Os cristais de água cintilavam com a luz do sol que entrava pelas janelas e portas da guilda. Seria uma bela visão se não fosse o fato de que estavam apontados para uma criatura maléfica pronta para matar a qualquer um apenas por diversão sem o mínimo de culpa.

– Ora, ora... – Dizia a bruxa andando de um lado a outro – Vejo que mesmo com o presentinho da minha irmã você continua firme e forte. Uma pena que não durará muito tempo.

– Quem é você? – Perguntou Mizuki sem demonstrar temor algum.

– Sou Enextesia, uma das três irmãs – Ela sorriu.

– Enextesia? – Keitaro indagou para si mesmo depois falou a Mizuki sem tirar a mira da bruxa – Mizuki, ela é irmã da Explosia.

– Ah, sim. Já devem conhecer minha irmã, não é mesmo? – A mulher sorriu começando a dar passos de um lado ao outro como se dançasse – Ela quem te deu esse lindo presente no seu braço.

Mizuki pareceu se impressionar por um momento.

– Explosia é uma Necromante...?

– Bem, vejo que arranjou uma bela e forte guilda – Disse a bruxa olhando ao redor – Seria uma pena se algo acontecesse com ela...

– Não iremos permitir isso! – Exclamou Kei.

– Vocês não tem esse privilégio – A mulher riu e apontou para Mizuki – Alguém aqui sabe a verdadeira história dessa garota?

– Do que ela está falando? – Indagou Erza, que também já estava vestida com uma armadura cuja a arma era um arco e flecha.

– Muito bem... Vou contar uma pequena história para vocês...

Mizuki tentou atacá-la quando ela se virou, mas foi surpreendida quando seus cristais falharam devido ao selo e se desfizeram antes de acertar a mulher. Em contrapartida, a bruxa teve tempo para lançar uma bola de energia nela e puxá-la até que Mizuki flutuasse no meio da guilda.

– Mizuki! – Kei gritou a distração momentânea foi a brecha perfeita para que Enextesia o atacasse, uma luz de energia explodiu perto dele o lançando para lado facendo com que batesse a cabeça numa pilastra e perdesse a consciência.

– Kei... th... – Mizuki disse com dificuldade, pois a energia não estava só sugando sua magia como também bloqueando sua respiração.

– Larga ela! – Gritou Natsu se jogando com o punho incendiado em direção a bruxa, ela jogou uma esfera de energia nele que o fez também ficar sob seu controle. Explosia estendeu o braço em direção a uma parede da guilda, onde o corpo do mago bateu contra a parede e depois foi ao chão.

– Natsu! – Gritou Lucy preocupada indo até ele para ver se estava bem. Ela ficou surpresa ao perceber que o dano que ele recebeu foi mais sério do que ela esperava para alguém que já havia atravessado paredes e ainda levantar, Natsu sangrava e mal conseguia se erguer.

– Droga – Ele abriu um dos olhos com dificuldade já que o resto do seu corpo estava dolorido. Wendy chegou pouco depois para curá-lo.

– Nem tente se levantar, menino rosa – Enextesia falou – E não tentem me atacar ou irei jogar uma maldição em cada um de vocês.

Natsu não entendeu bem o que aquilo significava e se sentia frustrado pelo fato de que não estava conseguindo ficar de pé. Outros membros que até então tentavam entender o que acontecia se levantaram prontos para atacar a bruxa, percebendo a clara ameaça que ela era.

– Deixa... Eles em... Paz... – Disse Mizuki entre respirações cortadas.

– Que tal, não? – Com outro movimento, a bruxa lançou um círculo mágico que fez Elfman, Freed, Macao e Evergreen na linha de frente caírem ao chão desacordados – Você lembra? Nossa magia e poder vem da dor e escuridão de cada um. Acho que vou me divertir um pouco enquanto digo a eles o nosso conto de bruxas... – Ela sorriu.

A mulher começou a andar ao redor da guilda observando cada membro atentamente. Mizuki ainda estava flutuando e com dificuldade para respirar, mas estava viva, o que fez Makarov chegar a conclusão de que a bruxa tinha ordens de nãoferi-la gravemente.

