Red Eyes escrita por Lamartine


Capítulo 25
Capítulo 26 parte I


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo longo para todos vocês!
Quero agradecer a vocês por todos os comentários, por todas as mensagens enviadas, pelas cobranças e por acompanharem essa fanfic, que devo dizer, escrevo desde 2014! É um prazer imenso escrever para vocês. Espero que estejam bem e se cuidando, eu disse anteriormente que haveria uma surpresa quando eu enfim publicasse esse capítulo, espero que apreciem!
(A música utilizada no início do capitulo se chama "Pourquoi la mort te fait peur - Pomme, sugiro que escutem a versão slowed) boa leitura!



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A leve brisa que adentrava o escritório através da janela parcialmente aberta por trás da mesa de mogno atualmente coberta por uma pilha organizada de documentos e alguns livros que não olhei por tempo suficiente para identificar tocou o meu rosto pálido como uma carícia suave, como se estivesse dando-me as boas vindas após o pequeno espaço de tempo em que estive ausente de sua – muito provavelmente – gélida presença. Essa brisa trazia consigo um pequeno e distante ruído, um som que apesar de destorcido, parecia quase bonito. Me aproximei mais da janela e permiti que uma das minhas mãos abrisse um pouco mais os vidros grossos automaticamente me inclinando um pouco para tentar identificar o som. A lua já estava alta no céu e brilhava alegremente contra o escuro enquanto poucas nuvens passavam por ela, observei ao redor e notei que não haviam humanos nas proximidades, relaxei um pouco mais e deixei que a brisa gélida continuasse tocando o meu rosto, voltei a me concentrar e agora, ouvindo mais atentamente, notei que o som antes desconhecido, se tratava de uma canção – provavelmente vinda de uma das casas dentro da cidade. A dita canção mesmo sendo composta e provavelmente cantada por uma humana, era um pouco encantadora e por isso me permiti aproveitá-la, me inclinando contra a parede ao lado da janela comecei a escutar mais claramente a letra

"Por que a morte te dá medo?
Eu ouço as batidas do seu coração 
Através dos oceanos
Você sabe que você e eu 
Ela não vai nos ter
Nós iremos para o oceano"

As palavras cantadas me fizeram ficar mais intensamente focada na canção. O idioma em que eram cantadas me fez pensar se o humano ou humana que estava escutando não seria mais um dos inúmeros turistas que constantemente chegavam à Volterra para uma aventura turística que quase sempre acabava no mesmo lugar onde eu estava atualmente,não pude deixar de me perguntar rapidamente se esse seria o destino desse em particular. 
Alheia ao meu entorno, continuei escutando a suave música e sua letra – que um pouco para o meu próprio descontentamento admiti que era aceitável – por isso não notei os passos que se aproximavam cada vez mais da sala onde eu estava. Com os olhos fechados, continuei deixando o momento raro de calmaria me tomar por mais alguns segundos até que senti a sensação familiar de quando há alguém nos observando, rapidamente saí da minha bolha de relaxamento e virei o rosto enquanto abria meus olhos vermelhos, apenas para conecta-los a um par muito semelhante já me encarando, a sensação de calma voltou ao meu corpo quando eu vi o afeto dentro deles.

"Há algo interessante lá fora, minha querida?" – Sua voz leve me fez sorrir.
"Não tanto quanto aqui" – Eu disse divertida, mas sincera. Seu lábios formaram um pequeno sorriso, mas ele parecia se conter.

"O que acha que eu estou olhando?" – Perguntei tentando afastar qualquer tensão que ele poderia estar experimentando enquanto voltava meus olhos para fora.

"Talvez alguém que a esteja observando por entre as sombras das casas?" – Ele sugeriu como se estivesse tratando de algo completamente normal, mas eu suspirei fechando os olhos por alguns poucos segundos antes de me virar para ele novamente agora já não encostada contra a parede, mas de frente para ele.

"Eu não podia contar. Nada estava certo e eu não tinha certeza de nenhuma dessas sensações, poderia ter alarmado todos e no fim, não ser absolutamente nada, apenas minha mente" - Ele apenas observou após escutar o que eu havia dito e eu comecei a me preocupar se havia dito algo de errado.

