The 39 Clues - Curtas de shippings escrita por Laís Cahill


Capítulo 2
Laços


Notas iniciais do capítulo

Aviso: Se você não leu "Arrasados", o quarto livro do jogo rápido, nem o primeiro de Cahill vs vesper, você não entenderá algumas coisas ou pegará spoilers.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/529251/chapter/2

Ian estava perdido, mesmo estando num lugar que conhecia muito bem. Ele passava todos os dias naquele lugar com sua limusine para o colégio particular. Era um subúrbio e, agora, Ian estava na fenda úmida e cheia de lixo de dois metros entre dois sobrados.

O chão estava tão imundo que era impossível saber a cor original dele, coberto por restos de comida, penas de pombo e sacos com (eca) lixo de banheiro. Num canto estavam encostadas duas caçambas de lixo. De dentro da primeira, saiu um gato marrom, sujo e magrelo. Ele pulou agilmente, se aproximou, arranhou a perna de Ian e depois fugiu. Até os gatos o odiavam.

Ele não perdeu tempo e saiu daquele lugar miserável. À sua direita estava uma esquina com semáforo de Londres. Lá era onde, de vez em quando, um mendigo de gorro cinza vinha pedir esmola para a limusine mas, é claro, Ian nunca dava.

Ele se perguntou como tinha ido parar ali. Só podia ser um sonho. Tentou entrar em contato com Attleboro. Não deu certo. Natalie? Não era uma boa ideia. Ela tinha 13 anos e não poderia ajuda-lo caso estivesse muito longe. Então resolveu ligar para Amy Cahill, talvez ela estivesse no centro de comando e pudesse comunicar aos outros. Ela atendeu.

— Oi Amy – ele sorriu um pouco – Onde você está? Por que eu estou em Londres?

— E eu sei lá porque você está em Londres? – disse Amy, ríspida. Ian estranhou a reação.

— Calma! O que foi que eu fiz? Por que tá brava comigo?

— Você ainda pergunta? Você sabe muito bem o que fez. E sabe que nunca te perdoei.

— Ah, aquilo. – Ele engoliu em seco. Pelo visto sair dali não seria tão fácil. – Olha, Amy, dá pra você esperar e resolvemos esse assunto depois? Eu estou realmente com pressa.

— Nesse caso, não espere que sejamos rápidos.

Ian suspirou.

— Eu já disse que minha intenção não era te matar aquele dia na caverna, e, bem, te beijar era apenas um plano da minha mãe. Você sabe disso. E sobre aquela ligação... Foi um grande erro. Eu queria mesmo te visitar, mas aconteceu um acidente e então eu comecei a pensar... – Ele estava suando ao confessar aquilo. Ele se arrependera de ter feito, no momento ele estivera em uma situação arrasadora e fora de si. Era algo que deveria ser dito para Amy em uma situação delicada, e não sendo obrigado a dizer em uma ligação. – A pensar que eu não era digno de você. É isso, ok? Eu achava que não era digno.

Sentindo seu orgulho Lucian ser destruído, ele ficou com remorso. Mas era necessário que aquilo fosse dito.

Uma pausa seguiu-se na linha. O silêncio prolongou-se. Amy deveria estar pensando se resolvia acreditar ou não naquilo, o que fez Ian gelar.

— Não se achava digno. – Ela falou convicta. Nem um gaguejo, nenhuma hesitação. Em seguida, disse em tom de escárnio – Não se achava digno... Pff...

Ela começou a rir. Ian não conseguia acreditar! Era uma coisa séria, vinha do fundo da sua parte mais sensível e ela estava rindo! Ele estava ficando furioso.

— Até que, para um Lucian, seu ego é pequeno! Até que em fim você reconhece! – Continuou ela, e depois voltou a gargalhar. Era a gota da água.

Ian ficou vermelho e com um gesto rápido, desligou o celular.

Meio tonto, ele se apoiou na parede com tijolos expostos e escorregou suas costas até acabar sentando no chão. As lágrimas começaram a escorrer sem sua permissão, o que não deveria acontecer, ele precisava treinar mais o controle de suas emoções depois; mas no momento não se importou. Ele estava muito envergonhado, irado consigo mesmo, com Amy e com todo o resto.

Sua mãe os havia deserdado. Ele não tinha um centavo no bolso. Amy não era mais a garota doce da qual ele gostava. O que faltava acontecer?

— Ei! – gritou uma voz familiar de menina – Ian! O que você ainda está fazendo aqui?

Ian levantou-se e olhou, passando a mão várias vezes no rosto para que não percebessem que estivera chorando. Era Natalie, mas estava irreconhecível. Ela não estava com maquiagem, usava uma blusa de lã preta desfiando, com calça de moletom larga, os pés com meias por baixo de um chinelo grande demais. Sua cabeça estava com um trapo em cima que Ian não sabia exatamente o que era. Ele não estava por dentro da moda feminina, mas sabia que não tinha nenhuma peça estilo mendiga na coleção de outono-inverno.

