Arena das Almas escrita por Beatrice, Natsumi


Capítulo 9
IX - Contagem regressiva


Notas iniciais do capítulo

[Beatrice]

Olá, tributos e caçadores! Como vão?
Gente, peço desculpas pela demora mais uma vez. Vou deixar as explicações completas nas notas finais para não tomar muito tempo aqui, ok? Nós realmente sentimos muito, mas sempre vamos voltar o/ Dessa vez o capítulo está um pouquinho maior para compensar.

The Rootless, MUUUUITO OBRIGADA PELA RECOMENDAÇÃO!!! Não sabe a alegria que nos proporcionou!! É uma honra e um prazer ter você aqui nessa história!

Desejamos uma ótima leitura a todos! Esperamos que gostem da entrada na Arena!



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— Sam, não pode ir sozinho — disse Ellen pela décima vez.

Sam terminou de fechar o zíper da mochila que havia preparado com suas coisas: poucas roupas, alguma comida e o principal, as armas. Estavam emboladas entre as vestes para tentar esconder sua presença. Além disso, carregava um mapa e outros instrumentos de caça, como o EMF, sal, água benta... e o diário de John.

— Ellen, não vou ficar aqui sem fazer nada — ele respondeu, passando a alça da mochila por um ombro. — Caçadores estão relatando um aumento de monstros e demônios perto da Capital, eu tenho que ir.

— Não finja que está fazendo isso pelo trabalho, Sam — disse Ellen em uma voz dura. — Ao menos seja sincero e admita que é pelo Dean.

Sam parou a meio caminho da porta. Era verdade que alguns caçadores avisaram sobre o aumento de acontecimentos sobrenaturais perto e na Capital. Embora Dean houvesse mentido sem pudores ao dizer que queria ser um Pacificador durante sua entrevista, havia alguns caçadores infiltrados entre os oficiais. Garantia maior acesso a informações e mais segurança em alguns casos, além de assegurar que qualquer deslize fosse acobertado.

Porém, esse não era, realmente, o único motivo pelo qual decidira partir. Havia começado a arrumar as coisas assim que a entrevista com os tributos acabara, há meia hora, mas vinha ruminando a ideia desde que quase fora morto pelo feitiço de bruxa. Tinha que ajudar Dean, de alguma forma.

— Dean precisa de mim, Ellen — foi o que respondeu. — Nosso pai está desaparecido e ele foi para a Arena por mim, no meu lugar. Não posso ficar e assistir. Não vou fazer isso.

— Os Jogos começam amanhã. Acha que vai conseguir fazer alguma coisa em tão pouco tempo? Vai acabar sendo pego no meio do caminho, ou preso, ou atacado. Se morrer, não vai poder ajudar o Dean em nada.

— Já sei como vou. Há um trem de carga saindo daqui a poucos minutos com destino a Capital. Eu posso me cuidar.

— Vocês, Winchester, sempre acham que são invencíveis — falou Ellen, tentando parecer irritada, mas sua voz dizia a verdade: ela estava com tanto medo quanto ele. — Acha que eu não sei o que está sentindo? Minha filha vai entrar naquela Arena amanhã e eu também não posso fazer nada. Bill e eu não a queríamos nesse caminho, e veja só onde ela está agora!

Sam ficou em silêncio. Queria confortá-la, como sempre fazia com os conhecidos das vítimas de fantasmas e monstros, dizer que ia ficar tudo bem e iam arrumar um jeito. Agora, não sabia nem como confortar a si mesmo. Jo e Dean estavam nos Jogos Vorazes, e só um deles sairia vivo. Tanto Sam quanto Ellen sabiam disso.

— Sinto muito — ele disse, com toda a sinceridade que possuía. — Sinto muito mesmo. — E saiu da casa.

Ellen esperou a porta bater e ouviu os passos de Sam se afastando. Era mais uma pessoa que ela deixava ir.

XXX

— Já sabe o que tem que fazer, garoto? — foi o que Bobby lhe perguntou naquela noite, quando foi visitá-lo no aposento após o jantar.

Dean sabia. Era o que haviam planejado, praticamente, desde o primeiro dia de treinamento. Dean também não aceitaria nenhuma outra opção. Mesmo sem a instrução de Bobby, faria o que quisesse; era uma característica que não perderia nem para os Jogos Vorazes.

