Natsu fitava a janela do trem concentrado na visão do lado de fora. A missão fora relativamente fácil e rápida, mas ele acabou por comer e beber quase tudo o que havia sido batizado com o calmante. Agora voltavam a Magnólia e ele tinha um esforço tão grande para se controlar, que vencia até mesmo o enjoo. Tudo para não olhar a frente onde Lucy e Gray sentavam abraçados e trocando afeto, carinho, beijos, carícias e brincadeiras... O coração já partido estava a se despedaçar se não fosse sua grande força de segura-lo.

Ele nunca soube o que acontecia com um dragão de coração despedaçado, mas sabia que não era bom.

– Natsu, acalme-se - Pediu Erza.

O Dragon Slayer apenas grunhiu. Será que não tinha como a locomotiva ir mais rápido?!

– Você nem ficou enjoado - Reparou Gray.

– Há algo errado? - Perguntou Lucy se ajeitando no seu assento.

Natsu fitou o horizonte com mais fervor. Não podia olhar para ela. Não podia.

Erza então deu um sorriso sábio e se encostou no banco, disposta a dar um apoio ao amigo numa situação difícil e tensa.

– Você realmente se importa com ela.

A atenção do garoto inquieto foi completamente voltada à guerreira.

– Hã?

– Mizuki - Ela especificou - Você realmente gosta dela, não?

– Claro que sim, Mizuki é minha melhor amiga.

Lucy não pode deixar de sentir uma pontada no peito ao ouvir isso. Não era ela a melhor amiga dele? Queria discutir isso, mas não parecia certo, muito menos com Gray ali. Iria conversar com ele depois.

– É mais do que isso - Continuou Erza - Você está tão preocupado com ela e como foi a missão que nem mesmo enjoado está. Não dormiu a noite, não destruiu nada... Tudo isso foi para voltar logo para ver Mizuki, não?

Quando o rapaz iria responder, de repente entendeu o que Erza fazia. Ela estava justificando o comportamento anormal de Natsuà uma preocupação. Claro que estava preocupado com Mizuki, mas era a causa. E o casal logo saberia de tudo se continuasse daquele jeito. Neste momento agradeceu Erza mentalmente por ajuda-lo.

– Bem, sim... Mizuki tem alguns problemas, ela é forte, mas tem muitos pontos fracos também. Ela se concentra muito mais em defender os outros atacando do que se defender. Se algo acontecer ela nunca pensa duas vezes antes de arriscar sua vida no lugar de outra. Então se algo der errado...

– Natsu - Interrompeu Erza - Ela está bem. Você vai ver, vamos chegar lá e ela vai estar igual quando saímos.

– Eu espero - Disse voltando a fitar a janela.

– Pode ter certeza. Ela é uma de nós agora.

Lucy sentiu grande incomodo naquele momento. Parecia que tinha sido substituída, Natsu agora tinha interesse somente em Mizuki. Saía, fazia missões, brigavam, arranjavam encrenca... Era como se ela fosse uma peça que deixou de ser interessante e foi trocada por uma nova. Sabia que não devia e não podia pensar assim, mas era inevitável. Sentindo-se mal, Lucy saiu do vagão para tomar ar e quando a porta foi fechada, Natsu suspirou. Finalmente podendo liberar um pouco a pressão sob si mesmo.

Gray continuou sentado e não soube como puxar assunto. Ele queria falar com o Dragon Slayer, mas era impossível. Não só por sempre estar com Lucy, mas por ele estar sempre com Mizuki e evita-lo ao máximo. Na verdade, a única coisa que parecia segurar Natsu de sair aos socos com ele, era a presença de Erza ao seu lado.

Quando finalmente tomou coragem para puxar algum assunto, viu que Natsu havia adormecido. Ele fitou o amigo pensativo. Sua preocupação com Mizuki era tão grande assim a ponto de superar o enjoo que sentia e deixa-lo exausto? Isso o fazia se questionar, seria Mizuki (e não Lucy) a companheira de Natsu e ele apenas confundiu?

Deixou o assunto por ali, pouco depois Lucy voltou e sorriu ao ver o amigo dormindo, agradecendo o fato dele não ficar reclamando. Depois se sentou ao lado de Gray e acabou tirando um cochilo.

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O apito soou e o solavanco fez Natsu acordar num pulo. Ao constatar o trem parado e se levantou e começou a festejar, já pegando a mochila para sair do trem.

