Charniel — Especial Dia dos Namorados escrita por Ana Beatriz Fahndrich


Capítulo 1
Capítulo único




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Já havia despertado há alguns minutos graças à luz do sol que entrava pela fresta da cortina e batia logo em seu rosto, mas não havia se levantado ainda. Estava apertada para fazer sua higiene matinal, mas tentava mentalmente convencer sua bexiga a esperar mais alguns minutos. Estava ocupada no momento. O que ela estava fazendo? Fitando com deleite a visão do homem ao seu lado que dormia serenamente. Seu peito nu subia e descia calmamente conforme sua respiração e pela expressão em seu rosto, Charlotte sabia que ele estava tendo um bom sonho.

— Espero que seja comigo – sussurrou para si mesma e sorriu.

Enquanto passeava os dedos pelo peitoral do marido, brincando com os pelos que havia ali, ela se perguntava quando é que ficara tão boba. Daniel mexeu com ela de uma forma tão devastadora que a vez acreditar em coisas que ela achava impossíveis, como o amor.

— Ficou bom mesmo?

— Sim. Vocêé uma menina linda, Charlotte!

— Obrigada. — Sorriu.

— Mas onde você pretende o usar? Que eu saiba, a senhorita está de castigo. — Ele arqueou a sobrancelha e ela riu.

— Estava pensando em... usar para você. Mordeu o lábio e Daniel respirou frustrado.

— Charlotte, você... Suspirou. Você tem que pararcom isso.

— Eu não consigo! Eu tento, mas eu só consigo pensar em você.

— Você me... Ele arregalou os olhos.

— Não! Não acho que seja capaz de sentir isso por alguém algum dia. Amor é um sentimento muito intenso. Não são todas as pessoas que são capazes de sentir. Mas eu o desejo. Ah, e como e o desejo, Daniel!

Depois do que aconteceu com seus pais, Charlotte achava que nunca encontraria alguém que amasse tão intensamente e que fosse recíproco. Mas Daniel lhe mostrou que não. Daniel a amou desde o momento em que pôs os olhos nela e, apesar do que ela fez com ele, ele estava ali com ela agora. Ele era seu marido, o pai de seus filhos, e ela acreditava não existir alguém na face da Terra que pudesse amar alguém mais do que ela o amava. Ela o amava e estava toda boba, principalmente naquele dia. Era um dia especial para eles e todos os casais apaixonados no mundo inteiro. Era o famoso Dia dos Namorados, mas para Char e Danny o Dia dos Namorados tinha um significado mais que especial. Era o “aniversário de pedido de casamento”, fazia exatamente cinco anos que Daniel havia lhe pedido para casar-se com ele e ela aceitou de muito bom grado.

Daniel se remexeu embaixo de sua mão, que ela logo tratou de paralisar com medo de acordá-lo, mas que voltou com as carícias e sorriu assim que viu pela primeira vez naquele dia aqueles globos azuis que ela tanto adorava.

— Bom dia, Sunshine — disse depositando um beijo nos lábios dele.

— Que horas são? — Perguntou descendo a mão pela cintura dela, sobre a seda da camisola branca que ela usava e tocando seu bumbum, onde repousou sua mão.

Char olhou para o criado-mudo procurando pelo relógio.

— Sete e meia.

— Droga!

Daniel se levantou em um pulo e foi para o banheiro, fechando a porta atrás de si. Se Charlotte estranhou seu comportamento? Não era de hoje que Daniel estava estranho. Estava seco com ela, falava pouco – quando falava –, e na última semana estava passando mais tempo fora do que dentro de casa. Ela só não entendia o que estava acontecendo.

Ou entendia, mas não queria acreditar.

Daniel lhe trair era algo que fora de questão. Mesmo que ele tivesse sido infiel no passado, ela sabia que ele não amava Emma. Ela sabia que o que o fez continuar com Emma foi ela e o que o fez trair Emma foi ela. Ela sabia que ele a amava.

Então o que o faria sair com outra?

