Moran escrita por Laís


Capítulo 8
A Rede de Moriarty


Notas iniciais do capítulo

Então, mais um saiu o/
Só queria compartilhar com vocês que minha semana foi ridícula, mas sobrevivi.
Muito obrigada pelos conselhos! :3
E... Boa leitura! Vejo vocês lá embaixo.



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–Sherlock Holmes – a voz proferiu o nome friamente, com uma menção ao riso.

–Sebastian Moran, suponho.

–Supõe? Então talvez não seja tão bom quanto clama ser.

–Você fez tudo errado.

–Me chame de romântico, mas só estava tentando chamar sua atenção.

–E vai se arrepender de tê-la.

Sebastian gargalhou.

–A rede de Moriarty vive. Boa sorte tentando destruí-la.

Uma Hora Antes

A noite avançava para a madrugada. Gélida, totalmente indiferente ao movimento inquietante em uma específica área de Baker Street.

–Como isso aconteceu?

A indagação de Gregory Lestrade lhe escapara repleta de opacidade. O cenho vincado, uma das mãos no quadril e a outra massageando a fronte. Era sempre assim que reagia quando se tratava de qualquer coisa envolvendo Sherlock Holmes que, por sua vez, mantinha o olhar vítreo na parede coberta de imagens e relatórios pregados de modo a formar um caos de informações para Lestrade que, no entanto, eram facilmente decodificáveis ao morador do apartamento 221b.

No chão, Irene Adler.

Lestrade recuou enquanto um dos peritos tirava fotos do cadáver para, em seguida, cobri-la e carregá-la para fora. Aproveitando a deixa, tornou a abordar Sherlock.

–Você já sabe quem fez isso? – insistiu Lestrade, sem obter nenhuma resposta. – Sherlock! Eu sou uma das únicas pessoas que entende e tolera toda a essa sua excentricidade infantil e a única razão pela qual eu faço isso é porque seu raciocínio é necessário... E também porque sei que é uma boa pessoa, ou pelo menos é no que eu gosto de acreditar. Gosto de acreditar que ajuda a Scotland Yard para salvar vítimas, quando na verdade sei que não é por elas que move esses pauzinhos dentro da sua cabeça. Mas o fato aqui é o seguinte – fez uma pausa e apontou o dedo na direção de Sherlock, apesar do mesmo estar virado de costas, ainda encarando fixamente o mural – Eu acredito em você. John acredita em você. As outras pessoas? Elas nunca mais vão confiar no seu nome plenamente. Não como antes. A fita adesiva somente esconde a rachadura. Quando xícaras caem, é impossível retroceder ao momento em que estavam inteiras.

–Até o dia em que precisarem de mim – girando os calcanhares, direcionou o olhar para Lestrade. – Quando um ente estiver desaparecido, quando um bem de valor inestimável for roubado, quando precisarem de uma solução para o problema final, a confiança vai ser magicamente restaurada.

–Mas e até lá? Você tem lido os jornais? Você virou motivo de anedota, ninguém mais o leva a sério.

–E por acaso isso deveria me incomodar? – Sherlock inclinou o pescoço sutilmente, insinuando uma dúvida genuína.

Gregory Lestrade suspirou profundamente.

–Tudo bem, me perdoe pela preocupação com sua imagem. Destrua-se. Mas vou lhe dizer uma coisa... Em determinado momento, a situação se torna irreversível. E, caso não vá cooperar comigo agora, precisarei levá-lo à delegacia para fazer umas perguntas.

–Poupe seu fôlego.

–Essa é a minha divisão! – vociferou o inspetor.

–Sou eu quem vai encontrá-lo.

–Ah, e como isso vem caminhando até agora? Molly, Mary, Irene... Quem mais?

Uma sombra de desentendimento perpassou a face de Sherlock.

–Ainda não falou com John?

Sherlock não contatara John Watson desde o momento que o afastara da investigação. Investigação que nem ao menos estava sendo conduzida ou vista como prioridade até o determinando instante.

