7Things escrita por Ero Hime


Capítulo 1
I Hate


Notas iniciais do capítulo

Apenas um projeto antigo que eu resolvi finalizar. Inspirado em uma das melhores músicas da Miley Cyrus, escutem, é muito boa. Espero que gostem. Como viram pelo título, vou fazer os dois lados :)
Inteiramente dedicado a Bruninhazinha. Minha nii-san por longos dois anos. Nos conhecemos aqui, porque eu era uma grande fã de suas fics *risos*
Eu ainda lembro, Bruna. E ainda te suporto. Obrigada por tudo. Não penso em outra maneira de te agradecer o quanto você merece. Aishiteru, nii-san.



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Eu provavelmente não devia dizer isso
Mas as vezes eu fico muito assustada […]

7 Things (Miley Cyrus)


Sabe, a vida é engraçada. Não como uma metáfora dos livros, a vida é realmente engraçada. Cada dia é como um episódio novo a ser descoberto, e estamos sempre correndo atrás de alguma coisa. Escola, estudos, trabalho, diploma, dinheiro. O ônibus. A pessoa que te deve. Não importa o que, sempre correremos atrás de alguma coisa. Particularmente, inconscientemente não corremos atrás da única que realmente importa em todo esse livro e capítulos indefinidos: a felicidade.

Ela pode ser um dia de chuva. Torrencial, relâmpagos, sem energia elétrica. A família reunida na sala, conversando, rindo. Isso é a felicidade. Uma flor roubada no canteiro da vizinha, entregue pelo namorado em uma manhã qualquer. Isso é a felicidade. Descobrir que o seu bebê é uma menininha, isso é felicidade. Sempre está nas pequenas coisas. Ou nas grandes, nunca se sabe.

Eu era feliz. Quer dizer, não completamente. Eu tinha uma família bagunçada, que trabalhava muito, e uma irmã rebelde. Eu tinha minhas melhores amigas e um namorado distante, que não deu certo. Eu cresci na margem, sempre na beira, sempre levando. Está tudo bem, okay, claro, sim, ótimo. Sempre aceitando, sempre pacata. Eu achava que era feliz. Eu tinha de tudo que alguém poderia querer nessa vida.

Menos a felicidade.

Ela veio turbulentamente, em uma festa chata. Pessoas chatas, músicas chatas, bebidas ruins e algumas cantadas baratas. Lá estava ele, parado, com sua jaqueta laranja e um sorriso cativante. Minha felicidade acabara de chegar de outro país. Milionário, desejado e invejado por todos. Ele se interessou pela garota menos interessante do lugar (mesmo ele sempre dizendo que eu era a mais estonteante entre todas as mulheres). Os dias passaram, e eu me sentia satisfeita. Eu estava feliz. Finalmente, depois de tantos anos. O tempo passou tão rápido que eu nem reparei. Quando vi, puf! Apaixonada.

Eu me apaixonei irremediavelmente por Uzumaki Naruto.

Não que eu pudesse culpá-lo em algum momento. Como não se apaixonar por ele? Não havíamos sido apresentados por nossos amigos, mas ele sabia exatamente meu nome. Destino, talvez. Eu não sei. Talvez nunca chegue a saber.

Com a paixão, vem o amor. Forte, inquebrável. Éramos como duas peças que se completavam. Inteiros, perfeitos. Ele era tudo que eu sequer imaginava nos meus mais loucos e impossíveis devaneios.

Mas havia a convivência, claro. Ninguém é perfeito. Sempre que eu paro para pensar sobre isso, reflito sobre o quão sortuda eu pude ser. Mas paguei um alto preço por isso. Vejam, eu amo Naruto. Céus, como eu o amo! Acho que nunca amei ninguém como ele, e nunca vou amar novamente. Mas, ele tem seus defeitos. E não poderiam ser piores! De qualquer maneira, cheguei a uma conclusão, depois de pensar muito. Há uma pequena lista com as 7 piores coisas que eu odeio em Uzumaki Naruto. Haveriam mais, ah sim, com certeza. Mas eu sou apenas mais uma garota apaixonada por seu príncipe encantado para enxergar além disso.

Estamos juntos a mais tempo do que eu posso contar. Alguns anos, talvez. Éramos muito novos, e todos sempre perguntavam se era aquilo que queríamos mesmo. Minha resposta nunca foi outra: sim. Sim para tudo. Sim para Naruto. Minha vida foi incompleta até sua chegada, e eu pretendo morrer ao seu lado. Claro que viver uma vida sem ele ao meu lado era demasiado doloroso apenas de pensar na mínima hipótese, mas, tenho que ser justa. Eu daria graças de poder me livrar de algumas coisas.

Aqui vamos nós.

7 – Impaciência.

Um caso sério, admito. Nunca conheci alguém tão impaciente, por Deus! Chega a ser quase doentio, como uma espécie de bactéria e toma conta de sua mente e vai dominando-o lentamente, gradativamente.

Uma de minhas teorias, entre tantas outras, seja que ele nasceu com seis meses.

Sempre foi assim, desde o princípio. Minha tão amada sogra – que Deus a abençoe – me revelou algumas histórias incrivelmente engraçadas, se não fossem, antes de tudo, inacreditáveis! Naruto tem um problema sério com a frase “Espere um pouco”. Para ele, é como se o mundo fosse acabar no próximo segundo. Tudo tem que acontecer milimetricamente no horário certo, como se o relógio fosse uma bomba que explodisse assim que alguém atrasasse. Ele começava a resmungar, chatear e ser insuportavelmente irritante, até que todos chegassem. Depois, começava um discurso recém-preparado para casos como aquele, sobre como cumprir horários era importante e como ter responsabilidade era um fator importante para o caráter.

Sinceramente, eu tinha vontade de largá-lo naquelas horas. Quem sabe calá-lo com uma maçã ou cortar sua língua fora. Não que eu fosse uma pessoa violenta, longe disso.

Foi assim na primeira vez que nos vimos – oficialmente. É claro que nós brigamos. Vivíamos em pé de guerra, e Naruto nunca foi uma pessoa fácil de lidar. Tínhamos dado um amasso na noite anterior, ambos bêbados e intolerantes. Eu nem sabia quem ele era, óbvio! Apenas o chamei de olhos azuis. Qual foi minha surpresa quando o vi parado diante da casa de minha melhor amiga! Iríamos passar o dia em sua casa de praia – uma vez que ser cercada de mordomias do mundo dos negócios e do dinheiro proporcionava alguns benefícios aproveitáveis. Ele estava lindo com aquela bermuda branca, realçando sua pele sempre perfeitamente bronzeada.

Mas, obviamente, minha surpresa e alegria por ter reencontrado os 'olhos azuis' foi sobresselada pela ira que me acometeu nos primeiros cinco minutos em que ficamos no mesmo ambiente.

