P.O.V. Lívia

Acordei no dia seguinte com os olhos inchados pelo choro e um cansaço incomum, não sei quanto tempo demorei para enfim levantar, mas percebi que a casa estava bem silenciosa. Me vesti rapidamente com uma roupa fresca e desci as escadas encontrando minha mãe deitada no sofá da sala dormindo, aquilo significava que algo realmente ruim tinha acontecido entre meus pais... Será que se separaram?

Subi correndo para o quarto deles a procura do meu pai, mas o quarto estava vazio. Fui ao guarda-roupa e então tive certeza de sua separação. Haviam somente umas três peças do meu pai no móvel. Não pude evitar de pensar na parcela de culpa que eu tinha naquilo tudo, afinal as coisas estavam ótimas antes de todas as esquisitices que começaram a acontecer comigo nos trazer até aqui.

Desço novamente as escadas e vou para a cozinha fazendo um café da manhã reforçado pra minha mãe.

– Lívia? – pergunta minha mãe sonolenta assim que acabo de por a mesa

– Oi mãe.

Ela se sentou e pegou uma panqueca assim como eu, mas parecia esforçar-se pra digerir.

– Mãe... O que está acontecendo?

Quase me arrependi de ter perguntado, pois assim que terminei de falar, lagrimas se acumularam em seus olhos.

– Nos separamos Liv. – abaixei a cabeça – Você... – respirou fundo – Você é fruto de uma traição.

– Com quem?

– Não acho que isso seja importante.

– Eu tenho o direito de saber.

– Pra que? Você não vai atrás dele, não vou permitir isso! Ele é perigoso!

– Se ele é tão perigoso assim então acho que é melhor eu saber quem é!

– Arthur. Esse é o nome dele.

O mundo parou naquele momento. Não podia ser! Não podia ser AQUELE Arthur...

– C-como ele é? – perguntei rezando para que fosse alguém totalmente diferente de quem eu estava pensando

– Ele tinha os olhos claros, era alto e... Não sei Lívia o que você espera que eu diga? – disse estressada – Eu o amava, sempre o amei, mas sabia que não podia ficar com ele, então me casei com Daniel. Mas depois de 1 ano ele voltou e... Aconteceu! – disse começando a chorar

Ela saiu correndo da cozinha e se trancou no quarto batendo forte a porta. Meu relacionamento com meus pais havia se tornado frio depois da nossa mudança pra cá, não havia mais o almoço de família aos finais de semana, nem piqueniques uma vez por mês, e isso nos afastou, há tempos eu não abraçava mais meus pais, e muitas vezes nem os via durante o dia.

Ficar naquela casa não me parecia uma opção saudável hoje.

Peguei o livro que atormentava meus pensamentos tentando não pensar muito no fato de que o Arthur da visão no espelho, e o que me entregou o livro era o mesmo que minha mãe se referia...

Andei até a praia numa parte deserta e sentei em um tronco abrindo o livro numa dedicatória.

“Dedico este livro a todos pertencentes à linhagem Tharthmus, para que os ajudem a esclarecer os mistérios de nossa espécie, os motivos de nossa criação.

Porém se não se sente tentado a ler este livro peço que pare por aqui e o coloque em um lugar seguro. Este livro não deve cair em mãos erradas, ou o futuro de todos nós será a extinção.

– Lilian McGonnagal da ordem de Tharthmus”

Okay. Isso é definitivamente estranho.

“ Capítulo 1 – A Origem

Há muitas lendas sobre nossa origem, não que nosso povo não saiba a verdade, porém é mais seguro criar lendas que desafiem a racionalidade do homem.

Tudo começou por volta de 998 d.C. muitos conflitos aconteciam em busca do poder, os homens tentavam dominar cada vez mais os elementos da natureza, buscavam explicar fenômenos e por fim formas de utilizar tais conhecimentos a seu favor.

Numa tentativa de impedir o caos os espíritos da natureza decidiram habitar entre os humanos.

Os espíritos, agora em terra, se dividiam em pequenos grupos, os protetores da água, das florestas, dos animais e por fim os dos seres humanos.

Os protetores dos seres humanos ficaram conhecidos como ‘Specula’ ou ‘Espelhos’ em função de seus poderes, que consistiam em fazer uma leitura da alma de cada pessoa, poderiam também refletir seus objetivos influenciando decisões.”

