Moran escrita por Laís


Capítulo 6
É assim que eu a chamo


Notas iniciais do capítulo

Oi gente :3
Então, queria agradecer a quem ainda estiver lendo... É uma felicidade ter você por aqui. Sei que já agradeci em um capítulo anterior, mas preciso reforçar: The Immortal Anne Fanfics e Michael Conrad Moriarty, vocês são incríveis!
Espero que tenha ficado bom.



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Sherlock Holmes postava-se em sua usual poltrona com um olhar impetuosa, as mãos entrecruzadas dispostas de modo a cobrir-lhe metade do rosto. Não mais encarava seu mural com imagens e fragmentos de reportagens dispersas. Não precisava fitá-lo para lembrar de cada palavra ali impressa.

Tudo levitava em torno de um nome.

Ronald Adair possuía dívidas de jogo. Seu assassinato poderia se tratar meramente de um acerto de contas, porém considerar tal hipótese seria negar resignadamente que um elo o ligava ao sobrenome Moriarty.

Professor Moriarty.

Sherlock chegaria naquela extremidade oposta do tabuleiro... Mas ainda não era a hora certa. Em seus planos, bastava tomar conhecimento do alcance da influência de Moriarty, conhecer o inimigo em sua totalidade para, em seguida, dar o xeque-mate. E, assim feito, todos as peças menores ruiriam do mesmo modo. No entanto, um peão se interpelara e decidira tomar lugar de destaque na disposição do jogo. Ele queria atenção. E agora a tinha.

Vasculhou em todos os seus arquivos que diziam respeito ao Professor Moriarty, inclusive alguns crimes menores que ele sabia estarem conectados a ele, procurando por algo que indicasse a presença de um franco-atirador, mesmo sabendo que não encontraria tal evidência. Não, de forma alguma. O sujeito que atraía os holofotes para si não era um mero soldado de infantaria... Era uma peça rebuscada. Um louça de porcelana fina usada somente para convidados especiais.

Contudo, já não possuía o repleto apoio de Moriarty. Agia por sua própria conta e risco. Pretendia derrubar Sherlock para, prontamente, seguir no encalço do Professor. Não desejava seguir, mas ordenar. Acreditava que Moriarty tornara-se condizente por permitir que Sherlock Holmes perdurasse vivo em seu reino.

O detetive, absorto em pensamentos, deu-se conta das batidas ininterruptas na porta somente depois de alguns instantes. Não levantou-se em um sobressalto. Sabia quem estava do outro lado.

–Alguém pediu o especial da noite? - questionou uma voz zombeteira assim que a porta foi aberta por completo. Postava-se encostada no batente da entrada e vestia um sobretudo idêntico ao que Sherlock Holmes sempre era visto usando. O cachecol e a boina deixando seu rosto entregue à penumbra complementavam o conjunto. - Você está com sorte, então, pois hoje nós temos um narcisista com uma pitada de solidão excêntrica.

Sherlock Holmes reprimiu um sorriso arredio e abriu passagem para que Irene Adler entrasse no apartamento.

–Você sabia que eu viria, certo? - ela perguntou enquanto passava os dedos em todos os móveis que encontrava, sacudindo uma camada espessa de poeira. - Gostou da minha escolha de roupas? Você ficaria surpreso em saber que não foi nada difícil encontrá-las. Aparentemente, alguém arrecadou um punhado de fãs. - provocou com um dar de ombros.

Sherlock acomodara-se novamente em sua poltrona e caíra em seu habitual silêncio taciturno. Irene conhecia aquele jogo. Era uma forma de intimidação. Holmes perdurava calado, porém sem desviar os olhos de sua presa, perscrutando cada movimento e fazendo com que ela sentisse o nervosismo de estar sendo completamente dissecada. A reputação do detetive o precedia, logo, a vítima imaginava que ele já sabia de todos os seus mais profundos segredos e acaba se entregando através de seus trejeitos afetados, dando margem para Sherlock aproveitar-se dessa brecha de fragilidade. Mas aquilo não funcionava com ela.

–Eu estou muito bem, obrigada por perguntar. E, apesar de seus protestos, estou somente de passagem. Sim, tente controlar seu desconsolo - brincou. Um sorriso torto dançava em seu rosto ainda parcialmente escondido pela sombra da boina.

–O que Moriarty mandou que me dissesse? - questionou com mais rispidez no tom do que pretendia.

–Oh querido... Não estou aqui pelo velho Professor - Irene pousou as mãos na cintura e ficou de pé em frente da poltrona onde o detetive sentava de pernas cruzadas, a estudando como se aquela mulher, A Mulher, fosse tão somente um de seus simplórios clientes. - Estou pagando uma dívida.

–Você não me deve nada - objetou.

–Então agora você me deve - retrucou de imediato.