"Se tratava da sua segurança, da segurança de todos nós, poderia não ter sido um truque Jane, sua atitude foi impensada e infundada" – Ele disse por fim.

"Eu sou capaz de me protejer" – Protestei ainda calma.

"Sei que é, não a teria colocado à frente da guarda se não fosse capaz de lidar com situações de perigo, mas isso não quer dizer que não deva informar quando algo que pode afetar todos aconteça" – Ele concluiu e eu assenti.

"Sinto muito, eu não queria preocupar você, já parecia preocupado o suficiente" – Admiti.

"Eu estava assegurando que as atitudes tomadas fossem assertivas, Jane. É inaceitável que acabemos dando a impressão de que não temos controle sobre as coisas, nós somos a lei, nós temos que estar acima de erros" – Ele explicou se aproximando um pouco mais até estar ao meu lado, me virei para olhar seu rosto enquanto ele continuava – "Eu não permitirei que nada comprometa isso Jane, por isso sua segurança é importante, você é a chave para me paralisarem e eu não deixarei isso acontecer".

"Você poderia dizer apenas que está preocupado comigo" – Sorrio novamente relaxando. Não havia como negar a sede de poder, a ânsia de ser um líder que ele tinha, sua posição era importante, o poder sendo o que ele mais valoriza, mas ele também se preocupava comigo, não a sua queda, mas a Jane que ele amava. Seu rosto se contorceu em uma pequena careta e eu sorri mais me aproximando dele tocando levemente seu rosto com a ponta dos dedos, me reclinando contra a janela novamente, deixando a brisa novamente tocar o meu rosto e agora o dele, quase com a mesma suavidade dos meus dedos sobre sua pele de mármore que para mim parecia tão suave.

"Eu senti sua falta" – Eu suspirei e ele sorriu um pouco, dessa vez não havia nenhum indício de tensão. Ele não disse o mesmo, não havia necessidade, enquanto ele se inclinava em meu toque e fechava os olhos, eu entendi, eu sempre entendia suas palavras, mesmo quando não eram ditas.

"Nós nos conhecemos a muito tempo
Noites de verão, os segredos perturbadores 
Antes disso, eu te conhecia
Nossas almas se falaram à dois mil anos 
Em um idioma que ninguém entende 
Cujas palavras são exibidas"

Enquanto o resto da música que eu anteriormente escutava com tanto foco se dissipava, eu pensei que talvez pela primeira vez eu não gostaria de matar esse humano no meio dos turistas.

***

"Então, houveram mudanças aqui?" – Eu perguntei enquanto estávamos sentados no sofá de seu escritório, sua mão direita entre as minhas enquanto eu traçava linhas invisíveis em sua pele.

"Nada. Não houve movimentação como eu havia dito na sala do trono, Caius continua desconfiado de todos, infelizmente ainda não descobrimos quem poderia estar encobrindo os rastros dos vampiros, isso o deixa um pouco perturbado" – Eu ri quando ele disse isso.

"Tudo o deixa perturbado" – Ele assentiu humorado.

"Mas dessa vez sua perturbação tem fundamento, não é sempre que encontramos algo assim, um dom tão útil" – Ele suspirou com pesar.

"Talvez não tenha que destruir o vampiro com esse dom, Chelsea possivelmente quebraria os laços facilmente e você teria mais um bem na coleção" – Eu brinquei e ele sorriu para mim.

"De fato, mas primeiro precisamos encontra-lo"

Continuei passando a ponta dos dedos levemente sobre sua mão antes de ficar distraída.

"Amber não veio falar comigo" – Eu disse de repente fazendo ele me dar um olhar confuso.

"O que, minha querida?" – Ele perguntou focando em mim novamente.

"Bem, agora que já sabe de tudo, desde que me tocou, tem noção dos sentimentos de Amber sobre mestre Marcus, na nossa última conversa ela se convenceu em dizer a ele sobre isso, mas nunca voltou a dizer uma só palavra, fiquei curiosa, principalmente quando a vi na sala do trono, ela parecia tensa ao lado dele" – Eu continuei.