Graças a Deus que era um dia quente. Arrumei tudo que precisava para passar o dia dentro do mar, como um protetor solar de fator muito alto, algumas tangas, meu biquíni preferido e meu chapéu de veraneio. Meus pais não ligaram muito. Eles nunca ligam. Mas Adolf iria me dar uma carona. Não gostava muito dessa coisa de motorista particular, mas ainda estava terminando as aulas de direção.

Desci as escadas com cuidado, devido a minha cota suficientemente grande de acidentes casuais que poderiam ser evitados, e também a minha dor de cabeça da festa anterior. Eu sabia que tinha sido um erro, mas rendeu-me alguns beijos com o garoto mais lindo de todos. Era uma pena eu não ter perguntado seu nome, mas minha boca estava muito ocupada para aquilo. De qualquer maneira, não tinha esperanças de que nos encontraríamos de novo algum dia.

Adolf me esperava na frente da casa – enormemente grande e tão pomposa que nem merecia o nome de casa. Aquilo era desmerecimento.

Enfim, seguimos para a casa – também desmerecida com tal nome, uma vez que ninguém conseguia o mínimo de discrição, normalidade ou até mesmo senso de exagero – da minha melhor amiga de cabelos exoticamente rosas, Haruno Sakura.

Velha história clichê de “nascemos no mesmo berço, as famílias são amigas” e blá blá blá. Eu só sabia que Sakura era a melhor amiga que eu poderia querer. Fiel, leal, verdadeira, atenciosa e uma lista de adjetivos bem extensa. Junto com nossa outra melhor amiga, Yamanaka porca Ino (eu não a odiava, seu nome que fazia isso por ela) formávamos um trio inseparável.

Eu estava no último bimestre, e já tinha passado em todas as matérias sem nem ao menos fazer as provas finais e com méritos. Tinha uma bolsa garantida na Uni de Los Angeles ano que vem, e pretendia me formar e doutorar em fotografia. Meu pai queria que eu fizesse arquitetura para manter os negócios da família, mas era óbvio que Hanabi levava mais jeito e gosto do que eu. Ela era um verdadeiro gênio.

Era sexta-feira, feriado municipal, e a praia local estava deserta. Um amigo delas – do qual elas se recusaram terminantemente a falar – chegaria de viagem, e passara um longo tempo fora. Ele parecia ser da turma bem antes de eu entrar em seu lugar – o que me deixou culpada, claro – mas elas insistiram que eu iria amá-lo. Além disso, Sasuke, com seu jeito sempre tão alegre e divertido (nota: sarcasmo aqui) e Gaara, com seu charme inegavelmente espontâneo, pareciam alucinadamente ansiosos. Provavelmente eu gostaria desse garoto, e estava aberta a novas amizades.

Eu pretendia contar a Sakura e a Ino sobre os olhos azuis enquanto íamos. Provavelmente iríamos no carro de Gaara, enquanto Sasuke acompanhava Shikamaru e sua mais nova namorada, Temari – também conhecida como irmã de Gaara – TenTen, meu primo Neji (com rolos intermináveis, acrescento) e Itachi, irmão de Sasuke, em seu jipe.

Mas, quando cheguei, tive que me segurar para não cair pra trás ou morrer de tanto queimar.

Agradeci Adolf e pulei do carro, dando de cara com Gaara e Ino discutindo – típico – e Sasuke revirando os olhos, recostado em seu tão amado jipe. Ao seu lado, estava o mais belo garoto de todos. De costas, parecia másculo e familiar. Sua bermuda branca era muito estilosa. Ao me olhar, seus olhos escureceram e sua boca abriu em incredulidade.

Eu deveria saber que reconheceria aqueles olhos azuis em qualquer lugar.

– Hinata! – Gaara exclamou, ignorando a loura que bufou e fez birra com sua saída de praia luxuosa e elegantemente bem colocada em seu corpo perfeito – Até que enfim chegou! Estamos quase saindo, só falta a Sakura e a Temari descerem. – o ruivo me abraçou forte, me girando nos braços. Plantei um beijo rápido em seu rosto e o segui, mal sentindo sua mão em minha cintura. Ainda achava que tudo aquilo era uma ilusão, e que a vida me pregava mais um de suas peças – Naruto, amigão, essa é a gata de quem eu te falei. – nem ao menos me importo mais com a espontaneidade desse babaca – Hinata, esse é Uzumaki Naruto. Naruto, Hinata Hyuuga. – quando nos fitamos diretamente, olho no olho, eu senti minhas pernas desabarem. E o desgraçado ainda sorriu!

– Prazer, Hinata. – a maneira que meu nome deslizou por sua língua foi meio que puta que pariu!

– P-prazer Naruto. – ridículo. Quando nossas mãos se tocaram, um choque atravessou cada centímetro de pele. Ele se inclinou para beijar minha bochecha, e eu prendi a respiração. Seu perfume ainda era o mesmo que eu me lembrava de ontem. Seus lábios, ainda mais macios e deliciosos. Suspirei quando ele se afastou.

– Hina, tome cuidado com ele. Ele é muito atrevido. – Ino comentou, rindo, e Naruto lhe deu o dedo, me fitando maliciosamente. Certamente pensava o mesmo que eu: se ela soubesse o atrevimento que cometemos ontem de noite...

Resolvi que conversaríamos mais tarde, quando estivéssemos a sós, e colocaria tudo em pratos limpos. Era óbvio que nenhum de nossos amigos imaginavam que ele estava na mesma festa que eu, e pior, que nós já havíamos nos conhecido. Preferi deixar daquela maneira. Já era castigo suficiente ter que encarar seus olhos azuis me fuzilando como se me imaginasse sem roupa e seu maldito sorriso malicioso. Não precisava da zoação eterna das minhas queridas amigas.

Fui para perto de Ino, lhe dando dois beijinhos em sua bochecha, e ela ficou brincando com a barra da minha saia, dizendo que eu estava 'uma gracinha'. Revirei os olhos, corando estupidamente. Ainda podia sentir os olhos azuis sobre mim. Sasuke estava com sua habitual carranca.

Só faltava Sakura. TenTen desceu, nos cumprimentando e arrumando a alça de sua bolsa sobre o ombro, dizendo que a rosada já descia. Não me surpreendi com a demora, ela estava até mesmo adiantada. Sakura era a demora em pessoa, e se você queria sair as duas, seria melhor marcar com ela as onze e meia.

Fiquei brincando com os nós de meus dedos. Todos estavam esperando pacientemente, conversando ou se distraindo, como eu. Até que eu o ouvi:

– SAKURA! PELO AMOR DE DEUS, MULHER! – Naruto berrou a todos pulmões, puxando o cabelo com os dedos. Todos demos um salto, e Sasuke despejou uma série de palavrões em sua direção, limpando os ouvidos. Podia sentir meu coração saindo pela boca, tamanho o susto.