Uma tensa quietude abateu-se sobre o recinto enquanto ambos travavam uma disputa de olhares.

–Sherlock - Irene retomou a fala - Vamos pular as cordialidades, tudo bem? Você não me deve nada e eu não estou aqui lhe fazendo um favor. Simplesmente é a única coisa que posso fazer. Vim alertá-lo. Antes de tudo, quanto ao Professor. Deixe-o quieto e ele fará o mesmo com você. Não cutuque o vespeiro, Sherlock. Agora, quanto ao...

Antes que ela pudesse prosseguir, Sherlock levantou-se e caminhou em sua direção, ficando somente a alguns passos de distância. A disparidade de altura era evidente, mas o porte do maxilar de Irene e destreza com que ela o levantava em tom de desafio lhe concedia uma ferocidade que mostrava a completa ausência de desconforto mediante a nova postura austera do detetive.

–É resignação isso que vejo em seus olhos? Bom, eu já sabia que não haveria como dissuadi-lo de atacar Moriarty... - suspirou profundamente e fez um meneio de cabeça. Encurtou mais ainda a distância entre os dois - De todas as formas, tome cuidado. Ele é um pouco mais pragmático que o irmão, não vai perder tempo com jogos de perseguição.

–Não preciso que se preocupe comigo - descartou - Você sabe que estar aqui é uma coisa extremamente estúpida, não é?

–Acho que essa é a sua forma de mostrar preocupação - riu tepidamente - Já estou de saída e não vejo grandes possibilidades de você ouvir falar de mim novamente. Pode ficar sossegado. Esse é um adeus definitivo. Se eu fosse você, aproveitaria para olhar bastante para mim enquanto pode - fomentou com diversão na voz.

Irene Adler girou os calcanhares e seguiu na direção da porta quando, subitamente, estancou, como se houvesse acabado de lembrar algo urgente.

–Ah, soube que você não toca mais no meu nome - arqueou as sobrancelhas e caminhou novamente para perto de Sherlock. - Isso me deixou um pouco ofendida, antes de saber que tenho um novo título agora. Eu poderia ouvi-lo ser proferido por você antes de ir embora?

–Não sei do que você está falando - negou Sherlock, porém havia uma sombra de divertimento em seus olhos.

–Ah, que pena - disse em tom de lamento - talvez tenham tentado poupar meu orgulho - pousou a mão no rosto de Sherlock e acariciou a bochecha dele suavemente enquanto falava. - Tome cuidado.

Transformou a carícia em um leve tapa, como uma tia que mima o sobrinho, e uma piscadela antes de sorrir genuinamente.

Depois disso, tudo aconteceu muito rápido.

Em menos de uma fração de segundo, a cena sucumbira drasticamente.

Sherlock Holmes ouviu o barulho da janela se partindo e sendo reduzida a cacos de vidro, mas quase não teve tempo de registrar a mudança súbita na expressão de Irene Adler.

Um sorriso transmutado em uma careta de surpresa.

Obviamente, não foi dessa forma que ocorreu, contudo tudo pareceu verter-se em câmera lenta. O estrondo de vidro transformado em fragmentos, o leve arquejar de Irene e o impulso para trás que sei corpo recebeu.

Ela não sentira a dor de imediato, somente o choque que a fez cambalear, porém Sherlock conseguiu reagir e segurá-la antes que ela tombasse. Enquanto a deitava no chão, a boina que ocultava seu rosto caiu, possibilitando que ele fitasse os olhos verdes d'A Mulher pela primeira vez desde muito tempo. Olhos que estavam repleto do mais absoluto pânico.

Seu olhar foi mudando de direção até encontrar o lugar com uma mancha escarlate no sobretudo. Havia muito sangue e ele desviou a atenção de imediato para que Irene não percebesse.

Procurou algo a dizer, porém não poderia falar que tudo ficaria bem quando sabia que aquilo era impossível... Abriu a boca para dizer algo, mas tudo que conseguia era encarar aqueles olhos verdes completamente aterrorizados.

Irene balbuciou, porém suas palavras transformaram-se em um penoso resfolegar e, em seguida, um esputo de sangue.

–Não, não, não... - Sherlock falou descontroladamente. - Não diga nada. Não diga nada... Não precisa dizer nada. Só... Só... Não faça isso comigo. Não dessa forma.

–Moran... - conseguiu proferir em meio a respiração entrecortada.

Assim que ela começou a revirar os olhos, Sherlock encostou sua testa de encontro com a de Irene Adler.

–A Mulher. É assim que eu a chamo.


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Notas finais do capítulo

É... Então né. Mereço ser queimada em praça pública ou não ta tão ruim?
Qualquer opinião/sugestão/crítica é mais que bem-vinda. Seria legal saber o que você está achando. Vai ser um prazer falar com você e, além do mais, eu divido os pães de queijo.
Milhões de beijos e até o próximo!