O Guia NERD para Quase-adultos escrita por GTavares


Capítulo 6
YBR 54967 Versão 2.7 W2




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Passada a semana de Halloween, em que Dex esteve muito ocupado elaborando sua fantasia e auxiliando nos preparativos da Festa, as primeiras provas estavam chegando e ele resolveu focar nos estudos, apesar de estar com todo o conteúdo em dia e ciúmes por Sophie ter pedido para Rupper ajuda-la em Álgebra Linear.

Matrizes nunca foi problema para ele, sempre que deparava com determinantes, não havia nem a necessidade de calculadora ou papel. Olhava, fazia seus cálculos mentais e encontrava a solução, resultado de muito estudo e treino para as Olímpiadas de Matemática e Física. No momento, estava focado em matrizes diagonalizáveis conteúdo do curso de Engenharia.

A ideia de Rupper estudando com Sophie tinha o gosto amargo, uma grande porção de quiabo com jiló que não descia pelo sistema digestório. Olhou para seu robô que estava abandonado como se estivesse de castigo olhando para a parede com seus pôsteres. Dex lembrou-se de quando era criança e sua mãe o deixava de castigo ali, enquanto ele olhava para os cartazes, imaginava uma série de aventuras dentro de suas histórias preferidas.

— Pois é cara, abandonado novamente – disse segurando o robô pelo braço – Cansei de estudar matemática, mais do mesmo sempre. Acho que irei investir um tempo em você YBR 54967 Versão 2.7 W2 – um sorriso pousou em seu rosto – Cara, que nome horrível é esse.

Por seis horas ininterruptas, Dex desmontou e montou várias vezes aquele “monte de sucata” como dizia sua mãe, apesar do objetivo do robô, segundo ele “era auxiliar nos serviços domésticos de casa”, ou apenas uma desculpa para ele não lavar a louça, varrer o chão e arrumar as camas.

— Alô, gostaria de falar com o Ruppert – disse ao telefone para a mãe do amigo – Oi Rupper, tudo bem? Ainda está estudando? – esperou na linha – Então, eu estou precisando de uma ajuda sua com o YBR 54967 Versão 2.7 W2 – aguardou mais um momento – Sim, acho que tem algo errado com o algoritmo que eu utilizei para fazer os movimentos e uma segunda opinião seria útil – estava ficando impaciente – Sim, eu já desmontei e está tudo certo com o micro controlador, estou errando algo com o software que desenvolvi – Dex ergueu uma de suas sobrancelhas – Claro, pode trazê-la sim.

Dex também ligou para Peter para que tivesse uma “terceira opinião” já que Sophie iria junto com Rupper à sua casa. Mesmo tendo certeza que ninguém ia descobrir o que estava acontecendo com seu algoritmo, foi uma mera desculpa para não ficar sozinho.

— Mãe, estou precisando de dinheiro – disse Dex com cara de pedinte – Preciso comprar algumas peças para meu robô.

— Qual robô? – disse a mãe enquanto preparava o jantar na cozinha – Aquela sucata que você jura que irá me auxiliar na limpeza? – perguntou rindo.

— Isso mesmo, ri bastante – completou com indignação – Em breve serei Engenheiro Supervisor da NASA e colocarei a senhora num asilo. Hoje NERD rejeitado, amanhã milionário requisitado – terminou em tom de deboche.

— Olha o respeito menino – disse a mãe entrando na brincadeira – Você ainda precisará de mim para pagar suas despesas com a faculdade.

A campainha tocou e Dex abriu a porta para seus amigos entrarem. Os pais de Rupper deram uma carona para Peter, já que a casa ficava a caminho.

— Oi Dex – disse Sophie cumprimentando-o com um beijo no rosto – Olá senhora Foster – acenando para a mãe de Dexter.

— Então gente, preciso da ajuda de vocês – reafirmando o pedido de socorro – Problemas com o algoritmo do YBR 54967 Versão 2.7 W2.

— Oi? – questionou Sophie enquanto os outros dois riam.