— Atacar na Cornucópia — respondeu. — Preciso conseguir armas e outros suprimentos, já que temos mais caçadores na Arena, esse ano. Sabemos que eu posso conseguir, afinal, ninguém supera Dean Winchester.

Ele tentou sorrir de modo convencido para tirar o peso do assunto, mas Bobby continuou com sua carranca.

— Faça o que tiver que fazer para conseguir Patrocinadores — disse. — E não subestime ninguém, não me importo com o seu ego. Qualquer deslize, e eu te mato se você vencer.

— É uma ironia muito grande, essa — disse Dean.

— Idiota — falou Bobby, daquele seu jeito de xingar a ele e a Sam que só comprovava o quanto gostava dos garotos.

Antes que pudesse arranjar uma nova gracinha, Dean foi surpreendido pelo que aconteceu: Bobby o abraçou apertado, da forma que um pai faria.

— Boa sorte.

— Não era para ser “que a sorte esteja sempre a seu favor”? — brincou Dean. Tentou ignorar aquele aperto no coração que sentiu assim que Bobby se afastou.

— Para o inferno com essa frase. Agora, trate de dormir e descansar. Acho que não vamos ter tempo para conversar amanhã. Sua acompanhante vai vir te acordar no horário para se aprontar.

— Ei, Bobby — Dean o chamou quando ele se virou para ir embora. Não sabia como dizer aquilo. — Olha só, se eu não sair de lá, quero que diga a Sam que...

— Pode parar por aí, moleque — avisou Bobby. Ele tirou o cantil do bolso da calça e o sacudiu em frente aos olhos, como um sinal de “cale a boca” bem claro. — Não vamos ter essa conversa.

— Pelo menos o ajude a encontrar nosso pai, então...

Bobby sentiu a raiva esquentar. Queria gritar àquele garoto — sim, garoto, porque Dean sempre seria apenas um jovem que vira crescer para ele — que sua visão sobre John estava longe de ser saudável. Ao invés disso, apenas repetiu:

— Já falei. Não vamos conversar sobre isso.

Ele realmente foi embora, dessa vez, sorvendo um grande gole do rum que guardara no cantil a caminho de seu próprio quarto.

XXX

Não era comum que Dean não conseguisse dormir. Essa era uma das coisas em que era muito bom, para falar a verdade. Anos de prática dormindo em lugares desconfortáveis — buracos de árvores, armazéns abandonados, porões — enquanto estava em uma caçada com o pai o haviam treinado a adormecer em quase qualquer posição, horário e situação.

Nessa noite, porém, parecia impossível. Revirou-se e remexeu-se na cama incontáveis vezes, afofou os travesseiros, jogou os cobertores no chão e voltou a pegá-los, e nada adiantou. O sono não vinha. O cansaço estava ali, tanto físico pelos treinos quanto emocional pelas preocupações. Mas não conseguiu pregar as pálpebras por mais de dois minutos antes de tornar a se ajeitar.

Caçar e matar monstros, demônios e fantasmas era uma coisa, uma a qual já estava acostumado há tempos. Mas amanhã seria diferente. Além de tudo, Dean sabia do que teria de fazer, em algum momento: matar pessoas. E isso era algo que abominava.

“Salvar pessoas, caçar coisas. O negócio da família”, ele dissera a Sam, certa vez. Essa era a ordem, não o contrário.

Sam... Seu irmão devia estar sozinho agora. Era algo que não podia permitir. Era seu dever, seu trabalho, tomar conta dele. Como poderia fazer isso de dentro da Arena? Não podia falhar nisso também, não depois de tê-lo abandonado e não conseguir encontrar John sozinho. Precisava vencer.

Mas o preço...

Desistiu de tentar dormir e empurrou as cobertas para o lado. Levantou-se e saiu do quarto, descalço, indo em direção à cozinha. Não acendeu nenhuma luz. O sétimo andar do prédio estava vazio; presumiu que já passava da meia-noite, e todos estavam mergulhados no sono.

Dean vasculhou os armários e geladeiras até encontrar o que procurava: uma garrafa de whisky. Sorriu ao pegar o vidro. Sabia que devia ter alguma bebida ali, até porque Bobby não aceitaria de outro jeito. Cogitou a ideia de pegar um copo, mas optou por levar a garrafa inteira para a sala.

Estava tão escura que, só depois de se sentar no sofá, percebeu a presença de outra pessoa.

— Também não conseguiu dormir? — perguntou Jo.