– Você está louco, homem?! – eu não pretendia dizer isso em voz alta, mas saiu antes que eu pudesse sequer pensar. Ele me olhou com uma careta.

– O quê? Ela está demorando uma eternidade! – estendeu o braço até a casa, teatralmente.

– Você não sabe esperar? Ela já está descendo. Até parece que não conhece a amiga que tem. – ergui a sobrancelha, o encarando com uma certa fúria. Ele era muito insolente.

– O problema é que marcamos um horário. As pessoas tem que cumprir esse horário. A vida é assim, Hinatinha. – disse meu nome com um certo sarcasmo, e eu juro que tive vontade de esganá-lo. Gaara bufou e Ino estava quase lhe dando uma sapatada.

– A paciência é uma virtude, Naruto. – frisei seu nome, o fitando com raiva – Não devia tratar as pessoas assim.

– Aparentemente, nem todos temos as virtudes de um santo. – comentou, cruzando os braços sobre o peito. Tentei não corar encarando os músculos ressaltados com o ato.

– O que você quis dizer com isso, Uzumaki? – semicerrei os olhos, cruzando os braços e me aproximando perigosamente. Eu geralmente era uma pessoa calma, menos se me provocassem. Não percebi como, mas estávamos cara a cara.

– O que eu quis dizer, Hyuuga, foi-

– TUDO BEM! – fomos interrompidos por Sakura, que desceu apressadamente, ofegante. Aparentemente estávamos falando um pouco alto demais – Podemos ir. Acalmem os ânimos, meus queridos.

Ela passou um braço por minha cintura e outro pela de Naruto. Nós ainda nos encarávamos, e era possível as farpas que trocavam. Ele tinha uma carranca, e eu uma careta irritada. Nunca suportei pessoas apressadas, sem paciência, e muito menos que achavam que tinham sempre razão.

Aquela foi a nossa primeira briga. Mas, naquela tarde, ele me beijou sobre uma pedra da praia, afastado de tudo e de todos.

Aquela foi nossa primeira briga não-oficial. Aprendi muitas coisas com Naruto, e ele comigo. Mas, infelizmente, paciência não foi algo que fui capaz de lhe ensinar em todos esses anos.

6 – Porquice

Absolutamente inaceitável. Eu conheci esse seu lado depois de alguns meses de namoro, quando decidimos morar juntos em um apartamento. Ele resolveu me seguir até Los Angeles, jurando nunca mais me deixar escapar. Entrou para a faculdade de direito no mesmo prédio que o meu, e rachávamos o aluguel de um flat bem localizado e de médio porte. Ambos tinham dinheiro para comprar aquele quarteirão inteiro de repúblicas, mas não queríamos aquilo. Ele trabalhava aos fins de semana, e eu era ajudante na biblioteca da Uni três dias por semana.

Os primeiros meses foram os mais fáceis, admito. Geralmente, ele ficava em casa mais tempo que eu, e arrumava a louça do almoço e lavava a roupa suja a cada quinze dias. Era um sonho se tornando realidade. Nunca fui neurótica por limpeza, mas era perfeccionista. Gostava de tudo ao meu modo, e um ambiente limpo era o mínimo para a habitação de alguém.

Infelizmente, eu tive que me apaixonar por um cara que deixa as meias sujas pelo chão e a toalha molhada em cima da cama. Não penso que seja algo tão penoso que mereça a cadeira elétrica, mas Naruto era impressionantemente porco quando queria. Ele ultrapassava todos os limites do aceitável, e eu não estava brincando. Era, na maioria das vezes, condescendente.

Mas, em algumas, era simplesmente irritante.

Eu tentava ajudar dando algumas indiretas, mas seu mente não trabalha no modo rápido, infelizmente. Chegava uma hora que discutíamos aos berros, enquanto eu recolhia sua sujeira e ele insistia que eu era chata, mandona e fora de moda. Não eram casos do zelador interferir (na maioria das vezes), mas no final, eu ficava resmungando no quarto e ele voltava com flores e bombons, no rosto uma careta culpada e os olhos saltados. Prometia que iria mudar, e tínhamos uma grande noite de amor. Eu sempre o perdoava.

Mas, como esperado, acontecia tudo de novo na semana seguinte.

Meus braços estavam doendo pelo peso dos livros que eu trazia nos braços. Minhas costas ardiam com o peso da bolsa, e eu quase tombei para trás puxando a chave da porta. Estava atolada de trabalhos para fazer, e o aluguel estava alguns dias atrasado. Nada muito alarmante, qualquer coisa eu apelava para a minha conta bancária de emergência, mas não é como se fosse uma opção.

Estava tão ocupada que nem ao menos almocei em casa, comendo um cachorro-quente da barraquinha do centro e um copo de suco quente. Passei o dia organizando a sessão reservada do terceiro andar e estudando em voz alta. Shizune foi muito bondosa em me ceder algumas horas para o exame final, e eu precisava saber cada componente e sua função de uma Polaroid 2000 Land.

Quando cheguei, esperei encontrar o nosso apartamento em perfeita ordem. Afinal, era quinta-feira, Naruto chegava mais cedo. Comeria algum lámen, limparia o nosso quarto e faria seus deveres, escutando alguma música chata.

Infelizmente, não foi essa cena maravilhosa que eu encontrei ao passar pelo batente, me equilibrando em uma perna só, enquanto fechava-a com a outra. Seria esperar muito da minha quase nada sorte.

O que eu encontrei se aproximava bem mais do apocalipse do que uma cena angelical. Alguma guerra do Irã havia estourado e eu não sabia.

Naruto estava afundado no sofá, jogando videogame. Até ai, tudo bem. Avistei seus livros sobre a escrivaninha, e ele já havia terminado tudo – ou quase. Sempre que acabava, jogava um pouco para desestressar, até que eu chegasse e nós tivéssemos um tempo sozinhos. Mas não foi isso que me preocupou eminentemente.

Ele estava cercado de sujeira! Literalmente!

Ao seu redor, pacotes e mais pacotes de salgadinho barato, e reconheci as sacolas da mercearia da esquina debaixo da mesinha de centro. Latinhas de refrigerante amassadas enchiam o chão, assim como embalagens de doces e balas. Sacolas, papéis amassados e uma mancha suspeita sobre meu carpete novo. O cheiro era insuportável, mesmo que o ar-condicionado estivesse ligado.

– N-naruto? – não acreditava no que estava vendo. Consegui um espaço limpo no balcão da cozinha, afastando alguns pacotes e apoiando meus livros. Coloquei minha bolsa na cadeira, incapaz de deixá-la naquele chão. Avistei até mesmo meias e sua camiseta suja no corredor.

– Olá, doce. – me cumprimentou sem tirar os olhos do jogo – Que bom que chegou. Como foi o dia na faculdade hoje?

– B-bom, que acho. – deu uma volta de 360 graus rapidamente – O que significa isso, pelo amor de Deus?!

