O salão estava lotado. A decoração de bom gosto fazia todos esquecerem que aquela era apenas a quadra coberta do colégio. Stiles maravilhou-se com o que via.

– Nossa mesa fica para lá – Derek o chamou mais para a direita, onde várias mesas estavam agrupadas com algumas pessoas já sentadas.

– Que incrível! Espero que o meu baile seja totalmente legal assim também! – Stiles gracejou.

O colégio mantinha uma tradição desde muito tempo atrás: a cada ano convidavam os ex-alunos formados há quinze anos passados para se reencontrarem. Uma chance de todos verem como cada um estava se saindo na vida.

Naquele mês de julho era a vez da turma de Derek Hale, cuja formatura no Colegial completava exatamente quinze anos e ali estavam os homens e mulheres, formados ali, em trajes formais de gala para aproveitar a noite de reencontro, muitos acompanhados de seus parceiros amorosos, como era o caso de Derek e Stiles.

– Todos parecem muito bem – ele não soou surpreso ao constatar aquilo. Sua turma fora a melhor na época.

– Mas você é o melhor de todos! – Stiles sorriu e disse aquilo logo quando chegavam a uma das mesas de tampo arredondado com uma reserva no nome de Derek Hale – Isso é totalmente excitante!

Ele sentou-se, tentando não pensar em como seria seu próprio baile, dali alguns anos. Queria aproveitar muito a noite, principalmente por passá-la em companhia do namorido. O termo o fez sorrir. Era assim que Kira os chamava: Derek e Stiles namoravam há cinco anos e moravam juntos há três. Uma mistura de namorados e maridos. Uma relação que ambos apreciavam e não tinham planos de mudá-la em um futuro próximo. Namoridos.

Um garçom passou e deixou um balde de gelo com uma garrafa de champagne aberta sobre a mesa. Em seguida colocou uma taça na frente de cada um e seguiu para a mesa seguinte.

Enquanto Derek servia a ambos, Stiles observou as pessoas que já tinham chegado e era um bom número. Mulheres belíssimas, nenhuma sequer lembrando o grupo excluído que toda classe sempre tem. Prova de que o tempo pode ser um bom amigo: às vezes aquela garota excluída e desprezada passava por uma transformação e aparecia no baile de comemoração em vestidos deslumbrantes, penteados elaborados e maquiagem perfeita. Olhando-as, era impossível deduzir qual fizera parte das populares e qual não fizera.

Com os homens era a mesma coisa: todos passaram dos trinta anos muito bem, vestidos em ternos bem assentados. Pelo menos a aparência dos que já chegaram nada revelava de ruim. Todos queriam dar a idéia de sucesso. Claro, nenhum deles seria tão bonito ou tão sucedido quanto Derek Hale, pelo menos na opinião humilde de Stiles Stilinski.

O rapaz sorriu quando o namorado lhe estendeu uma das taças. Bebericou o líquido âmbar, sentindo as bolhinhas fazerem cócegas em sua garganta.

Alguns convidados passaram pela mesa do casal e pararam ao reconhecer Derek, para cumprimentá-lo. Stiles quase estufava o peito todas às vezes que era apresentado como namorado aos ex-colegas de Hale. O garçom voltou a servi-los, deixando petiscos e uma tábua de frios.

A música eletrônica que soava no salão não atrapalhava as conversas. Stilinski batia o pé de baixo da mesa, louco de vontade de ir dançar. Só resistia porque sabia o quanto seu amante detestava dançar, principalmente o estilo agitado que o DJ tocava em uma área da quadra improvisada como salão de danças. Alguns se arriscavam em uns passos desajeitados, mas bem empolgados. Era divertido olhá-los, mas seria mais divertido ainda estar lá no meio chacoalhando o esqueleto.

Enfim...

Pouco a pouco o salão foi enchendo ainda mais. Perto da meia noite o diretor, um homem por volta dos sessenta anos, subiu ao palco improvisado e pediu que a música fosse diminuída para que fizesse o discurso. Suas palavras elogiaram os ex-alunos. Ele disse que sentia-se orgulhoso de ter feito parte da vida daqueles homens e mulheres bem sucedidos. Aproveitou a oportunidade para agradecer, pois os adultos também aprendiam lições valiosas com os adolescentes. Terminou suas palavras emocionadas revelando que pretendia se aposentar e foi prestigiado com uma salva de palmas.

Se os adolescentes marcaram a vida do velho diretor então o contrário também era verídico. Aquele homem tivera, igualmente, uma presença importante na juventude de muitos ali presentes.

– Está se divertindo? – tão logo as palmas cessaram Derek perguntou para o namorado. Não queria que ele se sentisse entediado ou desconfortável.

– Muito – Stiles garantiu sincero. A bebida estava no ponto certo, os petiscos tinham um sabor delicioso. A música era moderna e agradável.

Por falar em música, como se aproximava da meia noite o DJ resolveu dar outro tom as comemorações. Trocou a eletrônica por uma balada romântica. Ao soar das primeiras notas um sorriso enorme desenhou-se nos lábios de Stiles.

Ele preparou-se para dizer algo, mas foi cortado por uma loira estonteante que escolheu aquele momento para abordar seu companheiro.

– Se não é Derek Hale! – ela exclamou em uma voz rouca e sensual.

– Kate Argent? – Derek perguntou incerto, erguendo uma sobrancelha.

Stiles observou a mulher de cima a baixo, analisando-a. Então aquela tinha sido uma das grandes paixões adolescentes de seu namorado? Por um segundo se questionou se ela tinha sido tão linda quando mais jovem, pois sua beleza madura era de tirar o fôlego: cabelos longos loiros e ondulados, em um corte impecável, vestido de gala sem mangas e sem decote na frontal, preso no pescoço, mas visivelmente com um longo decote que expunha grande parte de suas costas. A maquiagem não poderia ser mais bonita, principalmente destacando os olhos claros.

– Eu mesma, Lobão – piscou maliciosa.

Stiles ficou indignado. Apenas ele podia chamar Derek de Lobão! Quem aquela sirigaita achava que era pra chegar dando em cima de seu namorado na cara de pau? Fuzilou a loira com seu olhar mais assustador, que nem era lá grande coisa.

Esperou que Derek a botasse para correr, mas o rapaz continuou quieto. E a Argent entendeu aquilo como uma deixa, pois estendeu a mão e sorriu toda cheia de dentes.

– Me concede essa dança? Não aceito “não” como resposta.

Stiles não acreditou no que acontecia. Olhou para Derek esperando que ele negasse o pedido, mas o homem pareceu considerar a proposta. Isso triplicou a raiva que sentia.

– Derek...? – Stilinski soou seco, mas seu namorado olhava profundamente para Kate.

– Só essa dança, Stiles. Eu já volto.

Stiles não disse nada, assistindo em silêncio enquanto os dois iam se juntar aos demais casais, que dançavam romanticamente no improvisado espaço de dança, ao som da baladinha. Enquanto via Derek e a ex-namorada rodopiando, olhos nos olhos, reluzentes e combinando como um casal de contos de fadas, teve a impressão de perder o princípio da realidade. Um segundo atrás estava tudo tão perfeito! Como acabara assim e instantes? E o pior? Seu namorado parecia ter esquecido um detalhe muito importante...

– Essa é a nossa música, Derek – sussurrou com infelicidade, antes de levantar-se e sair do salão.

Continua...