You'd love me escrita por Arisusagi


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Sinceridade: Eu odiei escrever esse capítulo.
Sei lá, desanimei demais com essa história. Já tinha tudo planejadinho, mas de repente tudo que eu escrevia parecia não ser bom o bastante. Mudei várias cenas um monte de vezes e custei a achar um final que parecesse bom.
Não sei se essa história está realmente tão ruim assim ou se é só meu mau-humor com a vida.
Tenho várias outras fanfics planejadas, mas prometi a mim mesma que só as escreveria quando acabasse essa aqui. O próximo capítulo será o último.
Desculpe o desabafo pessimista, espero que ele não atrapalhe a sua leitura.



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―E foi isso que ele disse.

Os três estavam novamente reunidos nos apartamento de Loki, e ele acabara de contar sobre a conversa que tivera com Takeru naquele mesmo dia. Nenhum deles tinha dinheiro ou vontade suficiente para sair, então estavam lá, bebendo cerveja barata e assistindo à reprise de algum seriado dos anos 90.

―Que papo estranho, ele é ex do cara ou o que?― Comentou Dionysus, colocando os pés sobre o sofá onde estava sentado.

―Não, ele só quis me ajudar.― disse Loki, virando um pouco a mão esquerda.

Thor permaneceu calado, passando uma última demão de esmalte preto nas unhas de Loki. Não era raro ele fazer esse tipo de coisa, considerando que o ruivo não conseguia pintar as próprias unhas de forma decente.

Os dois estavam sentados frente a frente na mesa de jantar, que era protegida por uma toalha de rosto desbotada. O cheiro de esmalte e acetona tomava conta do ambiente, misturado ao da cerveja.

―Vai desistir? ―Perguntou Dio.

―Sei lá, ainda não pensei nisso...

―Pronto.― Murmurou Thor, limpando os cantos das unhas dele com um pedacinho de algodão embebido em acetona.

―Ficou ótimo!― Exclamou, esticando as mãos em frente ao rosto.― Já pensou em ser manicure?

―Não tenta mudar de assunto!― Esbravejou Dionysus.― Você ficou um tempão atrás do cara, não pode parar de falar com ele de uma hora pra outra.

―Eu sei, não vou fazer isso. ― pôs as mãos sobre a mesa, tomando cuidado para não estragar suas unhas.― Pra começar, nem sei se ele tá interessado em mim.

―Já vi que isso vai ser um drama...― suspirou Dio, jogando os braços sobre o encosto do sofá.

―Então, Thor― ele ergueu seus olhos dourados ao ouvir seu nome.―, o que eu faço?

―Você realmente gosta dele?―perguntou com sua habitual inexpressividade.

―Ah... Sei lá.

―Então não estrague tudo.― Disse, fechando o vidro de esmalte e recolhendo os outros produtos espalhados pela mesa.

Thor era uma pessoa de poucas palavras, porém, seus conselhos eram de extrema importância para Loki. Eles foram namorados durante alguns meses do ensino médio, algo passageiro, que não significou muito para nenhum dos dois. Foi apenas uma confusão entre amizade e algo mais profundo. Thor era um dos únicos ex-namorados com quem Loki mantinha contato, e também seu melhor amigo.

Os dois visitantes foram embora pouco antes da meia noite, já que Loki queria dormir cedo para não ter problemas com o encontro do dia seguinte. Programou o despertador e deitou-se em seu colchão, sentindo-se um pouco ansioso. Pensou em tudo o que falaria para Balder no dia seguinte e refez os planos inúmeras vezes, imaginando se ele gostaria de ir a algum lugar depois de visitar a exposição.

Aquela empolgação toda beirava o ridículo, mas ele não conseguia se conter, como na primeira vez em que ele saiu com uma garota, no começo da sétima série. Ela era bonitinha, e ele pensava que ficariam juntos pelo resto da vida, lembrava-se com clareza da noite inteira que passou em claro na véspera do encontro. Não seria bom se tudo aquilo se repetisse naquele dia, então Loki tentou relaxar e dormir o quanto antes.

Acordou com o celular tocando em sua mão. Ele olhou para a tela do aparelho, ainda entorpecido pelo sono e se espantou ao ver que não era o despertador, e sim uma ligação de Balder.

―Alô?― Ele atendeu enquanto se sentava.

―Loki? Sou eu― disse a voz tão familiar do outro lado.―, tudo bem?

―Tudo sim, o que aconteceu?

―Eu só liguei para avisar que vou chegar um pouco atrasado, você já está aí?― Loki não respondeu por um tempo, seu despertador não havia tocado, por que ele já estaria lá?

―Não, nem saí de casa ainda, fica tranquilo.

―Que bom, fiquei com medo de te deixar esperando. Até mais!

―Até.