– Ah, isso. – ele pausou o jogo, me fitando envergonhado. Colocou o braço atrás da nuca, e tive um breve vislumbre de sua nova tatuagem. Era uma bela raposa, e me tirava a concentração por alguns segundos, até que eu me lembrasse que estava furiosa com ele. Acho que esse foi o motivo principal para ele ter o feito. Seus músculos bronzeados pareciam maiores também... foco, Hinata! – Desculpe.

– Desculpe? Só isso que tem a dizer? – ele suspirou, me fitando – Isso está um lixo! – peguei entre a ponta dos dedos seu calção de academia e joguei longe, enojada.

– Não é para tanto, amor. – rolou os olhos – Alguns amigos meus vieram aqui, para discutirmos sobre nosso trabalho anual. Depois, conversamos um pouco e fizemos um lanche, não é nada apocalíptico. – essa era a palavra que descrevia meu apartamento e minha raiva no momento.

– Eu entendo, e está tudo bem trazer seus amigos aqui, e comer porcarias, e jogar videogame. Mas, pelo amor de todos os santos, limpe essas coisas! – brandei, andando de um lado a outro, recolhendo a sacola e jogando as latinhas dentro – Olha essa bagunça. Já conversamos com isso. Por Deus, brigamos semana passada sobre isso, Naruto! – ele abriu a boca para argumentar, mas eu não lhe dei chance. Quando começava a falar, ninguém me segurava – Já disse que precisa começar a ser menos porco, por favor. Vivem duas pessoas nessa casa, se você não sabe, e isso é o cúmulo. Não estamos mais no seu quarto, na casa da sua mãe. – rolei os olhos e ele bufou – Ainda é quinta-feira, eu tenho milhões de coisas pra fazer, e tudo que eu peço é chegar em casa e descansar no meu sofá LIMPO – frisei bem – e ver o chão brilhando. É pedir demais? Estou pedindo demais?!

– Não, Hinata. – ele murmurou. Ele sempre sabia que eu estava certa, mas já estava esperando por seu surto. Era sempre assim.

– Obrigada! Estou avisando, quero tudo arrumado da próxima vez. Não sou sua empregada, e não estou fazendo faculdade seis dias por semana, trabalhando feito uma condenada para ser escrava quando chegar em minha casa, onde eu deveria descansar. Pelo amor de Deus. – rolei os olhos, jogando a sacola dentro do incinerador, ouvindo o tão maravilhoso são triturando tudo.

– Desculpe, okay? A culpa não foi inteiramente minha! – ele se defendeu – Não tenho culpa se você é neurótica!

– Neurótica? Neurótica?! – repeti, exasperada, jogando tudo no chão e gritando. Peguei minha bolsa, a jogando pelos ombros – A neurótica aqui vai tomar um banho, porque eu tenho senso de limpeza! Espero que limpe tudo enquanto isso, mas se não quiser, pode deixar que a neurótica aqui limpa! – berrei, batendo a porta do quarto com todas as minhas forças e bufando, xingando de alguns nomes feios que aprendi. Naruto me tirava do sério, principalmente nesse quesito. Tinha saudades dos tempos em que ele ao menos se importava em lavar a louça.

Mais tarde, ele invadiu o banheiro e me beijou debaixo do chuveiro. Disse que havia limpado tudo, que sentia muito e que nunca mais faria algo do tipo. Eu apenas o beijei novamente, sentindo suas mãos me levantarem pela cintura. Como sempre.

Aquela foi uma das muitas brigas que tivemos sobre esse assunto. Não parece ser tão grave, nem todos somos perfeitamente limpos ou organizados. E nem todos somos Naruto, afinal. Ele é único, seja para o bem, seja para o mal. E eu tinha que dar graças a Deus que seu perfume natural era muito, muito bom.

5 – Irritabilidade

Desde o começo de nosso relacionamento, quando começamos a sair, nos encontrar e trocar carícias em público, o que eu mais ouvia das pessoas, fosse na rua, fosse minha família ou até mesmo nossos amigos, era que nós nos completávamos, como almas gêmeas, duas partes perfeitas. Eu agradecia e corava na época, mas não imaginava que era tão literalmente assim.

Desde criança, eu sempre fui uma pessoa de fácil convivência. Abominava qualquer tipo de violência, até mesmo por traumas de criança, mesmo tendo aprendido jiu-jitsu para defesa pessoal. De qualquer maneira, nunca levantei a mão para ninguém, não no intuito de machucar, óbvio. Sakura sempre mereceu os tapas que eu lhe dei.

Enfim, eu era muito calma, e ainda sou. Penso duas vezes em responder em uma discussão, respirava fundo e mantinha a cabeça fria. Eram raras as vezes que eu me exaltava e explodia com alguém. E, como toda alma gêmea, era claro que eu tinha que me apaixonar pelo Hulk.

Nunca em minha vida conheci alguém tão irritado quanto Naruto, depois de Sasuke. Mas o Uchiha mantinha aquela fachada porque estava em seus genes (mesmo que Itachi fosse tão cativante quanto o possível). Sua família era fechada, não demonstrava sentimentos, e ele quase nunca discutia com absolutamente ninguém – talvez somente Sakura, mas era porque eles se amavam. Naruto era espontânea e hiperativo, mas bastava qualquer mínima coisa para ele fechar a cara e querer sair batendo em todo mundo. Não sei de quem havia sido a ideia de lhe ensinar boxe, mas não foi muito legal (ou sim, uma vez que seus músculos era ótimos) (Não que eu repasse nessas coisas).

O loiro era muito simpático, gostava de novas amizades, mas, nunca, jamais, o provoque se não for aguentar as consequências. Ele era do tipo que amava zoar os amigos, mas odiava ser o zoado. Qualquer mínima brincadeira de mau gosto, envolvendo a ele ou a mim, em sua maioria nossa relação e vida pessoal sexual, o levava a querer socar alguém. Cerrava a mandíbula e suas íris se escureciam perigosamente. As vezes eu penso que eu estava destinada a ficar com ele, de qualquer maneira. Em todas as brigas, só houve uma vez que eu não fui capaz de contê-lo. Acho que era algum tipo de magia, ou habilidade especial. Eu tocava seu rosto, sussurrava palavras doces e fazia cafuné em sua nuca. Era instantâneo.

Mas, fazia parte dela. Sua irritabilidade já gerou muitas brigas. A mais grave delas o deixou sem falar com o melhor amigo por duas semanas. Maldito orgulho masculino.