Mas será que ele estava mesmo saindo com outra? Será que ele estava passando por algum momento difícil no trabalho e, ao invés de desabafar, estava guardando tudo para si e isso estava deixando-o estranho com ela?

Sentou-se na cama e abraçou os joelhos. Ficou encarando a porta do banheiro até essa se abrir e Daniel sair coberto apenas por uma toalha enrolada em sua cintura enquanto secava os cabelos com uma menor. Ficou observando enquanto ele se arrumava rapidamente. Em momento algum ele pareceu se agradar ou incomodar com os olhares dela sobre ele e isso irritou Charlotte. Ele parecia indiferente quanto à sua presença, dando-a mais certeza ainda de que algo estava errado.

Levantou-se da cama e foi até ele, que estava parado em frente ao espelho tentando em vão dar um nó em sua gravata. Não que ele não soubesse, mas a pressa é inimiga da perfeição.

— Deixe que eu faça isso.

Ele virou-se de frente para ela, que estava ao seu lado e esperou. Em poucos segundos sua gravata estava no lugar, perfeita.

— Obrigado.

Ele ia se virar para o espelho novamente, mas Char o puxou pela gravata, juntando o corpo dele ao seu e roubando um selinho do marido.

— Por Deus, Charlotte, eu estou atrasado! — Se desvencilhou dela e foi colocar os sapatos.

Algo estava muito errado.

Sem querer iniciar uma discussão, Char avisou que iria fazer o café e foi para a cozinha, passando antes no quarto dos meninos para ver como eles estavam, como sempre fazia, mas eles não estavam ali. Alan e Duncan foram dormir na casa de um amiguinho da escola. Char riu de si mesma, estava tão acostumada a ir ver se estava tudo bem com os filhos que até quando não estavam em casa, ela até o quarto deles checar se estava tudo bem.

Chegou à cozinha e começou a preparar um café da manhã reforçado para ambos, Daniel daria algumas aulas e uma palestra na faculdade e só Deus sabe quando ele iria tirar seu horário de almoço, e Charlotte, bem, há algumas semanas ela estava “comendo como uma draga”, como dizia sua tia Lucy. Daniel chegou à cozinha e deixou sua pasta sobre a cadeira ao seu lado e se serviu do café que já estava na mesa. Charlotte ligou a TV e o casal comeu enquanto assistia as primeiras notícias do dia na cidade de Los Angeles. A mais nova notícia era que havia começado as gravações de um novo filme sobre vampiros em que a protagonista era uma híbrida que trabalhava em uma organização que caçava vampiros e o protagonista era nada mais nada menos que um vampiro, o qual ela odiava.

— Esse filme vai ser demais! — Comentou após ouvir mais informações sobre o filme.

Daniel nada disse, apenas terminou seu café e se levantou, indo até ela e lhe dando um beijo nos lábios antes de sair pela porta.

Após terminar seu café da manhã, Char lavou as louças, secando-as e guardando-as em seus devidos lugares. Sua casa estava limpa, graças à Grace, a diarista, mas Charlotte não gostava de ficar sem fazer nada, então pegou as roupas que usaram no dia anterior e estavam no fundo do sexto de roupa suja e as levou atéà lavanderia do apartamento. Preparou a máquina de lavar e foi checar se tinha algo para tirar dos bolsos das calças e blusas e foi quando ela viu algo na blusa de Daniel. Sem crer que era o que estava pensando, aproximou a blusa dos olhos para checar melhor e sim, era marca de batom. Charlotte levou a mão à boca e sentiu os olhos lacrimejarem em uma velocidade incrível. Não. Aquilo não podia ser verdade, mas era. A prova de que aquilo que ela achava ser inacreditável estava diante de seus olhos. Daniel estava realmente lhe traindo.

Sentiu tudo girar ao seu redor se recostou na máquina de lavar, fechando os olhos. Suas mãos tremiam. Soltou a blusa, que caiu no chão e desligou a máquina de lavar. Foi para o quarto, sentando-se em sua cama. Inclinou-se, apoiando os cotovelos nos joelhos e escondeu o rosto com as mãos. Seus pensamentos voaram para o dia em que Emma pegou Danny e ela dormindo juntos.