Fiquei lendo durante horas, quanto mais eu lia o livro, mais extenso ele parecia ficar (isso porque amo ler, imagina então o como é chato), não chato, mas cansativo e provavelmente escrito há muito tempo atrás já que muitas palavras eu não conhecia.

Bufei frustrada e deitei na areia tentando me acalmar.

Talvez se eu não lesse o livro ele voltaria atrás de mim e por mais que isso me desse medo também me deixava ansiosa, pois essa seria minha chance de descobrir se ele era o meu pai. Não que eu espere que ele participe da minha vida, mas sei que ele poderá esclarecer minhas dúvidas e também me dizer o que foi aquela visão (se é que aquilo pode ser chamado assim) dele querendo pegar o bebê do colo da minha mãe...

Ah tantas coisas pra pensar e tentar entender!

Sinto meu celular vibrar.

#LigaçãoOn

– Alô?

– Lívia, tudo bem? É o Ian.

– Ah oi! – respondi surpresa – Nossa não esperava sua ligação.

– É, então, andei meio sumido, mas pesquisei sobre o espelho... Como você o achou?

– Eu... – como ia explicar? – Eu o achei junto com um livro na rua...

– E você leu esse livro? – perguntou com uma voz estranha

– Só algumas páginas.

– Hum, bom falava de algo importante relacionado ao espelho?

– Não. – menti

– Certo. Olha por que não nos encontramos amanhã na divisa de La Push e Forks para eu te mostrar o que descobri... Posso até levar cappuccino se quiser!

– Se tem cappuccino, tem Lívia! Nos vemos amanhã. – confirmei rindo

– Então... Tchau?

– É, tchau.

#LigaçãoOff

Ian era estranho, não num sentido mal, mas que o torna diferente.

Resolvi não ler mais o livro, e fui para a casa ver como estava minha mãe e vi meu pai colocando algumas roupas dele que haviam ficado em casa e quando o mesmo estava entrando no carro falei:

–Não vai se despedir?

Ele me olhou com os olhos cheios de lágrimas e de alguma forma eu sabia que ele tentava entender como nunca havia percebido que em nada éramos parecidos fisicamente.

– Filha... – falou e se rosto foi tomado por uma expressão de dor

– Eu sei de tudo. Mas não pensei que fosse embora sem nem mesmo me dar tchau. – falei com a voz embargada

–Sinto muito Lívia. – abaixou a cabeça

– Não vai me dar um abraço? – falei e lágrimas caiam pelo meu rosto

– Não consigo Lív.

– VOCÊ FALOU QUE CONTINUARIA ME AMANDO! – gritei tomada pelo desespero, não queria perder meu pai, não importa se ele não era o biológico, ele é meu pai e nada pode mudar isso

– Eu sempre te amarei pequena, mas... Olhar pra você, no momento só me lembra a traição. E-eu sinto muito Lív, só me dê um tempo e tudo voltará a ser como era.

– Quer que eu dê uma pausa de ser sua filha? – perguntei sarcástica

– Até mais Lívia.

Entrou no carro dando partida.

– É SÓ ISSO O QUE TEM A DIZER? – gritei correndo atrás do carro apesar de saber que não conseguiria segui-lo

Meus pais desde que nos mudamos não parecem se importar muito comigo, eu sabia que eles ligavam muito mais para as aparências do que muitas vezes pra mim, porém ver seu pai indo embora como se te amar fosse um sacrifício de agora em diante, era algo mil vezes pior.

Saí correndo sem rumo, chorando compulsivamente, até avistar ELE na praia meu porto seguro. Corri até ele o mais rápido que podia o pegando de surpresa num abraço.

Não me importava o que os amigos deles pensaram de mim quando me viram chorando daquela forma eu só queria o Seth, meu lobinho.

– Não me deixa Seth, não me deixa, por favor! – eu implorava chorando, eu precisava dele eu ao queria perder mais ninguém eu não podia

– Lív o que aconteceu? – perguntava preocupado e eu podia sentir seu corpo tremendo, talvez algo de lobo

– Só não me deixa, me promete!

– Eu prometo Lívia, por nada no mundo eu lhe deixaria...