O Guia NERD para Quase-adultos escrita por GTavares


Capítulo 5
Casa de la muerte




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Após o término do castigo de Sophie, os preparativos para a festa de Haloween no colégio de Dex teve seu início. O “Dia das Bruxas” surgiu há mais de dois mil anos quando os Celtas festejavam o fim do verão, o começo do novo ano e as colheitas. Inicialmente denominava-se Samhain, ou “Dia das Almas”, e era a data em que o mundo espiritual e o mundo material se encontravam.

Na escola existiam duas grandes tradições, sendo que a primeira era a escolha do tema da festa, em que uma sala era sorteada, os alunos montavam seus textos e liam no auditório, com toda escola presente e todas as luzes apagadas, podendo ser utilizada apenas uma lanterna iluminando sua face, em seguida era votado a melhor, tomando-se o tema da festa para a decoração. E a Feira das Bruxas, no qual cada sala montava uma atração temática como A casa dos Horrores, Comidas Típicas, Contos de Terror.

Naquele ano, foi a sala de Dexter a responsável pela temática da festa, e todo aluno era obrigado a contar uma história. Foram histórias de todos os tipos, desde lobisomens, vampiros, fantasmas, todavia sempre mais do mesmo. Sophie estava indo para o púlpito, quando Peter cutucou Dex com o cotovelo.

─ Ela disse sobre o que seria a história dela? – perguntou Peter para Dex com um sorriso no rosto.

─ Sim. – respondeu Dex com uma cara de tédio – Sobre abdução alienígena. Muito original – fazendo sinal de positivo.

─ Essa história aconteceu em Brown Montain no estado da Carolina do Norte, nos Estados Unidos – começou Sophie com uma voz rouca – Certo dia, uma família foi acampar nas montanhas, durante o dia tudo ocorreu muito bem, estavam se divertindo... – suspense pairava no ar – Mas quando a noite chegou, o filho mais novo viu uma forte claridade de dentro da barraca e, ao sair, observou três pontos de luz bem fortes sobre eles ziguezagueando pelo céu e, em seguida, desaparecendo com uma explosão de luz.

“ No dia seguinte, contou o que havia acontecido para seus pais, que não deram muita importância para o garoto e seguiram viagem para outro ponto de acampamento nas montanhas. Não havia sinal algum de celular e o GPS, apesar de dar as informações começou a apresentar falhas – continuou tentando observar as pessoas na plateia – Eles estavam na estrada quando um corvo atingiu o vidro da frente do carro num voo mortal certeiro e fez com que o pai perdesse a direção do veículo. Quando se deram conta estavam próximos a um túnel cheio de carros abandonados, inclusive uma viatura da polícia. A mãe e a filha foram usar o banheiro na floresta enquanto o pai e os outros dois filhos seguiram pelo túnel para investigar o que aquela quantidade de carros fazia ali sem ninguém por perto.

“Ao chegarem na viatura da PM para tentar chamar outra unidade, ouviram um forte ruído que fez com que eles ficassem zonzos. O pai olhou para o fim do túnel e, sim, havia uma luz. Mas no centro dessa luz havia o perfil de uma criatura pouco parecida com um humano. Ouviram-se gritos, os faróis dos carros começaram a acender e apagar enquanto eles corriam, a sirene da polícia começou a ecoar naquele buraco, eles se esconderam atrás de uma minivan que estava largada. – a tensão tomava conta do auditório, inclusive dos professores – Então os barulhos pararam, as luzes se apagaram e o pai decidiu levantar para dar uma olhada...– as luzes do auditório deram um flash sobre todos ali presente e um barulho muito alto assustou a todos, inclusive Dex. Algumas garotas soltaram gritos de pavor.

“Ele viu a face da morte. Um ser de outro mundo o observando, penetrando seus olhos. Todos começaram a correr e quando estavam próximos da saída do túnel observaram as mulheres da família sob uma forte luz branca, aos gritos, ouviram-se todos os ossos quebrando como se fossem vidros e então desapareceram. Todos começaram a gritar, pedindo a Deus para que os ajudassem, mas ali naquela montanha não havia nada e então a luz voltou a atingi-los. Gritos altos ecoavam sobre a floresta inabitada, os ossos eram partidos ao meio, dor, medo, pânico e a única certeza, ali eles estavam mortos.

