O Preço da Honra escrita por Julia Nery


Capítulo 8
Retorno ao Mar




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Para a impaciência e desapontamento de Emma, Connor estava certo.

Clipper demorou mais que um dia para conseguir as informações de que precisavam. Como ela já mencionara, odiava ter de depender em cartas e palavras vagas para seguir em frente. Estava claro como o dia que aquelas coisas levavam tempo, mas Emma era teimosa e queria acabar logo com aquilo. Aparentemente não seria tão rápido quanto ela desejava. E, durante aquele tempo de espera, ela tentou ao máximo se manter ocupada.

Na tarde do segundo dia na fazenda, Emma se encontrava em algum ponto da floresta, sentada de pernas cruzadas em cima de um pequeno rochedo ao lado de uma cachoeira, escutando os pássaros cantando e o delicioso e calmante som da água em movimento. A pacificidade do local a lembrava da sala de meditação da guilda, então julgou ser perfeito.

Havia encontrado aquele lugar em uma de suas pequenas explorações que fez pela propriedade. Não sabia se ela tinha algum problema interno, mas tentava manter distância das pessoas que moravam na fazenda. Tudo ali tinha um aspecto de proximidade e afeto familiar com o qual ela não estava acostumada, e às vezes a incomodava.

Ela estaria mentindo se dissesse que realmente se importava com as pessoas naquele lugar. Ela ajudara a recuperar o comboio dois dias antes devido ao sentimento de que deveria retribuir a, então dita, hospitalidade. Mas ela preferia ficar afastada de todos, da forma como fora habituada. Dessa forma, conseguia encarar seus demônios sozinha.

Emma tinha os olhos fechados, controlando a respiração como fazia em casa. O som da natureza, cheia de vida, a cercava, e era um dos raríssimos momentos em que sua alma se encontrava em silêncio. Mas por mais que tentasse manter a cabeça vazia, os acontecimentos dos últimos dias passavam por sua cabeça involuntariamente, como pequenos flashbacks, e uma hora ou outra, sua respiração se desestabilizava.

“Na manhã seguinte, após a chegada de Boston, Emma se encontrava no porão secreto que Achilles mostrara a ela, escondido atrás das escadas da mansão por uma passagem secreta. Possuía apenas uma janela pequena, então era um lugar um pouco escuro e não muito grande, mas abrigava um variado arsenal e era provido de uma pequena arena que Connor provavelmente usava para treinamentos.

Em uma das paredes descascadas e gastas pelo tempo, iluminados apenas pela chama sinistra de uma única vela, estavam pendurados alguns retratos masculinos. A maioria deles marcados com um grande X branco. Era o que Emma observava com cautela.

Todos os homens nas pinturas eram Templários. Era evidente, devido às anotações que rodeavam as molduras, mencionando os nomes, crimes e posições no que parecia ser uma hierarquia. No entanto, era o quadro pendurado acima de todos os outros que possuía a atenção de Emma, um dos únicos que ainda não possuía seu X. Embaixo dele, podia-se ler “Haytham, grão-mestre” em uma caligrafia relaxada, mas ela já sabia quem ele era.

Era o pai de Connor, isso ela deduzira, mas era também a razão pela qual Emma teve a sensação de conhecer o assassino quando pôs os olhos nele pela primeira vez. Ambos eram muito parecidos, apesar de Connor ter os traços típicos de um nativo americano. Ela já vira Haytham antes, em Londres, muito tempo atrás.

Ela tinha dezenove anos quando fora à capital certo dia a pedido de seu pai. O vira em frente a uma taverna velha, agourenta e suja, provavelmente infestada de piratas. É uma memória curta, mas ficou gravada em sua memória devido à discussão que ele tivera com um marinheiro do lado de fora do estabelecimento. Ela lembra-se de ter visto as roupas dele e pensado por que razão um nobre estaria ali tendo uma discussão hostil com um humilde marinheiro, que logo resultaria em uma briga, a qual Emma viu-se obrigada a aplacar. Quando ela entrou no meio da discussão, separando os dois, Haytham olhara para ela com desdém além de sua compreensão, e rapidamente foi embora em seu cavalo, sem dizer uma só palavra. Agora, ela sabia que ele provavelmente soube instantaneamente que ela era uma Assassina, devido a seus trajes.

Claro, na época ela não fazia ideia de quem ele era.

Passos rangeram os degraus das escadas de madeira quase apodrecida que levavam ali, distraindo-a de sua lembrança. Ela se virou para ver quem se juntara a ela.