– Tudo isso é ansiedade? - Comentou Gray incomodado.

– Chegamos? - Perguntou Lucy bocejando ainda um pouco sonolenta.

– Vamos logo. Estou curiosa sobre esses dois - Sorriu Erza já pegando todas as suas 30 bagagens.

Natsu ainda foi paciente para espera-los, pois não queria chegar sozinho. Ele corria por 20 metros e os ficava apressando até que eles chegassem, então ele corria de novo e repetia o processo. Erza apenas sorriu para Natsu, ela sabia que o que ele tinha não era só pressa de ver Mizuki e constatar seu bem-estar, mas também o fato de não querer estar perto do casal de amigos, os quais haviam o traído sem que nem mesmo soubessem.

Traição parecia uma palavra cruel, mas era o nome, embora eles fossem inocentes de tal ato. Todos podiam ver claramente a ligação de Natsu com Lucy e o modo como se importavam um com outro. Lucy talvez apenas não admitisse para si mesma ou tinha medo, mas no fundo, ela sabia e sentia. Gray por outro lado, talvez imaginou que não fosse algo sério como todos pensaram e decidiu tentar. Nenhum dos dois fez algo realmente errado ou um crime por vontade, mas apenas por optar tentar uma coisa nova, por isso, ninguém da guilda estava realmente culpando os dois. Apenas se sentiam angustiados por Natsu.

Pensando sobre isso, Erza percebeu que agora que Lucy estava com outra pessoa, talvez fosse hora dele tentar manter a promessa de Lisanna. Dragon Slayer não podem trair e nem amar outra pessoa que não seja seu Companheiro para uma vida, mas podiam ficar com outras pessoas, porém o sentimento e lealdade nunca se igualaria ao que sentiriam pelos Companheiros.

E talvez Natsu estivesse errado, e se sua Companheira não fosse Lucy como pensou? Era improvável, mas ainda era uma possibilidade.

Quando chegavam à guilda, Natsu passou correndo chutando as portas como sempre.

– VOLTEI! - Gritou.

– Bem vindo! - Saudou Mira do balcão e mais alguns membros da guilda.

– Natsu! - Uma voz familiar chamou.

Natsu voltou-se a direção, a tempo de ver Mizuki saltando da bancada do segundo andar da guilda e caindo em pé, correndo em sua direção sorrindo. Assim que a distância se encurtou ela pulou nele para uma abraço, no qual o Salamandra recebeu com um sorriso.

Os outros três estavam atravessando as portas da guilda quando testemunharam a cena. A mesma que fez Lucy sentir uma pontada tão forte no peito que a fez parar de respirar momentaneamente.

Mizuki pulou nos braços de Natsu no abraço, o Dragon Slayer riu baixo, até que Mizuki se afastou um pouco e selou seus lábios aos dele num beijo.

O gesto foi tão inesperado e chocante que Mira deixou o copo que segurava cair ao chão e quebrar, o silêncio habitou a guilda que não sabia o que fazer, muitos apenas ficaram de queixo caído ou olhos esbugalhados. Depois de alguns segundos, Mizuki se afastou e sorriu para ele contente. Ao ver seu rosto numa expressão em branco, ela percebeu o que fez.

Ao mesmo tempo muitos da guilda gritaram eufóricos (e Lisanna socorria a irmã que desmaiou ao ver a cena do seu mais novo shipp), Mizuki tampou a boca com ambas as mãos e corou até a alma. Natsuaindaa estava aprado sem saber o que fazer completamente perplexo.

– Desculpa! - Ela exclamou.

– Tá... Tudo... Bem... - Disse pausadamente.

– Mas o que foi isso?! - Gritou Levy ainda exaltada com a cena.

– Desculpa, pessoal! É tudo culpa minha e do Acqua!

– Como assim? - Indagou Erza.

– Bem, sabe o que é... - Mizuki começou a explicar extremamente sem graça - Quando éramos mais novos, Acqua inventou que eu devia aprender etiqueta e toda essa coisa. Então, pouco antes de visitarmos Natsu e Igneel, ele inventou que se ficamos muito tempo afastados de alguém que gostamos, nós a cumprimentamos com um beijo... - Ela abaixou a cabeça ainda mais vermelha e mexia os dedos sem graça - nos lábios. Mas só podia ser se fosse um amigo muito querido e fosse da mesma "espécie" que eu... Então depois quando nos encontramos, eu peguei o péssimo hábito de beijar o Natsu toda vez que o encontrava.

