Eu não estava entendendo o que estava acontecendo, uma pequena confusão se instalou entre nós e logo me vi sozinha, mas não demorou muito até Sam voltar para me buscar e me arrastar até a entrada do banheiro feminino. Sam parecia se decidir se devia ou não me contar algo, e como a Sam é a Sam, óbvio que não resistiu. Admito fiquei um tanto cética a princípio.

— O que está havendo? — pergunto.

Ela hesita.

— Não sei se devo...

— Tudo bem, eu...

— Ah, não consigo! Você não vai contar para ninguém, vai? — Ela me interrompe.

— Eu...

— Tá. Vou contar — interrompe ela novamente. — A Constance, ela tem um problema... A gente conheceu ela graças a um amigo em comum, e ela, bem, não conseguiu esconder da gente...

— É doença? Grave?

Ela hesitou novamente.

— Em parte sim, ninguém sabe ao certo, o caso dela é um mistério. Nenhum médico conseguiu achar nada de errado nela, quando obviamente há algo errado.

Já não me aguentando mais de curiosidade faço a pergunta decisiva.

— O que ela tem?

— Sangue.

Reviro os olhos.

— Eu também tenho.

— É sério, Pietra, ela tem muuuuuuito sangue. Ela começa a sangrar de repente e se formos ver pela quantidade de sangue que ela perde toda vez que isso acontece, sinceramente, já era para ela ter morrido. E não tem explicação.

— Há muitas doenças raras no mundo.

— Mas a dela é... Raríssima. Só acharam três casos, isso contando com ela. Fora que não há nome, explicação ou qualquer informação adicional. É um mistério!

Ela parece reparar o ceticismo em meu olhar.

— Não acredita? Siga-me.

Ela nos leva para dentro do banheiro feminino onde Constance lavava o nariz, agora avermelhado. Jessie a ajudava com pedaços de algodão e água.

— Sam, eu achei ter tido para você ficar lá fora.

Sam abre a boca para falar mas é interrompida por Connie que tenta passar tranquilidade a mim, principalmente.

— Ah, isso é porque eu levei uma bolada hoje no nariz, na aula de Educação Física, e meu corpo demora a reagir, eu acho... — Ela diz com um sorriso.

— Ela sabe — Sam, ousa.

— Eu sabia que não devia deixar você sozinha!

— Jessie, tudo bem — intervém Connie. — Tive um dia estressante, não tinha.. jeito.

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Constance é uma garota legal, apesar de ter pessoas no seu pé o tempo todo e ser toda problemática, digamos assim, ela encara seus problemas, e eu invejo isso nela. Encarar Craig naquela noite foi um desafio para mim. Eu me sentia envergonhada, perdia a fala e me encantava com ele.

— Oi, azuladinha — ele me cumprimenta e me dá um beijo na bochecha. Avermelho imediatamente. Ele nota. Eu me ferro. — Se ao invés de azul, seu cabelo fosse vermelho, seria difícil diferenciar pele e cabelo em momentos como esse.

Reviro os olhos ainda corada. A verdade é que eu não sabia o que é estar com alguém desse jeito, e não sabia como agir. Ficava cada vez mais constrangedor a cada segundo.

— Ei, você tá bem? — Ele tenta.

— Estou, só não estou acostumada com... — engulo em seco e com o dedo sinalizo nós dois — ... isso.

Ele finge se horrorizar dramaticamente.

— Nossa! Vou tentar não ficar ofendido — olho feio para ele, em sinal de reprovação. — Ei, relaxar, anjo — ele diz afagando meu braço. — Não mordo, quem morde é você. E depois de ver do que você é capaz, prefiro manter seus dentes longe da minha pele...

Não aguento, dou risada, logo estou mais tranquila.

— É, admito, aquele foi o meu momento.

— ... Mas eu planejo manter sua boca junto da minha. Pelo bem da população, claro.

— Ah, sim. Não queremos ninguém machucado aqui. Pelo bem da população.

— Pelo bem da população.

E assim ele junta nossos lábios, não me deixando pensar em nada mais do que ele e eu e como juntos tudo parecia certo.