– Mavis, algum plano? – Ele cochichou para a primeira mestra que apareceu ao seu lado.

– Tenho alguns, mas todos são muito arriscados uma vez que ela tem Mizuki em suas mãos. Ela pode sufocá-la a qualquer momento se quiser... – A mestra disse visivelmente perturbada – Por hora teremos que jogar do jeito dela.

Erza não gostou do que ouviu, mas obedeceu, ainda sem abaixar sua arma.

– Muito bem, por onde começamos? – A bruxa cantarolou – Já, sei! Vamos começar pela nossa Rainha!

– Rainha? – Indagou Laxus se lembrando que a atiradora que se matou disse algo assim.

– Há muito, muito tempo... Houve um mago poderoso que vivia sob uma maldição. Ele criou dezenas de magias e criaturas magníficas. Ele era o puro mal, ao mesmo tempo que conseguia ser bom. Ele era a bondade em forma de sombras...

Mavis franziu o cenho. O fato de que Enextesia dizia coisas contraditórias denunciava o nível de insanidade e perda de controle sob a magia dela. Observou de esguelha Wendy curando a Natsu acompanhado por Lucy, Gajeel e os dois exceeds do grupo.

– Enfim, o Mestre das Trevas, decidiu lamentavelmente se livrar de parte da sua magia obscura, porque o mundo não aceitava de modo algum e ele queria se encaixar nesse mundinho podre de vocês – Ela falou indicando a todos – Então, nosso Grande mago fez um feitiço. Ele deu forma física a parte do seu poder negro e o colocou numa criança humana, filha de um rei e rainha, sem que ninguém soubesse. Mas, como é de se esperar, a criança humana não soube controlar seus poderes, logo foi consumida pelo poder e sua própria magia: A magia de gelo.

Gray engoliu seco. Então o grande mal que os ameaçava tinha uma magia semelhante a dele? Algo dentro dele estremeceu, mas ele se manteve firme sem dar sinais de sua hesitação.

– Ei, Juvia – Ele chamou baixo, a maga apenas fez um leve movimento com a cabeça indicando que ouvia – Acha que pode criar uma distração? Como fazer chover dentro da guilda ou algo assim?

– Não – Juvia respondeu baixo – Juvia prometeu que não lutaria.

– Como pode dizer isso? – Ele sussurrou irritado – Mizuki não é sua amiga?

– Juvia, quer fazer algo... – Ela completou – Mas não pode.

Gray percebeu como os dedos de Juvia estavam brancos, tamanha a força que ela apertava o corrimão. Seja qual fosse o motivo, era muito importante para que ela se restringisse naquela situação. Como não podia perguntar nada mais ali, ele estalou a língua, irritado por não poder colocar em prática seu plano.

Juvia se lembrava claramente da promessa que fez a Mizuki enquanto elas se tratavam dos ferimentos da missão. Fora logo após Mizuki ter conseguido se curar com a água da chuva o bastante para que sua vida não corresse perigo, antes mesmo que elas conseguissem abrigo da chuva que caia na região e medicamentos para os ferimentos. Durante a caminhada na lama que Mizuki falou de repente.

– Juvia, se no futuro me atacarem, se forem as pessoas atrás de mim, como as de agora, aconteça o que acontecer, não lute.

– O quê?! – Juvia havia exclamado surpresa com o pedido.

– Mesmo que minha vida esteja em perigo, mesmo que estejam para me matar ou alguém que eu ame, mesmo que façam o que for comigo, não lute. Não irão lhes atacar se não ficarem no caminho. O problema deles sou eu, então me prometa isso: Se algum inimigo meu vier a aparecer novamente, não importa o que aconteça, não lute com eles.

– Por que está me pedindo isso? – Juvia perguntou confusa.

– Porque você precisa ficar viva e segura.

Juvia estava se correndo por dentro por não poder ajudar a amiga que estava no limite de fôlego, mas a promessa tinha uma razão muito forte para ter sido pedida. Ela não sabia o que era, mas iria cumprir o máximo que pudesse.

