P.O.V. Lívia

Acordei encontrando uma bandeja de comida e uma muda de roupas sobre a mesa junto a um bilhete.

“ Vista esta roupa e espere do lado de fora da casa.”

Comi o lanche e vesti a roupa pegando a mochila que estava junto dela, descendo as escadas. Parece que ninguém mais tem medo que eu fuja...

– Bom dia flor do dia!

Virei encontrando Ian sorrindo pra mim. Andei até ele vendo seu sorriso aumentar, porém não por muito tempo, pois acertei um tapa em seu rosto.

– Por quê? Eu confiei em você! – falei – E você me traiu! Me sequestrou! EU TE ODEIO! – gritei a última parte

– Lív...

– Lívia pra você! – interrompi nervosa

–Lívia, eu tive que fazer aquilo. Talvez se você tivesse lido o livro... A questão é que Arthur me mandou buscá-la.

– Então você trabalha pra ele?

– Mais ou menos.

– Defina.

– Mais tarde, agora preciso que você me acompanhe.

– Por que eu faria isso?

– Porque sabe que é a melhor chance de ter as respostas para suas perguntas.

Suspirei.

*.*.*.*.*

Estávamos numa clareira, as árvores pareciam formar arcos nos cobrindo. Acho que eu nunca me adaptaria com a magia desse lugar, lua vermelha, estações do ano misturadas, árvores-arcos...

– O que estamos fazendo aqui? – perguntei

– Vamos treinar.

– Pra que?

– Reflexio Venatores eles vão vir atrás de você e vai precisar estar preparada.

MAS NÃO QUERO LUTAR, SÓ QUERO IR PRA CASA!

Era o que eu queria gritar.

–Sei que quer ir pra casa, mas pra isso terá que treinar...

– Você lê mentes? – perguntei espantada

– Dificilmente, mas você está projetando isso alto demais. Não faça isso em batalha.

Ah que ótimo agora, além de estar presa em um mundo maluco as pessoas ainda leem minha mente... Eu poderia ganhar um premio de “Garota sortuda do ano”.

– Escolha. – disse Ian me mostrando 6 espadas

– Ou ou ou... Você acha que vou usar isso?

– Escolha!

Andei até os 6 objetos, entretanto quando estava a apenas um passo de distância, era como se imagens de uma espada fossem colocadas em minha mente, eu lutando com ela. Estiquei a mão tocando-a, era essa, eu sentia aquilo, era uma certeza que chegava a me assustar.

A espada tinha seu formato um tanto quanto delicado, porem sua fina lamina era tão afiada que só em correr meu dedo por ela, me cortei, mas da onde deveria sair o sangue era como se uma fina linha prata fosse costurando até que a ferida não existisse mais.

Olhei Ian espantada.

– Seu aniversário está próximo, seus poderes estão evoluindo. – suspirou – Vem tenho que te ensinar o básico...

Ian me fez vestir joelheiras, luvas e mais alguns equipamentos de segurança, apenas pra me ensinar a como segurar a espada, mas como dar golpes ou defender só fizemos isso com gravetos e nem preciso dizer que fui mal pra caramba...

*.*.*.*.*

Por três dias era só o que eu fazia: treinar e treinar. Arthur apareceu apenas uma vez na noite anterior para entregar o convite do meu próprio baile de aniversário que seria realizado no salão do reino.

Nenhum dos dias que estive lá passei dos portões que separavam o lugar onde estava sendo mantida, do reino em si. Ian dizia que por Arthur ser o rei, eu deveria ser apresentada seguindo às formalidades de lá, que no caso seria este baile.

Não sei ao certo o que esperar disso tudo, em nenhum momento alguém me deu qualquer palavra sobre eu voltar para La Push, porém já venho pensando em uma forma de fazer isso nem que seja para dizer que estou bem apesar de Ian me garantir que um dos soldados, ou sei lá como os chamam, foi comunicar a minha mãe onde estou. Apenas imagino-a querendo matar meu “pai”.

Estava em um intervalo do treino sentada debaixo de uma árvore ao lado de Ian.

Nossa relação havia melhorado um pouco, não posso dizer que esqueci que ele traiu minha confiança, mas ele era necessário para que eu pudesse realizar meu plano.

– Pensando em que? – pergunto Ian

– La Push, sinto falta de lá. Gostaria de poder ao menos dizer que estou bem. Você poderia me ajudar com isso?

– Quer que eu te leve pra lá?

– Sim!

– Lív... Não posso.

Analisei seu rosto.

– Você é um péssimo mentiroso! – ditei

– Seu pai me mataria.

– Ninguém vai ficar sabendo. Amanhã quando for me levar pra treinar, vamos pra lá e depois voltamos, só preciso de alguns instantes...

Ele pareceu ponderar a ideia, eu sabia que seria arriscado, mas era minha única chance...

– Tudo bem, mas vou cobrar um favor um dia.

