Aconteceu escrita por AyalaOM


Capítulo 1
Aconteceu


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ^^

PS: Em ITÁLICO (Letras meio deitadas) são lembranças.



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Aconteceu

Eles diziam que ia acontecer. Eles tinham avisado. Então de repente realmente aconteceu. Milhares de noticiários recriminavam as atitudes dos Russos, os repudiavam, mas ninguém disse mais nada com alguns meses de silencio do ocorrido.

Então, quando todos menos esperavam, aconteceu de novo. Dessa vez mais forte e contra a maior nação do mundo. Os Estados Unidos perderam tudo dessa vez. E os Russos avisaram.

Branco foi a cor da fumaça da explosão que massacrou milhares e deixou outros tantos feridos. Uma sensação quase entorpecente deu lugar à queimação que só crescia e fazia os que estavam no local gritarem. Era como se estivessem num incêndio, no entanto, não havia fogo algum.

Jade sentiu os sentidos esvaindo-se e tentou andar apenas mais um pouco. Ouvia o som de sirenes ao longe – ou seria sua imaginação? Dizem que você imagina quando está morrendo, que pessoas virão salvar-lhe e Jade tinha certeza de que estava a caminho do inferno.

[…]

A primeira coisa que Jade viu quando abriu os olhos foi um teto branco escurecido pela noite. Ela sentiu o colchão meio macio abaixo de si e um pouco de frio, devido ao fino lençol além do cheiro horrível de podre. Sentou-se e arrancou os fios de seu braço, tinha que procurar ajuda.

─ Oi? – Chamou e não obteve resposta. Apertou o botão vermelho de “emergência”, mas ele parecia estar quebrado, pois a luz não acendia. – Alguém ainda aqui?

Obtendo apenas silencio, Jade decidiu que não poderia permanecer no local por mais tempo. Se não houvesse ninguém mais lá, o que faria? Será que mais alguém estava vivo? Ela só se lembrava de uma explosão e muita dor e calor queimando-a.

Jade chutou o lençol para longe e pisou no chão. Segurou-se para não escorregar. Havia algo viscoso abaixo de seus pés, enquanto ela buscava o interruptor para ligar as luzes. Quando o encontrou e apertou a luz tremeluziu sombriamente, configurando o filme de terror que ela admitiu estar vivendo. Aquilo simplesmente não podia ser real.

Ela sufocou um grito quando viu a imagem mexer-se. Era impossível, tinha que ser impossível!

A enfermeira estava com a cabeça estourada, esse era o melhor termo, estourada no chão, a massa cinzenta junto com os miolos e parte do cérebro estavam para fora, espalhados no chão e Jade só conseguia ver mais e mais ferimentos, mas a coisa estava se mexendo.

Aquelas imagens não a deixariam dormir nunca mais, ela sabia disso, estavam grudando-se à sua memória como tatuagens feias e não havia modo dela removê-las de lá. Nenhum modo saudável.

Sangue. Havia muito sangue e a mulher devia estar ali faz alguns dias, pelo menos. Cogitou. O uniforme mostrava uma saia branca grudada em vermelho total – sangue seco – e a saia tinha respingos. Viu que a mulher estava de costas. A mulher gemeu morbidamente e Jade cogitou seriamente sair dali correndo.

Remontou a cena em sua mente da forma que pôde. Não era idiota, entendia muito bem de ângulos e olhando para o chão encontrou um bisturi e algumas coisas que médicos usam em cirurgias. Ela obviamente não estava em uma.

Jade reuniu toda a coragem que tinha para virá-la ao ouvir um segundo gemido. A girou pelo braço e sentiu as unhas cravando-se em sua pele. Olhou assustada para a mulher que fedia a podre e viu o sussurrar dela:

─ Matar.

Jade não precisou pensar duas vezes ao pegar o bisturi no chão e passa-lo no braço da enfermeira assassina. Aparentemente ela conseguia sentir dor já que a soltou e Jade correu como se não houvesse amanhã.

Bem… ─ Pensou enquanto tentava achar a saída do prédio. ─ …pode mesmo não haver.

─ Parada aí ou estouro seus miolos. – Ela parou quando ouviu a voz. – Vire-se com as mãos no alto.

Obedeceu-o e viu um homem feito, ele devia beirar os 30 anos. Tinha barba por fazer e uma expressão cruel em seu rosto que suavizou aos poucos.

─ Sabe o que houve?

─ Explosão?

─ Quase isso. Sabe quem é?

─ Jade Clyde, jornalista investigativa.

─ Sou Jimmy. – Ele disse fazendo um sinal para ela baixar as mãos.

─ Algum sobrenome?

─ Nenhum que interesse agora. Acaba de acordar?

─ Bom… é. O que houve? Porque aquela mulher…

─ Aquela coisa não é uma mulher mais. – Ele suspirou e indicou para ela andar, Jade não se moveu. – Fica aí então.