Estávamos comemorando mais um contrato fechado. Eu havia sido contratada para fotografar um photoshop da Vogue, e eu sabia que dali para dentro das maiores empresas e fotografia humana da América era um pulo. Ainda lembro que gritei tão alto que Naruto saiu correndo do quarto, e nosso cachorro, o baby Blue, ganiu e voou para debaixo do sofá. Havíamos acabado de adotá-lo, e Naruto sugerira esse nome por conta de seus olhos, tão azuis e enormes quanto os dele. Tal como a maioria de suas ideias, aquela foi mais uma fantástica. Eu havia gostado tanto do nome que no mesmo dia comprei uma coleira azul-celeste para Blue, e uma casinha cheia de almofadas azuis e ossinhos pintados. Ele havia adorado, e Naruto era o pai mais babão de todos.

É claro que baby Blue destruiu a casa na primeira semana, mas ele trazia esperança e mais felicidade para nossos dias. Tínhamos comprado uma bela casa perto de Sakura e Sasuke – finalmente engatado um noivado firme – e Naruto trabalhava em uma grande empresa de advocacia, exercendo seus maiores sonhos. Seus olhos eram pura alegria, e, quando ele me beijava, eu sentia a paixão que existia dentro de seu peito.

Não pensávamos em ter filhos, não por enquanto. Estávamos felizes daquela maneira. Tínhamos amigos que nos amavam, e agora, estávamos em uma balada qualquer do centro, comemorando, não só minha mais nova aquisição profissional, mas também tudo. Naruto parecia mais exultado que eu, e arrumava qualquer desculpa para tocar minha mão ou descansar as suas sobre minhas pernas nuas no belo vestido vermelho que ele me dera.

Era bom saber que ele ainda me amava e me desejava como tantos anos atrás.

Aquela noite era de comemorações. Reuniríamos todos nossos amigos e brindaríamos a união e o amor. Eu estava particularmente sentimental naquela noite.

Avistei Sakura arrastando Sasuke para dentro e acenei animada da nossa mesa, ao canto do salão. Naruto o cumprimentou com um trocar de punhos e deu dois beijos na rosada, lindamente vestida com um Prada pérola. Ser modelo lhe rendia muitas vantagens, admito. Todos nos surpreendemos quando ela revelou que havia sido contratada para o desfile de verão. Todos esperávamos que Ino seguisse essa carreira, mas a Loira viajava pelo mundo com Gaara, ambos biólogos marinhos. Depois de tantos anos de brigas, eu sempre soube que terminariam juntos.

– Desculpem a demora, Sasuke estava enrolando para vir. – fuzilou o noivo, que encolheu os ombros e resmungou com uma carranca, arrancando uma risada nossa.

– Tudo bem, acabamos de chegar também. – disse, bebericando meu drink tropical.

– E então, alguém aqui deve estar muito feliz, hm? – me cutucou, sorrindo, eu ri, me contorcendo levemente – Parabéns, amiga! – nos abraçamos, e eu senti seu típico cheiro de cerejas – Sempre soube que você conseguiria.

– É, parabéns. – pude jurar que avistou a sombra de um leve sorriso contorcionando seus lábios, mas, mesmo assim, me inclinei e lhe beijei levemente no rosto.

– Obrigada, pessoal. De verdade. – corei, e Naruto sussurrou um 'eu te amo' em meu ouvido. Sorri para ele e o beijei nos lábios. Eu o amava por demais, demais.

– Você merece, meu amor. Tudo isso e muito mais que está por vir no futuro. – sorri, emocionada. Sakura riu e pediu dois drinks. Ergueu o copo e cutucou Sasuke para fazer o mesmo.

– Um brinde. – anunciou. Naruto pousou um de seus braços sobre meus ombros e levantou seu copo de rum pela metade. Ergui minha bebida colorida – Ao futuro.

– Ao futuro. – repetimos e bebemos. Começou a tocar uma música animada e eu e Sakura demos gritinhos, indo dançar, enquanto Naruto ria e Sasuke resmungava que éramos doidas. Ino chegou logo depois e Gaara se juntou aos meninos. Exibia seu anel de noivado como se tivesse ganhado na maior loteria do mundo. E tudo estava bem.

O tempo foi passando, e nós estávamos nos divertindo. Dançamos muito, e voltamos para a mesa, para nossos noivos. No meu caso, indefinidamente amor. Naruto não tinha me pedido ainda, mas não precisávamos disso. Ele me dera um belo anel, com uma discreta pedra prateada, e disse que combinava com meus olhos. Custaram-lhe muito caro, mas dinheiro não era problema. Quando meu pai morreu, minha mãe decidiu se aposentar da empresa e a deixou inteiramente para Hanabi, enquanto eu fiquei com sua parte da herança em espécie. Uzumaki Kushina e Namikaze Minato, pais de Naruto, insistiam que aceitássemos seu dinheiro a cada vez que os visitávamos, em Tóquio.

Eu o usava no anel de noivado, exibindo-o ele como minhas amigas. Tinha orgulho de fazê-lo, pois pertencíamos um ao outro, de corpo, alma, para Deus e para o mundo.

Mas a felicidade daquela noite durou bem pouco. Havíamos bebido demais, e Ino e Sakura estavam começando a ficar alegres demais. Falavam sobre assuntos picantes, enquanto Sasuke e Gaara morriam de vergonha e tentavam apaziguar as noivas. Naruto ao meu lado apenas ria, acariciando a parte interna da minha coxa casualmente. Eles também haviam bebido demais, e ninguém estava medindo suas palavras.

– Eu sempre disse a Sasuke que gostava de apimentar a relação na cama, mas ele é bem tradicional sabe. Nem quis deixar eu o acorrentar com umas algemas de plumas que eu comprei no sex shop! – Sakura e Ino desataram a rir, enquanto Sasuke resmungava audivelmente, bebendo de uma vez seu copo. Eu corei ao imaginar a cena, e Naruto apenas balançava a cabeça, como sempre fazia quando elas diziam alguma besteira.

– Gaara é fogoso, sempre disse. – abanou as mãos teatralmente, e Gaara sorriu sarcasticamente.

– Tudo por sua culpa, querida. – apontou para ela, piscando, e rimos mais – Ino é insaciável. E Hinata, Naruto? – pulei ao ouvir meu nome, e ao meu lado, ele parou de acariciar-me, fitando o ruivo rindo alto – Fogosa como minha loirinha? Olha que Hinata faz o tipo mais santinho. – me senti queimar.

– Não vou ficar falando da minha vida sexual para vocês, obrigado. – agradeci mentalmente.

– Claro, claro. – o ruivo riu com a cabeça para trás – Mas eu posso imaginar. Hinata é muito gostosa, com todo o respeito, claro. – podia sentir meu rosto avermelhar. Eu minhas pernas, as mãos de Naruto se fecharam em punhos, e eu sabia que a noite não acabaria bem.

– Não fale dela desse jeito. – rosnou para o amigo. Sakura e Ino só sabiam rir como duas retardadas, e Sasuke preferiu ficar na sua, bebendo.

– Sabe, com esses peitões enormes. – fez com as mãos dois peitos bem a frente do corpo, e eu baixei meus olhos, envergonhada. A bebida estava revirando em meu estômago – E essas pernas deliciosas...