Era Connor. Tinha algo nas mãos, e ficou surpreso por alguns segundos ao vê-la ali, mas deve ter concluído que Achilles a mostraria o porão mais cedo ou mais tarde. Afinal, ela ficaria ali por um tempo.

— São meus alvos – informou ele, aproximando-se de sua coleção intrigante, que ambos agora olhavam.

— Eu imaginei.

Connor abaixou o rosto para o pacote, e começou a desembrulha-lo. Ela observou suas mãos ágeis enquanto o fazia.

As pupilas de Emma se contraíram em horror e desprezo quando ela viu do que se tratava. Era mais um quadro para a parede.

— Achilles sugeriu que eu o pendurasse junto aos outros – Connor contou, e Emma acompanhou com os olhos raivosos enquanto ele pendurava a pintura de Eberus Fitzgerald na diagonal da de seu pai. – Não tenho certeza de que é recente, mas foi o que ele conseguiu.

— É recente – confirmou Emma, com a voz dura. Ah, ela se lembrava bem. Bem demais.

Eberus estava em torno de cinquenta anos, e já possuía cabelos grisalhos e uma barba cinza bem aparada que emoldurava o rosto quadrado e enrugado mostrado no retrato. Os vítreos e venenosos olhos azuis pareciam encarar Emma, como se ele realmente estivesse ali. Um sorriso cruel estampava os lábios finos e secos, e ela quase podia ouvi-lo, rindo dela. Ela o odiava.

— Como você consegue? – murmurou. – Olhar os quadros, todos os dias?

Connor hesitou antes de responder, sem ter muita certeza.

— Aumentam minha raiva – respondeu enfim, amassando o papel que outrora servira de embrulho. – Lembram-me das razões pela qual preciso mata-los.

Involuntariamente, Emma começou a fazer o mesmo. Enquanto ela encarava Eberus de volta, lampejos começaram a tomar sua mente, alternando entre seu sorriso, imortalizado no quadro, e no sorriso cruel que ele possuía enquanto a casa de Emma era tomada por chamas à sua volta. Ele olhava os Assassinos sendo dizimados aos seus pés, e zombava com uma risada sepulcral enquanto Emma tentava inutilmente correr até ele.

Mas ela riria por último.

Com as mãos fechadas em punhos, Emma andou para o arsenal e tomou a primeira adaga que viu em mãos, e lançou-a pelo ar. Connor se desviou bem na hora e a ponta da adaga atingiu Eberus bem em seu sorriso macabro.

Emma subiu as escadas, voltando à casa, deixando Connor com os fantasmas que habitavam aquele porão.”

Emma suspirou, tentando concentrar-se novamente no som da água. Teve dificuldades em relação à sua ansiedade depois do pequeno acontecimento na mansão, mas lidou com aquilo sem maiores problemas. Afinal, encontrar algo naquela fazenda para distrair uma cabeça preocupada não era muito difícil.

“– Mantenha os dois olhos abertos, puxe devagar e sem pressa – Connor murmurou atrás dela. Ele cutucou seu cotovelo sem delicadeza. – Levante mais o braço. Cuidado com o rosto.

Estavam em frente à casa, no fim do mesmo dia, e o segundo sol já começava seu caminho até o horizonte, se escondendo atrás das árvores, e em uma hora ou duas a escuridão cobriria as florestas novamente. Achilles estava ali também, em uma presença silenciosa, escovando os cavalos perto do estábulo.

Emma respirou fundo e soltou a flecha, que zuniu pelo ar e atingiu o alvo improvisado – uma arvore a dez metros. Ela abaixou o arco de Connor, insatisfeita. A flecha havia acertado vários centímetros acima de um nó na madeira – onde havia mirado.

— Acertou a árvore – Connor voltou a se sentar em uma pedra, e começou a limpar sua machadinha. – É a primeira vez em dez tentativas. Mas talvez deva tentar mirar no meio de vez em quando.

Emma revirou os olhos, andando até a arvore para recuperar a flecha, a única que Connor permitiu o uso quando ela fora até ele pedindo que ele a deixasse usar seu arco, o que ele recusou de imediato. Mas Emma insistiu, e ele acabou cedendo. Provavelmente achava que ela o deixaria em paz depois disso.

— Eu mirei no meio – afirmou ela, arrancando a flecha da casca da árvore.

— Mas soltou a respiração quando soltou a linha. Isso desviou a trajetória da flecha. Respire primeiro, depois atire.

— Não fique me dando ordens.

Connor revirou os olhos.

— Você pediu que eu a ensinasse. Qual seu problema?