Charlotte sentiu a claridade incomodar seus olhos, mas não queria abri-los. Estava tão bom ficar abraçada a Daniel, com a cabeça deitada em seu peito, que subia e descia conforme sua respiração calma. Ao perceber que não conseguiria dormir, abriu os olhos, se deparando com sua mão sobre o peito de dele e a mão do mesmo sobre a sua. Sorriu.

Percebeu que estavam sendo observados e levantou o olhar até o topo da escada. Arregalou os olhos e prendeu a respiração ao ver Emma. Sentou-se imediatamente e cutucou Daniel pela cintura ainda encarando a mulher à sua frente.

— Danny... — Chamou, porém o homem ao seu lado apenas resmungou algo incompreensivo. — Daniel! — Disse mais alto, balançando-o e o mesmo acordou, não entendendo a atitude da garota, até dirigir seu olhar para onde ela encarava e se deparando com sua esposa os olhando furiosamente.

— Emma! — Sussurrou — Eu posso explicar! — Se levantou.

— Explicar? — Riu sarcasticamente. — Explicar o quê? Que você anda comendo essa ninfeta que incrivelmente é sua enteada?

— Emma, por favor, eu...

— Cale a boca! — Gritou — Eu não quero ouvir suas explicações, Daniel! Como pôde fazer isso comigo? Eu pensei que você me amasse.

— Mas eu...

— Não ouse! Levantou o dedo indicador. Balançou a cabeça negativamente ao olhar para Charlotte sentada e abraçada aos joelhos. – Era isso o que você queria não era? Se vingar de mim me fazendo sofrer o mesmo que sua mãe sofreu ao me ver com seu pai.

— Emma, não fale besteiras! Daniel a repreendeu.

— Você vai defender essa desgraçada? Olhou descrente para o marido. — Não está vendo que ela lhe usou? O que ela disse? Que te ama? — riu — Você não a conhece tanto quando eu! Ela pode parecer um anjo quando quer, mas eu sei que não vale o prato que come!

— Chega! — Daniel gritou visivelmente nervoso.

Emma cerrou os olhos e balançou a cabeça negativamente.

— Quer saber? Vocês dois se merecem!

Agora ela sabia o que Emma sentiu quando os viu juntos, ou melhor, ela sabia que fora muito pior do que ela estava sentindo agora. Nem queria imaginar como teria sido se tivesse pegado Daniel em uma cama com outra mulher. As imagens dele com uma mulher que não fosse ela vieram em sua mente e Charlotte sentiu o peito doer. Por que ele fez isso com ela? Ele não amava mais? Por que então não pediu o divórcio? Era uma atração passageira que ele estava sentindo por alguém? Não importava se era atração passageira ou não, ele não devia ter feito isso com ela.

— Desgraçado! — Gritou e se levantou, pegando um porta-retratos que continha uma foto dos dois juntos e o jogando contra à parede. – Eu te odeio, Daniel, odeio!

Procurou pelo celular, encontrando-o sobre a cômoda e foi atéà mesma para pegá-lo, contudo, no meio do caminho, Char acabou tropeçando e caiu com as mãos frente ao corpo. Gemeu de dor ao sentir um caco de vidro cortar sua mão que, em poucos segundos já estava coberta de sangue.

— Droga!

Se levantou, indo até o banheiro e pegando uma toalha, a enrolando em sua mão para estancar o sangue. Voltou para o quarto e pegou o celular, indo atéàs últimas ligações e deslizando o dedo sobre o nome de Zoey, que atendeu no segundo toque.

Fale, amor da minha vida!

— Pode subir aqui?

Claro. Por que essa voz de choro, aconteceu alguma coisa?

— Te conto quando chegar aqui.

Tudo bem. Só vou terminar de colocar a roupa na Clarissa e chego aí.

— Okay.

