Os três se encontraram no colégio, era visível que a polícia e os repórteres passaram por lá. Uma faixa amarela com escritos de “Não ultrapasse” cercava o local onde as roupas foram encontradas. Em uma situação comum, não seria nada alarmante o fato de Sophie ter desaparecido, porém um tempo atrás ocorreu uma série de sequestros de colegiais que, até aquele momento, não tinham sido solucionados.

Os meninos passaram pela faixa, ouviam-se vozes dentro do colégio. Dex poderia jurar que ouviu alguém chorando, provavelmente os familiares da garota. Caminharam até o armário de Sophie e Ruper, com sua extrema agilidade em descobrir o código de abertura dos armários, conseguiu violar o dela.

Vasculharam e não encontraram nada, apenas os mangás da garota, alguns livros do colégio e uma agenda. Os meninos estavam indo embora quando Dex passou pelo corredor e notou o que parecia a orelha de uma folha para fora de seu armário.

─ Galera espera aí. – falou em tom quase inaudível, enquanto os outros dois meninos olhavam para trás – Acho que encontrei alguma coisa aqui – caminhando até seu armário e puxando o papel.

─ O que foi? – questionou Ruper quando Dex fez uma careta demonstrando que estava confuso.

─ A.B.D.U.Ç.Ã.O – disse quase que soletrando a palavra – Seguido de reticências e com as letras de Sophie.

─ Espera! – interrompeu Peter – Pode ser que nos nossos também tenha alguma coisa – caminhando em direção ao seu armário.

─ Ei, olha aqui – falou Ruper com um papel igual ao de Dex na mão – “em caso de...” – leu o conteúdo que também estava escrito com as letras de Sophie.

─ “Corra!” – completou Peter com um papel na mão, também com as letras da menina – O que isso quer dizer?

─ Provavelmente alguma brincadeira de Sophie – respondeu Dexter.

─ Sério? Isso não passou pela minha cabeça – continuou Peter em tom de deboche – Só acho que ela não esperava que essa história fosse longe demais.

─ “Em caso de...” “ABDUÇÃO...” “Corra!” - disse Ruper com os três pedaços de papel na mão – Acho que essa é a frase. Vamos entregar à Polícia então.

─ Não, espere – indagou Dex – Acho que ela vai se dar muito mal com os pais, caso eles saibam disso. Vamos tentar achá-la antes e, caso não consigamos, procuramos a polícia amanhã – todos concordaram.

Então fizeram o que o papel dizia, correram pelo colégio procurando algo que mostrasse o paradeiro da menina. Dex sabia que as consequências de toda aquela história não seriam nada boas.

Os meninos estavam indo em direção à piscina aquecida, que ficava coberta, quando Ruper parou.

─ Espere. – interrompeu com falta de ar, enquanto os outros dois paravam de correr, e Dex tinha uma micro taquicardia – “em caso de abdução, corra!”, talvez ela estivesse se referindo à pista de corrida.

─ Boa. Ruper. Vamos. Lá – disse Dex sem fôlego algum, imaginando que participar das aulas de educação física não seria tão ruim numa situação daquelas.

─ Encontrei – falou Peter com um envelope na mão, levantando seus braços definidos e sem nenhum sinal de falta de ar.

─ Como sabia que estava aí? - questionou Dexter.

─ Simples. Ruper descobriu sobre a pista de corrida e as letras da palavra “abdução” estavam separadas. Então pensei que, provavelmente, estaria próximo de onde as líderes de torcida ficam – disse abrindo um largo sorriso, começava a entrar no jogo de Sophie – Então encontrei esse envelope bem na boca do Patrick – apontando para o enorme elefante, mascote do time.

─ Abra logo, veja o que está escrito.

─ “Um copo d’água deixarei ao lado da minha cama”. E tem um conjunto de números binários aqui – entregando o papel para Dexter - 0110110101101001011011000110100001101111. 14A

─ Hum, interessante. –Dex com a mão direita no queixo – Não sabia que ela conhecia números binários – completou – 01101101(M) 01101001(I) 01101100(L) 01101000(H) 01101111(O).

─ Água e milho – continuou Peter – Ela deve estar se referindo ao filme Sinais, aquele que a menina deixa um copo d’água porque os alienígenas têm medo.

