You'd love me escrita por Arisusagi


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Demorei um pouco para escrever esse aqui porque acabei me focando demais no texto que escrevi para o sarau da escola. Falando nela, as aulas também não estão ajudando, ainda mais com toda essa pressão pra vestibular. Espero que gostem.



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Acordou deitado desconfortavelmente sobre o braço direito. Virou-se, abrindo e fechando a mão até que a sua circulação voltasse ao normal. Encarou o teto por alguns minutos, tentando descobrir de onde vinha aquele cheiro forte de mofo.

Era quase 4 da tarde e ele havia perdido a chance de se encontrar com Balder na padaria. Suspirou, pelo menos estava se sentindo descansado, era raro ele dormir por 10 horas seguidas daquele jeito.

Sentou-se sobre o colchão velho olhando ao seu redor. A única mobília existente ali eram um guarda roupa e duas cadeiras, sendo uma delas de praia e a outra de escritório, ambas cobertas de roupas usadas. Tentou recordar-se da última vez que arrumara seu quarto, mas desistiu ao ouvir seu estômago roncar. Levantou-se, recolhendo algumas roupas de cima das cadeiras. Já estava na hora de fazer uma faxina.

Comeu qualquer coisa e ligou a TV, na esperança de se entreter durante algumas horas.

O celular vibrou sobre a mesinha de madeira, chamando sua atenção. Era uma mensagem de Balder.

“Está tudo bem?”

Estranhou a pergunta, ele havia feito algo errado?

Sim. Por que?”

”É que você não apareceu por lá hoje. Só fiquei um pouco preocupado.”

Então Balder se preocupava com ele?

Só dormi demais, não aconteceu nada”

“Entendo... Desculpa o incômodo.”

“Não foi nada.”

Um leve sorriso surgiu em seu rosto, então Balder o considerava importante a ponto de notar sua ausência? Imaginou-o sentado atrás daquele balcão, aflito, imaginando o que poderia ter acontecido com o rapaz que ia lá todas as manhãs. Era bom sentir-se importante de vez em quando.

As quatro horas que o separavam do seu horário de trabalho se arrastaram lentamente, fazendo com que ele saísse de casa antes do horário normal. Caminhou devagar, tentando não chegar tão cedo à loja. Algum encontro inesperado seria muito conveniente naquele momento.

―Balder?

―Loki?― o loiro perguntou, olhando por cima das enormes sacolas de papel pardo cheias de compras que segurava.

― Quer ajuda?

― Não precisa, obrigado. ― ele sorriu, virando-se um pouco para conseguir vê-lo melhor.

―Deixa eu levar uma ― Loki pegou uma das sacolas ―, tenho tempo.

―Bem, se você insiste... ― disse sem jeito, voltando a caminhar. ― Minha aula acabou mais cedo e eu resolvi comprar comida pro Usamaro.

―Quem?

―Meu coelho de estimação. Não te falei sobre ele?

―Não...

―Na verdade ele é do Takeru. ― comentou, olhando para dentro da sacola que segurava.

―Esse coelho come bastante, hein.― riu Loki, aquelas sacolas estavam muito pesadas.

―Comprei outras coisas que estavam faltando lá em casa.― ele se explicou, um pouco envergonhado.

Caminharam por mais algumas quadras, até chegarem ao prédio onde ele morava. Era uma construção pequena de 5 andares.

O apartamento de Balder era bem organizado, assim como Loki imaginara. A sala tinha as paredes pintadas de azul claro e o piso de madeira, ele pôde ver uma grande gaiola ao lado do sofá antes de entrar na cozinha.

―Pode colocar aqui. ― disse Balder, repousando sua sacola sobre o balcão de granito cinza.― Obrigado por me ajudar.

―De nada.

Loki ajudou-o a guardar as compras enquanto observava o ambiente ao seu redor. Era tão limpo e tão arrumado, parecia até um cenário de uma revista de decoração. O piso era branco, assim como os armários de madeira, e as paredes eram cobertas de azulejos cinzentos. Não havia uma louça sequer fora dos armários e era possível sentir um leve perfume no ar.

―Quer vê-lo?― perguntou Balder, chamando sua atenção.

―Hm?

―O Usamaro.

―Ah, claro.

Balder pegou uma cenoura e seguiu até a sala, ajoelhando-se ao lado da gaiola. Um coelho branco estava deitado sobre várias camadas de jornal e serragem. Ele abriu a portinha e retirou o bichinho com cuidado, colocando-o no chão. Ele era pequeno e tinha os olhos dourados.

―Ficou sozinho o dia todo, não é?―ele acariciou-o devagar, encostando a cenoura em seu focinho.― Trouxe comida para você.

Loki se sentou ao seu lado, prestando mais atenção em Balder que no coelho. Estavam sozinhos ali, aparentemente, e alguns pensamentos obscuros começaram a brotar na cabeça do ruivo.

