VI 

 Em família

 

 

 

 

 Um livro em branco - É isso que eu era no momento. Apesar da ajuda das pessoas que se diziam meus familiares, eu não conseguia me acostumar com a idéia de que não havia memórias em minha mente.

 

 

 As vezes algo acontecia em minha cabeça. Era como um flash que mostrava-me uma cena ou outra da minha infância, de minha família; A maioria lembrava-me de uma palavra ou uma frase que foi dita ou que eu dissera em algum dia. A única coisa ruim era que eu muitas vezes não me compreendia essa frase ou essa palavra.

 

 

 Isso era muito frustrante.

 

 

 Apesar de não me lembrar da maioria dos fatos, não preciso mais usar a lista para decorar nomes e situações. Meu pai diz que meu cérebro já está se acostumando com as situações do cotidiano, por isso não preciso mais de uma 'Cola' para saber das coisas de ultimamente.

 

 

 Ele diz também que não há problema em começar uma vida nova, com novas memórias. Mas eu quero me lembrar! Não consigo imaginar minha vida de antes, e isso é o que me desanima a todo instante que olho nos olhos tão pedintes de meus familiares.

 

 

 Tem sido uma semana difícil para mim, muito esforço e cansaço. Parecia que a melhor hora do meu dia era a qual eu voltava para a casa. A hora em que eu encontrava Jacob.

 

 

 Ele vem sido uma pessoa muito especial e importante nessa minha "volta". Muitas coisas acontecem ao mesmo tempo e é ele quem me tira da realidade; Quem me mostra que não é preciso ser a Renesmee de antes para ser feliz. Jacob não me obriga a nada, e isso é o que me faz bem.

 

 

 Sinto como se tivesse um laço muito forte com ele, mas ainda me pergunto o porquê de meu coração sempre bater mais forte quando estou perto dele, e o porquê de sentir-me como se fosse enfartar de tanta vergonha e vontade de ter ele perto de mim. Não com algo romântico, mas Jacob me faz sentir outra garota, como se eu voltasse ao passado - um passado que eu não sei qual é.

 

 

 Algum lugar dentro de mim desejava que ele sentisse o mesmo. Só não entendo o porquê.

 

 

 "Nessie?" Ouvi sua voz suave do outro lado da porta e em seguida três batidas leves na madeira. Levantei da cama para caminhar até a porta e abri-la, revelando aquela garota linda com seu sorriso tão encantador e tranquilizador.

 

 

"Bom dia." Disse sorrindo.

 

 

 Algo nesses adolescentes me trazia paz, tranquilidade. Sinto como se tivesse o dever de proteger e cuidar dos dois; Oferecer carinho e atenção. Jacob diz que são como meus filhos, e é assim que eles me consideram: A mãe deles. Eu me sentiria bem em ter duas pessoas tão maravilhosas chamando-me de mãe.

 

 

"Acordei você?" Ela perguntou parecendo sem graça.

 

 

 "Não, eu já estava acordada." Falei sinceramente. Pude ver seu sorriso se tornar diferente, parecia ter uma pontada de tristeza e desapontamento.

 

 

 "Será que poderíamos conversar?"

 

 

 "Claro Samantha."

 

 

 Abri a porta e apontei para a cama - onde ela logo sentou-se, esperando que eu fizesse o mesmo. Quando sentei ao seu lado, pude perceber ela virar o olhar para as mãos - que se mexiam nervosas sobre seu colo. Levei minha própria mão as suas e a fiz parar o que fazia. Samantha olhou para mim desconcertada.

 

 

"O que foi querida?" Perguntei enquanto acarinhava sua mão - ela parecia sentir-se melhor quando eu fazia isso. "Parece triste."

 

 

 "Será que poderia me dar um conselho?" Seus olhos abaixaram-se para o colo novamente. "Não quis pedir para o pa.. Jacob, porque ele poderia brigar com Seth."

 

 

 Ignorei a pausa que ela havia feito na frase. Ela deveria estar nervosa para errar o nome do Jacob dessa forma. Me pergunto do que ela iria lhe chamar se não corrigisse seu erro.

