O Preço da Honra escrita por Julia Nery


Capítulo 30
Ponto sem Volta




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O dia seguinte amanheceu frio, naturalmente, mas a manhã nos braços de Connor era confortável, e cada vez que Emma pensava na ideia de partir, uma nova ferida se abria em seu coração e sangrava até um ponto em que ela mal conseguisse suportar a dor. Queria tentar arranjar uma solução para esse sofrimento interno e silencioso, mas era difícil, então ela apenas tentava enganar a si mesma.

Emma chegara ao Aquila antes de todos, quase antes até mesmo de o sol se erguer sobre a linha do mar. Uma névoa suave deslizava por sobre a superfície da baía, dando ao ambiente uma atmosfera quase fantasmagórica. Estava apoiando os cotovelos sobre a balaustrada recém-lixada e pintada do navio, correndo os dedos pela madeira úmida onde a neve caíra não muitas horas antes. Estava sem luvas, então sua pele protestava contra a sensação gelada, mas a fazia se sentir viva.

Nesta próxima viagem, haviam poucas maneiras das quais poderia acabar, e não havia como voltar atrás, agora. A decisão de ir atrás de Eberus estava tomada. No entanto, não se sentia angustiada ou nervosa, muito menos ansiosa; o ar entrava e saía de seus pulmões com uma facilidade não sentida em muitos anos. A paz que a tomava, mesmo que desconhecida, a afetava de forma tão serena, mas forte, que sua pele se arrepiava.

Sentia-se leve como a pena de um beija-flor, e sabia que o motivo de tudo aquilo vinha do fato de que havia feito as pazes com seus demônios, sejam eles quais fossem. Pela primeira vez estava fazendo planos próprios; queria ter uma vida que não envolvesse um conselho ordenando cada passo que dava, e as ideias e motivos por trás desse passo. Por uma única vez, queria ser dona de suas próprias escolhas e, talvez, se ele concordasse, Connor pudesse ser parte delas.

Sua mente começava a vagar até seu pai, mas havia ficado ponderando, solitária no navio, por tempo demais; o calor do sol nascente iluminou as velas do Aquila e esquentou as costas de Emma, e enquanto o calor terminava de derreter os vestígios de neve do convés, observou enquanto o porto começava a se movimentar. Desceu do navio para deixar a tripulação prepará-lo para a próxima viagem, e lentamente subiu de volta para a Casa Grande. Seus olhos estavam molhados.

Não muito mais tarde, o Aquila movia-se em todo seu esplendor sobre as águas do oceano, deixando a Fazenda Davenport para trás mais uma vez, acompanhado por uma das fragatas aliadas das quais Connor dispunha. No entanto, nesta viagem, os marujos pareciam menos alegres, talvez mais temerosos, e a tensão que pairava sobre o convés se intensificava conforme o clima que os rodeava ficava mais frio e hostil.

Havia tomado a decisão de deixar Akwe na fazenda, com Achilles; não sabia o que iria acontecer, e não queria arriscar perdê-la. Passara algumas das primeiras horas na cabine do capitão, mas quando começara a se sentir solitária, saiu do local, sendo atingida pelo frio chocante assim que o fez. Emma abraçou-se, subindo as escadas até o convés superior, tomando seu lugar usual à direita de Connor.

— Estamos em rota, capitão — Faulkner afirmou, subindo as mesmas escadas que Emma, e segurava em mãos o mapa que haviam conseguido no forte, o mapa em que Emma desenhara, e uma nuvem de vapor se formava quando ele falava. — Nos mantendo neste curso, contornando o continente, iremos chegar às geleiras ao anoitecer. Na última semana conversei com alguns companheiros navegadores, e descobri que atrás das geleiras bem aqui — o contramestre esticou o mapa em frente à Emma, possibilitando que Connor visse também, e tocou um ponto específico no pergaminho — há um vale entre montanhas, exilado do resto do mundo. Segundo eles, há apenas uma entrada pelo continente, a qual imagino que esteja altamente protegida pelo inimigo. No entanto, há uma fenda nesta geleira pela qual mineiros clandestinos passavam para minerar prata no vale. É perigoso e instável; no entanto, julgo que será a melhor opção.

— Uma fenda — Emma repetiu, desapontada, enquanto Faulkner reenrolava o mapa ao seu estado original. — É tudo isso que temos? Uma fenda no gelo?

— Uma pequena entrada que leva a uma caverna congelada — completou o contramestre. — No entanto ela fica depois de um cemitério de navios, e é provável que haja ursos polares também.