Desligou e foi para a sala, destrancando a porta e se jogou ao sofá. Abraçou os joelhos e ficou olhando para a frente. Seus pensamentos viajaram novamente para o dia em que Daniel lhe pediu em casamento.

Daniel e Charlotte caminhavam de mãos dadas sobre a ponte do LA Park. Era fim de tarde e o céu estava alaranjado, dando às pessoas uma visão de tirar o fôlego. Charlotte se aproximou do parapeito de pedra, inclinando-se e apoiando ali os cotovelos para observar o Sol se pondo. Daniel ficou logo atrás dela, abraçando seu corpo. A mais nova então voltou à posição inicial apoiando suas costas no peito do homem, suas mãos repousaram sobre as dele, entrelaçando seus dedos nos dele.

— Que visão incrível! Suspirou.

Daniel sorriu e depositou um beijo no ombro nu dela.

— Não mais que você.

Ela sorriu.

— Qual é, Jones! Riram.

Ele aproximou seus lábios do ouvido dela, que sentiu uma onda elétrica passar por todo o seu corpo.

— Nenhum pôr-do-sol é tão magnífico quanto à luz dos seus olhos.

Charlotte não pôde evitar que um sorriso iluminasse seu rosto e se virou, ficando de frente para Daniel e entrelaçando seus braços no pescoço dele.

— Eu te amo.

Daniel sorriu e juntou sua testa à dela.

— Eu também te amo.

Fitaram-se por alguns minutos, deixando que seus olhares dissessem mais do que seus lábios poderiam, até o momento que Daniel tomou coragem para fazer o que estava planejando há semanas.

— Eu preciso te falar uma coisa. Pedir, na verdade. — Respirou fundo. — Droga, isso vai ser mais difícil do que eu pensei.

— O que você está aprontando, Danny? Riu.

— Já faz um tempo que estamos juntos, certo? Nos amamos, temos dois lindos filhos, moramos em um apartamento incrível... Mas ainda sim parece faltar alguma coisa: falta oficializarmos.

— Danny...

— Case comigo.

— Oh, meu Deus! — Levou as mãos à boca.

— Sei que já te considero minha mulher e você usa uma aliança que eu te dei, mas eu preciso ver você ser chamada como Sra. Jones, preciso ver você assinando com o meu nome, preciso que seja oficialmente minha. Mas antes eu preciso saber se você quer.

— Mas é claro que eu quero. Oh, meu Deus!

Charlotte sentiu os olhos lacrimejarem. Daniel sorriu e beijou-lhe a testa e os lábios. Pegou uma caixinha de veludo preto, posicionando-a no meio de sua palma e abrindo-a, revelando um lindo anel de prata, com um brilhante em cima.

— Já que estou falando muito sobre oficialização, acho que deveria fazer um pedido oficial, huh? — Riu. Char balançou a cabeça negativamente, também rindo. Charlotte Buckingham, aceita se casar comigo e se tornar a futura Sra. Jones?

— Aceito. Com certeza, aceito!

Riram novamente, a felicidade os fazia rir como nunca. Daniel finalmente pôs o anel no dedo de Char e a puxou pela cintura, juntando seus corpos e envolvendo-a em um beijo urgente.

Ela queria morrer, mas não sem antes o matar primeiro. Zoey entrou no apartamento, se assustando com o estado da amiga e sentou-se ao seu lado.

— O quê...

— Daniel está me traindo.

— Como é? — Perguntou incrédula. — Tem certeza do que está dizendo? Danny é louco por voc...

— Ele está estranho comigo há dias e hoje encontrei uma marca de batom em sua blusa.

— Não pode ser! — Levou a mão à boca. — E o que você pretende fazer?

— Eu não pensei ainda. Vou esperar até que ele volte da faculdade para quebrar a cara dele e então eu vou... — Respirou fundo. — Vou voltar para Londres.

— Oi? Acho que não ouvi direito. Voltar para Londres? Vocês está realmente falando sério?

— Você acha mesmo que eu vou fazer questão de continuar aqui para dividir nossas coisas após o divórcio? Não, obrigada, que ele fique com tudo. Irei começar do zero, não quero levar nada que me lembre dele, a não ser Duncan.