"Não a vejo muito, permiti que Marcus cuidasse da recém nascida e não pretendo interferir, já é assombrosso o suficiente ter Marcus se interessando em algo, ou nesse caso alguém. Não quero que ache que não confio em seu julgamento" – Ele refletiu.

"Por isso nunca leu os pensamentos dela" – Eu deduzi e ele assentiu – "Não parece arriscado?"

"Tenho minhas desconfianças, mas ela nunca nos deu motivos para pensar que poderia ser uma ameaça, pessoalmente não tenho problemas em exigir que me mostre, mas faço isso por Marcus" – Ele explicou enquanto observava nossas mãos. – "Além disso, o dom de Marcus é poderoso, se houvesse algum vínculo que pudesse indicar traição, ele detectaria"

"Sim, claro, ele sempre foi muito assertivo" – Eu sorri – "Mas continuo muito curiosa sobre eles"

"Talvez esse seja o motivo dela estar tensa em sua presença, talvez ela tenha dito e não saiu como ela esperava" – Pensei sobre isso quando ele terminou, mas não parecia assim, algo poderia ter acontecido.

"Não sei, mestre Marcus não parecia se opor a ideia de estar perto dela, não acho que se oporia se tivesse visto o laço deles" – Eu suspirei – "A menos que não haja laços" – 'pobre Amber' – Pensei.

"A garota tem uma amizade fora da sala de Marcus" – Aro divertiu-se e eu lembrei que nossas mãos ainda estavam conectadas.

"Pare com isso, eu só sinto muito por mestre Marcus não encontrar felicidade" – Resmunguei enquanto ele sorria deliciado, eu sorri um pouco e revirei os olhos. – "Acho que vou encontra-la, talvez ela me esclareça tudo" – Eu pedi a ele silenciosamente permissão.

"É claro, minha querida" – Ele assentiu. Levantei quase relutante da confortável possição em que estava ao seu lado e pressionei meu lábios em sua bochecha enquanto me virava para sair.

"Jane, seja cuidadosa" – Ele alertou e eu concordei antes de soltar sua mão com certa hesitação, não sei porquê me senti quase triste quando fechei a porta e já não via seu rosto.

                               ***
Saí do escritório de Aro e caminhei pelos corredores com o objetivo de encontrar Amber. Franzi o cenho quando não consegui sentir seu perfume ou escutar seus passos na ala de mestre Marcus. 'Onde ela poderia estar?'  pensei enquanto voltava a passar pelos lugares onde ela poderia se encontrar: a biblioteca, a sala do trono, a sala de Macrus e por fim a encontrei no último dos lugares que fui; o jardim.

"Está se tornando um hábito nos encontrarmos aqui" – Eu disse no meu tom usual enquanto Amber virava para me observar. Seu manto ondulava suavemente enquanto o vento batia nele, seu cabelo castanho e longo se movia também, e seus olhos vermelhos estavam quase assustados, mas relaxaram um pouco quando me viu.

"Talvez devêssemos marcar ele como nosso ponto de encontro sempre que precisarmos" – Ela sorriu e eobservei com curiosidade.

"Parece assustada" – Eu indaguei e ela desviou o olhar, se para que eu não visse suas emoções ou para clarear a mente antes de falar, nunca saberei.

"Marcus" – Ela disse calmamente –  "Achei que era Marcus, eu estava distraída"

"Não gostaria de vê-lo?" – Minha voz assumiu um tom curioso.

"Não consegui dizer a ele a verdade sobre meus sentimentos. Eu estava convicta de que era o que eu queria, mas não fui capaz de fazer isso. Eu não me sinto... digna" – Ela sorriu um pouco tristemente para mim antes de olhar para as árvores novamente.

"Por que você é uma recém nascida?" – Levantei as sobrancelhas para isso. Não me parecia motivo.

"Porque ele merece melhor" – Ela riu um pouco, mas não era um riso feliz, não chegou aos seus olhos. – "Eu talvez não seja quem ele acha que eu sou" – Algo na sua voz me fez querer a consolar. – "Eu não seria boa para ele, Jane, ele teria visto" – Senti uma espécie de simpatia para com ela. Ela não se sentia digna de Marcus porque ele não tinha visto seus laços.