─ Ah! – indagou Dex – Estava bom para ser verdade – os outros dois o olharam com cara de dúvida – O que adianta você saber escrever em binário se assiste a filmes ruins?

─ Então ela deve estar numa plantação – acrescentou Ruper.

─ Sim, com certeza – debochou Peter – Até porque o milharal mais próximo deve estar a alguns milhares de quilômetros daqui.

─ Supermercado então – disse Dex – Mas e esse 14A? – questionou.

Eles só se esqueceram de que na cidade existia, no mínimo, uns 7 supermercados. Após entrarem em três deles, os garotos já estavam sem paciência, Dexter pegou seu telefone algumas vezes para ligar para a polícia dizendo que tudo não passava de uma brincadeira. Mas só de pensar em Sophie se dando muito mal por isso, talvez seus pais tendo que responder a um processo. “Essa menina tem 10 anos de idade?” pensara alto, até demais porque notou as pessoas o olhando.

─ Calma cara, nós vamos achá-la – falou Peter apoiando seu braço no ombro do baixinho – E ela terá que nos dar uma boa explicação do porquê disso tudo.

─ Talvez ela não esteja falando de supermercado, sei lá – interrompeu Ruper com tom de desânimo.

─ Verdade – Dex falou arregalando os olhos – Se ela está falando do filme “Sinais”, onde poderíamos encontrá-lo?

─ Locadora – completaram os outros dois ao mesmo tempo.

Estavam certos. 14A se referia ao número da loja no shopping da cidade. Correram até a seção de ficção científica, mesmo Dex achando um absurdo esse filme estar nela. “Como um filme desses pode ser classificado assim? Está mais para fantasia”, pensava. Em frente à pilha de filmes de mesmo título não havia nada. Olharam entre si, e começaram a vasculhar os títulos até que encontraram um invasor entre eles “Contatos de 4º Grau”.

─ Ai meu Darth Vader, por que tantos filmes ruins num único dia? – questionou indignado, mais uma vez.

─ Bom, esse filme contém gravações reais, fiquei alguns dias sem dormir na minha cama depois de assisti-lo – respondeu Ruper – Digamos que ele é bem convincente.

─ Essa porcaria convenceu você de que? – perguntou Dex – De que as pessoas não sabem fazer filmes sobre extraterrestres? – completou com outra pergunta.

─ Mas foi baseado em fatos reais, inclusive as cenas de hipnose – completou Ruper.

─ Ruper, você só pode estar de brincadeira – debochou Dex – já foi comprovado que tudo não passou de Marketing dos produtores, inclusive o site que trazia a biografia da psiquiatra era falso, apenas para divulgar o filme.

Os ufologistas acreditam que existem 6 tipos de contato com extraterrestres, sendo que o primeiro é o Contato Imediato de Zero Grau, nele ocorre a observação do objeto voador não-identificado (OVNI) a grandes distâncias. O Contato Imediato de Primeiro Grau é a observação do OVNI a curta distância, permitindo a visualização de alguns detalhes do objeto. O Contato Imediato de Segundo Grau (CI – 2), ocorre quando o OVNI pousa ou sobrevoa um determinado local, deixando fortes indícios de sua passagem e provocando perturbações a pessoas e animais. No CI – 3 é possível observar os tripulantes do OVNI (dentro ou fora dele) sem que exista comunicação. O Contato Imediato de 4º Grau, ocorre quando além de ver os tripulantes, existe algum tipo de comunicação. E o CI – 5 é, propriamente dita, a abdução.

─ Terra chamando, terra chamando – interrompeu Peter balançando a cabeça dos dois – Mas qual o significado disso tudo?

─ Acredito que ela esteja se referindo ao Quarto Grau, em que existe comunicação entre o ser humano e o extraterrestre.

─ E qual o significado disso? – repetiu Peter.

─ Aparentemente, nós somos os humanos e ela é o extraterrestre – respondeu Ruper.

─ Então se ela está entrando em contato conosco, quer dizer que ela está nos observando – completou Dex – Então provavelmente esteja aqui dentro da locadora.

Os garotos vasculharam o local, cada um para um lado. Até Peter que tinha aparência de ser maior de idade, entrou na seção de filmes adultos para ver se encontravam Sophie. Nada da menina.

─ Sophie, para – gritou Dexter quando viu um cabelo com partes rosa dar meia volta na entrada da loja – Onde você estava?