— E vai logo para a cidade na qual você o conheceu? — Arqueou as sobrancelhas. — Você pretende mesmo separar Daniel do filho? Acha isso certo? Daniel tem direito de continuar vendo Duncan!

— Eu não sei o que vou fazer, só sei que não quero mais dormir uma noite sequer sob o mesmo teto que ele. — Passou as mãos pelos cabelos. — Você está certa, voltar para Londres não irá mudar nada, só piorar, talvez. E Duncan e Alan não têm nada a ver com isso. — Abaixou o olhar para sua barriga, acariciando a região. — Principalmente ela.

— Você pode ficar lá em casa até achar outro lugar para ficar.

— Outro lugar? — Riu. — Eu não mover um dedo desse lugar, quem irá sair será Daniel. Não mandei ele me trair, agora ele que arque com as consequências.

Charlotte se levantou, indo até o quarto e abrindo o guarda-roupas. Começou a puxar as coisas de Daniel, jogando-as no chão. Zoey correu até o quarto e se escorou no batente da porta. Assistiu a amiga extravasar a raiva sem tentar impedir. Ela sabia que não era necessário tudo isso e Char provavelmente brigaria com ela quando soubesse a verdade, mas era por uma boa causa. E foi quando viu Charlotte se sentar no chão em meio à bagunça, com uma blusa de Daniel em mãos e lágrimas nos olhos, que ela achou melhor entrar. Sentou-se ao lado da amiga, abraçando-a e consolando-a.

Daniel naquele dia havia chegado mais cedo em casa, era final de semana e ninguém merecia ficar até tarde no trabalho. E ainda dizem que professores não trabalham. Hunf! Mas Daniel adorava o que fazia. Lecionar era seu sonho de consumo. Para ele, não havia coisa melhor que ensinar algo a alguém, e ver que seu trabalho dava certo lhe dava uma sensação incrível de missão cumprida.

A casa estava silenciosa, mas Danny sentia que havia alguém em casa. Deixou sua pasta sobre o sofá e foi até o quarto, não de surpreendendo ao ver três malas perto da porta.

Ela havia descoberto.

Ouviu o barulho do chuveiro – que não dava para ouvir da sala – cessar e se preparou. Charlotte era uma mulher explosiva e ele sabia que levaria alguns tapas antes de ter chance de se explicar.

Se é que ela lhe dará alguma chance.

Pegou sua blusa suja com marca de batom que estava jogada ao chão e sentou-se na beirada da cama, apoiando os cotovelos sobre os joelhos, e esperando alguns minutos até que ela finalmente saiu do banheiro, enrolada em uma toalha branca. Os cabelos semiúmidos caindo em seus ombros. O peito subindo e descendo nervosamente.

— Por favor, deixe-me explicar.

Charlotte respirou fundo e deu alguns passos até o guarda-roupa, abrindo-o e tirando de lá um pijama que havia esquecido de pegar antes de entrar no banho. Voltou para o banheiro e se trocou. É irracional, levando em conta que Daniel já a viu nua tantas e tantas vezes, mas não a julguem, ela havia descoberto que estava sendo traída e no momento estava sentindo nojo de Danny. Penteou os cabelos e saiu novamente do banheiro, parando em frente a Danny, que estava de cabeça baixa e, provavelmente, de olhos fechados, já que só após ouvir um pigarreio de Char ele levantou o rosto em direção ao dela.

— Te deixarei se explicar porque não quero ser injusta, mas antes que você venha com alguma desculpa esfarrapada, quero deixar claro que eu sei que não te dei motivos para fazer isso comigo. Eu não sei o que deu em você, mas não foi falta de amor ou atenção, não foi falta de sexo, não foi falta de cumplicidade — listou nos dedos. — Por favor, me diga a verdade, me diga o que estava pensando para fazer uma coisa dessas, porque quis me trair, eu preciso saber o que foi que eu fiz de errado para que você procurasse outra.