"Talvez ele só não tenha dito a você o que viu" – Insisti.

"Ou talvez ele não possa ver" – Ela suspirou.

"O que quer dizer?"

"Que talvez não haja nada para ver, nem sempre as coisas são como queremos que seja e preciso lidar com isso, só que é difícil às vezes" – Ela me olhou, seus olhos vermelhos pareciam cansados, por mais estranho que isso possa parecer tendo em vista que nunca nos cansamos. "Eu sinto muito Jane" – Ela quase sussurrou.

"Você não me deve desculpas, eu entendo que você não estava pronta para dizer a ele, não me desapontou" – Eu disse confusa e ela pareceu tomar uma respiração profunda e desnecessária antes de assentir. Algo sobre ela nunca realmente me fez confiar nela de olhos fechados, eu sabia que em algum lugar da minha mente eu nutria muita desconfiança em relação a ela, mas como Aro mesmo disse, não havia motivos concretos para isso, então tentei colocar isso de lado, mas não pude deixar de sentir um leve arrepio com seu pedido de desculpas.

"Precisamos entrar, mesmo que tudo esteja resolvido, não podemos tomar riscos desnecessários" – Ela disse e eu concordei indo com ela para dentro.

"Espero que em breve tenha coragem de dizer a mestre Marcus o que você quer dizer. Ele merece saber que alguém se sente assim por ele" – Eu disse para ela quando chegamos ao corredor que levava até a ala do meu quarto perto dos mestres.

"Eu também" – Ela sorriu e acenou para mim em despedida enquanto entrava em seu próprio quarto.

'Que conversa estranha' pensei enquanto balançava um pouco a cabeça e entrava no meu quarto.

"Achei que nunca mais iria entrar aqui" – Uma voz falou no canto do quarto.

"Você tem permissão para estar aqui?" – Eu cruzei os braços enquanto observava a pessoa no outro lado.

"Vamos lá Janezinha, acabamos de voltar de uma missão, destruímos uma recém nascida na América, voltamos sem um arranhão e você sinceramente acha que mestre Aro não me deixaria chegar perto de você de novo?" – Ele riu um pouco e eu apenas o encarei – "você está completamente certa, ele algum dia vai superar tudo isso? Não é como se ele não tivesse visto através dos nossos atos patéticos" – Ele suspirou.

"Acho que esse é o motivo disso tudo; nossos atos patéticos" – Refleti.

"Foram atos patéticos, mas nos renderam algumas risadas e uma quebra na tensão" – Ele relembrou e eu sorri.

"Sim, de fato, mas ainda assim patéticos, talvez se eu pudesse voltar no tempo, não teria feito igual" – Ele sorriu porque ambos sabíamos que não era verdade.

"E então, qual o motivo dessa visita?" – Perguntei enquanto fechava a janela do meu quarto franzindo a testa porque não lembrava de tê-la aberto antes de ir para a América.

"Me encontrei com Sulpicia, estávamos conversando sobre o que aconteceu na America, parece que mestre Caius está mais perturbado que nunca" – Seu tom tornou-se sério novamente.

"Aro me disse, mestre Caius parece estar desconfiado de algo" – Eu confirmei.

"Ele pode não controlar sua raiva muito bem, mas é muito inteligente e focado, ele sabe de algo, ou pelo menos tem grandes suspeitas" – Ele prosseguiu.

"Você também tem?" – A curiosidade levou o melhor de mim novamente.

"Um pouco, nada concreto, eu desconfiava da recém nascida de mestre Marcus, mas sinceramente, ela mal sai da ala, apenas para o jardim e a sala do trono, como ela iria fazer algo?" – Ele refletiu.

"Sim, algo em mim apenas não confia nela plenamente, mas isso pode ser porque não sei nada sobre ela, apenas o que foi dito, Aro está confiando em Marcus, ele nem ao menos leu os pensamentos dela" – Ele concordou.

"Não acho que seja o melhor, mas eu realmente o entendo, mestre Marcus veria isso como uma forma de meste Aro estar controlando novamente suas escolhas. Não que ele não faça isso, mas mestre Aro prefere a sutileza" – Ele sorriu e eu também. Manipulação, uma das táticas de Aro.