 

 

 "Seth? Seu namorado?" Perguntei lembrando-me da conversa que todos tivemos.

 

 

"Não! Ele não é meu namorado, mas.." Ela sussurrou desviando o olhar. Sua voz se perdeu no percurso.

 

 

"O que aconteceu?"

 

 

"Eu estava na praia com ele ontem, ele me chamou para surfar e nós fomos juntos. Foi muito divertido passar o tempo com ele." Ela começou sorrindo suavemente. "Depois sentamos na areia para ver o pôr-do-sol.. e então.."

 

 

"Então.. ele te beijou?" Completei sorrindo, ela estava corada no momento.

 

 

 "Não.. ele.. me pediu em namoro." Observei ela virar o rosto totalmente corada.

 

 

Sorri de sua atitude. Samantha estava adorável com vergonha. Jacob disse que ela apenas tem um ano de idade assim como Jullian, devido ao crescimento acelerado deles. Era estranho como filho de lobos cresciam tão rápido.

 

 

 De repente fiquei com vontade de saber quem eram os pais deles. Jacob disse que eles moram conosco desde pequenos, mas não mencionou os pais. Isso era estranho.

 

 

 "Querida, não tem pelo que se envergonhar." Murmurei levantando seu queixo. "Pelo o que Jacob disse, Seth está apaixonado por você. Mais cedo ou mais tarde ele faria o pedido."

 

 

 Ela mordiscou o lábio inferior e desviou o olhar novamente. Percebi que ela não falaria nada, por isso resolvi continuar.

 

 

 "O que sente por ele Samantha?"

 

 

 "Eu me sinto.. bem quando estou com ele, sinto meu coração bater mais forte e não paro de pensar nele por um instante.." Ela murmurou sorrindo sem perceber.

 

 

"Oh querida você também está apaixonada." Disse sorrindo.

 

 

 Apenas percebi a verdade em minhas palavras quando acabei de dizê-las. Samantha descreveu seu sentimento por Seth da mesma maneira que eu descrevia Jacob em minha mente. Será que eu estava apaixonada por Jacob?

 

 

"Eu? Apaixonada?" Ela perguntou - tirando-me de meus pensamentos.

 

 

 "Sim querida." Confirmei. "Vocês se gostam, merecem ficar juntos. Não há nenhuma vergonha nisso."

 

 

 Observei ela olhar para qualquer lugar do quarto e voltar o rosto para mim. Samantha estava envergonhada novamente. Ela abriu a boca algumas vezes mas nenhuma palavra saiu dela.

 

 

 "Mas.. eu não sei... namorar." Ela disse finalmente. "Não sei o que dizer para ele, não sei o que fazer quando tiver com ele, eu não sei.. beijar."

 

 

 Deixei um sorriso calmo invadir minha expressão no momento. Samantha era uma menina, apenas uma menina inocente, sem experiências e que tem um longo caminho para aprender. E isso era o que lhe deixava tão adorável. Era isso que me fazia querer colocá-la em meu colo e cuidar dela.

 

 

 "Querida, isso você aprende sozinha." Disse. Ela me olhou confusa. "Escute, quando for falar com Seth, seu coração lhe dirá exatamente o que tem que saber e fazer. Vai dar tudo certo, você vai ver."

 

 

 "Mas.. e se ele não gostar?"

 

 

 "Samantha, você está se tornando uma mulher linda, amorosa e educada." Comecei sorrindo. "Se ele não gostar, é porque é gay."

 

 

 Disse isso e enquanto ela gargalhava, um flash passou por minha mente. Era tio Emmett, ele falava comigo sobre um garoto. Quando pedi a opinião dele sobre esse garoto, ele me disse essa frase. Exatamente como eu acabara de dizer para Samantha.

 

 

 Mas.. quem era esse garoto?

 

 

 "Nessie? Ouviu o que eu disse?" Ela perguntou, cortando minha linha de pensamento.