— YBR 54967 Versão 2.7 W2 é o nome do robô de Dexter. – disse Rupper colocando a mão sobre o ombro da menina, o que provocou olhares entre Peter e Dex, o qual começou a queimar por dentro.

— Enfim, vamos lá no meu quarto que irei explicar melhor para vocês – caminhando para entrada de seu “santuário”.

— Uau Dex, que incrível seu quarto – disse Sophie admirando a parede, motivo de orgulho de Dex – Nossa, quantos livros legais você tem. Você poderia me emprestar um dia desses.

— Ninguém leva meus livros para outro lugar que não seja eu – respondeu firme.

— Mentira! – Sophie deu um grito de entusiasmo, Dex sabia o que acabara de acontecer – Você lê Fruits Basket.

— O quê? – os dois amigos em uníssono, tornando-se para Dex.

— Merda, - disse mordendo os dentes – Sim, eu leio FuruBa mas, por favor, não falem isso para ninguém.

— Relaxa Dex – disse Sophie ainda com um sorriso no rosto – Ou você prefere que eu te chame de Yuki? Talvez Kyo? Eu com certeza seria o Momiji, o coelho.

— Você pode me chamar de Dexter – respondendo Sophie – Morgan se você não parar de gracinha.

— Poxa Dex, imaginei que você fosse um cara mais centrado – continuou Peter com a brincadeira.

— Quem nunca errou, que aperte a primeira tecla – retrucou Dex sorrindo – Galera, vamos focar. Já repassei três vezes o algoritmo e não obtive resultado satisfatório, por favor, vocês podem verificar pra mim.

Enquanto os meninos retiravam seus notebooks das mochilas e iniciavam um extenso e demorado processo de mineração de dados junto à Dex. Sophie deitou-se na cama e começou a ler o primeiro arco de Sandman lançado no Brasil, Prelúdios & Noturnos. Um presente do pai de Dex pelos seus 13 anos, a primeira edição lançada. O arco é composto por oito volumes, nele Sonho (Sandman) relata sua captura por um mago chamado Roderick. Ele permaneceu aprisionado numa redoma de vidro durante setenta anos antes de conseguir a liberdade. Em seguida, ele retorna ao Sonhar (onde vão as almas de todos os que dormem e onde são guardadas lembranças e pensamentos da hora do sono. Além disso, guarda também o mundo imaginário de cada sonhador, realidades alternativas e seres imaginários), e encontra seu Reino em decadência profunda. Para restaurá-lo, Sandman parte em busca de suas três ferramentas que contém parte de seu poder: a algibeira, o elmo e o rubi.

Após um longo período, jantar e um chá com bolachas, os três apresentavam um cansaço aparente e Sophie devorava os quadrinhos.

— Desisto Dex – disse Rupper, jogando a toalha primeiro – É um algoritmo muito grande e complexo, posso analisa-lo com mais calma, porém vai levar um tempo.

— Tudo bem, já estou vendo tudo embaralhado mesmo – Dex foi o segundo a jogar sua toalha bordada com “Don’t Panic”.

— Mas já desistiram meninos? – disse Sophie olhando por cima da revista – Posso dar uma olhada?

— E você entende de programação? – perguntou Peter, colocando seu computador de lado. A última toalha foi jogada.

— Eu já fiz alguns cursos de programação e, atualmente, estou desenvolvendo um aplicativo para smartphone – todos os meninos olharam em descrença.

— Então, boa sorte – falou Dex com um falso entusiasmo e passando o notebook para Sophie.

— E o que eu ganho se conseguir? – perguntou com interesse.

— Jamais, minhas revistas de Sandman NUNCA! – respondeu Dex.

— Não seu bobo, isso é relíquia e eu jamais pediria uma coisa dessas – especulou pegando o computador – Quero o direito de colocar o nome no YZL 27754.

— É YBR 54967 Versão 2.7 W2 – corrigiu Dex – Fechado, se você conseguir pode colocar o nome que quiser.