Tudo aconteceu muito rápido. No segundo seguinte, Naruto estava em cima da mesa, o punho ao lado do corpo. O som de sua mão contra o rosto de Gaara, foi alto, e o garoto lhe fitou com raiva e incredulidade. Estava roxo onde ele bateu, e Sasuke o segurava pelos ombros, enquanto as garotos gritavam. Eu só sabia olhar, com a boca aberta.

Acalmei Naruto depois de algum tempo, e Gaara se recusou a pedir desculpas e aceitar suas desculpas. Aquela noite perfeita acabou em questão de segundos, e eu dormir no quarto de hóspedes com Blue, chorando assustada.

Ele entrou no meio da noite, chorando arrependido, e eu deixou que ele me beijasse, desesperadamente. Dormimos na mesma cama, compartilhando do calor de nossos corpos. Ele e Gaara fizeram as pazes em duas semanas, quando o loiro estupidamente disse que sentia sua falta, e o ruivo lhe chamou de gay. Eles se abraçaram e todos comemoramos. Gaara prometeu nunca mais falar de meus peitos, e Naruto prometeu nunca mais lhe dar um soco.

Ele nunca aceitou muito bem as brincadeiras estúpidas dos amigos. Seu temperamento é difícil, e na maioria das vezes, eu apenas o acalmo, assustada. Se fôssemos personagens de desenhos, ele seria o Coisa, e eu, a Mary Jane.

4 – Manias

Não tão grande, mas também não tão suportável. Suas manias me irritavam tanto tempo que nem ao menos consigo pensar em alguma situação específica para exemplificar o quanto isso me perturba nele. Com o passar do tempo, fui descobrindo mais e mais manias do loiro, e já podia listar todas elas, uma a uma, apontando-as com a mesma certeza dos outros defeitos.

Naruto era um cara difícil de se conviver, apesar de tudo. Ele poderia parecer simpático, aberto a novas experiências, amigo. Mas, no fundo, ele era chato, idiota, estúpido, orgulhoso, arrogante, cabeça-dura e tinha um prazer estranho e bizarro em me provocar, seja com palavras ou com gestos.

Naruto sempre revirava os olhos, mais vezes do que eu gostaria, admito. Sempre que alguma coisa dava errado, e ele estava estressado e irritado consigo mesmo. Em uma discussão, quando eu começava a gritar verdades ou discursar, e essa era a pior coisa que ele poderia fazer. Sempre acabava com ele no sofá e Blue lambendo seu nariz. Quando Sasuke ou Gaara, ou até mesmo Sakura, diziam coisas idiotas e ele se achava superior. Quando ele começava a conversar sozinho pela casa, resmungando, e Blue lhe respondia com latidos altos e desengonçados. Ele parecia achar que qualquer momento era momento para revirar os malditos olhos. Aqueles olhos azuis. Não consigo acreditar que me apaixonara por aqueles olhos, em primeiro lugar.

Ele também mordia os lábios, muitas vezes. Não só os lábios, a bochecha interna, a língua, qualquer área de sua região bocal acessível a seus dentes. Aquilo me deixava aflita, tenho que admitir. Quando estava nervoso ou irritado, mordia os lábios com força, para evitar dizer alguma besteira que piorasse ainda mais. Quando estava com medo, mordia apenas o canto, os olhos rolando rapidamente de um lado a outro. Particularmente, isso acompanhava um balançar de pernas ritmizado que me deixava louca. Quando estava pensativo, mordia a bochecha internamente, passando de um lado a outro. Quando estava excitado, ou dizia algo malicioso – também mais vezes do que eu conseguia suportar – mordia os lábios, me seduzindo estupidamente. Machucados ou feridas eram frequentes, isso quando eu não batia em sua boca para que parasse. Me deixava nervosa. Muito.

Ele andava de um lado a outro quando estava nervoso, ou precisava pensar em algo muito importante, como estratégias para a empresa ou um caso novo. Andava sem parar como um louco, por horas a fio, tanto que eu ficava tonta. Não sei como aguentava, mas parecia mais centrado ao fazer aquilo. Se trancava no escritório, e era possível escutar seus passos da sala de estar, batendo no chão em um ritmo frenético. Era pior quando Blue decidia imitá-lo ou segui-lo.

Naruto sempre estralava os dedos da mão, do pé, os pulsos, o pescoço e a coluna. Estralava seus ossos fazendo uma sinfonia doentia, e que me arrepiava até a alma. Cansei de dizer que aquilo lhe fazia mal, mas ele não me escutava. Nunca escutava ninguém. Ao acordar, quando passava muito tempo sentado ou na mesma posição, antes de treinar no saco de areia ou fazer abdominais. Por vezes ele tentava estralar os meus dedos, quando eu estava distraída, mas isso apenas resultava em mim por cima dele, o estapeando loucamente, e ele rindo.

Ele sempre ria de tudo, também. Nas horas erradas, nos momentos sérios. Ria de medo, de nervoso, de alegria, de tristeza. Ele apenas ria.

São muitas suas manias. Não gosto da maioria, mas acho que isso apenas é o que compõe ele, sua personalidade. Tenho que suportá-lo por inteiro.

3 – Ciúmes

Esse item é muito sério, e em 90% dos casos, ele leva aos itens 1 e 3. Naruto é, apenas, o homem mais ciumento de toda a face da terra. Seus ciúmes são quase doentios, e é muito grave. Já pensei muitas vezes em interná-lo ou procurar um profissional, mas ele sempre me convence que não é nada demais.

No começo de nosso namoro era, definitivamente, pior. Não podia conversar com amigos da escola, nem sequer meus primos. Para ele, tudo era motivo de ciúme. Um toque, uma risada, uma roupa um pouco mais curta ou provocante. Acabávamos discutindo, muito. No começo, ele me isolou de todos nossos amigos. Chegou uma época em que eu apenas o via o dia todo. Para ele, Gaara e Sasuke representavam uma ameaça significativa, e Sakura e Ino eram apenas más influências que tinham planos maléficos que envolviam gogo-boys e festas todo dia e toda noite. Insano, eu sei.

Todo relacionamento tem ciúmes, é normal. As vezes, é até bom, sentir que seu parceiro te ama e tem medo de te perder. Mas, na medida de Naruto, é impossível. Por qualquer motivo, até mesmo um homem que me olha na rua, já é motivo de discussão, mesmo que eu ignorasse todos os momentos.

Foram seus ciúmes que causaram a nossa maior briga oficial. Não me lembro quando, acho que alguns meses depois de termos assumido em público. Foi horrível, eu até mesmo sai de casa. Todas as vezes eu me acusava, me culpava, dizendo que se eu fosse mais compreensiva, se tivesse feito alguma coisa diferente. Mas, com o passar do tempo, fui aprendendo que Naruto é ciumento por natureza, e, tal como um furacão ou um tsunami, ele apenas vem, sem que ninguém possa impedir.

