Abro o olhos rezando para que tivesse sido tudo um sonho. Mas não. Ainda estou preso em um pesadelo. Repito o processo rezando para que em uma dessas vezes eu abra os olhos eu esteja em casa. Meu pesadelo. Não há quem possa me salvar e ninguém me salvaria. Estou em um beco sem saída. Tenho que convencer Kiara de minha inocência ou então fugir. Mas há correntes em meus pés, me prendendo a esse pesadelo sem fim.

— Kiara, eu te juro, eu não tive a intenção de ferir Timmy!

Ela me olha com fúria, vejo que não acredita em minhas palavras. Noto uma chavezinha em seu pescoço.

— Calado, seu acéfalo! Bastardo maldito! — ela cospe cada palavra.

Não há o que fazer a não ser ficar em silêncio. Meu estômago clama por comida, reivindicando fazendo ruídos estranhos.

— O cachorrinho está com fome? — ela é uma psicopata! — Calma, um instante que eu vou pegar comida para o meu vira-lata vagabundo!

Ela sai. Olho em volta. A mesa de instrumentos cirúrgicos não está muito longe. Tento me aproximar. Com a pontas dos dedos tento me aproximar de qualquer objeto pontudo. Ela chega antes disso. Tento disfarçar e ela está entretida demais com meu sofrimento para notar minha tentativa de liberdade.

— Aqui está. — ela taca para mim um vasilha de cachorro com... Ração — Oh, é a água do cachorro.

Ela sai novamente. Tento novamente me aproximar da mesa de instrumento cirúrgicos. Mas não consigo pegar nada. Ela volta. Disfarço, mas desta vez ela nota.

— Aqui está, totó. — ela diz tacando um pote de água no chão e derrubando mais da metade na queda. — Água direto da privada! Sua favorita! — ela diz com um sorriso psicopata e os olhos viajavam em sua própria criação. Ela afasta a mesa cirúrgica e pronuncia "Tsc Tsc Tsc" para mim.

Viro uma das vasilhas e jogo a outra longe.

— Desgraçado! Vai ficar em comer e beber nada hoje de castigo! Onde já se viu! Acostume-se, amor, agora você é meu brinquedo.

Ela ri e aproxima-se para pegar a vasilha. Minha oportunidade. A puxo para mim. Ela cai. A prendo com a corrente que prende meus pés. Ela começa a praguejar:

— Desgraçado! Bastardo inútil! Eu vou acabar com você! Me-Solta!

Puxo a chavezinha de seu pescoço e tento abrir a corrente de meus pés.

Não abre.

— NÃO ABRE! — grito.

Ela ri. Sua risada vai crescendo. Risada de doida varrida.

— Acha mesmo que seria assim, tão fácil? Acha mesmo que eu ia facilitar para você? Está se iludindo, amor.

Ela está começado a me irritar.

— Pois eu posso te matar aqui e agora! — exclamo exaltado.

— Não. — ela diz. — Não pode, e você sabe que não. Se eu morrer, você ainda estará preso, e sem a chave que pode te libertar. Você vai poder gritar, espernear e até mesmo enlouquecer, mas só terá aqui com você um cadáver. Você sabe no fundo que eu sou sua chave.

Ela tem razão. Não há o que eu possa fazer. Só há mais uma coisa que eu possa fazer: tentar tocar seu coração.

— Kiara, olha, eu sei que eu fiz coisas horríveis a você, que não impedi que a vida do pequeno Timothy fosse destruída. Eu sei. Ainda sou atormentado com as imagens do que eu não pude evitar. Eu realmente me arrependo e seu eu pudesse mudar o passado...

— Não pode. — ela me interrompe. Ainda a mantenho presa comigo. Sinto lágrimas descerem de seus olhos. —

— Eu sei que não. Mas eu não queria que as coisas chegassem a esse ponto. Entendo sua raiva. Entendo de verdade. Por favor, perdoe. Timmy não gostaria que você perdesse sua vida assim, em uma vingança tola. Deixe o passado no passado.

Sinto suas lágrimas aumentarem.

— Eu sei, ele... Não ia... Desculpe! Eu... E-eu não sei o que estou fazendo! — ela chora.

— Calma, não tem problema. Só me solte e vamos acabar com isso. Vamos esquecer tudo. Tudo bem?

Ela chora cada vez mais.

— T-tudo bem... Eu vou pegar a chave...

A solto e ela se levanta lentamente e caminha até perto da mesa de instrumentos cirúrgicos. Ela então tira de dentro do sutiã a chave. Ela começa a rir.

— D-d-d-de-des-desculpe Chris! — ela zomba. — Idiota! Achou mesmo que ia dar certo? E como ousas falar que Timmy não ia querer isso? Timmy não pode querer mais nada por SUA causa! Ela não pode mais andar... Não pode mais falar... Mal pode respirar! Ele não é mais o Timmy! E a culpa é sua! Desgraçado! — lágrimas descem de seu rosto a todo momento. — E aqui está seu castigo.

Ela pega a chave, a minha chance de liberdade, e a engole. Grito. Ela ri.

— Você não vai a lugar algum. — Ela diz, pela primeira vez me olhando friamente, com um olhar superior. — Nem hoje, nem nunca mais. Você está sendo julgado por seus crimes. Eu sou a juíza aqui. Eu sou a lei. E eu te condeno a prisão perpétua, comigo, para nunca se esquecer que não se pode brincar com fogo se você não tiver 100% de certeza de que não vai provocar um incêndio e queimar inocentes por acidente.

Nunca a temi tanto. Por tanto tempo temi Pietra enquanto a julgava psicopata. Agora que eu conheço o que é uma psicopata de verdade estaria disposto a beijar os pés de Pietra se fosse possível! Será que há mais alguém além de Kiara querendo me matar?

— Ah, antes que eu me esqueça, em breve você terá amiguinhos para te fazer companhia aqui! — ela diz com um sorriso de orelha a orelha.

Fica cada vez melhor.