Quando ele deu mais dois passos, Jade correu para alcança-lo. Pelo menos ele era humano.

─ O que houve com ela?

─ A maior parte dos expostos fica assim. Enlouquecem e resumindo, querem comer as tripas de todos os americanos.

─ Americanos?

─ Sim. Eu não sei o que tinha naquele soro que queimava, mas eu sei que não estou ficando louco nem nada, alguns dos nossos ficaram.

─ Dos nossos?

─ Há alguns que sobreviveram à exposição. Você pode ser uma dessas pessoas.

─ Então acabou tudo?

─ Mais ou menos. Ainda há um governo que controla a todos.

─ Como assim?

─ O que você sabe?

─ Que os Russos queriam o poder?

─ Só isso? Jura? – Jade jogou-lhe um olhar sujo e ouviu-o suspirar. – Os russos não são idiotas, eles tinham uma bomba nuclear bem plantada. Depois de fazer o caos, eles tentaram de novo, ignorando a devastação. O planeta é quase inabitável agora… como você se chama mesmo?

─ Jade. Inabitável? O estrago foi tão grande assim? – Jade sentiu uma dor excruciante lhe invadir o peito. Seu pobre pai já teria morrido? Ou sido morto?

─ Foi. Estamos indo para um lugar onde podemos recomeçar.

─ Podemos?

─ Não pense mal, Jade. Todos nós estamos indo para lá.

─ Ah! Claro! Ahn… e onde é ?

─ O deserto é o único lugar a salvo agora.

─ É, porque nada vive lá! – Jade contestou.

─ Vive sim. Se não quiser vir, não venha. Fica e morre aí, mas nós estamos indo embora. – Ele disse subindo uma grade de loja. – Vai morrer ou vai viver?

─ Como pode ter tanta certeza assim?

─ Meu pai é quem fez as bombas e o chefe da operação 1. – Jade ficou em silencio por alguns minutos. – Não sou como ele. – Jimmy certificou-se de que ela tinha entendido certo. – Quero fazer o bem. Você vem?

─ Eu… ─ Ela paralisou quando viu a arma apontada direto para sua cabeça. – Jimmy? ─ Ele atirou. Jade fechou os olhos e sentiu o raspar da bala na lateral de sua têmpora. Respirou fundo e sentiu as pernas cederem em meio ao sangue.

─ Desculpe, não o vi antes dele ficar próximo demais… ─ Jimmy explicou lhe oferecendo uma mão. – Vamos lá, você não quer morrer, quer?

─ De jeito nenhum. – Jade decidiu lembrando das palavras de seu pai.

Agir rápido quando for a hora. Não pode errar.

[…]

Jimmy estava certo. Jade admitiu secando o suor da testa. Havia vida ali, remota, mas havia. Eles não eram sobreviventes? Eles eram.

─ Água? – Carl ofereceu. Ele era um garoto crescido, apenas 14 anos.

– Valeu. – Agradeceu bebendo da garrafa dele e a devolveu minutos depois.

A Rússia tinha ferrado com o mundo todo e ido para o buraco com eles, mas o governo ainda estava lá, controlando todo mundo e tentando pegá-los, porque eles eram os incontroláveis.

Secou o suor das mãos e esperou o sinal de Jimmy. Ele mandou todos entrarem sorrateiramente no prédio muito luxuoso e foi o que fizeram. Correram para dentro o mais silenciosamente que conseguiram.

O governo queria morte e teria. Os poderosos só não esperavam que seriam eles os cadáveres. Jade fixou esse pensamento. Eles os cadáveres.

Não. Ela hesitou um passo. Não podia ser.

─ Então está viva? – Seu pai lhe perguntou e Jade sentiu o corpo todo tremer ante o tom frio usado. – Não morreu? – Ele parecia incrédulo. Não podia ser o mesmo homem que a criara, não podia!

─ Pai? – Perguntou como que para confirmar.

─ Não, o Papai Noel. – O homem disse sarcástico.

─ Porque, pai?

─ Por que? Por que? – Ele aumentou o tom de voz e sorriu friamente. – Porque queríamos nos livrar dos porcos americanos, deixa-me ver… porque poder é tudo e claro, deve ter algo haver com controle. Sim, tem. Controlamos tudo e vamos apagar cada homem, mulher ou criança que não puder ser controlado.

─ Não se eu apagar você primeiro. – Jade disse reunindo todo o ódio que conseguiu, apontou a arma e respirou profundamente, enquanto apertava o gatilho.

─ Acha que é verdade pai? – Jade perguntou apontando para a notícia que exibia uma manchete sobre um possível segundo ataque nuclear.

─ Acho que as pessoas se importam demais com coisas pequenas. Esses fracos tem que prestar atenção no principal e agir rápido quando for a hora. Não pode errar.

Ela sabia que não ia errar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado =D
Beijinhos e até a próxima xD



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