Abri a porta irritada, nem me importando em fechá-la. Naruto me seguiu, exasperado, gritando meu nome, e alguns vizinhos olhavam curiosos pelas janelas. Idiotas.

Tirei meus brincos de pérola, que ganhei dele, e joguei sobre a escrivaninha, tirando meus sapatos de salto alto preto e jogando contra qualquer canto. Me arrumei horas para aquela festa. Sakura gastou metade de seu dia apenas para fazer meu cabelo e maquiagem. Ino voltara da Espanha especialmente para me dar meu vestido de seda, presente adiantado de aniversário.

Estávamos esperando muito por isso. Ele era o estagiário mais prestigiado da festa, esperado por todos os empresários, para ser parabenizado. Tinha a vaga garantida, e, na festa de gala, toda a imprensa estaria presente, transmitida ao vivo pela CNN. Eu seria sua acompanhante, e ele me exibia como o melhor troféu que tinha o orgulho de possuir.

Ele estava lindo de smoking. Eu havia me arrumado muito, e ele me elogiara o caminho todo. Dera-me um lindo colar de diamantes, que contrastava perfeitamente com a cor royal de meu vestido de abertura em V nas pernas. Meu cabelo, outrora preso em um elegante rabo desfiado, agora caia sobre meus ombros. Puxei-os novamente, sentindo as lágrimas derramarem e mancharem minha maquiagem perfeita.

Por que ele sempre tinha que estragar tudo?

– Hinata, não dê as costas para mim! – gritou, entrando no quarto, trazendo toda sua fúria consigo.

– Não vou ficar ouvindo você dizer besteiras! – gritei de volta, o encarando com os olhos molhados. Ele tinha a mandíbula cerrada e os olhos dilatados – Não de novo. – completei, dessa vez mais baixo, quase como um murmuro.

– Eu sei que ele estava olhando para você, Hinata! Não finja que não! – arrancou sua gravata, outrora deixado-o tão sexy, agora parecendo como um objeto de tortura.

– Sim, mas eu não estava olhando para ele, porra! – não sou de dizer palavrões, não usualmente. Mas ele pedia por aquilo. Por meu pior lado.

– E que isso importa?! Ninguém tem o direito de olhar para o que é meu. – o veneno do ciúme escorria por seus lábios, dilatando cada palavra, e eu surtei, chorando e sacudindo os braços involuntariamente.

– PARA NARUTO! PARA COM ISSO! – berrei, sentindo a raiva transbordar, como um balde tendo a última gota derramada – Para de me tratar como se eu fosse um troféu estúpido que você exibe por ai. É legal algumas vezes, mas NÃO DÁ MAIS! Esse seu ciúme é doentio, sinceramente! TODO MUNDO TEM OLHOS! Eu olho para modelos nas capas das revistas, eu vejo homens sem camisa quando vou fotografar, eu faço tudo isso! Mas me pergunta se alguma vez eu te traí! – ele abriu a boca para responder, aparentemente atônito, mas não lhe deu chance – Deixa que eu mesmo respondo: NÃO! NEM UMA VEZ! Se eu fosse ligar para cada piranha que olhasse para você, eu ia ficar louca, não ia fazer mais nada da vida! Porque eu confio em você, e queria que você confiasse em mim também. – terminei murmurando, enxugando as lágrimas cada vez mais frequentes. Ele se aproximou, tentando me abraçar, mas eu o afastei. Ele engoliu em seco, me fitando.

– Eu confio, Hina. Muito. – sussurrou.

– Não parece, Naruto. Não com todos esses seus ataques e showzinhos. Nem amigos eu posso ter, mais. Não sei como você ainda não matou Gaara e Sasuke. – ri seu humor – Uma relação é para dois. Os dois tem que amar, os dois tem que confiar. Estou cansada de cumprir esse papel sozinha. – caminhei até a nossa cama, puxando uma mala pequena e colocando algumas roupas dentro.

– H-hina, o que está fazendo? – aquela foi uma das poucas vezes que eu o vi sem ação.

– Não consigo mais olhar para você, pelo menos não por hoje. Vou dormir na casa da Hanabi hoje. Não venha me procurar. – murmurei, calçando meus chinelos e saindo sem olhar para trás, ainda usando o vestido que prometia uma noite perfeita.

Saí pela porta, ainda chorando. Naruto gritou por meu nome muitas vezes, mas eu apenas sai, chamando um táxi. Aquela foi a pior briga que tivemos por conta de seus ataques. Mas, como sempre, não durou muito. Durou mais que das outras vezes, claro. Mas, uma semana depois, ele apareceu na frente da casa da minha irmã, bêbado, me fazendo juras de amor. E naquela noite, nós dormimos juntos mais uma vez.

De todas as coisas que listei até o presente momento, acho que seus ciúmes foi o que mais me machucou, irritou e magoou em todos esses anos. Mas, infelizmente, não é o pior de todos seus defeitos. Não se pode ter tudo na vida.

2 – Indiferença

Não é que ele fosse o rei de gelo, ou algo do tipo. Na verdade, não sei porque coloquei esse item nessa posição, mas... não sei, ele me incomoda profundamente. Não ocorre eventualmente, somente quando Naruto se afunda em trabalho.

Quando passa noites e noites a fio trancado no escritório, não sai nem ao menos para jantar. Quando chego, Blue está com o focinho entre as patas, chorando. Ele nem ao menos sai para me cumprimentar. Só fica ali, bebendo rum como um velho decrépito e bêbado, analisando papéis, vendo gráficos, lendo relatórios e argumentos. Tecla em seu computador odioso, indo dormir apenas de madrugada. Nem ao menos o vejo indo dormir. Acordo sem ele ao meu lado, e me sinto solitária.

Apenas Blue me consola nesses dias. Desde o começo, Naruto tem esses acessos de se concentrar apenas no trabalho, estudos. Antes eu fingia não ligar, mas agora... não sinto raiva, entretanto. Apenas dói. Muito. Deve ser por esse motivo que o acho tão ruim. Nada o tira desse estado de psicose intensa, de hipnose. Toques, carícias, gritos, nada. E, acreditem, eu já tentei muito. Já superei todas as minhas vergonhas e minhas índoles por ele, para livrá-lo desse defeito. E já sofri muito. As vezes me pergunto porque o amo tanto, tanto que dói.

Cheguei do trabalho sentindo-me estranhamente animada. No dia seguinte seria nosso aniversário de (insira aqui qualquer tipo de relação consideravelmente intensa), e eu imaginava que ele estaria algo incrível para nós dois hoje. Um jantar, uma maravilhosa noite de amor. Naruto costumava ser o homem mais romântico que eu conhecia.

