Rin corria apressadamente pelos corredores da escola procurando pelos seus colegas do curso de exorcismo. Ele deixou Yukio sozinho no refeitório quando o mesmo falou sobre cozinhar para todos. Rin era um grande cozinheiro apesar de ser um desajeitado e graças ao irmão, ele agora queria fazer um banquete de boas-vindas para Usagi e Takeru. Isso talvez pudesse também acalmar a situação entre eles. Ele só tinha que tentar.

Encontrou Bon, Shima e Konekomaru comendo bentos nas escadas da entrada da escola. Rin chegou animado com a ideia e se sentou ao lado dos colegas na escada.

– Um banquete? – Konekomaru perguntou curioso.

– Isso, isso! Hoje à noite! – Rin respondeu animado.

– Hummm, se for assim por que você nunca fez isso pra gente também? – agora Shima perguntou, um pouco desanimado.

– Como assim?! Eu cozinhei para todo mundo no teste pra exwire!

– Mas não a mesma coisa que um banquete de boas-vindas...

– Pão duro...

– Ei, Okumura, e desde quando você faz esse tipo de coisa? – Bon disse com a sua expressão zangada de sempre, após terminar de comer o bento. Rin cruzou os braços tentando desviar os olhos do colega.

– Eu só achei que seria legal – ele disse fazendo um bico.

A conversa entre eles durou mais um tempo. Rin continuou insistindo para os três sobre a ideia enquanto os mesmos ficavam fazendo piada da cara dele. No fim eles concordaram, Rin se despediu deles e voltou a procurar pelos outros colegas. Ele ficou imaginando como iria falar com Usagi sobre isso já que ela andou ignorando ele a semana inteira, e Takeru...Rin não o encontrou desde quando o segundo semestre começou. Achava que seria mais difícil conversar com ele do que com a garota.

Claro, ele não podia esquecer de Shiemi e Izumo também. Shiemi aceitaria sem dúvidas, já que ela amava ficar perto dos seus amigos e se divertir ao lado deles. Sem falar que ela parecia estar ficando amiga de Usagi, isso ajudaria muito!

Com Izumo era o oposto, desde que se conheceram ela sempre tentou se afastar de todos, mantendo sempre seu orgulho e a cabeça erguida. Izumo nunca parecia se interessar pelas coisas e sempre se gabava por ser uma Tammer entre os exwires. Durante o teste de aprovação para exwire, ela mostrou seu lado fraco na frente de Rin quando ela e a melhor amiga, Paku, foram atacadas por um Ghoul. Ela teve que deixar sua fraqueza para ajudar os outros quando estavam em perigo mas mesmo depois continuou sendo a mesma de sempre. Apesar de tudo, Rin sabia que ela era uma garota legal já que ela foi a única que não ficou com medo dele quando todos descobriram que ele era o filho de Satã. Ele sentia que ela aceitaria o pedido dele.

Rin encontrou Izumo junto com Paku, as duas estavam comendo bentos na grama enquanto conversavam alegremente até Rin chegar correndo. Izumo desfez seu sorriso e fez a expressão costumeira de uma pessoa mau humorada enquanto Paku recebeu o garoto com um sorriso simples.

– Bom dia, Okumura. – disse Paku.

– O que você quer? – disse Izumo.

– Ei Izumo, eu vou fazer um banquete de boas- vindas pro Wasabi e pra Usagi hoje à noite no nosso dormitório. Paku pode vir também se quiser.

– Claro que vamos! – Paku respondeu alegre, ao contrário da amiga.

– Ei, Paku como assim?! Eu não concordei com isso!

– Certo, então vejo vocês mais tarde! - Rin se despediu das duas, agora só faltavam os convidados principais.

***

Usagi passou o intervalo dentro da sala de aula, assim como alguns outros alunos. Alguns preferiam ficar lá estudando, lendo, jogando, desenhando ou apenas conversando. Havia um grupo de três meninas ao redor de um garoto de cabelos castanhos sentado na última fileira horizontal. Usagi o reconheceu imediatamente, era o mesmo garoto que esbarrara nela no primeiro dia de aula, e ele não parecia estar muito entusiasmado de estar lá ao ver dela.

Usagi não parecia estar tão feliz naquele dia, matinha uma expressão séria como Izumo fazia frequentemente. Uma coisa chamou a atenção dela quando uma das garotas falou em voz alta, de forma que todos na sala puderam ouvir.

– Olha! Tem um coelho na janela!

“Um coelho?”, Usagi voltou seus olhos imediatamente para a janela e viu Fujimaru encarando a garota, “O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI?”. Ela tentou não olhar mas logo, todos os alunos seguiram até a janela. O garoto de cabelos castanhos pegou o coelho e o trouxe para dentro da sala. Fujimaru ficou aconchegado em seus braços e todos os alunos ficaram admirando a aparência fofa do orelhudo. Usagi não quis se aproximar para que ele não ficasse seguindo ela, todos iriam estranhar, mas alguma coisa tinha que ser feita.