— É o seu turno agora! Deixe de ser preguiçoso e vá logo arranjar algum dinheiro.

— Dinheiro? Como?

— Dã! Semáforo, carros, dinheiro, por favor. – disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

— Esmola? – Ian não conseguia acreditar no que ouvia.

Natalie ficou emburrada.

— Não gosto de chamar assim. Prefiro “ajuda aos menos favorecidos”. Agora, se você quer sentir-se digno de pena, pode falar logo “esmola”.

— Tanto faz! Acha mesmo que eu vou pedir dinheiro para carros de pobre?

— Hum... Sim? É o que você faz há um ano e meio.

— Um ano e meio? – o queixo de Ian caiu.

— E pare de reclamar da ajuda. É com ela que a gente não morre de fome; também já compramos isso.

Ela tirou a coisa da cabeça. Parecia uma boina xadrez rosa e preta. Poderia ter sido bonita um dia, mas agora o rosa tinha virado marrom e o tecido formava bolinhas.

— Isso? Saiba que isso aí não custa nem três euros. E por que você está usando essa roupa?

— Ian! Eu sei que não é muita coisa mais é tudo o que eu tenho! – Ela ficou ofendida – Olhe para você mesmo antes de dizer qualquer coisa!

Ele gritou.

Estava vestido com trapos cinza e marrom como os da irmã, em vez das roupas de grife que sempre usava. Como ele não tinha percebido antes? Lembrava-se de estar com suas roupas normais segundos atrás!

— Muito decente, não? – Zombou Natalie – Agora vá logo que eu já tô ficando com fome.

Ela andou pisando duro até esconder-se atrás da segunda caçamba de lixo. Caramba, Ian nunca os tinha imaginado assim, sobrevivendo com tão pouco. Ele quase preferiria andar sem roupa nenhuma a estar vestindo aquela coisa nojenta.

Mesmo assim ele se recusava a descer de nível a ponto de pedir esmola. Aquilo ainda era um sonho maluco.

Uma hora.

Duas horas.

Três horas. A bateria do celular tinha acabado. O estômago de Ian não parava de roncar. Ele começou a pensar que, se era um sonho, ele não precisava se preocupar com sua dignidade. Foi logo para o primeiro carro. Algumas pessoas simplesmente o ignoravam, outras diziam não ter dinheiro e umas poucas davam uma mixaria.

Ian se perguntou por que ainda estava fazendo aquilo. Além de ser pouco produtivo, ele estava se sentindo pior que um rato de esgoto ao falar com aquelas pessoas: Elas o olhavam com pena, como se ele não fosse uma pessoa e sim um ser inferior. Abrir mão de sua dignidade estava deixando-o maluco, seu sangue estava fervendo e a cada novo olhar de zombaria ele se sentia mais furioso; mas tinha que se controlar.

Viu uma BMW branca perfeitamente limpa no semáforo. Ian nem esperava que prestassem atenção, mas o vidro fumê do banco de trás começou a abrir.

Ian reconheceu a mulher na hora.

Isabel Kabra.

— Isabel? Mãe? – falou, perplexo.

— Isabel? Sim. Mãe? Não mais. – Ian rangeu os dentes. Aquela psicopata que ele chamava de mãe tinha atirado no pé de Natalie. – Olhe só o seu estado! – disse em falsa compaixão – No fundo do poço, vestindo essa coisa que você chama de roupa, dependendo da pena dos outros para viver. Isso não é irônico?

— E então? – Ignorou a raiva crescente em seu peito – Vai me ajudar ou não?

— Receio que não. Não posso deixar que você e Natalie entrem na mansão, mas talvez eu tenha algum dinheiro.

— Olha, se é para me humilhar, vá embora logo.

— E os seus amiguinhos? Não te ajudaram, não é? Eu sabia! Você é um intruso no meio deles. Nenhum se importa com você. – Ela observou cruelmente.

— Não! Saia daqui, isso não vai levar a nada!

— Não mesmo? Se quiser voltar a ser meu filho e seguir minhas ordens sem importar quais sejam, disque meu número. Oh, é mesmo! Você não pode porque o celular está sem bateria.

Espere, como é que ela sabia daquilo?

Em seguida, ela deu uma nota de cinco euros para Ian, o carro arrancou fumaça e fez a água de uma poça espirrar bem na sua cara.

Com um susto, Ian acordou, levantando o corpo por extinto e sentando.

Percebeu que estava de volta ao seu quarto emprestado em Attleboro e que Amy estava sentada da beirada da cama, olhando para ele. Soltou um suspiro de alívio e deixou-se cair na cama.