"Agora preciso ir, Sulpicia acompanhou Lady Athenodora até a ala da biblioteca então enquanto ela lê, Sulpicia vai escapar comigo por mais alguns minutos, precisamos rever algumas coisas" – Ele piscou para mim e eu revirei os olhos.

"Certifique-se de deixar um guarda com Lady Athenodora" – Eu aconselhei.

"Sim, sim, Renata deve estar lá com ela agora" – Ele falou por cima do ombro e saiu em disparada enquanto eu fechava a porta.

                               ***
Após a saída de Demetri optei por ler um dos meus livros para passar o tempo até que a manhã chegasse e eu fosse convocada para a reunião formal dos mestres onde debateriamos sobre o que aconteceu na América com mais detalhes e os mestres averiguariam se poderia haver outra situação parecida para que a erradicassemos antes. Eu já estava na metade do livro quando pensei ter ouvido algo no corredor. Fechei o livro e tentei ouvir mais atentamente. Silêncio. Depois de alguns segundos ouvi mais uma vez um sussurro e levantei pronta para perguntar o que estava acontecendo, mas quando abri a porta tudo o que vi foi a capa clara de algum vampiro cruzar o corredor, automaticamente eu entrei em ação correndo atrás do vampiro, aquela capa só era usada por vampiros que haviam se juntado recentemente ao nosso clã, Aro não me informou de novas adições e todos os vampiros que eram recém chegados estavam há corredores e mais corredores de distância, esse não era um deles. 
Corri mais rápido, mas não consegui seguir o vampiro, tentei sentir seu aroma ou ouvir seus passos, mas não consegui, isso me fez ficar ainda mais alerta, não era possível que não houvesse rastros para seguir, ele não poderia ser tão rápido. 
'Os rastros estão sendo cobertos' lembrei da fala de Demetri sobre os rastros que ele não detectava e gelei interiormente. 'Vamos Jane, pense' não precisei refletir muito sobre o destino do vampiro pois logo ouvi ao longe a porta pesada da biblioteca fechar. 'Sulpicia acompanhou Lady Athenodora até a ala da biblioteca' lembrei da conversa com Demetri e corri em disparada para a biblioteca 'vamos Renata, proteja ela' pensei enquanto corria mesmo sabendo que Renata pouco efeito teria em um vampiro que soubesse lutar, seu dom era de proteção, mas ela não era tão boa em ataques. 
Abri a porta da biblioteca com força suficiente para causar um estrondo, mas nada foi ouvido, suspirei com a cena à minha frente.
Lady Athenodora estava amordaçada e um vampiro musculoso a segurança pelos braços, seus olhos vermelhos embora frios, continuam terror absoluto, por mais que ela tentasse, não conseguia se soltar e seus braços já continham pequenas rachaduras por causa da força com a qual o vampiro a segurava, eu rosnei alto e estava pronta para usar meu poder com toda a força, mas antes que eu pudesse fazer algo, alguém me agarrou e me apertou contra seu peito, pude ouvir meu braço rachando pela força aplicada, muito semelhante a Lady Athenodora, meus olhos estavam sendo vendados e eu já não podia usar meu poder, lembro de ter visto Renata no chão, a cabeça separada do corpo. A última coisa que fiz antes que um deles colocasse meu corpo sobre um ombro e corresse para fora pela janela foi gritar alto o suficiente para ser ouvida do escritório de Aro.  
                                *** 
A primeira coisa que notei quando fui jogada rudemente contra o que só pude imaginar sendo uma parede, foi o cheiro adocicado no local, um cheiro quase familiar que me fez ter algum sentimento estranho de dejá vú, não era o cheiro de ninguém que eu conhecia, mas ao mesmo tempo, havia familiaridade nele.

"Jane?" – A voz de Athenodora me chamou em algum lugar à minha direita, me virei, mas não conseguia enxergar nada.

"Senhora, está bem?" – Perguntei preocupada, se algo acontecesse com ela, não haveria como parar Caius.

