O dia de partir chegou mais cedo do que esperávamos. Demetri, Félix, Alec e eu estávamos planejando ir para a America em uma semana, mas súbitos eventos nos fizeram mudar de ideia.
Recém nascidos estavam a solta novamente, não sabíamos quantos, mas era um número superior ao que havíamos encontrado antes - pelo menos é o que conseguimos descobrir com os contatos nômades que haviam passado por lá recentemente. Segundo eles, os recém nascidos estavam organizados o suficiente para que deduzissem que estavam em algum tipo de missão. Com essas novas informações obtidas e confirmadas, resolvemos antecipar a viagem.
"Está tudo pronto?" - A voz de Alec me despertou do meu momentâneo devaneio.
"Sim, está tudo pronto. Onde estão os outros?" - Eu perguntei olhando o corredor. 
"Estamos bem aqui" - A voz de Demetri chegou até mim enquanto ele parava ao meu lado com Félix.
"Bom, precisamos avisar aos mestres da nossa partida" - Alec falou por sobre os ombros enquanto começava a caminhar em direção a sala do trono. Enquanto fazíamos nosso caminho em direção aos mestres em um silêncio um pouco desconfortável, eu percebi o quão devagar estávamos realmente indo. O ritmo em que andávamos poderia ter sido facilmente acompanhado por um ser humano, isso apenas servia para solidificar a minha tese sobre o quão hesitantes estávamos sobre tudo isso. Não se tratava apenas de uma missão para encontrar pistas sobre um possível desrespeito a autoridade e regras dos Volturi, era sobre a segurança de todos nós que estávamos pensando, das pessoas que nós tínhamos laços, da família. Se falhássemos de algum modo durante os quatro dias que passaríamos na America, se houvesse alguma falha em quaisquer esferas, colocaríamos todos em riscos aparentemente mortais. A responsabilidade quase me fazia ofegar. 
Ao entrarmos na enorme sala, os mestres já estavam em seus respectivos tronos notavelmente compostos e imparciais, para todos aqueles que ousassem olhar fixamente para algum ou todos eles, veriam apenas a fachada há anos construída de uma falsa tranquilidade, seus rostos frios e neutros não deixando brechas para que a tempestade em seus olhos escuros fosse visível. Eu me limitei a olhar para uma coluna qualquer da sala, intimidada demais com a consciência da importante tarefa e - a contra gosto admitindo a mim mesma - o medo do que poderia encontrar se desviasse meu olhar para o rosto de algum deles.

Era difícil saber que estávamos partindo, mesmo que por um curto espaço de tempo, olhar para todos - especialmente Aro - enquanto nos preparávamos para ir não era a coisa preferida de nenhum de nós. 
Paramos no meio da enorme sala enquanto esperávamos pacientemente - ou não - alguma iniciativa de Aro em falar. Depois do que pareceu uma eternidade de um silêncio perturbador, ele se levantou. 
"O objetivo dessa pequena visita a America é bastante simples. Eu quero que tragam o maior número possível de informações sem que isso coloque o nome dos Volturi em evidência ou outros podem encontrar nisso a desculpa perfeita para apontarem que temos associação com os eventos. Se os recém nascidos representarem algum problema, elimine-os, mas quero respostas, principalmente o nome por trás da criação desse pequeno problema" - A voz suave de Aro mascarava completamente sua aflição pela situação atual. Aro estava tão hesitante quanto nós, mas sendo o líder, era quase sua obrigação manter as aparências e principalmente o controle da situação - mesmo que ele ou nenhum dos outros o tivesse. Ele não podia alarmar os outros, essa - em sua opinião - era uma fraqueza e ele nunca a admitiria. E o que diriam os outros? Os grandes Volturi não conseguem lidar com um grupo de recém nascidos? Aro beberia sangue de animais antes de deixar seu poder e status serem questionados. 
Era um jogo perigoso. Tudo calculado. Tudo sobre manter as aparências.
O fato na verdade era que ninguém estava completamente seguro do que estava acontecendo, isso tornava o jogo mais fácil, mais manipulável, pelo menos para aqueles que não estavam diretamente ligados com os acontecimentos ou não tinham acesso a todas as informações, tudo o que sabiam eram boatos. Não havia certeza em boatos. Mas nós sabíamos melhor. Era tudo sobre aparência. 
"Sim, senhor" - Nossas vozes foram ouvidas juntas. 
"Não quero nenhuma exibição desnecessária, nem aos recém nascidos, nem aos Cullen. Façam o que for necessário e apenas necessário" - Aro pontuou. 
"Entraremos em contato com os Cullen para averiguar se sabem algo a respeito dos incidentes?" - Demetri perguntou. 
"Apenas se for uma questão necessária que interfira diretamente com a situação" - Aro voltou ao seu trono e sentou-se. Ele estava a todo custo evitando meu olhar e até mesmo o de Alec, sua forma imponente não deixava transparecer nada. 
"Vocês podem ir" - A voz fria de Caius ordenou e imediatamente meus olhos encontraram os de Aro. 
Seus olhos rapidamente se suavizaram e por um momento sua postura se tornou mais rígida, seus olhos transmitiam toda a sua relutância em me deixar ir, assim como sua ainda existente raiva por o fazer tomar essa decisão. Eu sorri para ele da forma mais discreta que consegui e ele tentou sorrir de volta. 
"Até mais, Mestres" - Muito embora eu tenha abrangido todos na minha despedida, apenas o sorriso de Aro se tornou mais profundo. Era uma confirmação de que eu estaria de volta e por um minuto isso acalmou seu coração relutante.
***
A viagem até a América foi tranquila, quase nenhum som foi feito, nenhuma palavra trocada, estávamos todos imersos em nossos mais profundos e delicados pensamentos. 
Ao chegarmos ao nosso destino, já era noite. 
"Precisamos ir, quanto mais cedo verificarmos, mais cedo voltaremos para casa" - Eu me adiantei, indo em direção a cobertura de um prédio para dar a primeira observação da área, sem muitos resultados. 
"Demetri" - Eu chamei suavemente e ele prontamente começou a usar seu poder para rastrear. 
"Por ali" - Ele apontou e o seguimos até chegarmos a uma rua deserta onde se agrupavam algumas pessoas, sutilmente subimos em outro prédio para termos uma vista mais abrangente. 
"São recém nascidos, o cheiro é muito similar ao que eu senti em Volterra" - Demetri informou e eu concordei. 
"Iremos observar por algum tempo, precisamos saber do que estão atrás" - Eu declarei os olhando. 
"Não deveríamos informar a Aro? Os recém nascidos estão aqui, indefesos, suas ordens foram expressas, acabamos com os recém nascidos, trazemos informações" - Felix se pronunciou e eu o encarei. 
"O que você quer, Felix?" - Alec se pronunciou. 
"Não colocamos Jane como líder, vamos apenas efetuar o que Aro ordenou e ir embora" - Ele deu as costas e eu sorri. 
Os ombros de Felix ficaram rígidos e sua cabeça caiu para trás enquanto seus olhos se fechavam com força ao sentir a dor dilacerando seus membros. 
"Iremos fazer como eu disse, Aro confia em mim" - Eu declarei suavemente enquanto o deixava cair no chão. Voltei meus olhos para a cena abaixo. 
"Por enquanto, deixei-os se divertirem, amanhã iremos agir, amanhã iremos descobrir exatamente o que estamos procurando"
Todos concordaram dessa vez.