Queria agarrá-lo pelos cabelos loiros e jogá-lo no sofá, beijando-o intensamente até que ambos ficassem sem fôlego. Depois, sussurraria palavras indecentes ao morder seu pescoço branco, passando as mãos por todo aquele corpo. Ele ficaria sem palavras, tímido talvez, mas o convidaria para ir até seu quarto. Ali, as carícias se aprofundariam cada vez mais até que se tornassem um.

―Quer comer alguma coisa?― a voz suave de Balder o acordou de suas fantasias. Eles ainda estavam sentados no chão, e Usamaro já havia comido metade da cenoura.

―Não, obrigado. ― ele se levantou.― Acho que é melhor eu ir para o trabalho.

―Tem certeza que não quer nada?

―Tenho­― ele sorriu.―,obrigado.

Saiu de lá com passos lentos, sentindo-se culpado por sujar a imagem de Balder em sua mente daquela forma. Como pôde fazer isso com uma pessoa tão pura e inocente? Ele era um pervertido, mas não podia negar que desejava que aquilo tudo acontecesse algum dia.

Devaneios daquele tipo eram bastante comuns no dia-a-dia de Loki, era quase um ritual, feito toda vez que estava a sós com alguém. A grande maioria não se tornava real, por vontade dos outros ou dele mesmo. Não que sua vida sexual não fosse agitada― ela era, até demais― mas Loki não costumava criar laços muito profundos com as pessoas com quem dormia. É claro que existiam exceções, e ele queria que Balder fosse uma delas.

―Então, Balder.― ele disse, apoiando os cotovelos no balcão.

Era outra manhã de sexta-feira, Loki tomava sua costumeira xícara de café, fazendo companhia a Balder e Takeru naquela manhã pouco movimentada.

―A exposição sobre mitologia começa amanhã, quer ir?­

―Verdade, tinha me esquecido. Onde vai ser?

―No centro de exposições, fica aberto o dia todo.― ele bebeu o resto do café, empurrando o pires com o dedo.― Podemos ir em qualquer horário.

―Estarei livre depois das 2 da tarde.

―Podemos nos encontrar lá às 3, o que acha?

―Pode ser.― Balder pegou a louça suja e levou-a para a cozinha.

Takeru estava sentado em uma banqueta alta atrás do caixa, ouvindo a conversa dos dois sem interferir. Vez ou outra lançava um olhar desconfiado na direção dos dois, sem dizer uma palavra. Um silêncio desconfortável surgiu entre ele e Loki, enquanto o outro não voltava.

―Estou indo.― Balder voltou, sem o avental e com a mochila nas costas.― Então nos vemos amanhã?

―Amanhã, 3 horas― respondeu Loki com um sorriso bobo no rosto.

―Até mais.

Loki se levantou, segurando a comanda em uma das mãos e procurando sua carteira com a outra.

―Você está bem próximo dele, não é?― ele se assustou com a declaração repentina de Takeru.

―É, um pouco― comentou, colocando a comanda e duas notas sobre o balcão de granito. Que tipo de pergunta era aquela?

―Queria te falar algumas coisas sobre isso.― ele pegou o papel, digitando alguns números no teclado.

―O que?― perguntou Loki. Aquela conversa estava tomando um rumo muito estranho.

― Olha, eu não sei quais são suas intenções em relação ao Balder.― Takeru pegou o dinheiro, abrindo a caixa registradora e recolhendo o troco lentamente.― Mas você precisa saber disso antes que seja tarde demais.

Ele não disse nada, apenas balançou a cabeça, como se pedisse para continuar.

―O Balder é uma pessoa muito gentil, você deve ter percebido, mas ele é mais frágil do que parece.― Takeru encarou-o com olhos congelantes.

Ele sentiu um arrepio subir pela espinha. Que tipo de atitude era aquela?

―Ele machuca os outros sem perceber― estendeu a mão cheia de moedas―, e se sente mal por causa disso.

Loki continuou calado, guardando o dinheiro em seu bolso. O que ele queria dizer com aquilo?

―Simplificando: ele é ciumento, e sofre demais quando gosta realmente de alguém.― ele franziu o cenho, sem deixar de encará-lo.

―Você já...?

―Não, claro que não.― Takeru soltou uma risada, quebrando o clima desconfortável que se instalara ali.― Balder é meu amigo, só isso.

―Ah bom, pensei que...

―Não, de jeito nenhum. Eu o conheço há bastante tempo e já vi muita coisa pra saber disso.― cruzou os braços, apoiando-se no balcão.― E parece que ele gosta bastante de você. Por favor, tome cuidado com ele.

Loki não soube responder, apenas agradeceu pelo conselho e saiu dali.

Balder parecia ser do tipo que se apegava aos outros com facilidade, então não era estranho que ele sentisse ciúmes da mesma forma. O agradecimento feito a Takeru não fora por mera educação, aquele aviso era algo realmente importante para Loki. Sabendo disso, ele poderia pensar seriamente sobre o tipo de relação que gostaria de ter com Balder, e se estaria disposto a mudar de atitude por ele.


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Notas finais do capítulo

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