– Então... – Continuou a bruxa – A mulher enfeitiçou o reino, fazendo as pessoas fugirem e a temerem. Tudo virou gelo e escuridão, o frio era para lembrar as pessoas o quão poderosa era a Rainha. Ela ficou conhecida como a Rainha de Gelo, por fazer com que tudo a sua volta congelasse apenas por sua presença. O mundo se tornou um lugar magnífico – Ela dizia com admiração – Foi a era que chamamos de Winterspell.

A bruxa se virou para Mavis e a mesma se sentiu estranha ao perceber que a bruxa podia vê-la. Enextesia sorriu e continuou falando como se lesse um livro infantil para crianças.

– Tudo ia perfeitamente bem... Até ela ser afetada pela Primeira Magia – Ela falou visivelmente irritada.

– Primeira Magia? – Indagou Lucy – Então quer dizer que ela se apaixonou? – Ela pensou baixo.

– O rapaz que fez isso tinha bom coração – Ela rolou os olhos – E decidiu lhe fazer companhia. No início ela renegou tal coisa, mas ele fez a Primeira Magia aparecer aos poucos e então, já não tinha mais volta. Ah sim, eles eram destinados, mas havia um pequeno problema...

A bruxa disse erguendo um dedo no alto para que todos vissem, e sorriu demonstrando o quanto se divertia contando a história.

– Ele era uma espírito. Não um espírito qualquer. Um bom espírito, protetor das pessoas, ele estava desfazendo a escuridão dando lugar a luz, a Primeira Magia. O mesmo gelo que a Rainha lançou, ele desfez. Porém, sendo um espírito, ele nunca seria atingido pela malignidade ou morto, seu propósito de existir era colocar a Primeira Magia no mundo, o dela era de colocar a Primeira Maldição.

– Primeira Maldição...? – Natsu sussurrou lembrando que alguém uma vez lhe havia dito algo do tipo, mas não se lembrava onde, quando, nem quem.

– Pois bem, como uma criatura nascida com grande magia negra, assim que a Primeira Magia começou a lhe afetar, ela mostrou os efeitos. A Primeira Magia é uma magia de luz, que ia contra o que havia dentro dela. A Rainha estava dividida por dentro e não conseguia manter o equilíbrio ou controle. Sendo assim, o espírito lhe deu calor e arranjou uma solução. Ele sacrificou sua própria existência para conjurar a magia que selou toda a malignidade da Rainha em seis objetos, ela por sua vez, não resistiu ao encantamento e seu corpo veio a falecer. Assim como ela teve sua existência dividida, ele também teve, e assim surgiram os Elementos da Vida. Cada um deles virou guardião de um dos objetos e os separaram, o fogo levou para o norte e as águas para o sul, o vento para o leste e a terra para o oeste, os outros dois principais, da luz e sombras o destino separou.

A bruxa então levitou e começou a flutuar ela mesma, olhando para Mizuki de maneira divertida.

– Mas o que nenhum deles sabia, era que a Rainha continuava viva. Ela está divida, mas sua existência ainda prevalece. Se reunirmos as seis Relíquias de Gelo, podemos trazer ela de volta e o mundo voltará a ficar sob a Winterspell novamente. Tudo o que precisamos fazer é eliminar os Elementos da Vida que selam cada Relíquia, quebrar o selo de união e então, nossa querida e amada Rainha estará de volta! – Ela sorriu alegre – Já estávamos com as seis relíquias e duas já haviam se quebrado, estava tudo indo bem para que a Rainha tivesse vida novamente... Quando ela apareceu! – Ela gritou a última frase furiosa.

Antes que alguém percebesse, Enextesia começou a movimentar os braços para os lados, fazendo Mizuki colidir contra pilares, paredes, mesas, teto e chão. A cada pausa entre as frases a Dragon Slayer era jogada para algum lugar na guilda e soltava um grito de dor, por vezes atingindo outros membros ou quebrando alguma estrutura onde estavam e os ferindo. Erza tentou atacar, porém a bruxa desviou facilmente dos ataques ao voar e a empurrou contra uma parede deixando-a presa.