As luzes se acenderam, algumas pessoas estavam com os olhos arregalados. Dexter percebeu que Peter estava segurando seu braço após o fim. Todos estavam tensos, então Sophie deu um sorrisinho e a plateia começou a aplaudi-la em pé. Em seguida, foi a vez de Dex contar sua história, ele tentou ao máximo não ser superficial e deixar as pessoas com medo.

─ Bom, eu não sabia o que escrever então procurei uma história real – disse com um sorrisinho e, no mesmo momento, as pessoas começaram a se entreolharem – Aconteceu na Tailândia, na década de 90 numa vila inteira. O sonho de todo casal é o casamento, disso todos sabemos. Porém, nesta pequena ilha durante um período a união entre homem e mulher foi vista como assinatura da morte. Tudo começou quando um casal recém-casado foi para sua Lua de Mel. O homem desceu para tomar uma bebida, jogar algum jogo de azar enquanto sua mulher ficou no quarto tomando banho. O recepcionista interrompeu aquele homem e informou-lhe que algo de estranho havia acontecido no quarto dele, pois tinha recebido uma ligação de uma mulher aos gritos.

“O marido subiu correndo as escadas e notou um vulto passando ao seu lado, o que não lhe despertou nada. Entretanto, ao chegar no quarto encontrou sua mulher morta no banheiro, com manchas de sangue de suas mãos deslizando no espelho, mas não havia nada ali. Sem sinal de facada ou coisa do tipo. Apenas sangue saindo da boca e as mãos meladas. Após um tempo, o viúvo casou-se novamente e, durante sua Lua de Mel, teve o Pesadelo da Morte, no qual sua ex esposa viera para leva-lo. Ocorreram dezenas de casos naquele ano, todos viúvos cuja mulher morria na Lua de Mel. Para enganar a morte, os viúvos começaram a dormir maquiados para enganar a Viúva que vinha lhes buscar.

Dex fez um sinal de positivo com a cabeça, dando sinal de que havia terminado sua história. Houve algumas palmas, porém ele viu que eram de seus amigos. A votação foi clara, a Festa aquele ano seria sobre Abdução Alienígena, o que Dex pensou não ser tão ruim afinal poderia se fantasiar do que ele quisesse de suas sagas favoritas. Além disso, sua turma também ficou responsável pela “Casa dos Horrores”.

[...]

A feira sempre acontecia um dia antes da festa. E naquele ano a Casa de la Muerte não foi feita em apenas uma sala, mas sim no longo corredor do segundo andar do Colégio. O tema foi Retratos da Morte, uma grande cortina negra cobria a entrada do corredor e Rupert ficava ali para recepcionar as pessoas. Ele estava com um grande sobretudo preto, como se fosse um Comensal da Morte, e com o rosto totalmente desfigurado numa maquiagem perfeita de filme de terror, olhos brancos e sangue por todos os lados.

─ Boa Noite – iniciava a apresentação com uma voz grossa para amedrontar as pessoas – Vocês estão prestes a entrar no corredor da Casa de la Muerte. Nesta residência durante muitos anos ocorreram vários digamos, incidentes. Inicialmente comprada por Lord Riddle, um satanista que utilizava animais e partes humanas para seus rituais. Em seguida foi comprada pelo Estado para servir como hospital psiquiátrico para presos e, finalmente, abrigou o fotógrafo psicopata responsável pela morte de sua família e mais 48 modelos. – deu uma pausa, as crianças mais novas já estavam apavoradas antes de entrarem – Peço que todos fiquem juntos em fila e não saiam correndo por segurança, afinal, não adianta correr da morte, ela sempre achará você.

Abrindo a cortina para a fila de pessoas entrarem, notava-se de cara um corredor totalmente escuro com luzes de Neon roxas que mal dava para ver 20 cm abaixo delas. Ouviam-se barulhos de gritos, teias por todos os lados, pentagramas de cabeça para baixo, luzes vermelhas saindo de dentro de uma sala próxima. A fila começou a andar, quando na frente saiu uma pessoa com um capuz e cabeça baixa de dentro de uma sala, sendo iluminado por uma luz vermelha. Seus dentes pareciam podres, alguns da fila tentaram voltar, mas foram impedidos por uma menina com machado na cabeça, meias arrastão, saia de prega, segurando uma boneca sem cabeça.