 

 

 "Ah.. desculpe, não ouvi, pode repetir?"

 

 

 "Eu disse que preciso ir para escola agora." Ela sorriu. "Pa.. Jacob nos matriculou na escola da reserva. Hoje é meu primeiro dia."

 

 

 "Oh que bom querida!" Disse beijando sua testa e abraçando-a em seguida. "Tenha uma boa aula."

 

 

 "Obrigada mamãe." Ela murmurou.

 

 

 Senti como se uma corrente elétrica passasse por meu corpo naquele momento. Ela me chamara de mãe, e eu adorei a sensação. Por algum motivo eu desejava desde o início que ela me chamasse dessa forma. E agora que ela me chamou, senti como se um conforto e uma felicidade repentina nascesse em algum lugar em mim.

 

 

 "Oh desculpe.. eu não.." Samantha soltou-se de meu abraço constrangida. Eu a interrompi.

 

 

 "Tudo bem, minha filha." Disse confiante. Samantha sorriu admirada antes de beijar meu rosto docemente e demoradamente. Ela ficara feliz com isso, e eu adorava proporcionar felicidade à ela.

 

 

 Então, de repente Jullian apareceu na porta. Ele parecia assustado com algo, talvez admirado. Logo sua expressão se tornou normal novamente e ele direcionou seu olhar à irmã.

 

 

 "Ah.. Vamos Sammy, ou perderemos o primeiro horário." Ele soltou, antes de olhar para mim com um sorriso torto. Esse pequeno sorriso e aquele olhar que me lembrava tanto Jacob. Era incrível como eles eram parecidos.

 

 

 Levantei-me junto de Samantha, e ambas caminhamos na direção de Jullian - que nos olhava hesitante. Dei um beijo na bochecha dela e ela sorriu docemente. Olhei para o garoto lindo ao seu lado, ele me fitava um pouco tímido. Dei um passo na direção dele, antes de beijar da mesma forma sua bochecha. Jullian sorriu ternamente, e toda sua hesitação pareceu sumir naquela hora.

 

 

 "Boa aula crianças." Disse sorrindo, eles acompanharam.

 

 

 Assim, os dois desaparecerem de minha porta. Fiquei uns minutos observando eles caminharem pelo corredor, até que o barulho da cama de molas abaixando me chamou a atenção, junto com o cheiro amadeirado que invadiu minhas narinas.

 

 

 Olhei para trás e pude ver aquela silhueta forte sentada na minha cama, com os dois braços apoiando o corpo na mesma e um sorriso tranquilo em seus lábios carnudos. Quando seu olhar cruzou com o meu, pude sentir meu coração dar sinal de vida novamente, batendo descontroladamente enquanto aqueles olhos pretos e profundos me fitavam.

 

 

 "Sabia que ouvir conversa alheia é falta de educação, Jacob?" Disse tentando disfarçar meu estado, ele me olhou malicioso - estava cada vez mais difícil ficar ao lado dele sem conseguir disfarçar.

 

 

 "Eu nunca fui o filho mais educado." Ele disse sorrindo. "Mas Rachel continua sendo a psicótica."

 

 

 Sorri, antes de caminhar e sentar-me ao seu lado. Jacob ja falara muito sobre a família e a alcatéia, mas nunca havia percebido que só reconhecia eles por fotos ou histórias. Não havia - desde a minha volta - visto eles de perto, ou passado um tempo com eles. A idéia logo me passou pela mente.

 

 

 "Quero conhecer sua família Jacob." Disse de repente, fazendo ele se assustar com minha atitude repentina. "Ou reconhecer.. ou.. tanto faz."

 

 

 Observei ele me olhar indeciso. "Agora?"

 

 

 "Pode ser hoje se quiser." Disse sorrindo, ele me olhou desconfiado.

 

 

 "Não está querendo roubar minha casa não é?" Jacob sorriu divertido. "Porque eu devo dizer de antemão que de rico em minha casa só tem a comida de Sue."

 

 

 "Jacob!"