– Ah... - Disse Mira ainda se recuperando do que houve - E você nunca tentou mudar?

– Não dá! - Disse agoniada - É um hábito que se guia pelo instinto. É só de sentir o cheiro dele ou vê-lo que meu corpo reage por si só! - Suspirou - É como esse cara aí que vive pelado.

– O que? Mas eu não...

– Por favor, não retire sua cueca! - Reclamou alguém e quando Gray deu por si estava com a mão já prontoapra retirar.

– Mas o qu-Droga! - Ele saiu correndo procurando suas roupas.

– Entendo - Respondeu Erza.

– Desculpe, por isso! - Pediu Mizuki.

– Eu acho que está tudo bem!

Natsu então deu uma chave de braço em Mizuki e começou a bagunçar seu cabelo.

– Não me dê um susto desses!

Mizuki congelou o chão e Natsuesgorregou.

– Não. Toque. No meu. Cabelo - Ela destacou.

– Mizuki?

Juvia pareceu por perto logo depois, confusa com o que houve. Ela cumprimentou Natsu e os outros rapidamente e quando iria falar com Mizuki a mesma puxou-a para fora da guilda.

– Juvia, que isso! - Disse disfarçando - Você não deve mostrar minhas armas secretas assim na guilda! - Riu forçadamente - Vem! Vamos ali fora! - Disse puxando Juvia.

Ninguém entendeu a reação de Mizuki com seja-lá-o-que Juvia lhe trazia, mas deixaram para lá enquanto ouviamNatsu contar sobre sua nova missão.

Do lado de fora, Mizuki retirava uma bandagem já quase completamente suja de sangue e limpava o ferimento profundo de seu braço esquerdo com uma magia de água.

– Isso está muito ruim.

– Não se preocupe - Dizia Mizuki - Assim como você, meu corpo é feito de água.

– Aqueles caras sabiam como te ferir. Usaram uma arma específica, Mizuki!

– Eu sei - Ela gemeu de dor, mas continuou a magia - Eu só preciso que a ferida se feche pelo menos até ficar um pouco menos profunda, então posso me curar com a água no mesmo momento.

– Mizuki, está em perigo! Aqueles caras...!

– Eu sei,Juvia! - Exclamou Mizuki, finalizando a magia e em seguida enfaixando a ferida rapidamente com ajuda de Juvia - Mas o que podemos fazer? Não sabemos quem são, de onde são, os seus objetivos.

– Pelo amor de Deus, tentaram te matar, Mizuki!

– Eles não mataram! - Respondeu no mesmo tom - Enquanto não soubermos o que realmente querem, não há muito o que fazer. Poderiam tê-lo feito lá, mas não fizeram.

– Acha que são os mesmos que deram aquele sino?

Mizuki pensou um pouco enquanto Juvia amarrava a bandagem.

– Não sei. Talvez.

– Eu acho que sim - Comentou Juvia - Nunca aconteceu isso nas outras missões quando Natsu estava conosco. Eu acho que esperaram até que só estivéssemos em duas ou sem o Natsu...

– Pode ser - Respondeu a Dragon Slayer ajeitando a blusa que escondia o ferimento - Mas até descobrirmos, é melhor não alarmar os outros.

As duas se levantaram e Juvia jogou o material usado dentro da sacola que trouxe, fechando e em seguida jogando num lixo ali perto. Quando voltavam para o salão da guilda, Juvia se lembrou de um último tópico a discutir.

– Não devíamos contar ao Natsu?

– Não - Respondeu Mizuki - Isso só iria deixa-lo pior do que está. Até que descobrir algo mais, isso não deve sair de nenhuma de nós.

Juvia assentiu respeitando o desejo da amiga. Ela mesma não deixava de estar alarmada, foi um ataque repentino e que quase acabou de maneira trágica se Mizuki não tivesse... Deixou o pensamento de lado.

– Além disso - Continuou Mizuki -, eu não tenho como ir a batalha sem que os outros Dragon Slayers estejam ao meu lado. Somente Gajeel voltou da missão e nem na guilda ele veio ainda, só Levy apareceu. Não posso envolver os Companheiros nisso. Preciso dos Dragon Slayers ou os Naturalis.

– Você não me disse que missão é essa.

Mizuki sorriu para a maga da água.

– Vai saber quando chegar a hora.