Emma bufou.

— Ótimo.

— Nos preocuparemos com isso quando a hora chegar — Connor finalmente se manifestou, mantendo os olhos à frente. — Vamos nos concentrar em atingir nosso destino, por enquanto. O frio vai piorar; nos aquecer é a maior prioridade, agora.

Para a decepção não só da tripulação, mas de Emma também, Connor estava certo. Mesmo ao meio-dia, nuvens cinza reduziam a força da luz do sol, e uma nevasca fraca começara a soprar, vinda de um continente que agora era decorado exclusivamente por carvalhos mortos e pinheiros salpicados pela neve branca. Os homens ainda trabalhavam com todas as suas forças, mas Emma suspeitava que talvez a tempestade piorasse logo.

A rota em que seguiam era completamente deserta, e por várias milhas não se via nada além de icebergs flutuando no oceano e algumas baleias que subiam à superfície para cumprimentá-los. No deck inferior haviam alguns latões de metal que utilizavam para guardar óleo, e a tripulação foi obrigada a esvaziar dois deles e enchê-los de carvão, acendendo-os e colocando-o um no convés, para a tripulação, e outro atrás de Connor e Emma.

A certo ponto da viagem, mesmo que houvesse fogo ali, os lábios de Emma estavam quase ficando azuis, e alguns flocos de neve se prendiam às mechas de cabelo que escapavam de seu capuz, fazendo com que Connor a intimasse a entrar em sua cabine e se aquecer um pouco ali. Hesitante em deixá-lo no frio, Emma fez o que ele pedira e se enrolou nos cobertores de peles que se encontravam sobre a cama. A sensação era extasiante, e acabou adormecendo antes que pudesse sequer lutar contra.

Assim que acordou, os olhos de Emma estranharam a paisagem escura mostrada na janela da cabine. Levantou-se rapidamente, deixando o cobertor escorregar para fora de seu corpo. As velas apagadas e frias sobre a escrivaninha de Connor indicavam que ele nunca entrara ali, pelo menos não por muito tempo, então andou rapidamente até a porta.

Aparentemente, pelo menos por enquanto, a tempestade havia parado, e o céu estava limpo, revelando as estrelas que salpicavam o céu escuro. Toda a tripulação se encontrava apoiada na balaustrada, observando a paisagem congelada, e a única coisa que os permitia ver à frente era a luz leitosa e prateada da lua cheia.

Emma imitou-os, andando até a amurada e colocando os olhos no lugar pela primeira vez. Paredões enormes de gelo estendiam-se em direção ao céu, impedindo que qualquer coisa além deles fosse vista dali. No entanto, o caminho era bloqueado por vários navios naufragados, com apenas mastros e quilhas para fora da água. O Aquila estava ancorado longe das geleiras, uma vez que era completamente impossível que atravessasse todos os destroços e icebergs.

— Vamos — a voz veio de trás dela, e Connor passou ao seu lado, terminando de abotoar suas vestes e puxando o capuz para cima da cabeça. — Quanto mais cedo acabarmos com isso, melhor.

Emma concordou com um aceno de cabeça, e vestiu seu capuz também. Apoiou-se contra a amurada para saltar para fora atrás de Connor, mas parou. Virou-se, e olhou para Faulkner, que agora estava atrás do timão do navio. O contramestre deu um sorriso torto e carrancudo.

— Boa sorte para vocês dois — desejou.

O grito de concordância e incentivo da tripulação fez Emma sorrir de leve, e finalmente saltar da amurada para o iceberg mais próximo. O gelo oscilou, mas conseguiu manter-se em pé sem maiores problemas. Connor observou-a por alguns segundos, seus olhos mais sérios que antes, fitou o Aquila, então virou-se e ambos seguiram em frente.

O lugar era uma pequena baía sem ondas, e onde não haviam icebergs haviam destroços de outros navios que uma vez estiveram sobre a superfície da água, e os assassinos tiveram de prosseguir com cuidado, equilibrando-se sobre mastros instáveis e pedaços de madeira podres. Logo o Aquila estava quase completamente envolto em escuridão, visível apenas graças ao fogo que aquecia a tripulação.

Emma estreitou os olhos, correndo os olhos pelos paredões de gelo e conseguiu ver uma pequena abertura na superfície lisa. Parecia ser o que procuravam, uma vez que quase não havia defeitos na geleira, mas era difícil ter certeza daquela distância. Equilibrou-se sobre um iceberg, abaixando-se.