Emma voltou à sua posição, sem se dar ao trabalho de respondê-lo, e preparou o arco novamente, e a corda rangeu, mas foi quando o mensageiro de Clipper chegou, interrompendo suas atividades. Foram os galopes ecoando da estrada que entregaram sua presença, e logo ele apareceu, um homem de aparência simples montado em um cavalo marrom.

Ele parou entre Emma e Connor, que já se levantava.

— Carta de Clipper Wilkinson – anunciou, mostrando um envelope branco simples.

Connor ergueu a mão para pegar a carta que lhes fora estendida, mas Emma foi mais rápida e pegou o envelope antes que Connor pudesse encostar os dedos nele. Ela o viu revirar os olhos.

Emma jogou o arco para ele, que pegou com destreza no ar, e imediatamente começou a rasgar o envelope, sem mesmo agradecer o mensageiro, que puxou as rédeas, virando o cavalo e seguindo seu caminho de volta para Boston.

Emma correu os olhos rapidamente pelos nomes que não lhe importavam. Era mais uma lista longa, cercada por anotações, como “duque” ou “perigoso”. Para a satisfação de Emma, seus olhos travaram no nome Rufus Mason, destacado por um grande círculo preto. Ela deu um grande suspiro, com a sensação de que finalmente estavam chegando a algum lugar. Estava acontecendo, ali e agora. Mais um passo dado em direção ao fim de um horrível pesadelo. Sem aviso, a ansiedade voltou a toma-la. Ela precisava ficar sozinha por algum tempo.”

Então, ali estava ela, aproveitando o fresco ar da floresta para meditar. Depois de leves momentos de distração, ela finalmente conseguiu esvaziar a mente, expurgando os pensamentos dela. Quase conseguia sentir o psicodélico cheiro do incenso.

Mas é claro que alguém viria procurar por ela.

— Você é difícil de encontrar.

Emma nem se deu o trabalho de olhar. Infelizmente conhecia aquela voz baixa e gutural, que possuía um tom de julgamento constante.

— Essa é a intenção – respondeu.

— O que está fazendo? – Connor insistiu.

Ela suspirou, abrindo os olhos finalmente, que refletiram o verde pálido da floresta.

— A mente é como água, Connor – murmurou ela. – Quando agitada, é difícil enxergar através dela. Mas quando calma e estável, tudo fica muito claro.

Connor, que estava encostado em uma das árvores, apenas ergueu uma sobrancelha. Ela sacudiu a cabeça, sorrindo de leve. Tentava dizer a si mesma que ainda não gostava nem um pouco dele, mas “nem um pouco” parecia muito, pois estaria mentindo se dissesse que se sentia da mesma maneira de quando o conhecera.

A presença dele a agradava – quando ele não agia de forma teimosa e petulante, e de certa forma – uma muito peculiar – ele a acalmava. Saber uma porcentagem pequena de sua história trágica, e ver que ele, aparentemente, lidava com seu passado e futuro de uma maneira surpreendentemente madura, e também estava disposto a ajuda-la, apesar de tudo, abria os olhos de Emma para ver que talvez nem tudo estivesse perdido. Havia esperanças para a redenção, afinal de contas.

Em poucos dias, ela percebera que haviam começado com o pé errado. Eram muito parecidos em alguns aspectos, o que, dependendo da maneira como era lidado, poderia vir a ser uma pedra no caminho, ou a maior de suas vantagens. Caberia apenas aos dois decidir qual caminho seguir.

— Estava meditando – simplificou Emma, brincando com a ponta de sua trança, que tocava sua cintura. – Talvez devesse tentar de vez em quando.

Ele bufou, fitando a relva ondulante.

— Estou bem, obrigado.

— Alguma razão pela qual você queria me ver? – disse ela. – Tenho certeza de que não é por meu par de olhos bonitos.

Connor bufou novamente em resposta.

— Não – confirmou, enquanto Emma se levantava, batendo a grama de sua calça, e o seguia de volta para a mansão. – É o Aquila. Está pronto para a partida.

Emma já conseguia sentir com nitidez o inverno se aproximando devido ao vento frio que incomodava a pele exposta de seu rosto, e também, quando ela acordava, a grama e a terra lá fora estavam molhadas, indicando que nevara durante a noite, e o gelo fora derretido com o nascer do sol. Ela estava usando suas luvas mais do que nunca.

A Fazenda Davenport possuía um pequeno porto que dificilmente abrigaria algum outro navio que não fosse o de Connor. Mas, mesmo assim, talvez não houvesse motivos para que qualquer embarcação aportasse ali. Afinal, era apenas uma velha fazenda de um velho homem.