– Ele tem uma coleira, acho que é de alguém. – disse o garoto.

– Impossível, não pode ter animais na academia. – disse uma das garotas.

– Bom, de qualquer forma eu vou levar este aqui para o S.r. Faust. Ele vai saber o que fazer com ele.

Usagi sentiu um desespero quando viu o garoto sair da sala, tentando esconder o coelho na sua jaqueta, o que obviamente não adiantava em nada. Ela tinha que pensar em alguma coisa. Se Mephisto soubesse que Fujimaru foi visto pelos alunos, ela certamente seria expulsa! Ela já podia sentir os segundos finais de sua vida acabarem.

Por sorte, o garoto foi sozinho e aproveitou para segui-lo. Saiu da sala sem tentar chamar atenção dos outros e depois começou a correr até encontrar o moreno de novo. Virava um corredor, depois outro, subia uma escada até não haver mais ninguém. Seu tempo de vida zeraria logo.

“ O que eu vou fazer?! Cadê ele?!”, ela se desesperava quando uma mão a puxou para a parede e viu o moreno em sua frente, com o coelho em um dos braços.

– Você--!

– Você devia cuidar melhor dos seus animais. – respondeu seriamente o moreno, devolvendo o coelho para ela. Parecia uma pessoa diferente.

– Espera, como você sabe? ...

Ele não respondeu, apenas se virou e começou a descer as escadas. Agora que eles trocaram palavras pela primeira vez, Usagi notou uma coisa: a voz dele. De alguma forma era uma voz familiar, mas por causa do rosto do garoto, ela não pode dizer quem era.

– Espera! – disse ela, o moreno parou no meio do caminho. – Você é.... quem é você de verdade?! – o garoto deu uma pequena risada e virou o rosto para ela.

– Você não lembraria de mim mesmo se eu dissesse. Afinal, você já se esqueceu de mim uma vez. – ele deixou a garota confusa agora – Desculpe, eu tenho que ir.

– E-Espere um pouco!

Uma voz ecoou alta no segundo andar, Usagi não reconheceu ela de primeira mas assim que virou o seu rosto viu a figura de Rin se aproximando como um jato na sua direção. O moreno já havia deixado o local.

Rin parou ofegante na frente da garota e do coelho, repousando um pouco para recuperar o fôlego.

– Eu... – suspirou bem fundo, ele – estava... procurando você. – mais uma vez, respirou bem fundo e depois se ergueu para falar com ela.

– Okumura Rin, o que você quer? – ela disse apertando Fujimaru em seus braços e encarando o garoto, já recuperado da correria.

– Você viu o Wasabi?

–…Hã?

– Eu queria falar com ele também mas não encontro ele em lugar nenhum, você o viu?

– Não... – a conversa soava esquisita para ela.

– Bom, de qualquer forma, hoje à noite vamos fazer uma festa de boas-vindas pra vocês dois! – ele disse empolgado. – E eu cozinho muito bem, não que eu queira me gabar mas enfim, vai ser no antigo dormitório masculino. Todo mundo do curso vai estar lá.

– E por que eu iria?!

– Por que? Por que eu acho que seria legal fazer uma festa assim e--

– Não é isso! Por que você está me convidando? Eu... Eu odeio demônios! E eu odeio ainda mais Satã! Por causa dele....Se não fosse por ele, minha mãe ainda estaria viva!

Sem nem perceber, os olhos da garota começaram a lacrimejar. Fujimaru afundou sua cabecinha peluda nas dobras do braço da dona, tentando mostrar como se preocupava com ela. Usagi limpou seu rosto e ficou quieta, ela não sabia mais o que dizer, sentiu até vergonha de ter falado aquilo.

Uma pessoa normal teria se afastado eu até mesmo ter ficado triste após uma revelação dessas mas Rin era diferente, ele entendeu o quanto isso deveria ser difícil para ela. Foi exatamente o que aconteceu com Konekomaru.

– Tudo bem. – ele disse mostrando um sorriso simples, os olhos lima da garota se fixaram nele – Realmente, perder um membro da família é mesmo doloroso. Mas não deixe de ir lá no dormitório, todo mundo vai estar lá. Você vai se divertir e talvez, quando tudo isso passar, nós podemos ser amigos de novo.

Usagi pode ver o sorriso mais sincero de todas as pessoas naquele momento. Mesmo depois das coisas que ela disse à ele, Rin nunca a tratou de forma diferente. Embora parecesse que ele estivesse um pouco triste, voltou a sua postura animada e se despediu da colega. Agora ele tinha que achar Takeru enquanto o intervalo ainda não tinha acabado.