— Ali — indicou a Connor, que havia escalado a proa de um navio cuja metade estava embaixo d’água e cercada de gelo acumulado. — Mais à frente. Parece ser a fenda que Faulkner mencionou.

— Talvez — respondeu, seguindo o olhar dela. — Teremos que subir por este navio, não há como dar a volta.

Emma seguiu-o, prendendo a ponta dos dedos num buraco na quilha e puxando-se para cima. Sentia o musgo congelado sob suas mãos, o que dificultou um pouco a subida, e quando alcançou Connor no topo, segurou-se ao braço dele, uma vez que o espaço onde se podia ficar em pé ali era pequeno.

— Teremos que atravessar aqui — ele se referia ao ponto onde o mastro de dois navios se cruzavam, formando uma ponte improvisava que levava a outro iceberg, de onde poderiam chegar à fenda. — Cuidado com o gelo.

Connor deu um salto para frente, e apesar de ter pousado suavemente, a viga vacilou e tremeu, quase derrubando-o. Seguiu após recuperar o equilíbrio, passando devagar por onde os mastros se encontravam, segurando-se no resto dos cordames que sobravam ali, e quando chegou ao final, saltou da viga, caindo no iceberg.

Foi a vez de Emma e, devido ao seu tamanho, conseguiu ser um pouco mais rápida, desviando dos acúmulos de neve sobre a madeira da viga. Naquela escuridão era difícil enxergar onde o mastro terminava, então seguiu abaixada, tocando com as mãos os lugares antes de pisá-los, tendo certeza de que não cairia. Quando chegou ao momento de saltar, no entanto, hesitou. A queda parecia menor vista da quilha do outro navio.

— Não se preocupe — Connor tentou encorajá-la. Era impossível ver seu rosto daquela distância, escondido sob o capuz.

Respirou fundo, e impulsionou-se para fora da madeira. Seu coração se acelerou, e o frio impedia os músculos de Emma de trabalharem normalmente; estavam levemente atrofiados, mesmo sob todas as camadas de tecido que Ellen havia colocado ali. Então, quando pousou, desequilibrou-se e escorregou um pouco no gelo úmido, mas as mãos de Connor se prenderam em seus braços.

O gelo sobre qual pisavam agora era tão grosso que sequer oscilava quando pisavam, e realmente parecia que estavam sobre terra firme, apesar de isso não ser totalmente verdade. De qualquer forma, andaram com cautela, uma vez que haviam destroços até mesmo ali, como barris de pólvora antigos, pedaços de vela rasgados e caixotes vazios.

Estavam agora em frente à fenda, e era maior do que Emma imaginara, talvez duas vezes sua altura. A parte de cima da abertura era sustentada por um par de tábuas velhas e cheias de algas e neve, e as laterais eram formavam uma linha tão perfeita que não era difícil acreditar que alguém havia cortado o gelo.

— Não consigo ver nada — Emma murmurou, esticando-se um pouco para dentro. — Como vamos nos guiar aí dentro?

— Pelas paredes — Connor estudou com cuidado as tábuas que sustentavam o topo da entrada enquanto Emma andava para dentro da caverna, passando a mão enluvada com cuidado na parede de gelo. — Emma, cuidado!

Emma havia tropeçado em algo que se enrolara em seu tornozelo, seguido de um estalido agudo de algo se partindo, e Connor a empurrara para dentro da caverna antes que o topo da fenda, que desmoronava, caísse sobre ela. Foi jogada ao chão, e cobriu o rosto, protegendo-se dos pedregulhos e pedaços de gelo que caíam sobre ela. A entrada havia se fechado, e apenas conseguia se guiar através de uma pequena fresta no canto superior esquerdo do que antes fora a entrada e saída daquele túnel.

— Emma?! — Connor chamou, sua voz vezes mais baixa devido ao bloqueio que agora estava entre eles. Estava presa dentro, e ele fora. — Emma, você está bem?

— Sim, argh — Emma levantou-se, batendo a neve de suas roupas, e andou rapidamente até a fresta, escalando a montanha de pedras e gelo que agora estava entre os dois, posicionando seus olhos no pequeno buraco. — Sim, estou bem.

— Maldição — murmurou ele, em um tom ainda mais baixo. Observava o bloqueio, até que finalmente encontrou a fresta e os olhos de Emma, iluminados pela luz prateada da lua. — Terá de ir sem mim, por enquanto. Pensarei em algo.

— Não — Emma respondeu de imediato. — Não irei a lugar algum sem você.