– Ela apareceu e roubou... Uma das principais Relíquias... E a escondeu de nós... Ela fingiu ser uma de nós, uma serva! – Enextesia deixava claro sua raiva não só pelos ataques a Mizuki, mas como suas palavras estavam carregadas de tal forma que parecia ser voz de outro ser – Ela mentiu, roubou e nos matou desde então! Ela escondeu os Elementos da Vida e fugiu...

Depois da última frase, a bruxa pousou no chão e trouxe Mizuki para perto dela.

– Eu realmente gostaria de te matar, mas Explosia tem planos melhores. Porém, não significa que eu não possa te deixar na metade do caminho, sabe? Você não morre fácil e existem coisas piores do que morrer. Será divertido praticá-las com você – a bruxa sorriu – Que tal começarmos com o básico? Você prefere que eu arranque seus olhos... ou deixar o garoto cego no seu lugar?

Ao falar isso, ela ergueu outra mão, onde Romeo permanecia inconsciente e flutuava do mesmo modo que a maga de água estava naquele momento. A energia laranja o envolvendo de forma quase graciosa.

– Romeo, não! – Gritou Wendy, já terminado de curar Natsu.

– Droga! – Disse Natsu se erguendo com dificuldade até ficar de joelhos – Acho que aquela coisa sugou minha magia! – Ele resmungou.

– Deixe-o... Em paz... – Disse Mizuki tentando se libertar da magia.

– Oh, então posso começar com você? Ou devo fazer isso com seu namoradinho?

– Não! – Mizuki deu mais um grito ao sentir uma dor aguda em sua garganta.

– Mudei de ideia, acho que vou deixar você muda primeiro!

Mizuki falou de falar, incapaz de pronunciar um som, o ar já estava lhe faltando e sentia que logo perderia a consciência e quem sabe o que ela faria uma vez que seu brinquedo favorito havia parado de funcionar? Não podia permitir tal coisa, mas a magia negra da bruxa estava começando a lhe afetar, mesmo que fosse imune a malignidade, não era completamente imune aos danos. Precisava fazer algo. Precisava salvar Romeo, deixar a guilda a segura. Não deveria ter demorado tanto tempo ali para começar...

Então de repente o ar voltou aos seus pulmões e ela tossiu, finalmente podendo respirar livremente e a bruxa se erguia do chão. Juvia caiu de pé a sua frente depois de pular do segundo andar e as esferas da água a sua volta cercaram a bruxa depois do seu ataque, que parecia perdida com o que havia acontecido. A maga da chuva ficou em posição de ataque pronta para defender os amigos. Logo Erza e os outros também estavam ao lado dela, Mira guiava rapidamente os outros a saírem com as crianças e os que não podiam lutar (como Asuka, Romeo ainda inconsciente, Hime e outros).

– Não... – Mizuki sussurrou e logo Wendy correu para seu lado tratar os ferimentos mais profundos.

– Mizuki, desculpe, não pude manter a promessa – Disse Juvia sem fitá-la, Mizuki reparou que a mira de Keitaro estava na bruxa de novo, ele havia recobrado a consciência para seu alivio.

– Juvia, você não sabe o que fez – Ela murmurou rouca e um tanto chateada.

Juvia fez um som de confusa e olhou para a amiga por cima dos ombros. A bruxa por sua vez sorriu para a mão ferida e então começou a rir de modo insano, deixando todos espantados e confusos, um calafrio percorreu aos ainda presentes indicando que aquilo não era um bom sinal.

– Então foi por isso que não morreu naquele dia! – Ela riu fitando Mizuki – Você finalmente encontrou o último Elemento da Vida!

A bruxa se ergueu completamente, fazendo com que alguns dos membros soltassem um som de desgosto e exclamação. Como se a água de Juvia tivesse desfeito uma máscara, agora era possível ver a verdadeira forma da bruxa, com uma pele de réptil, olhos negros com íris laranja, poucos cabelos, mãos esqueléticas e um cheiro de podridão horrendo. Quando ela sorriu para Juvia, os dentes negros fizeram o estômago da maga revirar.

– Então você é a Fonte da Vida... Será com grande prazer que te levarei para nossa Rainha.