Denise parou no meio da escadaria do prédio onde morava, sentindo as mãos trêmulas e os músculos dos ombros tensos. A camisa preta estampada com incontáveis charges do Loki, apesar de ser bem larga, parecia lhe sufocar. Encostou a testa contra a parede de cor azul e ficou nesta posição durante alguns segundos eternos tentando se acalmar. Mesmo assim, ao chegar ao seu destino, ainda ficou quase um minuto inteiro com a mão erguida no ar antes de tocar a campainha.

Mas quando a porta se abriu e Denise pode ver o sorriso perfeito que iluminava o rosto de sua namorada, um suspiro escapou de seus lábios e seu coração acelerou ao mesmo tempo em que, contraditoriamente, uma onda de paz e tranquilidade começou a tomar conta de seu ser.

Antes que tivesse tempo de dizer ao menos oi, a morena foi puxada para um beijo intenso e lento, cheio de carinho.

Desde a primeira vez em que se beijaram, pouco mais de cinco anos antes, Marissa considerava a sensação dos lábios de Denise sobre os seus a melhor coisa que podia sentir no mundo, então, mesmo que já fizesse três anos que moravam naquele mesmo prédio em Campinas – SP e podiam se ver todos os dias, a mineira beijava a roraimense como se fossem demorar meses para se encontrar de novo.

Porém, desta vez, quando os dedos da morena lhe tocaram a nuca, Marissa sentiu que ela estava fria e interrompeu imediatamente o contato.

— My H, você tá se sentindo bem? Está gelada. — Murmurou com o cenho franzido em preocupação.

— Estou ótima, My B. — Respondeu beijando-lhe a testa e entrando no apartamento aconchegante. — Estava no ar-condicionado, é só isso.

Marissa fechou a porta e se virou para encarar a morena sentada em seu sofá. Sabia bem quando ela estava mentindo. Desde a época em que só conversavam por celular e redes sociais e se viam de cinco em cinco meses, Denise já tinha sérias dificuldades em ludibria-la, com três anos de convivência diária então, essa tarefa havia se tornado literalmente impossível.

Mas, sabendo que Denise tinha plena ciência disso, Marissa preferiu deixa-la quieta e, quando se sentisse a vontade, ela diria a verdade.

— Não vai se sentar? — A morena questionou com um sorriso torto enfeitando os lábios.

— Ah claro. — A anfitriã riu, despertando de seus devaneios. — Só vou pedir a pizza, meu celular tá carregando ali no quarto.

— Certo. — Denise observou-a atravessar a sala, então se levantou do estofado. — Enquanto isso, vou colocar logo o dvd pra rodar.

Marissa estancou por um segundo no meio do corredor, em seguida voltou dois passos e murmurou. — Temos mesmo que fazer isso?

— Claro que temos! — Respondeu com um ar de riso. — Você está me enrolando há mais de cinco anos e hoje é o dia em que vamos ver um filme de terror.

A mineira soltou um muxoxo e foi fazer a ligação, voltando alguns minutos depois. — Eles disseram que a pizza chega em 45min. — Avisou, mas a morena estava muito concentrada em um ponto invisível no chão enquanto batia as unhas contra o braço do sofá para prestar atenção. — My H?

— Hm?

— Disseram que vai demorar 45min.

— Okay. Até lá, a gente assiste. — Deu um tapinha no espaço vago ao seu lado, como um convite a anfitriã.

Marissa fez uma careta de desaprovação, porém foi sem dizer nada. Denise segurou o queixo de sua namorada e colou seus lábios em um selinho demorado, conseguindo, dessa forma, arrancar-lhe um sorriso. Mínimo, de fato. Mas ainda assim um sorriso.

O FILME NÃO ESTAVA NEM nos seus 30min e Marissa já havia se agarrado a Denise e escondido o rosto na curvatura de seu pescoço tantas vezes que decidiu por permanecer nesta posição de uma vez, fazendo a morena rir e dizer. — My B., você tá perdendo o filme.

— É exatamente essa a minha intenção. — Respondeu com a voz abafada pela pele da roraimense, causando-lhe um leve arrepio. — Não sei como me convenceu a ver isso.

— Pelo visto, não convenci. — Riu mais alto e tornou a se concentrar na tela.