O rosto de Connor estava escondido na penumbra de seu capuz, mas Emma viu seus ombros largos oscilarem quando ele suspirou. Ficara ansiosa apenas de ele sugerir aquilo; sua coragem falhava quando não estava com ele, e não conseguia negar o próprio medo. Não havia chances de ela ir e deixa-lo ali.

— Certo — respondeu ele, afastando-se da fresta. — Espere um segundo.

— Haviam barris de pólvora, à sua esquerda — sugeriu ela. — Pode usá-los para limpar a passagem.

— Tudo já desmoronou — sua voz estava mais afastada, quase inaudível. — Outra explosão não ajudaria em nada.

— É a nossa única chance.

Houve um momento de silêncio vinda da concordância não proferida de Connor, e logo ele estava posicionando-os sobre a parte de cima do desmoronamento. Emma se escondeu atrás de um grande rochedo encontrado mais fundo na caverna, e tapou os ouvidos. A geleira tremeu quando Connor atirou nos barris, e, tão rápida quanto veio, a luz se extinguiu novamente.

Sem mesmo saber se era seguro, Emma pulou sobre o rochedo para ir à ajuda. Tateou o chão até encontrá-lo, caído ali. Ajudou-o a se levantar e ele grunhiu. Provavelmente tivera de saltar em meio à explosão para aproveitar a brecha antes que mais pedras caíssem.

— Estou bem — garantiu. — A passagem se fechou, só podemos seguir em frente.

O túnel era mais longo que o esperado, mas andando lado a lado num passo rápido, Connor e Emma conseguiram atingir o final. Não era um labirinto de cavernas, e sim um único corredor gelado e gotejante que seguia em linha reta, atravessando as geleiras como uma veia pulsante. Muitas coisas já haviam passado diante dos olhos de Emma, mas ela não esperava a paisagem que a saudou quando ambos saíram da caverna.

Duas montanhas surrealmente enormes margeavam um enorme vale, tão altas que ultrapassavam a linha das nuvens, decoradas por neve em toda sua extensão. No chão, uma enorme planície congelada se estendia até a curva da primeira montanha, com pinheiros espalhados próximos da base das montanhas. No entanto, não foi a vista morta e bela que capturou a atenção dos olhos de Emma.

Na encosta da montanha da esquerda, construído numa área menos íngreme, uma mansão de mármore escuro deixava a  paisagem menos natural. De um túnel construído na base da mansão, uma cachoeira despejava suas águas, que caíam até desaparecerem entre os pinheiros. Os olhos de Emma brilharam, mas seu coração se encheu de ansiedade e raiva.

— É aquilo — disse, dando um passo à frente, depois se virando para olhar Connor. — Tem de ser.

O assassino observava algo que cercava a saída da caverna, um mecanismo grande com roldanas, uma alavanca, uma corda e um portão. Aparentemente, abaixando as alavancas, a corda era enrolada e o portão de madeira, que ficava pendurado acima da saída da caverna, desceria. No entanto, Emma não conseguia se concentrar nisso; só havia uma maneira de subir, e não poderiam perder tempo, ou o frio os alcançaria.

Aparentemente, ambos os assassinos haviam pensado na mesma solução para o problema de subir até a mansão — apesar de nenhum gostar realmente da ideia — e correram juntos para a aglomeração de pinheiros nevados na base da montanha da mansão. Os músculos de Emma ainda reclamavam do frio, e correr sobre três centímetros de neve e com a brisa de inverno penetrando seu capuz e tocando sua nuca não era nada fácil. No entanto, era a adrenalina que a empurrava para frente. Logo, ambos chegaram ao rochedo onde a montanha começava.

— Iremos devagar — Connor murmurou, aproximando-se dela e correndo o dedo por sua bochecha, provavelmente tirando dali alguns flocos de neve. Era mais fácil ver seu rosto, agora. — É uma grande subida, apesar de não ser no topo, e um passo em falso pode custar nossas vidas.

Emma assentiu, erguendo a cabeça para observar todo o monte de pedras, rochas e neve que estava prestes a subir. Um frio desagradável remexeu o estômago de Emma, e o pouco de cor que ainda restava sumiu de seu rosto, destacando ainda mais seus lábios quase azuis.

— Sei que não preciso mais te ensinar como escalar — Connor continuou. — Mas fique perto, e tome cuidado.