–O que aconteceu com Mary?

–Ela está bem – uma terceira voz respondeu. – Já está em casa, ou melhor, em um hotel, considerando os fatos... Fatos que, inclusive, você desconhece porque não atendeu a maldita porcaria do seu telefone.

John permanecera ao lado da esposa desde o momento em que recebera a permissão de vê-la até a alta médica. Levou-a ao hotel de sua preferência e seguiu para Baker Street, após Mary insistir que o fizesse.

–Sei me cuidar muito bem sozinha. E consigo sentir seus pés formigando para ir se envolver em alguns assuntos mórbidos. Não o julgo, pelo contrário, invejo – ela dissera.

Chegando lá, foi recebido pelo movimento inusitado de carros em frente ao prédio e seus olhos pousaram imediatamente no volume coberto por um saco preto em uma das macas. Seu coração palpitou até entreouvir a voz de Lestrade berrando com, obviamente, Sherlock Holmes. Seu segundo pensamento foi para a Sra. Hudson, entretanto logo canalizado pela presença dela na porta de entrada.

–Horrível o que aconteceu com a pobre moça – dizia com a voz pastosa. – Em pensar que estava no meu apartamento, preparando o jantar quando...

Impaciente, John a segurou pelos ombros e lançou-lhe a melhor tentativa de sorriso que conseguiu esboçar.

–Ainda bem que está viva. Continue assim por muito tempo – já estava subindo as escadas antes de concluir a fala.

–Eu estava ocupado – Sherlock retrucou antes de voltar-se novamente para seu quadro. A notícia do bom estado de Mary fez com que a ruga de preocupação na sua testa desvanecesse e assumiu novamente sua habitual postura rígida e altiva.

John cerrou os punhos e decidiu priorizar os assuntos da noite.

–O que... Quem? – dirigiu a pergunta a Lestrade, deixando subentendido o que queria saber. Não se sentia apto a formular uma sentença completa que possuísse sentido.

–Irene Adler.

–Irene? Irene Adler? – balbuciou, mais confuso do que estava antes de ser respondido.

–Não pergunte nada a mim. Tente arrancar alguma coisa desse seu colega catatônico.

Molly irrompeu pela porta no momento em que Watson gritava encolerizado para que Sherlock parasse de se fingir de surdo.

–Mau momento?

–Ótimo. Estamos dando uma festa agora – resmungou Sherlock, porém sem alterar a postura ou o tom de voz.

–Eu soube do que aconteceu e vim ver se você estava bem ou... Se precisava de alguma coisa.

–Como soube?

–Ahn, eu... As pessoas falam e... Eu estava trabalhando até tarde e... – Molly parecia tão inapta a formular um pensamento concreto quanto John, mas o motivo de seu nervosismo era a percepção do deslize que cometera. Ela não estava trabalhando, ninguém a ligara falando de um corpo novo que só analisaria pela manhã, caso contrariasse ordens médicas e comparecesse ao trabalho. Moriarty lhe contara.

–Você não deveria ter saído do hospital ainda. Muito menos ter voltado ao trabalho – contrapôs Lestrade.

–Estava só de observação. Tomo remédios para a dor, mas... É o meu trabalho. Não fico longe dele por muito tempo.

Sherlock Holmes volveu o corpo na direção de Molly Hooper, estreitando os olhos, observou-a trocar os pés de apoio e desviar o olhar.

Enquanto Sherlock perscrutava Molly, John aproximou-se e murmurou para que somente o amigo o ouvisse.

–Sei quem está fazendo isso, mas preciso da sua ajuda para encontrá-lo.

–Sinto muito, John. Não estou no caso – sussurrou em resposta.

–Sherlock, você precisa me acompanhar até a delegacia.

–Pare de fingir que vai realmente fazer seu trabalho, Lestrade – Sherlock rebateu a exigência do inspetor.

–Lestrade, talvez esse não seja o momento – Molly tentou apaziguar a situação.