Usagi achou que aquelas palavras eram para ela, mas não era totalmente verdade. Aquelas palavras serviam para ele também já que, por culpa de Satã, Rin perdeu seu pai adotivo, Fujimoto Shiro, na noite em que seus poderes despertaram. Rin se culpava também pela morte do pai pois naquela noite, ele disse coisas terríveis que o afetaram e permitiram que Satã tomasse posse do seu corpo. Ainda assim, Shiro nunca desistiu de Rin e se sacrificou para salva-lo.

Depois do ocorrido, Usagi mandou Fujimaru de volta para o quarto, dizendo que estava tudo bem, embora não parecesse. Ela decidiu ficar um pouco fora da academia e pegar um pouco de ar no jardim da frente antes que intervalo acabasse.

Ela estava completamente sozinha perto de algumas árvores quando viu a figura de uma loira de cabelos curtos se aproximar e chamar pelo seu nome. A loira estava vestindo o uniforme da academia, era Moriyama Shiemi.

– Totsuka-san! – chamava a loira animada.

– Shiemi-san, você estuda aqui também? – ela disse, levantando-se do chão.

– Sim, eu entrei no segundo semestre também graças ao Yuki-chan. – respondia a loira com um sorriso fofo.

– Entendi, eu nunca cheguei a ver você por aqui então eu achei que só estava no curso.

Elas ficaram conversando o resto do intervalo, era uma pena que não estivessem na mesma sala de aula pois se divertiram um monte conversando. As duas nunca conseguiram fazer amigos quando crianças, Shiemi porque tinha uma saúde frágil e Usagi porque era rejeitada por causa da cor diferente do cabelo. Mas nada era melhor do quer alguém igual para conversar e rir junto, estar com Shiemi naquela hora fez Usagi se esquecer completamente do que tinha acontecido antes até que a loira voltou a falar de Rin.

– A propósito, Totsuka-san, você vai na festa do Rin hoje à noite não?

–Ah…Bem, eu não tenho certeza. – ela respondeu um pouco desconfortável com o assunto. Mais uma vez voltou a se lembrar do que Rin havia dito à ela e da vergonha que passou após ter chorado na frente dele. – Shiemi-san, posso perguntar uma coisa? Você, não, todos já sabiam que ele era o filho de Satã?

Shiemi se sentiu diferente com relação a pergunta mas percebi que isso tudo ainda era muita coisa para que ela pudesse aceitar, mesmo não sabendo o que ela tinha contra o Satã. Mesmo assim, Shiemi sorriu costumeiramente para a amiga.

– Bem, na verdade não. Eu mesma fiquei chocada quando descobri. Eu não sabia bem como reagir, eu evitei o Rin por um tempo durante uma missão em Kyoto. – Usagi viu o sorriso da loira diminuir enquanto falava – Eu sempre achei que soubesse tudo sobre ele e o Yuki-chan mas eu estava errada.... Mas, eu sei que o Rin é uma boa pessoa. Você sabe disso também, não é?

O sorriso de Shiemi voltou maior e mais brilhante do que antes. As palavras dela fizeram Usagi corar e ao mesmo tempo se sentir com um pouco de raiva, só não sabia direito se era por causa de Rin ou dela mesma.

O sino tocou, alertando a todos o final do intervalo. As duas garotas saíram do gramado e foram, junto com o resto dos alunos, de volta para as suas salas de aula. As duas continuaram conversando sobre qualquer coisa antes de se separarem, Shiemi disse que já estava se acostumando com a academia e isso era bom já que ela ficou muitos anos sem ir à escola. Usagi ficou grata por ter feito a primeira amiga na escola. Quando disse isso em voz alta, Shiemi corou e segurou as mãos da outra com força e os olhos brilhando. “Nós somos amigas?”, ela dizia alegre antes de se despedirem.

– Claro que sim! – Usagi devolveu o sorriso para a loira e as duas se despediram. Shiemi foi para a sua sala e Usagi foi para a sua. Todos os alunos já estavam se sentando quando o professor acabava de chegar. Em poucos minutos, as palavras do professor fizeram a maioria dos alunos ficar com sono e deitar a cabeça na mesa. Para Usagi era a mesma coisa mas ao invés de se distrair com o sono, eram o convite de Rin e as palavras de Shiemi que faziam ela ficar pensativa enquanto fazia rabiscos aleatórios no caderno.

“Mesmo que depois de tudo ele ainda quer ser legal comigo...”, ela pensava, “Não é que eu queria ir...mas acho que seria rude se eu não fosse. Já que ele está tendo todo esse trabalho...”.

Ainda assim depois de toda a confusão no intervalo, não era Rin quem estava perturbando sua mente. "Aquele cara de cabelos castanhos....", ela lembrou das palavras dele naquela hora "Afinal, você já se esqueceu de mim uma vez.".

"Ele me conhece?...Eu não sei, ele parece se lembrar de mim mas eu não consigo. Não me é estranho mas...Se eu o conheci...Era alguém importante? Era alguém que eu deveria lembrar?"