Charlotte sentiu os olhos lacrimejarem, mas se segurou. Ela já havia chorado bastante durante o dia e não se permitiria chorar na frente dele.

— Eu vou explicar, mas eu preciso que venha a um lugar comigo.

— Eu não vou a lugar algum com você.

— Por favor, Charlotte, para que eu possa te explicar, te dizer a verdade.

Char pensou por alguns segundos, reconsiderando e assentiu. Daniel saiu do quarto para que ela pudesse se trocar e a esperou na sala enquanto mandava uma mensagem para Zoey:

Estamos indo.”

Em menos de dez minutos Char saiu do quarto, vestindo um jeans surrado, um moletom preto por cima da blusa do pijama e All Stars verdes. Os cabelos estavam soltos para secarem ao vento e o rosto não tinha nenhuma maquiagem. Danny respirou fundo e abriu a porta do apartamento, deixando que Char saísse primeiro e saiu logo em seguida.

No caminho para sei lá onde, Charlotte ligou para Suzana, mãe de Kevin, amigo dos meninos, para perguntar como seus garotos estavam se comportando e mandou um beijo para eles. Quando finalmente chegaram, Charlotte não pôde entender. Daniel havia estacionado o carro próximo a uma marina. O que ele estava fazendo, afinal? Saiu do carro, seguindo-o pelo cais e parando em frente a um iate.

— Que porra é essa, Daniel? — Perguntou ao ver o homem entrar no iate.

— Você saberia se entrasse logo — disse um pouco impaciente, fazendo Charlotte arquear as sobrancelhas.

Entrou finalmente no iate, recusando a ajuda de Daniel e foi direto para o convés principal, olhando seu interior. Era lindo, ela não podia negar, mas ainda não entendia o porquê de estar ali.

— Gostou? — Perguntou Danny.

— O que é isso? Por que estamos aqui? — Seus olhos voltaram a encarar o homem parado em sua frente com as mãos nos bolsos. Ele sorriu.

Por que esse cretino está sorrindo?, pensou.

— Bem, até onde eu sei, isso é um iate. — Deu alguns passos até ficar próximo à ela. — E estamos aqui para comemorar o Dia dos Namorados.

Charlotte riu sarcasticamente.

— E o que te faz pensar que vou querer passar o Dia dos Namorados com você depois de descobrir que você estava me traindo?

— Por que eu não estava te traindo — piscou. — Isso tudo faz parte da surpresa que preparei para você. Você estava quase descobrindo, então tive que inventar alguma coisa para mudar seu foco.

— Surpresa? — Perguntou com a voz mole. Ele assentiu e se aproximou mais dela, tocando-lhe a cintura.

— Eu te amo, Charlotte. Por que eu procuraria outra mulher se a única que preciso está bem aqui na minha frente?

— Então era tudo mentira? — Ele assentiu. — Mas e a marca de batom?

— Zoey me ajudou nessa parte; emprestei uma blusa minha para ela.

— Ok, deixe eu ver se entendi. Você foi indiferente e seco comigo durante esses dias e me fez achar que estava me traindo para eu não descobrir a surpresa que estava preparando para mim?

— É— riu. — Ount! — Reclamou após levar um tapa estalado no braço. Esfregou a região, sentindo-a arder.

— Espero que essa surpresa valha a pena porque senão, vai levar outros iguais a esse. Por sua causa passei o dia chorando e ainda cortei minha mão — fez bico.

— Deixe-me ver — pegou a mão dela, olhando para o band-aid que cobria o corte e beijou o local. — Me desculpe, amor.

— Tudo bem, já passou. Só não faça mais isso, ou eu te castro!

Daniel riu e assentiu.

— Entendido — piscou. — Agora venha cá; esses dias que fiquei te ignorando foram terríveis e eu não via a hora de te ter em meus braços de novo. — Puxou-a e abraçou-a fortemente. — Eu te amo – sussurrou com os olhos cravados nos dela antes de selar seus lábios em um beijo calmo, mas intenso e cheio de amor e saudade.