─ Não vão sair, desculpe – dizendo numa voz doce com um sorriso macabro no rosto – Papai não decapitou vocês ainda.

Muitos eram do ensino fundamental e engoliram a seco. O homem segurava uma espécie de ave na mão, muito real e cheia de penas.

─ Olá crianças, vocês vieram para o... – segurou o pescoço do bicho e numa puxada só, sangue falso jorrou para todos os lados e as crianças começaram a gritar – Jantar! – Olhou com um sorriso e pendeu a cabeça para o lado observando todos que estavam encurralados. Pegou uma serra elétrica falsa do chão e puxou a corda fazendo aquele barulho de Sexta-Feira 13. Ficou meio de lado para que todos pudessem passar, ou melhor, voar dali.

Ao virarem o corredor, observaram uma luz branca e bem no fim uma maca vazia com alguém de jaleco de costas e um barulho de assovio tomava conta daquele lugar. Começaram a caminhas quando a luz se apagou e ficou tudo totalmente escuro, não conseguiam enxergar um palmo à frente. Risadas tomaram conta do lugar. A Luz começou a piscar e era perceptível que o cara de jaleco estava com uma máscara horrível de palhaço, caminhando com uma garota parecida com Regan MacNei, a menina de o exorcista, que pulava na maca. Os passos começaram a se acelerar, os gritos e as risadas aumentavam, a Luz piscava cada vez mais rápida e de repente tudo ficou escuro, não havia mais barulho. As luzes se acenderam e eles começaram a correr pelo corredor. Tudo breu novamente, um clarão ilumina todos que percebem que o médico com a máscara de palhaço e a menina estão atrás deles correndo.

Ao virarem mais uma vez, o ambiente mudou de cor. Um longo corredor cheio de fotos nas paredes, com uma placa grande escrita “Todas as Fotos são Reais”. Notava-se várias imagens com fantasmas, espíritos, luzes estranhas presentes. Uma lâmpada começou a piscar bem no meio do corredor, vultos começaram a aparecer, risos de crianças, choro, barulho de portas rangendo e batendo, uma Luz vermelha dava para uma outra cortina, com uma menina segurando um facão, cheia de cortes no corpo e sem uma parte da cabeça.

─ Uma pessoa por vez, - disse a menina – Papai quer ver vocês.

Um por passava pelo tecido e uma forte luz branca, sempre seguida de um grito podia ser vista do corredor. O que aumentava o medo das pessoas que ali estavam. As pessoas saiam dali com uma foto do momento que elas saiam do corredor, como lembrança, sempre assustadas e com uma ilusão de ótica como se um espírito estivesse atrás delas.

A Casa de la Muerte foi o maior sucesso da Feira, o que rendeu nota máxima para a sala. Foi uma ideia genial que Dex teve, já que sua história não causou tanto impacto.

[...]

Dex nunca achou que uma festa de Halloween com esse tema seria tão divertida e abrangeria tantas possibilidades. Afinal, o objetivo não é ir assustador, mas colocar sua mente para funcionar e elaborar uma fantasia bem criativa. Ninguém sabia do que cada um iria, todos resolveram fazer surpresa, resolvendo se encontrar no corredor da escola antes do início. Mas ele sabia que as fantasias seriam incríveis porque todos fazia a matéria extracurricular de “maquiagem e efeitos especiais”

Rupert foi de Megamente e estava incrivelmente parecido com o personagem, todo azul e com uma enorme cabeça. O uniforme ficou idêntico, realmente ele tinha saltado do desenho.

Peter foi de Surfista Prateado de “O quarteto fantástico”, estava com uma roupa incrivelmente apertada, que mostrava cada definição do seu musculo, de látex.

Dexter chegou com uma armadura, os amigos se olharam e começaram a gargalhar.

─ Eu. Nunca. Imaginei. Que. Você. Iria. Vir. Assim – disse Ruper rindo nas pausas – Cara, esse personagem foi feito para você, como eu nunca percebi.

─ Por quê? – questionou Dex – Só por ser baixinho, gordinho e cabeçudo?