— Ainda não superei o fato de ter usado maquiagem na entrevista — respondeu Dean, abrindo a garrafa e tomando um gole. — Eu poderia ter pesadelos com isso.

— Então, resolveu vir beber. Esse é o seu jeito de lidar com as coisas?

Dean deu de ombros.

— Basicamente. A bebida não machuca.

— Não seria bom acordar com uma ressaca amanhã.

Ele ergueu a garrafa em uma saudação.

— É como eu sempre digo: temos que aproveitar o momento — ironizou e tomou mais do whisky. Era bem melhor do que os que conseguia no Distrito 7, e ele planejava aproveitar, pelo menos, essa vantagem. — Gostaria de passar minha última noite com alguma mulher, mas sabemos que não é uma opção.

— Tem razão, não é. — Jo deu a impressão de analisá-lo. Deveria ser uma visão linda. Um cara de cabelo bagunçado, olheiras e roupas amassadas entortando uma garrafa de álcool. Era bom que ela não pudesse ver com precisão sob a pouca luz. — Você está pronto?

— Mais pronto do que nunca — ele mentiu, mas sua voz poderia convencer até a si mesmo, se se esforçasse. — Você está?

— Sim — disse Jo. Ela se remexeu. — Sei que quero honrar meu pai. E espero que minha mãe não assista.

Você sabe que Ellen vai assistir, pensou Dean. Jo estava sentada na poltrona oposta ao sofá, de costas para a grande janela que dava vista para a Capital. As luzes da cidade, ao fundo, deixavam visíveis apenas a sua silhueta, e ele pôde distinguir sua forma encolhida nas almofadas. Ela abraçava os próprios joelhos, como se tentasse se aquecer, mas parecia serena, quase conformada.

Dean não gostou de nada daquilo. Tudo estava fora de lugar.

— Então, é cada um por si — ele constatou o que já havia sido dito antes. Não formariam uma aliança. Nenhum iria arriscar ter de matar o outro.

Jo assentiu.

— Sei o que está pensando — ela disse. — Só queria deixar claro que não vou desistir.

— Que bom — disse Dean. — Porque ninguém lá vai. Ah, e Jo... Você já honrou seu pai.

Ela não respondeu. A sala foi mergulhada no silêncio. Dean era péssimo em consolar os outros, ou oferecer algumas palavras de animação. Sua vontade era oferecer o whisky, mas uma vozinha no fundo da mente lhe disse que não seria apropriado.

— Até amanhã, Dean — disse Jo, levantando-se. Ela parou ao seu lado por um momento para apertar seu ombro, e ele assentiu.

— Até amanhã, Jo.

XXX

Dean acordou agitado na manhã seguinte. Havia tido pesadelos no pouco tempo que dormira, mas não se lembrava exatamente o quê. Era algo a ver com Sam, com certeza. Quando abriu os olhos, descobriu-se mais cansado do que quando se deitara de madrugada, após quase acabar com a bebida.

— Hora de se aprontar, Dean — sua estilista falou, ajudando-o a se erguer. Sua visão estava meio borrada, nada com que não pudesse lidar.

— Eu tô legal — ele garantiu. — Vamos lá.

E ele foi.

As primeiras horas passaram em um borrão. Não viu Bobby, Jody ou Jo enquanto tomava o café da manhã e nem mais tarde, ao se dirigir ao aerodeslizador para ir para o subsolo da Arena. Jo deveria estar em outro. Tentou impedir o nervosismo que ameaçava chegar, mas, quando começaram a pousar, foi quase impossível. Ele cobriu o braço novamente após receber o rastreador.

Devonne o guiou para baixo, para longe dos outros tributos. Estava ainda mais silencioso do que imaginava. Ela o direcionou até o tubo e esperou.

— Que a sorte esteja sempre a seu favor, Dean — ela desejou, sorrindo e ajeitando sua jaqueta.

Estava vestido com botas grossas, calças resistentes e uma camisa leve por baixo do casaco. Era mais ou menos como se vestia para ir caçar. Mas isso não é uma caçada, pensou. É a Arena.

— Lembre-se: não saia do seu espaço antes do sinal ou vai explodir — Devonne aconselhou.

— Nem pensaria em fazer isso.

Uma luz vermelha acendeu no teto.

— Vamos, está na hora. Entre.

Dean obedeceu. Quando o vidro se fechou, foi difícil não sentir falta de ar. Teve de repetir que faria aquilo por Sam, porque precisava fazer. Estava na hora.