Depois de tudo ter se esclarecido, Daniel foi para a suíte tomar um banho e se trocar. Enquanto esperava o marido, Charlotte estava na parte de trás do iate, observando o mar. Não tinha percebido, mas enquanto ela e Daniel conversavam, o iate estava no motor automático e agora eles já estavam longe do porto. O sol estava se pondo e aquela era uma visão e tanta. Suspirou e abraçou a si mesma, estava feliz por tudo não ter passado de uma brincadeira — de muito mal gosto; mas antes uma brincadeira, do que uma traição de verdade. E as intenções de Daniel não eram más, afinal, ele tinha preparado uma surpresa para ela. Uma noite romântica em um iate, nunca que imaginaria algo assim!

Ouviu passos dentro do convés e entrou, encontrando um Daniel muito bem arrumado: blusa social branca com um blazer preto por cima, jeans e sapatos sociais pretos. Os cabelos estavam penteados para trás e a barba por fazer, dando a Charlotte uma vontade absurda de se esfregar contra ela e sentir sua textura. Os olhos azuis que brilhavam em sua direção estavam atrás dos óculos de armação quadrada que o deixava mais sexy do que já era.

— Lindo — disse caminhando até ele e ficando na ponta dos pés para dar-lhe um selinho. Daniel lhe abraçou pela cintura. — E eu com essa roupa escabufada.

Danny gargalhou e beijou-lhe a testa.

— Acha que eu não pensei nisso? Vá atéà suíte, te espero aqui enquanto abro um vinho para nós.

Charlotte cerrou os olhos para ele antes de seguir atéà suíte e encontrar um lindo presente — ou melhor, lindos presentes. Deu um gritinho animado e começou sua transformação.

Se olhou no espelho após se arrumar em tempo recorde e sorriu para seu reflexo. Charlotte era linda e sabia disso — e mesmo que não soubesse, Daniel estava ali para lembrá-la todo o tempo. Terminou de ajustar o cabelo em um coque frouxo e saiu do quarto. Danny, que estava sentado no sofá, se levantou e foi de encontro à ela, pegando-a pela mão e fazendo-a girar.

— Maravilhosa e minha! — Abraçou-a e beijou-a.

— Só sua!

Pegou o copo que estava na mão dele e bebeu um gole do vinho, fechando os olhos e aproveitando o prazer de saborear uma delícia como aquela. Daniel gemeu.

— Você começou sem mim.

— Perdoe-me, eu não conseguir me segurar, ele estava me chamando.

Ela riu.

— Só dessa vez — apontou o indicador para ele, como se estivesse lhe dando algum aviso. Danny piscou.

Entregou o copo para ele e se virou para a mesa para pegar um copo para ela, deparando-se com um buquê de rosas vermelhas e um cartão. Olhou para Daniel.

— Elas não estavam aqui antes!?

Ele negou com a cabeça.

— Estavam escondidas em um lugar especial.

Ela assentiu entendendo e então pegou o buquê cheirando as flores e sorrindo.

— São lindas! Obrigada!

Daniel pegou em sua mão, levando-a até seus lábios e depositando um beijo.

— As mais belas flores para a mais bela mulher.

— Que romântico! — Ela sorriu.

Pegou o cartão cor creme que estava junto às flores e o abriu. Dentro dele havia um lindo poema escrito em letras cursivas na cor dourada.

“De quem é a culpa?

Quem será o culpado desse amor?

Quem será julgado por amar tanto alguém como amo você?

Quem me condenara?

Sou refém desse amor, tem-me acorrentado sobre teus beijos, tuas carícias, teu sexo e teu amor.

E não tenho como livrar-me, neste crime não há resgate, procura ou salvamento.

Sou teu sem contestar, praguejar ou pestanejar.

Sou teu e desejo ser eternamente.

Ser teu fogo incandescente.

Jogando brasas ao redor do teu peito, incendiando teu coração.

Quero ser a menina dos teus olhos, o selvagem da tua cama, o moleque das tuas risadas, o homem dos teus anseios, o louco dos teus devaneios.