–Como assim não está no caso? Você acha que eu não conheço você? Fingindo não trabalhar em algo para me tirar do meio do caminho? Não vai funcionar dessa vez. Ele atacou Mary. – John, esquecendo-se de manter a voz audível somente para o amigo, sobrepôs todo o burburinho das conversas paralelas anteriores. De modo que a sala estava silenciosa para ouvir a resposta de Sherlock.

–Não foi pessoal. São negócios.

John não precisou de muito tempo para assimilar aquilo. Olhou fixamente para o homem próximo a ele e procurou por algum vestígio de... Qualquer coisa.

O soco foi desferido logo após, atingindo o queixo de Sherlock Holmes e o desestabilizando.

–Mary e a minha filha não são negócios. Muito menos negócios seus. E eu vou deixar um recado para os seus amigos tão entediados quanto você. Elas não são peças do tabuleiro que alguém pode usar para atingir você ou conseguir sua atenção.

Sherlock, que cambaleara alguns passos para trás, manteve uma expressão desprovida de qualquer traço de perturbação.

–Lestrade – disse, enquanto massageava a área atingida pelo punho de John – você disse que tinha algumas perguntas.

Gregory e Molly postavam-se atônitos, encarando a cena e desejando não estarem ali.

–Ahn, isso pode esperar, você com certeza tem coisas maiores a resolver...

–Não, detetive. Sabe o quanto valorizo o trabalho da Scotland Yard – apanhou casaco e cachecol. Molly, que se encontrava perto da porta, retesou-se quando Sherlock aproximou-se mais do que o necessário para sussurrar-lhe algo antes de sair do apartamento.

Lestrade lançou um olhar de sinto muito para John e seguiu no encalço.

Parado, maquinando sobre o que fazer, John Watson quase se esquecera da única pessoa que restara fora ele na sala.

–John?

–Molly... Ahn, talvez você devesse voltar para casa.

–Eu posso ajudá-lo.

–É? – seu sobrolho estava franzido em uma expressão exausta, a voz não carregava nenhuma convicção no que ouvia. – E como exatamente você pretende fazer isso?

–Não posso entregar Moran em suas mãos – Moriarty lhe dissera quem era o homem por trás de tudo aquilo – contudo... Posso oferecer alguém bem maior.

A face de John tornara-se lívida no momento que ouvira o nome de Sebastian.

–Como...?

–Há muita vantagem em ser uma pessoa transparente que não recebe um segundo olhar – sorriu.

~x~

A escuridão era densa. O lugar imerso na penumbra era invadido por uma tépida nesga de luz que adivinha de um poste do outro lado da rua e penetrava através de uma pequena falha no insulfilme da única janela do lugar. O fulgor era suficiente para que uma silhueta fosse entrevista. Um homem alto, coberto por um sobretudo e agasalhado com um cachecol. Caso a luminosidade fosse maior, os punhos cerrados tornariam-se perceptíveis, apesar das luvas do sujeito. O cenho perturbado, contorcido em uma expressão de raiva contida. Uma raiva fria. Paciente. Imperturbável. Volátil.

Cerca de quarenta minutos atrás, saíra de Baker Street com o propósito de seguir até a delegacia. No entanto, somente desviou-se e entrou em um táxi, ignorando os protestos de Lestrade. E, agora, aguardava.

A respiração controlada era a única coisa que denunciava sua presença naquele lugar. Enrijeceu-se ao ouvir passos que se aproximavam. Gradativamente, tornando-se mais audíveis. A porta rangeu, uma nova silhueta adentrou o local, completamente alheia ao visitante anterior.

O segundo homem caminhou até a janela, ajoelhou-se e remexeu algumas coisas. Encaixou algo em uma espécie de pedestal, levantou-se para olhar através da janela, suspirou e sentou. Fez menção de pegar um cigarro no bolso, contudo foi interrompido por uma voz grave.

–Está esperando por John, não está? – mesmo com o tom baixo, beirando o murmúrio, as palavras quebraram o silêncio abruptamente e pareciam se encaixar com estranheza naquele âmbito tão quieto.