O elevador começou a subir, levando-o junto. Dean se equilibrou no metal e tentou captar o máximo do ambiente possível antes do sinal soar quando emergiu da terra.

— Senhoras e senhores, sejam bem-vindos à mais nova edição dos nossos Jogos Vorazes! — a voz do apresentador soou de todos os lugares. — Que a sorte esteja sempre a seu favor!

O relógio no topo da cornucópia começou a contagem regressiva.

Estavam em um círculo em um campo aberto, de grama muito verde. Dean pôde avistar uma grande casa branca e bege ao longe, à sua direita, como uma mansão vitoriana. Havia também um jardim e outras construções menores ao redor, que ele não conseguiu enxergar direito devido à sua posição.

20, 19, 18...

O sol brilhava alto no céu. Virando a cabeça para o outro lado, Dean viu Jo a três blocos de distância, concentrada no tempo. Mais longe, estavam Bela Talbot e o outro caçador excêntrico que Bobby comentara conhecer. Qual era mesmo seu nome? Gary? Gart?

10, 9, 8...

Não viu Gordon em nenhum lugar. Deveria estar do outro lado da Cornucópia, oposto a Dean. Controle-se, Dean disse a si mesmo. Foco, não saia enquanto não ouvir o sinal. Direto para as armas. Quase pôde escutar o próprio Bobby lhe dando aquelas instruções.

Firmou os pés de modo estratégico, pronto para correr. Havia uma mochila a meio caminho de onde as melhores armas ficavam, provavelmente com comida, água e outras coisas básicas para sobreviver. Se fosse rápido o bastante...

O sinal tocou.

Dean disparou de seu lugar, pulando para terra firme e emendando uma corrida. Foi direto até a mochila no meio do caminho, planejando agarrá-la e partir para a Cornucópia. Agachou-se e apanhou uma alça.

No mesmo momento em que outra pessoa.

Dean congelou ao olhar para cima. Era Mike, o garoto de 13 anos que fora sorteado do Distrito 1. Ele parecia tão assustado quanto Dean por terem ido atrás da mesma coisa. Ele a puxou para si, com mais força do que Dean esperaria. Dean a segurou no lugar e puxou de volta, pronto para berrar para o menino sair dali imediatamente.

No entanto, seus olhos captaram um movimento atrás de Mike. Outro tributo, algum carreirista, ele supôs, estava se aproximando com um facão empunhado e pronto para usá-lo nas costas de Mike, aproveitando a distração.

O instinto de caçador de Dean falou mais alto, e sequer pensou ao realizar sua próxima ação. Salvar pessoas.

Empurrou a mochila no peito de Mike, praticamente empurrando-o para o lado. Ele cambaleou, mas não a deixou cair.

— Sai daqui, agora! — Dean berrou, empurrando mais uma vez.

Mike arregalou os olhos, olhou para o tributo que errou o arremesso do facão por pouco e de volta para Dean. Sem dizer nada, deu meia volta e disparou para o que parecia ser uma floresta, sem ninguém para segui-lo.

O carreirista tirou outra faca do cinto, e Dean se viu prestes a ter sua primeira luta.


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Notas finais do capítulo

[Beatrice]

E aí, o que acharam? Sam vai conseguir fazer alguma coisa? Quais são suas apostar para o que está por vir? Nos contem tudo, vamos adorar saber!!

Explicações: Então, gente, aqui vão todos os detalhes de por que demoramos tanto para atualizar. A Natsumi estuda de manhã, trabalha à tarde e tem que estudar à noite também; como ela tem uma vida social e um namorado, os finais de semana também ficam cheios. Eu estudo de manhã e à tarde, mas tenho mais de cinco histórias para escrever além de AdA, o que complica um pouco. Nosso plano inicial era que cada uma escrevesse um capítulo, alternando, ou metade/metade. Mas, como a Natsumi não conseguiu tempo para escrever, os três últimos (7, 8 e 9) foram escritos todos por mim, com ideias de nós duas (isso significa que se tiver alguma reclamação/erro é culpa minha, desculpem :c sou eu quem faz as revisões também, e sempre passa algo batido). Por causa disso, eu espero até ela ter um tempo antes de escrever; esse é o motivo por alguns capítulos demorarem a sair. Esperamos não demorar taaanto assim das próximas vezes, agora que vamos conhecer a Arena.

Obrigada a todos que leram! Beijos e até mais o/



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