— Nossa, aqui dentro é muito quente. — Depois de algum tempo, a anfitriã voltou a se manifestar. — Como é que você vive dentro do seu cabelo?

— Costume, eu acho. — Denise riu mais uma vez. — Vamos parar com o bullyng com os cachos das amiguinhas?

— Não é bullyng, to só brincando. Hmmm. Nossa.

— O que?

Denise sentiu a pontinha do nariz de Marissa se arrastar pela extensão de seu pescoço, lhe arrepiando de novo, mas, dessa vez, intensamente. — Você tem um cheiro muito gostoso.

— Hm. É mesmo? — A roraimense sorriu de lado e mordeu o lábio inferior quando sentiu a boca da mineira pressionar sua pele.

— E uma textura também.

— M-My... My B, você tá me distraindo. — Denise ofegou e fechou os olhos, era tão fácil seu corpo reagir àquela garota.

Marissa saiu de baixo dos cachos negros e, olhando nos olhos da namorada, repetiu, mas, dessa vez, com um sorriso malicioso. — É exatamente essa a minha intenção.

Não que o tom da mais nova permitisse que o cérebro de Denise estivesse ligado o bastante para comandar seus dedos quando se embrenharam no cabelo castanho da mineira, trazendo-a para perto e fazendo seus lábios se chocarem, mas não tinha do que reclamar. Não mesmo.

O beijo era intenso e voraz, os corpos de ambas estavam quentes e uma das mãos de Denise desceu lentamente da nuca para a coxa de Marissa, apertando de leve como um chamado para ela sentar em seu colo. Mas logo ao atender esse chamado, a mineira sentiu um certo volume ao qual não estava habituada.

— My H, o que é isso? — Questionou interrompendo o beijo de forma abrupta.

A boca de Denise abriu e fechou diversas vezes, mas nenhum som saiu de lá. Marissa franziu as sobrancelhas em confusão, mas o toque da campainha a impediu de perguntar novamente. Não que o entregador não tenha tido que apertar o botão mais duas ou três vezes durante a troca intensa de olhares entre elas. A mineira tentando decifrar a roraimense enquanto esta apenas era incapaz de desviar a atenção, mesmo que aquilo estivesse trazendo a tensão de volta, gradativamente.

Denise tentou ao máximo estabilizar a respiração enquanto observava Marissa pagar pela pizza e leva-la para o balcão. Precisava se acalmar e apenas fazer o discurso que estava ensaiando há semanas, não seria tão difícil, não é? Até porque era Marissa, depois de tudo o que passaram, sabia que não precisava temer nada quando se tratava dela.

Então, respirando fundo uma última vez, se levantou e se aproximou da mineira. — Ei, eu te amo, sabia, My B?

— Tinha suspeitas. — Respondeu com um sorriso de canto ainda dividindo as fatias de pizza dentro da caixa. — Mas é sempre bom ouvir. Eu também te amo, My H.

— Sabe por que eu te amo?

— Também tenho minhas suspeitas. —Marissa sorriu ainda mais e olhou para Denise. — Mas, por quê?

— Você é uma pessoa tão fofa e positiva que me faz sentir bem até nos meus piores dias. É esperta, divertida, companheira. É graças a você que eu sou muito do que sou hoje: você que me fez ter coragem de sair da minha cidade e estudar o que realmente queria, me ajudou a me aceitar do jeito que sou e não tentar agradar ninguém mesmo quando você mesma discorda das minhas escolhas. Você é a pessoa que melhor me entende no mundo e mesmo quando não consegue, me aceita e continua me amando. Mas o nosso relacionamento não tá mais sendo o bastante pra mim.

A expressão de Marissa mudou drasticamente de encantada para aflita. — O que quer dizer com isso, Denise?

— O que eu quero dizer com isso, Marissa, é que, além dos títulos de melhor amiga, companheira, amante, namorada e os outros milhares que você tem, quero que tenha o título de minha esposa. — A roraimense se ajoelhou, tirou do bolso uma caixinha simples de veludo azul, a mesma que a mineira sentira minutos atrás, e abrindo-a pronunciando as palavras que mudariam sua vida para sempre. — Quer casar comigo?