 

Concentre-se, Emma, era tudo o que a assassina conseguia dizer a si mesma enquanto empurrava-se para cima, encaixando a ponta dos dedos em qualquer sulco que conseguisse encontrar nas pedras. O rochedo era úmido, o que tornava a tarefa de subir extremamente árdua; de vez em quando encontravam partes mais planas e paravam por poucos minutos para recuperar o fôlego antes de continuar.

Surpreendentemente, quando Emma conseguiu ver que se aproximavam da mansão, percebeu que os flocos de neve haviam se reduzido a quase nada, deixando para trás apenas o vento. Connor sugeriu que parassem no túnel da cachoeira para descansar, e o som da água era quase alto o suficiente para cobrir a voz dele.

— Conseguimos — Emma murmurou, puxando-se para cima para uma pequena passagem de cinema que margeava o córrego que despejava ali. Sentou-se, encostando-se na parede de pedra lisa e fechando os olhos, tentando controlar sua respiração. — Deixe-me respirar um segundo.

No entanto, era difícil. O ar ali em cima era extremamente rarefeito, e a garganta de Emma se arranhava quando tentava respirar rápido demais, doendo junto com seu peito, o qual agora ela massageava cuidadosamente. Parecia um milagre que haviam conseguido escalar em pouco menos de uma hora. Connor estudava o túnel e a queda, provavelmente para se certificar de que não havia perigo ali.

— Temos de fazer isso o mais rápido e silenciosamente possível — Emma levantou-se, batendo a neve dos braços.  — Não podemos lutar nestas condições.

— Nossa vantagem é que não sabem que estamos aqui — Connor virou-se para Emma novamente. — Não devem esperar que alguém chegasse tão longe, principalmente pela maneira que viemos. Principalmente se acreditam que a entrada que protegem seja a única.

— Seremos simples — Emma se juntou a ele perto da queda d’agua. — Entraremos, localizaremos Eberus e o Diamante. Eliminaremos um, levaremos o outro. Temos o elemento surpresa, não podemos deixar essa oportunidade passar.

A escalada pelas paredes escuras da mansão foi menos severa, com toneladas de tijolos e cimento para protegê-los do vento. No entanto, apesar de aquele lugar ser uma espécie de casa para o grão-mestre e não um forte de guerra, parecia extremamente deserto. Talvez Emma simplesmente não conseguisse ouvir devido ao ar em movimento, mas, de qualquer jeito, estava alerta.

Após alguns minutos, ambos os assassinos pisaram na sacada principal em silêncio; era um espaço estreito e coberto que parecia cercar toda a mansão. Havia archotes acesos pendurados nas colunas que sustentavam o telhado, e o calor que emanavam era bem vindo, mas projetavam sombras sinistras junto com o luar.

Escondendo-se nos espaços entre as vidraças, Emma tomou cuidado para que ninguém lá dentro pudesse vê-la. Connor imitou-a, e ambos viraram as cabeças para olhar dentro da casa, mas o corredor lá dentro estava tão escuro quando o exterior, apesar de os sentidos de Emma não detectarem nenhuma presença próxima.

— Isso é suspeito — sussurrou Emma, mas abaixou-se em frente ao batente mesmo assim, enfiando sua lâmina oculta no fecho e girando-a para abri-la. A trava estalou, e Emma ergueu a janela lentamente. — Fique alerta.

Apesar de todo seu cuidado, a assassina tinha a tendência de se esquecer de que o mundo e suas circunstâncias extraordinárias sempre a surpreendiam mais uma vez e, mesmo aquele sendo um dos momentos mais decisivos de sua vida, não foi diferente; passou as pernas pela janela, tendo certeza de que era seguro.

Foi rápido demais, e não teve tempo de avisar a Connor que não entrasse. Um calor diferente e desagradável subiu por seus pés e em menos de um segundo, envolvia toda a superfície de sua pele. Não teve como olhar para baixo para ter certeza de que não estava em chamas pois seus músculos pararam de responder e ela caiu de joelhos, totalmente imobilizada pela dor, a visão turva. Toda sua pele formigava, indo desde seus pés, até o último fio de cabelo em sua cabeça.

— Emma! — Sua audição estava abafada, e foi tudo que Connor conseguiu pronunciar antes de cair na mesma armadilha.

Com seus sentidos comprometidos, em meio ao estranho brilho azul instável que a cercava, no fim do corredor escuro da casa, Emma viu apenas um brilho dourado, seguido de uma risada de desdém que ecoou pelas paredes. Amaldiçoou todos os deuses existentes antes de finalmente entrar em colapso, atingindo o carpete do corredor.

Ele soubera, o tempo todo.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, comentários são muito apreciados ♥



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