Sou teu e não nego ser louco por você, pelo teu sorriso, pela tua inteligência, pela tua sensibilidade.

Grito, berro, me acabo, me torturo, pra todos saberem:

Que já não vivo sem ter seu carinho, sem teus afagos, sem teu desejo.

Não quero mais perder.

Quero apenas felicidade, amor, tesão, desejo, paixão, loucura.

Sou teu e não sei de quem é a culpa por este amor insano

É minha por ter te cultuado assim, é sua porque roubaste meu coração e dele se apossou

Mas queres saber?

Ele não quero de volta!

Charlotte sentiu os olhos lacrimejarem e levou as mãos à boca. Daniel era perfeito, ela não podia negar. Era o homem de sua vida e ela se sentia a mulher mais completa e feliz do mundo.

— Vocêé perfeito, você não existe! — Puxou-o pela gola da blusa, beijando-o urgentemente. Danny sorriu entre o beijo e abraçou-a com ternura.

— Você sabe que eu não sou bom com palavras, mas com números... Tentei escrever algo para você, mas nada ficava bom o bastante e esse me descreveu melhor do que eu mesmo conseguia.

— Não importa quem escreveu, o que importa são seus sentimentos por mim e eu sei que são verdadeiros, pois eu me sinto realmente amada quando estou com você. Você foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida, Danny, você me amou como ninguém mais amaria e me deu dois lindos filhos; cedo demais, concordo, mas não me arrependo. Eu não acredito em religiões, mas acredito no cara lá de cima e sou eternamente grata a ele por ter te colocado em minha vida.

Daniel fechou os olhos e sorriu. Ele a amava. Amava tanto que sentia seu coração doer. E com ela não era diferente. Uniu sua testa à dela e abriu os olhos, fitanto de pertinho os olhos azuis dela e sussurrando:

— Eu te amo.

Ela sorriu.

— Eu também te amo.

Após algumas horas de conversas e mimos no sofá, o casal jantou e então subiu com suas taças e uma garrafa de vinho para a proa do iate. Sentaram-se e ficaram em silêncio por alguns minutos, apenas observando as estrelas. Charlotte se lembrou do presente que havia preparado para Daniel e que estava escondido no fundo do seu lado do guarda-roupa. Ela poderia entregar ele quando chegassem do incrível passeio, mas parte dele ela teria que entregar agora.

— Eu preparei um presente para você, mas ele está guardado.

Danny sorriu.

— Tudo bem, pode me entregar quando voltarmos para casa.

— Sim, mas tem um que eu preciso te dar agora. — Sorriu ao ver a testa dele enrugar. Pegou a mão dele, beijando-a e levando-a até seu ventre. Danny cerrou os olhos. Era isso mesmo que ele estava pensando?

— Eu estou grávida — sorriu. — Você será papai de novo.

Daniel arregalou os olhos ao mesmo tempo em que um sorriso iluminou seu rosto. Se ele estava feliz antes, agora não tinha nem comparação.

— Oh, meu Deus, Charlotte! — Disse entusiasmado e acariciou o ventre de Char, que sorria. — Essa é a melhor notícia que eu podia receber hoje! — Deu-lhe um selinho e abaixou o rosto para beijar a barriga da esposa, que riu. Levantou o rosto novamente, segurando o dela entre suas mãos e olhando-a nos olhos. — Obrigado, meu amor!

Charlotte sorriu e levou uma mão até o rosto de Danny, deslizando o polegar pela barba dele. Aproximou seus lábios dos dele, que fechou os olhos, mas não os tocou. Daniel abriu os olhos encontrando um sorriso sapeca brincando nos lábios de Char e rolou os olhos, puxando-a e tomando-a para ele. Charlotte riu e foi deitando o corpo para trás, fazendo com que Daniel se deitasse por cima dela e então os beijos comemorativos foram dando lugar a beijos mais apaixonados, mais intensos. As mãos passeando pelos corpos, despindo um ao outro. E então, ali, sob as mais brilhantes estelas, eles consumaram seu amor.


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