Emma acompanhara o conserto do navio de longe, do penhasco onde a casa de Achilles fora construída. A baía era decrescente e se formava em meia lua, de maneira que, da colina rochosa da mansão até o porto, o terreno ficava cada vez mais baixo e menos acidentado, até atingir o nível do mar, onde o píer fora construído. Mas agora, vendo de perto, ele – ou ela, como os homens preferiam dizer – era bem mais interessante.

— Este é o Aquila – apresentou Connor quando entraram no porto.

Não era uma embarcação grande quanto um Man O’ War*, mas era igualmente imponente. As laterais de madeira maciça eram guarnecidas por várias fileiras de canhões de chumbo e giratórios. As velas brancas eram novas em folha, e mexiam-se sinuosamente lá em cima, como as pequenas ondas que morriam na praia. Os cordames rangiam baixo, como se ele desse as boas vindas, e uma carranca de águia enfeitava a proa.

Era mil vezes mais extraordinário que o Anfitrite, ou qualquer outro navio que ela já estivera.

— Impressionante – murmurou Emma, resumindo seus pensamentos em palavras.

Emma ainda estava contemplando o navio e seguindo Connor quando um homem veio ao encontro deles em um passo orgulhoso, mantendo as mãos atrás de si. Tinha cabelos grisalhos e a barba bem aparada da mesma cor. Tinha o rosto coberto de rugas concedidas pelos anos e uma expressão carrancuda, mas seus olhos eram bondosos. Emma deduziu ser o capitão do Aquila, mas as primeiras palavras do sujeito a provaram errada.

— Bom dia, capitão – cumprimentou, com uma voz grossa e dura, e bateu a mão no ombro de Connor com força e amigavelmente.

— Sr. Faulkner.

O homem chamado Faulkner olhou Emma da cabeça aos pés com um olhar de curiosidade, como se estivesse se perguntando o que uma mulher estaria fazendo em roupas como as dela.

— E quem é a jovem? – perguntou, com o que pareceu a tentativa de um sorriso amigável no rosto.

Connor deixou que Emma se apresentasse, e ela e Faulkner trocaram um aperto de mãos. A dele era áspera e grande; uma pata de leão comparada com a dela, mas gentil.

— Emma Pierce.

— Robert Faulkner, milady.

— É um prazer.

— A que devemos a honra da presença de uma boneca inglesa? Está um pouco longe da terra-mãe, não acha?

Emma ergueu uma sobrancelha. Não soube dizer se ele quis ofendê-la, ou se aquele era o jeito dele de dar as boas vindas.

— Sem mais delongas, Sr. Faulkner – Connor interrompeu e passou por ele, e Emma foi atrás quando ambos começaram a andar lado a lado. – Como ela está?

Emma demorou um segundo para perceber que falavam do navio, e não dela.

— Está ótima, senhor – Faulkner assentiu com satisfação. – Pronta para voar novamente.

— Bom. Preparem-se. Não temos tempo a perder. Vamos, Emma.

— Uh... A milady vai juntar-se a nós? – perguntou Faulkner, com um tom constrangido.

Connor olhou para Faulkner com uma sobrancelha erguida, como ele fizera com ela mais cedo. Emma estava começando a se acostumar com suas caras e bocas.

— Ela é nossa convidada de honra, Sr. Faulkner, e você sabe que não acredito em suas superstições marítimas – disse Connor. – Até um belo nascer do sol é sinal de mau agouro para o senhor – Então virou-se para ela, e gesticulou com a cabeça para o Aquila, querendo que ela o seguisse.

O Aquila era tão diferente do Anfitrite que apenas compará-los seria um insulto. O convés também era repleto de canhões, e cheirava a madeira recém-cortada, como na floresta. Um dos marinheiros esticou a mão para ajudar Emma a subir, a qual ela recusou, mas agradeceu. Ela era capaz de subir em um navio sem a ajuda de ninguém.

O leme ficava em um nível superior, após um pequenino lance de escadas, de onde Connor controlava o navio e conseguia ver todo o convés. Embaixo do leme, se encontrava uma porta esculpida de madeira, pela qual Connor entrou e esperou que Emma entrasse junto. Era uma cabine espaçosa, com vários armários, suportes empoeirados que abrigavam algumas pistolas, uma escrivaninha de cerejeira, e ao fundo, várias janelas arredondadas e embaçadas iluminavam o local, abaixo, um longo assento estofado.

Connor indicou a mesa, onde Emma viu um mapa e velho e enrugado estendido na superfície. Era como o mapa de Sam, mas mais ampliado, e mostrava toda a costa leste e as colônias. Até mesmo um pedaço de Quebec e da Jamaica. Emma localizou Nova York no mapa, vários quilômetros a sul de Boston e da Fronteira.