"Eu estou bem, as rachaduras já se restauraram e parece que as suas também, eu vou tirar sua venda" – Sua voz ficou mais próxima de mim e logo depois senti suas mãos puxarem a venda para que ficassem ao redor do meu pescoço e não mais sobre meus olhos. Olhei ao redor e vi que estávamos em algum tipo de sala retangular, não haviam janelas e toda luz do lugar provinha de algumas tochas que mal iluminavam.

"O que aconteceu na biblioteca?" – Perguntei depois de agradecer por ela ter tirado a venda, meus braços não pareciam se mover.

"Sulpicia me acompanhou até lá depois que eu disse que queria ler, Caius não havia dito nada sobre a segurança, então imaginei que não haveria perigo, pedi aos guardas para me deixarem ir apenas com Sulpicia, mas Renata acabou insistindo em estar lá, ela é quieta e geralmente fica fora para nos dar privacidade, então concordei, lembro de Sulpicia sair depois de me dizer que tinha algo a resolver com aquele guarda com quem ela sai" – Ela resmungou um pouco amarga e em outra situação talvez eu teria achado divertido, mas aqui não, eu estava em pânico, atenta, e preocupada, esperei que ela continuasse – "Pouco tempo depois lembro de Renata entrando na biblioteca, mas antes que ela pudesse me tocar para me proteger, um vampiro a parou, ela nem ao menos teve a chance de gritar, tudo aconteceu muito rápido, eu não pude fazer nada, eles eram 4, eles me amordaçaram e eu não consegui gritar já que estava recebendo muitas informações, eu não conseguia me concentrar nas coisas óbvias a se fazerem, depois você chegou e eu lembro deles segurarem as portas para não causarem barulhos e o resto você sabe" – Ela concluiu, seus ombros estavam um pouco caídos.

"Está tudo bem senhora, eles não foram detectados, encobriram seus rastros, seus cheiros, não havia como descobrir, nós vamos conseguir sair daqui e lhe dou minha palavra que irei proteger a senhora o melhor que posso" – Prometi tentando parecer calma e contida, pareceu funcionar porque ela relaxou um pouco.

"O que faremos agora?"

"Nós esperamos" – Respondi.

                              ***
Parecia que estávamos presas nesse mesmo lugar há dias, quando na verdade devem ter se passado apenas a
algumas horas. Lady Athenodora há muito já não se julgava capaz de permanecer sentada e atualmente andava ao redor da sala possivelmente tentando encontrar algo que pudesse nos dar uma dica de onde estávamos ou até mesmo uma brecha para a fuga.

"Não acho que estejamos fora da Itália, mas algo parece diferente" – Ela me disse após um momento de avaliação.

"Não parecia ter sido um longo caminho, mesmo com a nossa velocidade, não parecem ter se afastado muito" – Eu concordei enquanto observava o lugar – "Não reconheceu ninguém?"

"Não, eles estavam usando capas que recém adicionados à guarda usam, não senti seus cheiros" – O cenho franzido apenas parecia aumentar sua beleza.

"Os romenos" – Eu suspirei.

"Como eles teriam acesso ao castelo e às capas?" – Ela perguntou balançando a cabeça em quase descrença.

"Às vezes eu ainda consigo me surpreender com a estupidez de vocês" – Uma voz de sotaque carregado falou ao entrar no quarto onde estávamos, por puro instinto me levantei ficando ao lado de Lady Athenodora pronta para protegê-la.

"Vejo que a inteligência não parte da guarda, nem das esposas" – Outra voz com o mesmo sotaque disse humorada.

Eu nem ao menos pensei, quando vi Vladimir e Stefan, apenas reagi soltando um rosnado baixo e em apenas alguns segundos eu tinha Stefan caindo no chão aos gritos enquanto eu usava meu poder nele. O sorriso que eu abri ao fazê-lo gritar nem ao menos precisou de pensamento para aparecer em meu rosto, eu sorri como se estivesse finalmente tendo meu brinquedo preferido, e eu realmente tinha.

"Agora, não vamos nos precipitar não é pequena bruxa?" – O rosnado que Vladimir deu não me fez nem ao menos hesitar em continuar provocando gritos em Stefan, mas quando escutei a voz de Lady Athenodora sussurrar meu nome, eu automaticamente desviei o olhar.

