado. – Pera aí, essa roupa não é a mesma de ontem?

– Huum, o tia o João pode ir lá em casa comigo rapidinho? – eu digo, enquanto Jonhy me dá um sorriso malicioso.

– Posso sim. – ele diz. Então se vira para Camila. – Linda, daqui a pouco volto. Preciso ter uma conversa de homem com o Pedrinho.

– E cadê o homem? – Camila pergunta revirando os olhos, eu e tia Dandara rimos. – Ta tranquilo, é bom que passo um tempo com a K.

Eles dão um selinho, e eu e João partimos para minha casa. Vamos direto para meu quarto, meus pais ainda devem estar no restaurante e Tomtom na casa da vizinha como ela sempre faz toda manhã de domingo.

– Me conta ai, garotão. Rolou mesmo? – Jonhy diz pulando em minha cama.

– Sim. – eu digo e o sorriso bobo não sai do meu rosto.

– E foi bom?

– Foi ótimo, cara. Tipo a melhor sensação. Por mim fazíamos toda hora. – eu digo.

– Meu Deus, Camila nunca deixará eu ultrapassar essa linha. – ele diz gemendo.

– Como assim? Ela não quer? – pergunto com pena do meu melhor amigo.

– Não sei, é só que não temos muito tempo. Ela sempre prefere jogar, e quando estamos prestes a dá uns amassos, o René chega, o Edgard chega, a minha mãe chega. O mundo todo escolhe chegar na hora que estou prestes a me dá bem. – ele reclama.

– Vixi cara, já pensou em conversar com ela sobre isso? – eu digo.

– Já mais ela foge da conversa, na verdade acho que ela não é virgem, já eu. – ele diz tristemente.

– Como assim acha que ela não é virgem?

– Ela namorou uns dois anos um cara lá de onde ela veio. Quem namora dois anos e não rola nada. – ele fala.

– Jonhy vai com calma, talvez ela está no mesmo dilema que você. E quando for pra rolar, vai rolar. – digo, e me sinto muito entendedor do assunto.

– Pedro só por que fez isso com a Karina, não te torna um experct no assunto. – João diz e me taca um travesseiro.

– CHEGA, MARCELO. – assustamos com minha mãe gritando. – QUERO VOCE FORA AGORA.

Na mesma hora, saio correndo e vou para sala e encontro meu pai com duas malas jogadas a seus pés.

– Ficou louca, Delma? – ele pergunta.

– Na verdade, estou é cansada. Como você ousa fazer aquilo comigo? – minha mãe diz com raiva. – Ela se sentou na mesa, e vocês flertaram descaradamente na minha cara.

– Delma, não foi isso que aconteceu. – meu pai se desespera.

– O que está acontecendo aqui? – pergunto me manifestando, minha mãe vira para trás e vejo sus olhos cheio de lágrimas. – Seu pai está se mudando por um tempo.

– Essa parte eu entendi, e estou vendo. Mas o que aconteceu para isso acontecer?

– Sua mãe cismou que me viu .... – meu pai começa, mais então um vaso voa pela cabeça dele, por pouco não o acertando.

– Cismei? Eu VI Marcelo. – minha mãe diz. – Eu sai apenas por algumas horas, para ir ao mercado, e quando volto vejo o MEU marido sentado no NOSSO restaurante rindo e flertando descaradamente com a professora de natação da nossa filha.

– Eu não acredito. – eu digo, olhando com raiva para meu pai.

– Sua mãe está entendendo tudo errado. – ele tenta se explicar.

– Não pai, quem não está entendendo é o senhor. – eu digo, e vou até ele, e pego as duas malas e me direciono a porta e a abro. – Você precisa sair, sério. Acho que é o melhor.

Ele me olha mas não consigo olhar em seus olhos, eu nunca estive tão decepcionado na minha vida. Meus pais sempre foram meus exemplos de vida, sempre foram o meu casal favorito aqueles que me criaram e me deram a irmãzinha mais linda de todas. Meu Deu, e a Tomtom? Como ela ficará ao saber dessa história?

– Pedro, por favor. – meu pai diz.

– Só saia, depois conversamos. – digo, e então ele sai.

– Filho? – minha mãe me chama quando fecho a porta a porta.

– Espera só um momento. – eu digo, então me lembro do João. – Jonhy pode sair.

Ele sai envergonhado, e dá um abraço desajeitado na minha mãe e então chega perto de mim.

– Se quiser conversar, é só me mandar um sms. – ele diz e então se vira para sair.

– Você pode avisar a Karina, que é melhor ela não vir hoje no Perfeitão. – eu peço.

– Aviso sim, falou cara. – ele sai.

Vejo minha mãe sentar no sofá e colocar a cabeça entre as pernas e chorar. Vou para o lado dela, e ela me abraça.

– Me perdoa, meu filho.

– Hey dona Delma, não precisa se desculpar. – eu digo.

– Sim, eu preciso. Eu realmente tentei passar por cima de tudo, por você e Tomtom, mas não deu meu amor. – ela diz soluçando.

– Vocês vão se separar para valer? – eu pergunto. – Como vamos contar isso a Tomtom?

– Sim Pedro, agora é para valer, vou me divorciar do seu pai. E acho melhor esperar a Tomtom para contar, vai ser difícil e doloroso, mas terá que ser assim. – ela diz, e enxuga as lágrimas. – Eu sei que tudo está muito confuso e complicado, mas vamos resolver.

– Mais e o restaurante? E se ele quiser nossa guarda? O que vamos fazer? Aonde vamos morar? – eu me desespero, e então começo a chorar. – Não vamos nos mudar, só isso eu te imploro mãe. Eu tenho a banda, a escola, o João, meus amigos, e principalmente eu tenho a Karina, eu não vou deixa-la.

– Calma meu filho, calma. – ela diz acariciando meus cabelos, e eu choro de soluçar.

É incrível como tudo muda em apenas algumas horas, ontem eu tive a melhor experiência da minha vida, escutar a Esquentadinha dizer que me ama, foi com certeza meu melhor momento de toda minha vida, ele até ganha de quando Nanda disse que conseguimos a demo. E depois ficar com ela do jeito que ficamos foi com certeza foi outro, acordar com ela então. Na verdade eu não sei o que faço, não sei como isso irá me atingir essa separação dos meus pais. Mas de duas coisas tenho certeza: uma é que estarei do lado da Tomtom o tempo todo, fazendo o máximo para que ela não sofra muito. E a outra é que isso não atrapalhará em nada minha relação com a Karina. Eu a amo, e nem que tudo fique do avesso a única coisa que tenho certeza é que ficaremos juntos.