Notas Mortais escrita por Ryskalla


Capítulo 2
Contos da Rainha - A Princesinha


Notas iniciais do capítulo

Esse conto faz parte da fic Pequena Maria, para os que gostarem, podem acompanhar a fic também ^^



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Era uma vez uma Princesinha que também era uma estrela.

E tal como as estrelas que iluminam o céu lá em cima, a pobre princesinha também estava envolta em escuridão. Uma escuridão tão profunda que parecia impossível seu brilho inocente mantê-la afastada por tanto tempo...

Esse conto não tem um início exato. Há quem diga que as trevas estavam destinadas à Princesinha muito antes de seu nascimento. Elas sentiram sua presença na primeira guerra do Reino das Estrelas e esperaram pacientemente por sua chegada... E quando isso ocorreu, a Princesinha brilhou mais que nunca para enviá-las para longe. O primeiro ato de amor que a pequena conheceu, foi o de sua mãe. E eu irei explicar a vocês.

Quando nossa pequena protagonista nasceu, o silêncio esmagou a todos. Afinal, aquilo não poderia ser verdade... Muitos diriam que o maior erro da rainha foi ter concebido uma criança de cabelos negros. Eu diria que foi ter implorado que não a matassem.

Porque em meio ao preconceito e à crueldade a Princesinha cresceu. E com o passar dos anos, sua mãe fora proibida de se aproximar, afinal tivera um filho mais digno, e aquela pequena estrela passou a brilhar sozinha... Por mais que se esforçasse em ser aceita, por mais que fosse bondosa e amorosa... Nada importava, tudo o que viam nela era um monstro.

Quando a Princesinha descobriu o motivo de todo aquele ódio... Ah! Ela permitiu odiar-se também. Odiava seu pai, que a condenava por erros que ela jamais cometera. Erros de uma bruxa chamada Helena, da qual ela sequer ouvira falar. Por mais semelhantes que a Princesinha e a Estrela Negra fossem em aparência... Igualmente diferentes elas eram em personalidade e o pobre Rei, cego pela dor, jamais conseguira ver. E assim a Princesinha fugiu pela primeira vez.

E as trevas a seguiram.

A luz daquela estrela brilhou um pouco mais forte ao chegar a um novo reino. Pois, naquele reino, existiam pessoas com cabelos quase tão escuros quanto os dela! Quanta alegria ela sentiu ao ver que ninguém a olhava com desgosto. Por uma vez na eternidade, a Princesinha desfrutou da sensação de ser completamente normal.

Foi nesse reino que a pequena estrela conseguiu sua primeira melhor amiga. Era um reino tão pequeno e humilde que talvez não seja tamanha a surpresa ao descobrir que a Princesinha tornou-se amiga da princesa. É engraçado pensar dessa forma, mas uma salvou a vida da outra. E essa amizade durou por bastante tempo, até que a Princesinha ocasionou a morte de sua melhor amiga...

Pois esse humilde reino estava próximo a uma floresta muito perigosa. Dizia-se que existiam duas casinhas dentro dessa floresta: uma onde a floresta começava e outra onde a floresta terminava. Existiam boatos de que o Reino das Flores ficava além daquela floresta, mas era muito perigoso descobrir se aquilo de fato era verdade. As duas amigas não queriam chegar ao Reino das Flores e sim descobrir quem habitava a famosa casinha do início da floresta.

Sinto-lhes dizer que a criatura que habitava aquele lugar era vil e tinha um prazer incomum de comer carne humana. E, naquele fatídico dia, a criatura alimentou-se da inocente princesa do Reino da Lua. A Princesinha conseguiu fugir e correndo pela floresta ela foi capaz de encontrar a outra casinha... Para sua sorte (ou mesmo azar) o seu habitante era completamente diferente de seu “vizinho”. Foi ele quem guiou a Princesinha ao Reino das Flores e foi assim que eu a conheci.

Mas as trevas tornaram a persegui-la.

Ao contrário do Reino da Lua, o Reino das Flores era grande e majestoso. Jamais teríamos nos conhecido se não fosse pelo arqueiro Klin, que encontrou a pobre estrela e a trouxe até mim. Quão encantada fiquei ao ver sua beleza! Acredito que ninguém nunca falara aquilo para ela... Porém seus longos cabelos negros eram tão lindos quanto o céu noturno.

Pouco descobri sobre seu passado e nunca me importei, porque tudo o que eu queria era que aquela Princesinha voltasse a sorrir. Claro que, naquela época, eu jamais suspeitava da sua realeza. A pequena estrela passou a vestir vestes de um luto eterno, pois sua esperança de um dia ser feliz morrera, apesar de todos os meus esforços.

Ela era tão triste, tão triste... E havia algo a acompanhando, algo mais temível que as próprias trevas. E eu temia que aquilo fizesse mal a ela.

Houve uma guerra quando a Estrela Negra voltou. E muitos reinos caíram. A bruxa veio atrás da Princesinha e com palavras encantadoras a trouxe para seu lado. Ambas seriam poderosíssimas e governariam o mundo. Todos acharam que a Princesinha havia traído seus amigos. Exceto eu... Porque apenas eu tinha conhecimento de sua natureza, apenas eu conseguia ver que aquela estrela jamais conseguiria ser má. Por isso, não foi grande a surpresa quando a Princesinha traiu a Estrela Negra e a assassinou. Teria sido um dia glorioso, pois tal ato havia custado sua vida... Infelizmente, sua família estava presente e seu pai, movido pelo remorso, invocou um antigo encantamento de seu reino. O Rei deu sua vida para que a Princesinha pudesse ganhar o tempo.

Um ato heroico que só fez com que a Princesinha o odiasse ainda mais. Ela e sua família retornaram ao Reino das Estrelas. Com o passar do tempo, sua mãe pereceu à tristeza. E, após assistir a primeira que lhe ofereceu um ato de amor falecer, a alma da Princesinha quebrou.

Em desespero, a Princesinha não sabia o que fazer para preencher o vazio. Queria ir embora daquele Reino de Sofrimento e seu irmão não permitia. Porque eles eram uma família e a família deveria permanecer unida. E a alma de seu irmão foi a primeira que ela usou para remendar a sua.

E as trevas a agarraram para nunca mais deixá-la partir.

Quando reencontrei com a Princesinha, já não conseguia ouvir sentimentos em sua voz. Ela se tornara uma tecelã por necessidade. De fato, só descobri sua história quando nos tornamos uma só, porém completamente diferentes.

Foi nesse momento em que a alma da Princesinha se fez em pedaços. Culpam minha pureza que destruiu parte das trevas que se apossaram da alma dela. Eu não sei de quem é a culpa, mas ainda choro todas as noites quando penso nisso.

Quando tornamos a sermos nós mesmas, a Princesinha fugiu... Ainda ouço falar sobre ela, embora não do modo como gostaria. Parece que, no fim, a Princesinha tornou-se o monstro que seu pai temia.


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