— T-tá tudo bem com você? – Ela perguntou – Você estava falando umas coisas estranhas e se de-debatendo na cama...

— É mesmo?

“Tomara que não tenha sido vergonhoso” Pensou.

Lembrou-se de seu sonho. Será que Amy guardava rancor daquilo? Ele não poderia arriscar.

— Amy... Precisamos conversar.

Enquanto isso, numa sala ao lado de um dos quartos reserva de Attleboro, a garota desligou o botão que permitia que a conversa fosse ouvida do outro lado da parede. Eles já sabiam mais do que deveriam sobre a vida e as reais intenções de Ian.

— Sinto que invadimos demais a privacidade de Ian. – Ted engoliu em seco.

Sinead concordou com a cabeça, mas ao lembrar que o irmão não podia ver, corou. No fim, deixou para lá.

— Tudo para os nossas pesquisas, não é, Ned?

— É, mas não precisava ser com Ian.

Sinead suspirou. Precisava, mas eles não precisavam saber disso.

Os trigêmeos Starling estavam trabalhando juntos para desenvolver pesquisas sobre o cérebro humano, e isso envolvia sonhos. Tinha demorado nove meses e dezenove dias, mas finalmente eles haviam conseguido. O aparelho era uma máquina gigante que o irmão de Amy insistia em chamar de geringonça, por mais que Sinead ralhasse com ele. O experimento revolucionaria a ciência cerebral.

Entre as partes mais visíveis do projeto, tinha uma tela na qual eles podiam observar o que a pessoa estava imaginando em forma de imagens, logo acima, ainda no visor, havia um espaço para palavras que fossem formadas, mas a maioria das vezes essa parte não entrava em uso. O que mais lhes era útil era a parte da tela que mostrava o cérebro em 3D dividido em partes para mostrar qual era o que estava mais ativo. A parte que envolvia o emocional esteve mais ativa durante o sonho. Também tiveram de fazer um capacete que captasse os pensamentos e outras coisas importantes do paciente sem que fosse necessário causar danos no crânio.

Havia vários pontos importantes que eles tinham descoberto sobre o cérebro e afins:

– Os sonhos costumam ser em preto e branco, as coisas aparecem em cores somente quando é uma característica importante.

– O foco da visão movimenta-se durante o sonho.

– Enquanto a pessoa dorme, embora com menos frequência, as outras partes do cérebro continuam ocupadas fazendo o corpo funcionar.

– O cérebro tem uma proteção para que os movimentos do sonho não se tornem reais, é muito difícil que isso aconteça. Quando acontece, acordamos.

– Existem quatro estágios do sono, os sonhos acontecem no quarto estágio, pouco antes de acordar.

– Quando as pessoas dormem menos, ou não deixam o quarto estágio de sono chegar, então na noite seguinte os sonhos aparecem com mais frequência e mais vívidos.

Tudo isso poderia ser deixado de lado, mas os três chegaram a um acordo de que, sim, eles iriam criar uma forma de fazer o paciente sonhar algo específico, como: pior circunstância, situação alegre, etc. Depois de mais dois meses desenvolvendo o equipamento, eles optaram por fazer o paciente sonhar com algo muito triste. Ao saber daquilo, Amy insistira muito com ela para que fizesse com Ian, e ela não queria desapontar a amiga.

Ao que parecia, a experiência tinha sido um sucesso. Quando Ian estava quase acordando, eles retiraram o capacete rapidamente e perderam, talvez, o resto do sonho, mas o principal eles tinham pegado.

Além disso, também pareciam ter conseguido algo que não tinha muito a ver com suas pesquisas. Criar laços melhores e mais confiantes entre Amy e Ian. Quando olhou a tela sem poder ouvir o som, eles estavam abraçando um ao outro e as lágrimas rolavam soltas.

Sinead soltou um suspiro apaixonado, vendo como aquilo tudo era fofo através da câmera.

– Acho que isso está ficando meloso demais. – reclamou Ned.

– O que está acontecendo? – Ted quis saber. Ao não conseguir nenhuma resposta ele falou, aflito. – Alguém me diga o que está acontecendo!

– Calma! Não é nada demais! – disse Ned, afastando o irmão.

Sinead riu e deu uma última espiada na tela antes de desliga-la.

– Vamos, rapazes. – disse, afastando os irmãos para fora da sala dos aparelhos – Vamos deixa-los a sós.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Todas as informações sobre os sonhos são verdadeiras, menos a primeira, que eu inventei.
Aliás, uma curiosidade: Sabiam que os ornitorrincos são os animais que mais sonham? Não tem nada a ver, eu sei, mas é verdade.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The 39 Clues - Curtas de shippings" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.