Ele finalizou a ligação, vendo que já passava das 3 horas. Lembrava-se vagamente de desligar o despertador, mas achou que aquela cena fizesse parte de um sonho. Agora tudo fazia sentido.

Estaria se xingando em voz alta se tivesse tempo, porém sua única opção foi tomar um banho rápido, vestir a primeira roupa que encontrou e sair de casa com a carteira em uma mão e uma barrinha de chocolate na outra.

Chegou lá suado e descabelado, prometendo a si mesmo que nunca mais correria pelo resto de sua vida. Balder o esperava com um sorriso no rosto, sentando em um banco na porta do centro de exposições. Ele ficava ainda mais bonito se aquele avental cobrindo seu corpo.

―Demorei muito?― Ele perguntou, ainda arfando.― Desculpa.

―Não demorou não―respondeu, levantando-se. ―, não precisa se desculpar.

A exposição estava dividida em várias partes, sendo a primeira delas dedicada aos deuses greco-romanos. Balder parecia muito empolgado vendo todas aquelas pinturas e estátuas, enquanto fazia comentários sobre as técnicas artísticas ali utilizadas. Loki respondia com algumas curiosidades sobre os deuses e suas histórias.

A próxima parte mostrava a mitologia egípcia. Várias estatuetas estavam expostas atrás das vitrines, juntamente com alguns gatos mumificados e cópias de pergaminhos.

―Este é o julgamento de Osíris.― Comentou Loki, apontando para um dos desenhos.

―Julgamento?― Ele perguntou, olhando atentamente para a obra em questão.

―Osíris era o deus da vida após a morte. Está vendo? É aquele ali segurando o cajado e o chicote. Ele era responsável por julgar as almas dos mortos.― Disse, empolgando-se ao ver o brilho nos olhos do outro.― Ele pesava o coração da pessoa naquela balança, se ele fosse mais leve que uma pena, ela poderia seguir para a reencarnação.

­―Você sabe muito sobre mitos!― Exclamou, trazendo um leve tom avermelhado às bochechas de Loki.― Como aprendeu tanto?

―Minha mãe gostava de me contar sobre isso. ― Ele respondeu com certo orgulho.― Vem, os nórdicos estão logo ali.

A parte dedicada à mitologia nórdica exibia várias pinturas e gravuras. Balder analisava-as com atenção, até que um quadro específico roubou-lhe a atenção.

―A morte de Balder―ele leu o título da obra em voz alta, como se pedisse uma explicação.

―Essa é uma história curiosa...― Começou, aproximando-se dele.― Conhece?

Balder negou, voltando sua atenção para o ruivo ao seu lado.

―A mãe de Balder, Frigga, fez com que todos os seres vivos e não vivos jurassem que nunca fariam mal a ele. Porém, ela se esqueceu de apenas um ser, o visco. Um dia, enquanto os deuses festejavam, Loki perguntou ao irmão cego de Balder, Hodr, se ele não gostaria de participar do jogo de arco e flecha que os outros jogavam. Ele concordou, então Loki fez com que ele atirasse uma flecha de visco no peito de Balder. Foi assim que ele morreu.

―Nossa...― Disse Balder, como se acabasse de ouvir a história de sua própria morte.

―Pode ficar tranquilo, eu não vou te matar.― ele brincou, ainda surpreso por perceber que Balder não conhecia tanto sobre mitologia.― Acho que você não tem um irmão cego, não é?

―Não, eu sou filho único.― O loiro riu, virando-se para ver as outras gravuras.

Passaram pelas seções de mitologia asiática, africana e indígena, saindo de lá depois de mais de duas horas. Assim que saíram, Balder sugeriu que fosse a uma livraria. Livros estavam longe de ser a coisa preferida de Loki, mas ele aceitou, talvez porque quisesse ficar perto dele por mais algum tempo.

A maior livraria da cidade ficava no final daquela avenida. Caminharam despreocupadamente, conversando sobre assuntos variados. Balder estava empolgado, e falava com Loki sem dar sinal da timidez com que o fazia há algumas semanas.

―Eu nunca me interessei por mitologia...― comentou, colocando as mãos nos bolsos da calça jeans que vestia.― Só conhecia a greco-romana.

―Mas e o seu nome?― perguntou Loki, curioso para saber um pouco mais sobre ele.― É por causa do deus, não é?

―Não... Era o nome do meu avô.― disse, um pouco envergonhado.― Eu sabia que era o nome de um deus, mas nunca ouvi nada sobre ele. E o seu? É por causa do Loki?

―Sim―sorriu, lembrando-se de pequenos momentos de sua infância.―, é uma história engraçada...

Sua mãe sempre sonhara em ter uma família tradicional, como aquelas que se via na televisão. Entretanto, sua saúde não a permitia manter uma gestação por mais de três meses. Desesperada, ela pediu a Loki para realizar seu sonho. Em troca, ela colocaria o nome dele em seu filho. Quase um ano depois, ela deu à luz um menino saudável e de cabelos ruivos. E durante anos, a família viveu feliz em um apartamento simples da periferia.