─ Cara, sério – falou Peter – Você já ganhou o concurso de fantasia, ficou perfeito. Você é um gênio. – especulou.

─ Ok gente – completou Dex com um sorriso – Tudo foi proposital, mas sério, eu não estou extremamente incrível de Marvin de O Guia do Mochileiro das Galáxias?

─ Não tão incrível quanto eu – foi interrompido com uma voz feminina.

Quando todos viraram para ver Sophie, as bocas se abriram imediatamente. Nunca a viram tão bonita daquele jeito. Estava com uma pintura verde por todo corpo, cabelos ruivos bem longos e com um dragão alíen em seu ombro, extremamente real.

─ Adivinhem do que eu estou – abriu um sorriso imenso – Ok! Sou uma Khaleesi alienígena – dando uma voltinha para os meninos verem.

─ Uau! Não sabia que você era tão... – engasgou Peter – Criativa desse jeito, ficou incrível. Parabéns Sophie.

A noite foi extremamente divertida, dançaram, comeram, beberam e riram uns com os outros. Dexter viu várias ideias geniais de fantasia, dois meninos que estavam fazendo intercâmbio foram de Jedis, Moacir foi com a roupa clássica e Matheus estava de Gungan incrivelmente real, com vestes todas pretas e detalhes em couro, dois sabres de luz metade luz. Uma garota chamada Saah Scribbles estava com a versão feminina de Spock do Star Trek, como se tivesse acabado de chegar à Terra. Rebecca Stupello, uma garota do primeiro ano tinha ido de Bender, totalmente sensual com um espartilho verde escuro, da mesma cor da capa e da saia de prega revestida com chiffon; e uma meia calça um pouco acima do joelho presa numa cinta liga. Ele também adorou a fantasia de duas meninas, Felicity estava de Mew e sua amiga de Jirachi, dois Pokémons extraterrestres.

No fim da noite, estavam todos sentados na arquibancada do campo, conversando sobre a festa, menos Peter que havia saído com uma garota.

─ Sabe, a melhor coisa que aconteceu nos últimos tempos foi eu ter mudado para essa escola – disse Sophie com um suspiro.

─ Legal Sophie, também gostamos de você no nosso grupo – completou Dex – estávamos mesmo precisando de uma alma mais feminina.

─ Apesar de ser Sonserina, você pode sentar com a gente – disse o Megamente rindo para ela.

─ Os dias são muito melhores quando se têm amigos – continuou Khalien, Khaleesi+ Alien como disse Dex.

Peter apareceu correndo com sua roupa muito justa, Dex imaginou que (1) ele teria muita dificuldade em se livrar de tudo aquilo, (2) aquilo deve ter sido comprado num Sex Shop, e (3) provavelmente ele iria usar durante um tempo pomadas contra assadura.

─ Hey o que estão fazendo aqui? – Perguntou o surfista.

─ Só conversando como você ficou parecendo um ator pornô com essa roupa – respondeu Dex debochando.

─ Acho que por isso consegui ficar com alguém hoje, irei anotar essa dica “usar látex sempre” – dando um tapa na perna de Dex, sentando-se ao seu lado.

[...]

“...Tudo não se passa de condições facilmente explicadas, Loyd Averbach deixou claro que tudo depende do ambiente e das condições psicológicas do indivíduo. Quando existem campos eletromagnéticos com frequência extremamente baixa, algumas áreas do cérebro são estimuladas e produzem efeitos que costumam ser associados com assombrações, como os vultos pelo canto dos olhos. Além disso, zumbidos também de baixa frequência (infrassons) provocam ansiedade e medo, o cinema já descobriu isso desde 1950 com os filmes de terror. E ainda existem a ilusão de ótica. Então, caro NERD, não tenha medo de espíritos e fantasmas, tenha medo dos humanos.”

Nota final 1: O autor continua com medo de extraterrestres, mas mesmo assim ele continua procurando coisas sobre o assunto.

Nota final 2: Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril (Fernando Pessoa).


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Notas finais do capítulo

[...] O caso ocorrido em Brown Montain pode ser visto no filme 'Abdução Alienígena';

[...] Os personagens secundários neste capítulo, foram retirados do facebook ♥ Obrigado a todos que comentaram.