No dia seguinte, mamãe me trouxe café da manhã na cama porque eu não levantei. Então, eu tomei o café da manhã e estou aqui. Deitada na minha cama, de pijama. A minha cama está cheia de travesseiros, cobertores, meu notebook, meu celular, meu caderno e material de escola e agora pipoca.

Eu pedi pipoca pro Peter e adivinhem? Ele fez e me trouxe! Eu amo mandar nas pessoas. Acho que tenho esse dom. E como sou uma menina estudiosa eu estou fazendo o dever de casa comendo pipoca, no facebook e ouvindo música no celular! Tudo isso pra que? Bom, eu decidi que não posso ficar sozinha com meus pensamentos. Eles podem me matar.

Quer dizer, eu vou ficar lembrando do beijo e isso não é bom! Isso é confuso e assustador. E eu não quero me importar com um beijo. Quer dizer, eu não me importo com o beijo. Não passa de um beijo insignificante. Eu não posso pensar no beijo! Por que eu estou ainda pensando nisso? Já chega de pensar sobre algo insignificante e já chega de beijos! Essa palavra é rídicula e eu não estou sentindo nada!

Só estou um pouco confusa... mas eu sou a garota da confusão! É normal eu estar confusa! Eu tenho que estar confusa! E também sinto um pouco de medo... Mas medo do que? Medo de me apaixonar? Medo de ter gostado do beijo? Impossível. Eu não teria medos tão bobos! Afinal, o beijo não passou de nada, não é?

Quer dizer, eu já deveria ter esquecido isso! Eu não tenho medos idiotas. Aliás, eu nem tenho medo de nada. E também não estou me importando de ter beijado o Gabriel. Quer dizer, eu acho que não... Bom, eu não tenho certeza... Ah já chega! Aumentei o volume do rock que tocava no celular e comecei a me distrair com a música.

—Emely! -Pedro chamou e bateu na porta do meu quarto. Eu deliguei a música.

—Eu estou dormindo! -Eu me enfiei de baixo das cobertas.

—Ah, bom saber que você dorme ouvindo uma música no último volume! -Ele respondeu sarcástico.

—O que você quer?

—Quero saber o que há de errado com você. Parece que está de ressaca, mas não bebeu ontem. -Ele pareceu preocupado.

—Na verdade, eu estou de ressaca. Uma ressaca literária. Ontem a noite eu acabei de ler meu livro. E fui dormir tarde, então hoje estou com muito sono e agradeceria se me deixasse dormir. -Eu menti.

—Tudo bem. -Ele pareceu acreditar e foi embora.

Passei o dia tentando dormir. E no dia seguinte não fui pra escola. Eu inventei que estava passando mal. Mas eu não ia poder faltar na escola pro resto da vida. E eu também tinha que mostrar que aquilo não me afetou. Agora fugindo, da impressão de que eu sou fraca e de que o beijo me afetou.

Então, na manhã seguinte eu fui a escola. Cheguei atrasada na sala de aula. Todos já estavam nos seus lugares.

—Srta. Watson, eu odeio atrasos. -O professor resmungou. -Vá sentar, logo.

Eu me sentei no meu lugar de sempre que infelizmente, era ao lado do Gabriel. Argh! Como eu sou sortuda. O infeliz me lançou um sorriso debochado. Argh! Eu ainda mato esse garoto!

O resto do dia passou com eu ignorando ele e ele me ignorando. Depois da aula fui direto pro consultório do meu psicólogo porque hoje era dia de consulta. Fui desabafar com ele sobre o quanto eu odeio aquele ser!

—Odeio cada pedaço dele! O sorriso, o cabelo, os olhos! Argh! Aquele maldito sorriso!

—Hum... Interesante... -O Dr. anotou na agendinha.

—Argh! Odeio o jeito que ele fala, e também odeio seus olhares sugestivos! Eu o odeio tanto que acho que estou ficando louca! -Eu suspirei frustrada.

—Não acho que você seja "louca", Emely. -Ele sorriu divertido, parecendo rir de uma piada interna. -Acho que é algo diferente.

—Como assim? Algum problema novo comigo? Por que você sabe os antigos já são da casa. -Eu ri.

—Não acho que é bem um problema, Emely. -Ele sorriu. -Você esta apaixonada pelo Gabriel.

—O que?! (Eu comecei a rir histérica.) -Ai meu Deus! Era só o que me faltava! Meu psicólogo ter enlouquecido! Por favor, né? Eu, apaixonada? Pior ainda, pelo Gabriel? Qual parte do "eu o odeio" o Sr. ainda não entendeu? -Eu praticamente gritei a última parte.

—Calma, Emely. Se apaixonar não é tão ruim assim! È só que você tem medo de sentimentos que não pode controlar! Eu sei que o amor é um pouco assustador mas você não pode fugir por muito tempo quando a coisa é pra valer. -Ele suspirou. -Você não o odeia, você só expressa seus sentimentos de forma errada. Está lidando mal com tudo isso, porque tem medo.

—Eu o odeio sim! Odeio o jeito que ele bagunça o cabelo quando esta nervoso, odeio quando ele me faz ficar vermelha, odeio quando ele me faz rir, odeio quando ele esta com a Melaine, odeio tudo nele!

—Por que você odeia quando ele esta com a Melaine? Já parou pra pensar que isso pode ser ciúmes? -Ele arqueou as sobrancelhas.

—Por que.. Por que... Hum... Ciúmes?! Eu?! Não sei nem o que é isso! -Eu cruzei os braços indignada! Eu tô começando a achar que não gosto mais tanto assim do meu psicólogo! -Alias, o que te leva a pensar que eu estou apaixonada pelo Gabriel? -Eu perguntei curiosa.

—Você implica demais com ele, fala demais nele, sorri quando lembra de algo que você e ele aprontaram juntos, e seus olhos brilham quando fala nele. Por um momento achei que você estava obcecada com ele, mas aí eu percebi que você está apenas apaixonada e não sabe lidar. Uma paixão louca. (Ele sorriu, brincando com as palavras na última frase e eu revirei os olhos.)

—Não! Impossível! E pra mim já chega desse papo de estar apaixonada. Eu estou indo embora! Tchau Dr. Maluco! -Eu resmunguei e fui embora enquanto ele ria.

Argh! Apaixonada eu? Ah, qual é! Conta outra! Meu psicólogo deve ter andado cheirando drogas ou bebido! Só pode! E depois a louca sou eu... Essa é boa! O meu psicólogo dando uma de conselheiro amoroso! Ah, fala sério! Ninguém merece!