Passando por cima de todos os muros emocionais e físicos que me cercavam, resolvi lhe fazer uma surpresa, para parabenizar todos esses anos. Ele ainda me desejava como o primeiro dia, e eu ainda o amava com cada célula de meu ser. Pedi ajuda a Sakura, que entendia daquele tipo de coisa. Fomos a Victoria's Secret, e ela me fez experimentar vinte e dois tipos de lingeries, conforme ia excluindo, elas pareciam ir diminuindo de tamanho. Por fim, comprei uma linda de renda vermelha, que contrastava com minha pele estupidamente branca. Era tinha até mesmo uma cinta liga, e eu nem sei como consegui sequer pagar no caixa sem morrer de vergonha.

Ao chegar, encontrei tudo escuro. Blue estava dormindo em sua casinha, e sua tigela estava parcialmente cheia de ração. Fiz um chamego em sua orelha e fui para o quarto. Naruto provavelmente estava no escritório, como usualmente fazia nessa semana. Quase não saía de lá, nem mesmo para jantarmos juntos. Achei que assim seria mais fácil para mim. Tomaria um banho com meus melhores perfumes, colocaria aquele pedaço de pano escondido na sacola que trazia comigo e por cima, um robe de seda que comprei também.

Tal como os planos, enchi a banheira com sais aromáticos e shampoos perfumados dos cheiros que o loiro mais gostava. Passei cremes, penteei meu cabelo, o deixando solto, como ele mais gostava.

Desci as escadas pé-ante-pé, olhando pela fresta da porta dupla de correr que ficava no fundo do corredor. Lá estava ele, com a gravata frouxa e os primeiros botões abertos. Engoli em seco. Respirei fundo e andei até ele.

Entrei no ambiente, vendo-o com as luminárias acesas, imerso em alguns papéis. Seu copo estava pela metade, e ele parecia sério. Caminhei até ele, me inclinando em seu pescoço e abraçando-o com os braços. Ele me olhou de soslaio, mas não deu atenção. Voltou aos papéis.

Estranhei, começando a perder a coragem. Não era possível que ele ao menos não viraria para me dar um oi, para me ver. Nem ao menos sentiu o cheiro do perfume que ele dizia amar. Comprei um frasco totalmente novo apenas para essa noite!

– Boa noite, amor. – não desisti e sussurrei em sua orelha, suavemente.

– Boa noite, Hina. – murmurou, fazendo um bico e tocando os meus secamente. Fiz um bico, magoada.

– Muito trabalho? – perguntei distraidamente, acariciando a gola de sua camisa de leve, mordendo sua orelha.

– Sim, um pouco. – resmungou, torcendo o pescoço e se livrando de meu toque. O olhei, ofendida.

– Não tem nem um tempinho para mim? – fiz minha melhor voz sedutora, que havia treinado o dia todo no espelho da agência. Lutei para não gaguejar, mesmo corando furiosamente.

– Não, hoje não. Depois nos falamos, está me atrapalhando. – disse sem nem ao menos ter a decência de me olhar. Cruzei os braços, incrédula.

Sai da sala resmungando, e bati as portas de propósito. Blue se levantando, vindo me lambear, e eu o abracei, coçando suas orelhas. Ao menos alguém que se importava comigo, afinal. Estava irritada com Naruto e seu maldito trabalho. Tirei a lingerie e queimei no quintal. Se eu colocasse fogo na casa, ele nem ao menos notaria.

Ele aprendeu a lição, eu acho. Fiquei por um mês dormindo no quarto de hóspedes, até ele me implorar para voltar e se dar conta do que havia feito. Ele me beijou com mais fervor naquela noite.

Sobre isso, apenas tenho a dizer que nunca mais comprei outra lingerie, ou tomei banho com sais perfumados. E ele sequer percebeu isso.

1 – Possessividade

Algumas mulheres achariam isso uma prova de amor, mas quando se trata de Naruto, é praticamente impossível de suportar. Provavelmente esse defeito foi citado em todos os outros anteriores, e pensar em sequer uma situação que mostre isso é doloroso demais.

Naruto é o tipo de homem que não percebe que errou até ser atacado com palavras grosseiras ou ser ignorado completamente. Em todas nossas brigas, ele nunca caía em si. Acho que isso seria o que eu mais odeio nele, mas nada se iguala ao ódio que eu sinto por esse sentimento tão ruim que toma conta dele. É absolutamente terrível.

Ele é possessivo ao extremo. Sabe, não como algo normal ou saudável, é doentio, tal como os outros defeitos. Acho que o que faz de Naruto ser Naruto é o fato de ser tão intenso. Ou é demais, ou é de menos. Não há meio termo com ele.

Só Deus sabe o quanto eu sofri com seu sentimento de posse sobre mim, como propriedade em seu nome, um dos motivos pelos quais eu nunca aceitei seu sobrenome. Aquilo só seria mais um pretexto para ele tentar explicar suas atitudes insanas e inaceitáveis.

Já me magoei demais com Naruto, mais do que posso contar ou listar. Eu o amo, imensamente, e acho que foi meu amor que salvou nosso relacionamento. Nunca duvidei, nem por um instante, que ele me ama também, com a mesma intensidade que eu, ou até mesmo mais, e por isso tem tanto medo. Por mais que admite, ele não tem confiança em mim, e tem pesar em me perder, mesmo depois de todas as juras de amor e de fidelidade um ao outro. Nunca casamos de fato, mas não precisamos disso, no final.

Acho que o topo dessa lista representa tudo que eu sinto misturado em um único sentimento que pode definir de fato o garoto: possessividade. A união de tudo de ruim e errado que há nele, englobando seu ciúme doentio, sua indiferença quando algo acontece, suas manias que o assolam, sua irritabilidade, principalmente, que é incentivada a surgir. Nunca pude ao menos dançar com meus amigos em meu baile de formatura. Não podia tocar, beijar, abraçar. Não sei como ele deixou Gaara e Sasuke serem nossos padrinhos.

Sua possessividade, no final, está no topo, porque não tenho como descrever e resumir tudo melhor do que isso. É o mais mesquinho, mais doentio, mais estranho de tudo. Claro, não sou egoísta ou hipócrita. Me sinto amada na maior parte das vezes, tendo alguém que cuide de mim e que me ama do jeito que sou, mas... é duro. É difícil. Abri mão de muitas coisas em minha vida por ele, por conta de não feri-lo, para não brigarmos.

Acho que isso é o amor, não? Todas essas coisas ruins, que apenas me fazem amá-lo mais ainda. Cada briga, cada lágrima derramada por besteiras que ele fez, cada sonho destruído, cada ofensa, cada desculpa no final, cada beijo de reconciliação.

São essas pequenas coisas – esses pequenos (grandes) defeitos – que me fazem amá-lo cada vez mais. As sete coisas que eu mais odeio em Uzumaki Naruto.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Provavelmente posto a segunda parte amanhã, ou em dois dias.