Enquanto Sophie ficava digitando com suas pequenas mãos como se fosse uma “ratinha” como disse Peter, os garotos foram para a sala jogar vídeo game. Passados trinta minutos, ouviu-se um grito e alguns objetos sendo derrubados no chão.

— Eureca! Eureca! Eureca! – veio Sophie pelo corredor com o computador na mão e chutando algumas peças de Lego.

— Você conseguiu? – Dexter perguntou com os olhos arregalados.

— Claro que consegui, e foi bem mais simples do que eu pensei – os garotos estavam boquiabertos – Na verdade foram dois pequenos erros: (1) você declarou a mesma variável mais de uma vez, nas linhas 13 e 85, e (2) Você esqueceu de declarar o valor que a variável tempo vai receber durante a execução do programa, aqui na linha 124.

— Nossa Sophie, muito obrigado. Não sei como agradecer – disse com um largo sorriso.

— Claro que sabe, – entregando-lhe o computador – basta deixar eu trabalhar junto com você na Eureca – completou – Aliás, este será o nome dela.

— Mas é E.L.E – soletrou as letras.

— Você quer fazer um robô empregado, é muito mais lógico ser uma mulher – tentou Sophie convencer de que YBR 54967 Versão 2.7 W2 era do sexo feminino.

— E os direitos iguais que vocês conquistaram? É homem, escolha outro nome.

— Machista – Sophie disse pisando duro – Vai ser Eureco então.

— Não, esse nome é horrível Sophie – questionou o gosto da amiga.

— Cara, ela consertou seu algoritmo – disse Peter rindo da situação – Se ela quisesse chamá-lo de Astoufo teria esse direito.

— Então será Eureca, mulher – Dex deu seu ultimato – Ou melhor, robô.

Todos riram da situação e ficaram surpresos pela capacidade da amiga com algoritmos, Dex por outro lado via ali uma oportunidade adormecida. Passaria alguns dias da semana com Sophie trabalhando em cima de Eureca que, mesmo com o software estando certo, conseguiu apenas andar e acender algumas luzes.

— Boa Noite Dex – disse sua mãe, beijando-lhe o rosto – Durma bem, gostei da sua nova amiga Sofia.

— Sophie mãe – disse Dex revirando os olhos – Você pode apagar as luzes, por favor? – era impossível ver um palmo à frente.

— Dexter, eu vou te matar – gritou sua mãe, ao chegar próximo à porta do quarto e Dex ligar Eureca, que começou a piscar e tocar uma sirene policial.

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O Guia NERD para quase-adultos

Capítulo 3. Em algoritmo que funciona, não se mexe.

Caro NERD, ou sei lá como lhes chamarão no futuro. Ultimamente venho pensando nos avanços tecnológicos e em tudo que está acontecendo. Caso você pegue este grito de Socorro em forma de Guia e estranhe o título do capítulo, provavelmente nossos algoritmos foram substituídos por uma saída alternativa, como o uso de modelagem nebulosa. Pois bem, então irei introduzi-los àquilo que foi de extrema importância para nossos avanços (caso saiba o que são, passe para o próximo capítulo ou arranque este e deixe que um leigo descubra).

Algoritmos são sequências finitas e ordenadas em passos (as famosas regras), com um sistema de processamento que permite a realização de uma tarefa (cálculo, resolução de um problema). Ele surgiu da necessidade de fazer cálculos sem o auxílio do ábaco, dedo ou outros recursos. Resultado de séculos de desenvolvimento e utilizados para nos facilitar na computação, robótica, automação.

Provavelmente, já devem ter inventado algoritmos para muitas coisas. Mas no momento, eu só gostaria que criassem um algoritmo para eu entender meus sentimentos robóticos humanizados.

Nota 1: Antes eu pensava que para ser feliz eu precisava de um amor. Estava errado... Preciso de um vídeo game.

Nota 2 [piadinha]: O que a foca foi fazer na Elipse? – Respondam nos comentários ou aguardem o próximo capítulo.


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