"Soltem ela" – Eu falei no meu tom mais perigoso. Lady Athenodora estava agora sendo contida por dois vampiros fortes que mais pareciam versões de Félix menos civilizadas, seus braços eram segurados pelos vampiros e Vladimir parecia pronto para ir até ela e acabar com isso. Eu rosnei ainda mais com isso.

"Então temos um trato, bruxa, você não nos toca, nós não tocamos em vocês... ainda" – Ele riu.

"Solte-a" – Eu falei e podia praticamente sentir meus olhos escurecendo. Stefan levantou do chão com a ajuda de um dos vampiros que entraram na sala e agora me olhava com raiva, mas apenas um olhar para ele o fez tremer, 'maldito covarde'. Lady Athenodora rosnou quando foi jogada para o meu lado e eu segurei seu braço para a firmar.

"Tragam nossa querida menina para cumprimentar as... damas Voturi" – Vladimir sorriu e um dos seus servos saiu. "Espero que gostem da companhia, ela provavelmente poderá explicar tudo com mais clareza" – Seu rosto nojento foi a última coisa que vi antes de todos saírem da sala e nos deixarem só novamente.

"De quem ele está falando?" – Lady Athenodora me perguntou.

"Eu imagino, mas espero pela primeira vez estar errada" – Disse sombriamente. Quão certos todos nós estávamos?

                               ***
Segundo dia. Contei mentalmente. 
O ar havia mudado, parecia que por trás dessas portas, havia alguma sala com janelas já que pude ver claramente por baixo da porta pesada os indícios de luz solar. 
Lady Athenodora parecia perdida em pensamentos desde os eventos algumas horas atrás, ela parecia se esforçar para manter a compostura, acredito que ela nunca tenha passado por uma situação tão humilhante antes, mesmo estando com os Volturi desde o começo.

"Eu sinto muito, senhora, era meu dever protegê-la, não deveria estar passando por isso" – Falei no meu tom de sempre, mas com sinceridade brilhando nos olhos.

"Você não sabia" – Ela simplesmente disse e eu assenti, parecia que ela não queria prolongar nenhuma conversa. Lady Athenodora e eu nunca fomos de nos falar, principalmente depois que os romances entre Sulpcia e Demetri, Aro e eu aconteceu. Me escolhi ao pensar em Aro. Fechei os olhos para dissipar esses pensamentos, eu não podia fazer isso, tiraria meu foco. "Eu deveria ter continuado naquela maldita torre sob o poder de Corin"

Olhei para ela, seus olhos estavam vidrados, senti simpatia por ela. 
"É sua casa senhora, é seu direito andar por ela, além disso, como a senhora disse, não sabíamos" – Eu falei calma.

"É minha casa, mas não posso andar por ela. Caius e eu já havíamos conversado sobre isso, sei que é para minha segurança, mas nunca quis ficar trancada, eu sei o que Corin faz, sei que me mantém satisfeita, agora sem seu poder em mim, vejo que não estou satisfeita, não tenho nem a liberdade de ir até Caius, eu não sou de porcelana... ou talvez seja" – Ela disse apática, mas eu entendi. Ela se sentia fraca por ter sido pega, por não ter conseguido escapar.

"Eu sou uma guarda desde que abri os olhos para a imortalidade, senhora, eu estive em batalhas com os mestres, eu lutei em muitas delas, meu poder sempre foi ofensivo, eu sempre o usei, sou chefe da guarda, mas me encontro na mesma situação, estou presa, fui capturada, não é fraqueza, dessa vez não tínhamos como escapar, a ameaça não parecia mais existir, estavámos atentos, mas dessa vez lutamos contra o invisível, não havia como escapar" – Eu disse olhando para seu rosto pálido, seu cabelo dourado caia por um dos ombros deixando parte do rosto escondido.

"Caius ficará furioso, pobre Sulpicia, não quero que se sinta culpada" – Ela fechou os olhos com uma expressão quase triste.

"Mestre Sulpicia, como nós, não sabia dos perigos que nos rondava, ela teria lutado para protegê-la" – Eu disse. Sulpicia e Athenodora estavam há muito tempo entre os Volturi, quando tivemos nossa conversa privada há alguns meses e mestre Sulpicia me falou sobre ela, eu pude sentir o laço que elas tinham, eram como verdadeiras irmãs.