 

 

Gargalhei em seguida enquanto ele me fitava maroto. Demorou uns segundos até ele finalmente suspirar e aceitar, com um sorriso tranquilo em seus lábios.

 

 

"Tudo bem, vá se vestir."

 

 

 "Tem certeza?"

 

 

 Observei ele fingir pensar, e depois sorrir divertido - aquele sorriso que me desconcertava. Aquele sorriso que tinha um brilho único, que me fazia bem.

 

 

"Claro pequena." Ele disse finalmente. "Será até bom, vou te mostrar a praia e tudo mais."

 

 

 Apenas sorri feliz e soltei um "obrigada". Ele retribuiu meu gesto e logo deixou o quarto para que eu me trocasse. Fiz isso rapidamente, colocando a primeira roupa que eu vi no closet: um vestido vermelho tomara-que-caia florido e uma rasteirinha dourada.

 

 

 Prendi meu cabelo em um rabo-de-cavalo no alto da cabeça e deixei apenas uns cachos soltos. Pronto, estava ótimo.

 

 

 Desci as escadas à procura de Jacob, e o encontrei na cozinha. Fiquei surpresa ao ver dois pratos no balcão com algumas várias panquecas empilhadas. Ao lado disso havia dois copos com suco e pela cor do mesmo, deveria ser de laranja. Franzi o cenho divertida.

 

 

 "Por quanto tempo eu fiquei lá em cima?" Disse. Observei Jacob gargalhar e sentar-se no balcão.

 

 

 "Acordei cedo hoje. Deu tempo de fazer o café das crianças e o nosso." Ele sorriu de canto e apontou para o banco ao seu lado. "Quer me acompanhar?"

 

 

 Olhei desconfiada para seus olhos escuros e pude ver ele levantar as mãos em sinal de rendição. O sorriso divertido ainda em seus lábios e uma feição tranquila no rosto.

 

 

 "Prometo que ninguém nunca morreu comendo minhas panquecas." Ele sorriu. "Ainda."

 

 

 Não deixei de rir baixo antes de sentar-me ao seu lado. Era incrível como eu conseguia sentir seu calor mesmo estando a vinte centímetros de distância dele. Jacob era quente - acredito que todos os lobos fossem também.

 

 

 Comemos a refeição silenciosamente. As vezes sentia o olhar de Jacob queimando em meu ombro - como se obrigasse-me a olhar para ele também. Mas eu sabia o que aconteceria se eu olhasse.

 

 

 Resolvi cortar aquele silêncio.

 

 

 "Tem algo que eu tenha que saber antes sobre a alcatéia?" Perguntei colocando minha mão na nuca e finalmente olhando para ele. Jacob bebia o suco no momento.

 

 

 "Sim." Ele colocou o copo vazio novamente no balcão e se arrumou no banco para me olhar. "É um ninho de cobras, ninguém é confiável e se você ouvir gritos não se assuste."

 

 

 "Jacob.." Bufei sorrindo.

 

 

 "Ta bom.. apesar de toda a farsa, eles são bem aconchegantes e todos lá te amam, então vão adorar te ver novamente." Ele sorriu de canto novamente. "Não se preocupe."

 

 

 "Certo." Sorri satisfeita, e foi quando vi novamente aquele olhar intenso em minha direção. Jacob já havia feito isso antes e não terminara muito bem - nós quase nos beijamos àquela hora.

 

 

 Lembrei no mesmo instante da conversa que tive mais cedo com Samantha e algo veio a minha mente. Jacob me olhava tão intensamente todas as vezes que eu o fitava - isso deveria significar algo não é? Será que Jacob gostava de mim?

 

 

Senti uma alegria surpreendentemente crescer dentro de mim. Por algum motivo eu queria que isso acontecesse. Não sei como eu era antes, não faço idéia de minha relação verdadeira com Jacob, mas hoje, só hoje eu queria que ele olhasse para mim e me visse como uma mulher, não como sua melhor amiga.

 

 

Por que eu me sentia desse jeito?! Ah como eu queria me lembrar..

 

 

 

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