Porém, de todos os deuses ela escolhera justo o da enganação.

Um dia, o marido anunciou que estava se mudando para outra cidade com a amante, e deixou-a sozinha com o garoto de sete anos de idade. Ela nunca suspeitara de que o deus havia lhe pregado uma peça, e ainda guardava a esperança de que um dia seu marido voltaria.

―Eu sinto muito... ― Foi a única coisa que Balder conseguiu dizer depois de ouvir aquela história.

A essa altura, os dois já estavam dentro da livraria, conversando encostados em uma das prateleiras.

―Não se preocupa, eu não ligo pra isso. ― Loki riu, tentando acabar com o clima tenso que criara.

―Sua mãe parece ser uma boa pessoa.

―Ela é...― Ele suspirou.

Não falava com ela há mais de um ano, e não pretendia fazê-lo tão cedo. Sentia falta dela, mas ele estava cansado de ouvir sermões sobre a importância de um curso superior. Ele sequer tentara ingressar em uma faculdade, e não tinha a mínima vontade de voltar a estudar.

Mergulharam em um silêncio confortável enquanto Balder folheava alguns livros. Loki o observava discretamente, analisando suas expressões e movimentos.

A forma como ele lia pequenos trechos com atenção, franzindo o cenho levemente era adorável.

―Acho que era esse livro que a Yui queria...

―Compra pra ela. ― Aquilo soara mais como uma provocação que como um conselho. ― Para se conquistar uma garota é preciso dar presentes.

―Conquistar?― Balder perguntou com certa inocência. ― Você quis dizer...? Não! Eu não estou interessado nela.

―Não mesmo?― Perguntou Loki em tom brincalhão. Ele queria falar sobre aquela garota há algum tempo, e aquele parecia ser o momento mais apropriado.

―Não, a Yui já tem uma pessoa especial. ―Ele fechou o livro, devolvendo-o para a estante.― E também...

― O quê?

―Eu não me sinto atraído por meninas. ― Balder disse em tom baixo.

―Ah, então você é gay?―perguntou o ruivo. É claro que ele já desconfiava da sexualidade de Balder, só precisava confirmar suas suspeitas.

―É, eu sou.― o loiro desviou o olhar, corando um pouco.― Você me disse que saía tanto com homens quanto com mulheres, então achei que não teria problema se eu te contasse.

―Nenhum problema.

―Eu não costumo falar sobre isso com todo mundo― o loiro disse com certo alívio―, tenho medo do que os outros podem fazer.

―É, eu sei como é.― ele comentou, lembrando-se das várias vezes em que foi agredido, verbal ou fisicamente, por causa da sua sexualidade. ― Não dá pra confiar em qualquer um.

O loiro sorriu e foi até outra prateleira, vendo os livros que ali estavam. Loki sentia-se privilegiado por saber de algo tão secreto assim sobre Balder, isso significava que ele era digno de confiança. Lembrou-se das palavras de Takeru, e de repente uma enorme insegurança o atingiu. E se ele decepcionasse Balder?

―De que tipo de livro você gosta?― perguntou, na tentativa de ignorar os pensamentos negativos que enchiam sua cabeça.

―Suspense e romance histórico.― respondeu, ainda sem tirar os olhos do livro que folheava.― Mas agora estou procurando alguns sobre mitologia.

―Ah, entendi.

―Ainda bem que eu fui nessa exposição com você, Loki.― ele disse, finalmente olhando para o ruivo.― Senão eu nunca me preocuparia em saber mais sobre isso.

―Uh, não há de quê.― Um leve rubor tomou conta de suas bochechas. Ele não estava acostumado a se sentir importante.

Talvez ele não precisasse se esforçar tanto assim para manter a confiança de Balder.

―Vou levar este aqui.― Balder anunciou, fechando o livro que segurava. Era uma coletânea de mitos do mundo inteiro.― Quer alguma coisa?

―Não, obrigado.

Loki encostou-se no balcão do caixa enquanto o outro pagava.

Tinha quase certeza de que estava disposto a ter algo mais sério com Balder, só precisava pensar um pouco mais e, talvez, conversar com Thor. Seria interessante ter um namoro sério com alguém, já que ele não namorava alguém dessa forma há alguns anos.

―Vamos?― Balder pegou a sacola, encostando a mão no braço de Loki com leveza.

―Vamos.

A certeza de que ele queria estar com Balder nunca fora tão forte como naquele momento.


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Notas finais do capítulo

Pelo menos eu consegui usar algumas coisas que eu aprendi no módulo de mitologia ano passado.
Comentários são muito mais que bem-vindos.



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