"Você ainda a chama pelo título? Engraçado, você será chamada dessa forma em algum tempo caso saíamos vivas desse lugar, não é? Ela não lutará contra isso, tudo o que quer é estar com aquele guarda" – Ela disse com rancor enquanto me encarava.

"Nunca tive a oportunidade de disse-lhe isso, mas eu nunca tomaria o lugar dela, nunca a reduziria a menos do que é" – Minha voz soa cansada.

"Não? Não pretende mais estar com Aro, então?" – Ela levanta a sobrancelha.

"Sim, eu pretendo estar com ele, não poderia continuar existindo afastada agora que sei como é estar assim, mas meu lugar é e sempre vai ser protegendo os Volturi, não trancada, sem ofensa" – Fiz uma careta, mas ela não pareceu perceber e apenas riu incrédula.

"Sua ingenuidade me assombra, de fato. Estamos falando da mesma pessoa?" – Ela ri mais um pouco e eu a olho com o rosto em branco – "Aro é um homem ambicioso, minha querida, especialmente faminto por poder, ele nunca deixaria que sua fraqueza andasse por aí sem proteção, mesmo sendo uma pessoa tão poderosa como você. Se sairmos daqui, nada será o mesmo, nossa segurança foi comprometida, se achava que ele era protetor antes, agora ele será insano,  não me surpreenderia se ele a acorrentasse nunca sala e fizesse Corin te anestesiar para sempre" – Ela sorriu balançando a cabeça.

"Eu não aceitaria, eu preferia me destruir, senhora" – Eu afirmei.

"Como se ele fosse permitir" – Ela me olha como se eu tivesse apenas dito a coisa mais absurda do mundo. "Mas eu também não me admiraria se ele cedesse a você, o laço de companheiro iria pressionar ele, talvez você vá ter que equilibrar as coisas" – Ela refletiu e eu ccongelei.

"Companheira?" – Meu sussurro soou trêmulo entre nós.

"Você não sabia?" – Ela revirou os olhos como se não acreditasse, mas acho que meu rosto e olhos mostraram o espanto, ela cedeu. "Oh... você não sabia"

"Como soube disso, senhora?" – Perguntei ainda espantada. Eu sabia da intensidade dos meus sentimentos, o experimentei por muito tempo ao longo do meu milênio, também imagino que sejam correspondidos nesse quesito, mas um laço de companheiro? Lembrei, então, dos primeiros dias em que tudo começou a acontecer, o dia em que fui até mestre Marcus em busca de descobrir os laços de Aro para ter algum norte no que ele poderia estar sentindo, mestre Marcus nunca me disse.

"Marcus, Caius e o próprio Aro sabem disso, descobriram pouco antes de você partir para a América, Marcus já tinha desconfiança, é claro, mas precisou de tempo para identificar tudo, Aro é instável" – Ela riu como se lembrasse de algum episódio.

Essa era a explicação então para tudo, as dores que sentia quando ele falava de Sulpicia, o pavor ao imaginar que ele estava em perigo, não era só minha fidelidade como guarda e o meu amor, um laço estava nos unindo, um laço poderoso. Eu sorri, mas minha expressão escureceu ao pensar no que ele poderia estar passando agora, apertei meus dedos um pouco aflita.

"Caius e ele devem estar a ponto de destruir qualquer coisa que eles pensem estar relacionada a esse evento. Eu posso imaginar o quanto ele está sentindo" – Ela sussurrou quase com dor e eu inconsciente massageei o local onde um dia meu coração havia batido.

"Eles nos encontrarão senhora, sairemos daqui, e eu não vou deixar que nada a toque, eu posso não ser a pessoa que mais quer aqui, nem ao menos posso chegar a ser o que Lady Sulpicia é para a senhora, mas acredite quando eu digo que não vou deixar que a machuquem, nem que a humilhem" – Eu senti a vontade de protegê-la, ela não merecia passar por algo assim, e fiz uma nota mental para um dia quem sabe, convencer os mestres a deixá-la livre da torre. Ela assentiu e sorriu pela primeira vez com sinceridade.

 


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