– Sherlock Holmes – a voz proferiu o nome friamente, com uma menção ao riso.

–Sebastian Moran, suponho.

–Supõe? Então talvez não seja tão bom quanto clama ser.

–Você fez tudo errado.

–Me chame de romântico, mas só estava tentando chamar sua atenção.

–E vai se arrepender de tê-la.

Sebastian gargalhou.

–A rede de Moriarty vive. Boa sorte tentando destruí-la.

Sherlock não respondeu a provocação. Deu um passo a frente enquanto Sebastian erguia-se do chão.

–Respondendo sua pergunta... Sim, eu estou esperando John Watson. Ele me conhece, sentamos juntos em algumas mesas de jogo para ocupar a mente nos tempos de guerra. Foi John quem me deu o endereço desse prédio do outro lado da rua, onde ele mora com a esposa. E eu sabia que ele não teria sombra de dúvidas de quem estava por trás dos últimos acontecimentos depois do que houve com a mulher dele. Sabia também que ele voltaria aqui, me esperando. Me desafiando. Sinceramente, não sei se ele esperava uma troca de tiros ou o quê, estando do outro lado e eu aqui, mas John torna-se impulsivo quando se trata das pessoas com as quais ele se importa. Tudo o que iria querer era mostrar que alguém as protegia. Por isso, sim. Estou esperando e tenho certeza que ele virá.

Sherlock soltou o ar que acumulou nos pulmões, fazendo com que soassem tal qual um muxoxo de impaciência.

–Ele era a última peça para chamar minha atenção, você, no entanto, já a conquistou.

–Tem razão. Talvez eu não precise matá-lo. Aliás, você já está aqui. Muito mais fácil simplesmente atirar em você. Fim de jogo. Esse é meu estilo, na verdade. Não gosto muitos das voltas e viravoltas de algo rebuscado e cheio de desafios. Sabe nas cenas de filmes, quando uma pessoa pega a arma e fica conversando com seu opositor? Ameaçando, instigando... Isso sempre me encheu a paciência. Você puxa o gatilho. Simples assim. Nessas cenas, eu sempre achei que quem segurava a arma, procurava por um motivo para não atirar. Aqui estou eu – ergueu a mão. Polegar, indicador e dedo do meio levantados enquanto os outros continuavam abaixados, imitando uma arma – Posso atirar, mas não quero. Moriarty viu algo em você e acho que enxergo isso agora. Você é um homem engraçado, Holmes.

–Meu senso de humor nunca foi muito apreciado.

–Ah, mas as outras pessoas não o entenderiam, certo? – Sebastian suspirou – Me vejo preso em um dilema. Não quero me separar de você agora, no entanto... Existem outras coisas a se fazer.

Enquanto dizia isso, retirou uma arma do paletó que usava por baixo do casaco.

–Você vai atrás do Professor Moriarty.

–Sim, ele está velho. Não tem mais competência e a prova disso está bem aqui, nessa sala.

–James Moriarty sempre fora a sombra do irmão. O poder está centrado no Professor.

–Ah, não diminua Jim. Ele também construiu um império. Ele era dono de segredos invisíveis. A diferença é que o Professor veio antes para consolidar seus domínios, mas raramente seus trabalhos se entrecruzavam. Os dois possuíam uma visão diferente, por assim dizer.

–E você pretende matar o Professor e, estando Jim já morto, apropriar-se da rede dos Moriarty.

–Ah, Sherlock, nós vamos ficar aqui contestando o óbvio por mais quanto tempo? É isso, você me cansou.

Do outro lado da rua, uma luz no apartamento de John foi acesa.

–Acabou de ficar interessante mais uma vez... Estou começando a gostar de algumas reviravoltas, para ser sincero.


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Notas finais do capítulo

O próximo já está todinho (quase) na minha cabeça, só preciso de energia vital para transformar em palavras.
Espero que tenha ficado bom. Lembrando: qualquer crítica e sugestão é válida.
Um grande abraço e milhões de beijos!