P.O.V Pietra

Meu despertador toca as seis da manhã, mas eu já estava acordada desde muito antes, ou melhor, correção: eu não dormi. Tudo graças a um maldito filme de terror desgraçado de brinquedo assassino. Por que raios eu tinha que ter logo uma replica do Chucky, o brinquedo assassino mais famoso, logo no meu quarto?! Levanto-me e mesmo sendo seis horas o céu ainda não estava lá muito claro então acendo a luz e escondo o Chucky no meu armário. Vou me arrepender disso daqui a pouco. Corro até o banheiro e arrumo meus cabelos que agora são azuis. Sim, são azuis. O local da minha boca onde eu tinha colocado meu piercing ainda estava dolorido.

Faço minha higiene pessoal e volto para o meu quarto. As paredes que a cinco anos atrás agora eram pretas, mas mesmo assim estavam escondidas atrás de vários posteres de bandas e fotos minhas com meu irmão Noah, minha mãe, e algumas fotos com minha duas melhores amigas: Samanta e Jessica. Abro meu armário e levo um susto com a replica do Chucky que estava virada em minha direção com um sorriso sinistro e uma faca na mão. Mas suas cicatrizes são o que mais lhe dão uma aparência sinistramente maligna. Eu sabia que eu iria me arrepender de tê-lo colocado em meu armário. Tiro ele de lá e o escondo dentro do baú de baixo da cama onde estão minhas antigas bonecas Barbie, orando para que ele não ganhe vida e tente me matar por tê-lo colocado ali.

Visto minha calça jeans rasgada, minha camisa do Ramones e calço meu all-star preto. Pego minha bolsa — mochila para os íntimos — e desço as escadas tentando fazer o mínimo de barulho para não acordar minha mãe que estava adormecida em seu quarto, já que seu trabalho a dera uma folga hoje. Como fui beijada pelo azar e fui abraçada pelo desastre, acabei batendo o pé na parede, me curvei enquanto urrava de dor.

— Está tudo bem, Pietra?

Noah, meu irmão de catorze anos, me olha mais humor que preocupação. Seus cabelos castanhos estavam compridos e quase alcançavam seus ombros. Ele tinha lindos olhos âmbar como os do meu pai.

— Vê se meu pé ainda está preso a minha perna!

Ele me analisa enquanto eu jogo a cabeça para trás e resmungo.

— Ai meu Deus! — ele exclama e eu o olho extremamente preocupada e assustada — Você é tão idiota! Tire o tênis e veja como você é boba você mesma.

Mostro a língua e ele dá de ombros.

— Você vem? — ele pergunta.

— Estou indo.

Saímos de casa e esperamos passar o ônibus. E então lá vem ele. Não o ônibus, Christopher. Os pais dele não gostavam nem um pouco da minha mãe. E meu pai morava em outro estado desde que se divorciou da minha mãe para viver com uma ex-prostituta loira peituda.

Christopher tem a mochila apoiada em um só ombro enquanto arruma seus cabelos negros. Ele usava uma regata preta com a palavra Disorder escrita em letras brancas, jeans e all-star preto.

Meu Deus, ele nunca deixa de ser lindo. Por que eu nunca deixei de amá-lo depois desse cinco anos? Ou melhor, por que ele nunca pode nem se quer gostar um pouquinho de mim depois de tanto tempo? A vida era realmente cruel. Mas quem sabe um dia eu possa fazê-lo gostar de mim.

Chris tem dezoito anos e fiquei sabendo que ele repetiu e agora vai fazer o terceiro ano do ensino médio no meu colégio. Eu estou no segundo ano, mas meu jeito meio nerd faz com que eu seja um pouco avançada então eu normalmente mato aula.

— E aí... — por incrível que pareça não fui eu quem falou isso, e sim Noah.

Christopher simplesmente acena.

— Oi. — tento.

Ele me oferece um meio sorriso. Só isso? Isso me machuca por dentro, mas estou tão acostumada que nem ligo mais.

O ônibus chega e Christopher é o primeiro a entrar. Ele se dirige até a parte de trás do ônibus enquanto várias meninas olham para ele com cobiça. Um ódio delas cresce em mim e me sinto disposta a arrancar os olhos de cada uma como o boneco do filme que eu assisti. Sento-me no meio do ônibus e Noah senta-se ao meu lado, no canto da janela.

Alguns minutos depois entra Kiara, a detestável. Com seus cabelos loiros que atingiam a cintura, enquanto os meus não passavam dos ombros. Seus olhos esverdeados olham com desdém, não só para mim, mas sim também para quase todos, exceto ele: Christopher. Os meninos olham para garota com cobiça, exceto ele novamente: Christopher. Ela anda até o fundo do ônibus e senta-se ao lado dele. Pouco a pouco percebo-o se interessar pela garota. Que ódio! Por que não eu? Por que logo ela?

Chegamos no colégio que de pequeno não tinha nada.

Duas garotas de rosto idêntico, uma loira e uma morena, acenam animadamente para mim: Samanta e Jessica. E sim, ela são gêmeas. Sou a última a descer do ônibus.

— Pink! — exclama Sam enquanto me abraça.

Digamos que o apelido se originou por eu ter as conhecido quando eu ainda estava na minha fase cor de rosa.

— Sammy!

Bagunço seus cabelos loiros de implicância.

— Fala aí, Pink. — diz para em seguida me abraçar.

— Jessie! Como vocês estão? Quero as novidades!

Samanta ri, e Jessica a ignora.

— Adorei o azul do seu cabelo, melhor do que o verde.

— Concordo. — diz Sam para completar sua irmã.

— Ninguém pediu para que você concordasse. - diz Jessica rudemente.

Elas estavam se estranhando hoje, e normalmente elas não eram assim. Com certeza algo aconteceu e eu, como sempre, estava lá para reconciliar as duas.

— Anda, desembuche o que houve.

Elas se entreolham e Samanta começa:

— Lembra do Craig, aquele gato tudo de bom? — assinto — Ele estava namorando a Jessica e eu não sabia, eu tinha uma quedinha por ele desde a sétima série, e eu não sabia que ela e ele estavam juntos e que ela também gostava muito dele, e então eu acabei ficando com ele, mas eu juro que eu não sabia!

— Não minta, Sam. Eu sei que você sabia, você fez isso só porque eu quebrei o seu perfume favorito.

Samanta fica estática.

— Foi você que quebrou o meu 212!

— Você não sabia?

— Não! - ela exclama, atraindo a atenção de aluns novatos que passavam por nós — Eu achei que eu mesma tinha quebrado!

Jessica fica sem graça.

— Chega, meninas. Resolveremos isso depois. Agora, eu acho melhor irmos pegar nossos horários antes que no atrasemos.