– Pode cobrar! – falei com um imenso sorriso

***

O dia seguinte chegou, acordei animada por enfim poder ir pra La Push. Era estranho como havia uma força irresistível me puxando pra lá, quase como algo físico. O nervoso tomava conta do meu corpo, fazendo-me tremer, eu não poderia aparecer para minha mãe ou ela me amarraria lá, mas também aparecer para Seth seria quase o mesmo senão pior.

Okay vai ser aquele que aparecer primeiro na minha frente.

– Pronta? – disse Ian ao meu lado

Acenei com a cabeça.

Caminhamos chegando até um cachoeira, Ian escalou algumas pedras entrando por trás da cortina de água, fiz o mesmo, porém com mais dificuldade. Era um buraco que se não tivesse visto Ian entrar, não perceberia a existência. Pouco tempo depois de entrarmos alguns filetes de água foram caindo pelas pedras brilhando de maneira quase irreal.

– Pense em La Push. Você irá sem mim mas quando ouvir minha voz em sua mente quero que vá até onde eu mandar para voltarmos, você tem praticamente um dia inteiro.

– Obrigada Ian! – falei sinceramente

Ele sorriu de canto.

Fechei meus olhos e encostei minha mão no liquido, pensei em La Push.

Sinto um vento forte e quando abro os olhos me vejo caindo desconfortavelmente sobre um monte de areia.

– Ai! – gemi de dor

Levantei tentando me localizar e que parte da praia eu estava, comecei a caminhar sem direção sentindo o vento.

Fui tomada pelas lembranças do Seth. Era difícil compreender a força que o imprinting tem sobre o lobo e seu alvo, não conheço Seth a tanto tempo, porém ficar longe dele parecia ser uma vida incompleta.

– Eu preciso de você Seth.- falei sentindo uma lágrima escorrer

Outra visão começou.

“Eu via uma silhueta sobre uma pedra observando o mar, sem duvidas era o Seth.

– Cadê você Lív?”

Sem perceber meus pés me guiavam para um caminho desconhecido, simplesmente me deixei levar, se havia algo que aprendi sobre meus poderes é que reprimi-los não era controlá-los e eu precisava senti-los para poder pensar e controlar.

Aos poucos entendi pra onde estava indo. Para a pedra. Para o Seth.

Caminhei receosa sabendo que em breve ele sentiria meu cheiro, foi quando seu corpo ficou tenso e como se fosse em câmera lenta ele virou encontrando meus olhos.

Se um dia me dissessem que Seth está infeliz eu diria ser impossível, mas olhando para ele agora sinto meu coração estilhaçado, não era o Seth com sorriso maroto, e ruginhas da risada, e sim um garoto sem brilho nos olhos, com olheiras e magro demais para seu tamanho.

Não tive tempo de pensar, pois logo foi esmagada por um abraço forte e de repente era como se minhas fraquezas, meus medos de tudo que estava passando voltassem e eu já não podia controlar meu choro assim como ele que tremia chorando.

– Não me deixa de novo Lív, eu te imploro! – dizia repetidamente

O buraco no meu coração se fazia mais presente a cada palavra.

– Me desculpa! Eu não tive escolha, eu nunca quis isso.

Ele parou me encarando sério e tremendo mais forte.

– Quem.fez.isso.com.vc? – disse pausadamente

– Eu vou te contar, mas me promete que vai me aceitar do jeito que sou?

Sua expressão suavizou-se e ele se aproximou.

– Poderiam ter três chifres na sua cabeça que eu continuaria te amando da mesma forma. – disse sorrindo e piscando involuntariamente seu olho direito, eu amava quando isso acontecia, era impossível não retribuir o sorriso

– E você me ama? – perguntei lembrando do nosso beijo como terminou

No fundo eu tinha medo da resposta dele, mas sabe aquelas vezes em que antes mesmo de pensar em falar já escapou?

– Tire suas próprias conclusões.

Então aconteceu. Seus lábios tocaram delicadamente os meus, deixando-me sentir um carinho que nunca imaginei poder ser perceptível através de um beijo. Uma de suas mãos pousou em minha cintura enquanto a outra acariciou ternamente a lateral do meu rosto. Sua língua pediu passagem e aceitei de bom grado, passei meus braços envolta do seu pescoço mexendo nos fios do seu cabelo.

E o beijo continuou lento e cheio de sentimentos, parando aos poucos com alguns selinhos.

– Eu não consigo ficar longe de você Lívia, eu não queria fazer com que você se sentisse obrigada a gostar de mim por causa do imprinting, principalmente por você ser nova. Eu não tinha o direito de fazer isso, mas eu sei que apesar da idade você não é mais uma criança, e mesmo que eu queira te proteger como um irmão, eu te amo muito mais do que como irmão, e não importa o que você tenha a dizer ou o que você esteja passando, eu vou estar com você enquanto você me quiser. Vamos passar por isso juntos. – disse olhando para nossas mãos unidas

Eu sabia o quanto Seth lutava contra a vontade de estar comigo mais do que como um amigo por conta da minha idade, entretanto ele, no fundo, sabe que não é algo que nem eu e ele iríamos conseguir evitar por muito tempo.

– Eu também te amo Seth! – sorrimos emocionados

Respirei fundo e me preparei para a conversa que teríamos a seguir.