Ela se virou para perguntar a Connor quanto tempo demoraria, mas rapidamente desviou o olhar de volta para o mapa, com as bochechas rosadas. Por alguma razão, ele estava removendo seu robe de Assassino.

— Quanto tempo até Nova York? – perguntou ela, passando os dedos finos no pergaminho, acompanhando o litoral.

— Doze horas, talvez – respondeu ele, parando ao lado dela. – Depende do vento, e de nossa sorte.

Emma ergueu os olhos para ele, e entendeu a razão de estar se livrando de seu casaco antes. Ele agora usava uma veste azul de capitão, com detalhes e botões dourados. Um chapéu tricorne agora cobria sua cabeça ao invés do capuz.

— Esses trajes de capitão combinam com você – comentou ela.

— Vou tomar isso como um elogio – Connor ajustou o lenço em volta do pescoço.

Emma deu um sorrisinho e sacudiu a cabeça, e Connor começou a explicar a rota para ela. Não parecia tão complicado. Basicamente, teriam de seguir para sul, e no mapa, não parecia tão longe mas, infelizmente era. A paciência de Emma estava sendo testada a cada segundo.

O mar estava calmo, e o Aquila oscilava suavemente pelas ondas, mas o vento estava forte, o que parecia agradar Faulkner imensuravelmente. Ele ficava ao lado esquerdo de Connor, e parecia ser um bom homem, apesar da expressão séria e impenetrável, e quando a tripulação começava a cantar "What Will You do With a Drunken Sailor?", ele até mesmo sorria e cantarolava junto.

Mas quando Connor notou que Emma olhava o timão do Aquila com curiosidade, e perguntou se ela desejava controlá-la um pouco, o terror tomou o rosto do homem, e Emma pensou que ele fosse ter um ataque do coração.

Connor deu um passo para o lado e Emma tomou seu lugar, hesitante. Nunca tinha feito nada como aquilo antes. Ela segurou o timão, mas Connor manteve sua mão direita só por precaução, parado atrás de Emma, que fitava o horizonte.

— Senhor... — Faulkner balbuciou.

— Não se preocupe, Sr. Faulkner — Connor ergueu a mão, soltando o timão e deixando-a por si mesma. — Ela não vai bater contra as rochas — Então ele suspirou e se abaixou para murmurar para Emma: — Por favor não bata contra as rochas.

Emma assentiu, e guiou o Aquila pelas ondas.

Quando a noite caiu e a tripulação começou a acender os lampiões posicionados estrategicamente nos mastros e amuradas, lançando um brilho fraco pelo navio, Emma ouviu um dos marujos gritar, das cordas:

— Capitão, confronto à frente!

Connor, que estava apoiado contra a amurada do convés superior, virou-se para olhar o horizonte. A lua iluminava o céu e o mar com sua opaca aura prateada, e o continente e algumas ilhas eram apenas negras silhuetas, mas era possível ver brilhos repentinos e ouvir explosões ao longe, de baixo volume devido à distância. Ao que parecia, havia dois navios batalhando no estreito entre o continente e uma grande ilha.

Emma sugeriu que Connor tomasse o controle novamente, e posicionou-se do lado direito dele quando ele o fez e começou a girar o timão para a esquerda, mudando o curso e dando a volta na ilha, evitando o estreito, onde a batalha era travada. Pelo som grave e intenso dos canhões, não pareciam ser embarcações pequenas. Emma entendeu o que o nobre quis dizer sobre os navios na costa, e sobre a melhor opção ser seguir por terra. Mas ninguém a bordo parecia estar assustado, ou com medo, e isso incluía ela própria. Muito menos Connor. Ele mantinha a posição atrás do leme, com uma expressão impassível. Naquela noite, não haveria canhões sendo disparados pelo Aquila.

Quando a lua atingiu seu ápice no céu, Emma estava sentada dentro da cabine do capitão, observando o mar das janelas. Quando algo finalmente começou a aparecer no horizonte, Emma sequer teve uma boa oportunidade de olhar o que parecia ser uma cidade situada em uma longa península devido à escuridão da madrugada. Connor dissera que passariam a noite no navio para descansar da viagem e evitar chateamentos pela manhã que logo raiaria.

Ela se manteve escutando o suave som do mar e encarando a cidade que lentamente se aproximava, esperando o cansaço que não tardaria a vir. O silêncio e o balanço do navio a embalaram como uma criança em um berço, e logo ela encostou a testa no vidro gelado, fechando os olhos e se deixando levar pelo sono.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, comentários são muito apreciados ♥



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