─ É... Oi meninos – respondeu meio envergonhada – SURPRESA! – abrindo os braços – Vocês demoraram muito, então fui comprar uma casquinha – dando um sorriso amarelo.

─ Sorvete? – perguntou Dexter com raiva – Você sabia que até a polícia está atrás de você? Ouvi sua mãe chorando no colégio hoje. Esqueceu-se das garotas que foram sequestradas um tempo atrás? – soltou as palavras como um pai irritado.

─ Calma, mas era tudo uma brincadeira – respondeu Sophie meio decepcionada com o desenrolar de seu plano – Meu Deus, o que farei agora? Meus pais vão me matar.

─ Não Sophie, eles não vão – disse Peter – Porém você vai ter que se explicar para todo mundo. Inclusive para o jornal.

[...]

Dexter chegou e deixou a porta escapar, batendo-a com força. Estava exausto, uma mistura de cansaço, raiva e ansiedade. Porém ficara feliz do seu desempenho na “brincadeira séria demais” que sua amiga fizera.

─ Filho, o que houve? Tentei ligar para seu celular, mas você não atendeu – falou a mãe, entrando no seu quarto.

─ Sabe mãe, vocês mulheres são muito complicadas – disse pegando sua toalha e enrolando-a no pescoço “Don’t Panic” – Tudo não passou de uma brincadeira de Sophie, ela deixou pistas para encontrarmos ela na locadora do shopping. Disse, depois, que queria uma tarde de videogames no fliperama, só que demoramos muito.

─ Dex que menina sem juízo – julgou a mãe – Todo mundo atrás dela, até a polícia e o jornal e era tudo uma brincadeira.

─ Pois é, mas aparentemente ela vai ficar de castigo sem sair, sem ver TV, sem computador, sem celular. Será escola-casa, casa-escola como disse a mãe dela – continuou, sentando-se em frente à escrivaninha – Acho que não é um bom castigo para uma adolescente de 16 anos, mas...

─ Acredite filho, ficar sem celular e computador hoje em dia, é um castigo brutal para um adolescente – completou.

–------------------

O Guia NERD para quase-adultos

Capítulo 1. Quarenta e Dois

“Não pense que você, jovem NERD, encontrou este guia por acaso. Tenha certeza que foi O Guia que o encontrou. Antes de dar início a esta excelente ferramenta literária para pequenos jovens brilhantes como nós. Vale salientar que, a resposta para a questão sobre a vida, o universo e tudo mais é 42. E não sou eu que estou dizendo isso não, e sim O Pensador Profundo. 42 é um número natural depois do 41 e antes do 43 (eu sei que vocês sabem disso), é composto e pode ser dividido por 1, 2, 3, 6, 7, 14 e 21. A soma dos seus divisores próprios é 54 que é maior que 42, ou seja, um número abundante. Além disso, é um número esfênico (número inteiro positivo, produto de três fatores primos distintos); um número de Catalan (são números que formam uma sequência de números naturais que ocorrem em vários problemas de contagem, frequentemente envolvendo objetos definidos recursivamente, ou seja, o número de maneiras de dividir um polígono de n+2 lados em n triângulos); um número Harshad (número inteiro divisível pela soma de seus dígitos em uma base de dados); e é par. Pode ser escrito de 4 formas diferentes com a soma de números primos (5+37), (11+31), (13+29), (19+23). O software Eureqa deu a resposta 42 quando perguntaram qual seria a quantidade de invariantes no problema do pêndulo. Mas, para saber o porquê dele ser a resposta para a questão sobre a vida, o universo e tudo mais, você precisa saber fazer a pergunta certa. Para isso, você vai precisar construir um computador tão grande e fenomenal que seria até confundido com outro planeta. Teria que chamá-lo de Terra e levaria 10 milhões de anos para completar seus objetivos. Moral da história NERD, pode existir resposta para qualquer coisa nessa vida, mas antes precisamos fazer as perguntas certas”.

Nota 1: Não estrague o gênero de fantasia com esses filmes de extraterrestres.

Nota 2: O autor desta história morre de medo de ET’s e, provavelmente, não irá conseguir dormir durante um mês.

Nota 3: 01100001 01110100 01100101 00100000 01101111 00100000 01110000 01110010 01101111 01111000 01101001 01101101 01101111 00100000 01100011 01100001 01110000 01101001 01110100 01110101 01101100 01101111.