A tela da enorme televisão acendeu, exibindo o logo da Capital enquanto o hino de Panem tocava. Dean, Jo, Bobby e Jody estavam reunidos na sala, prontos para assistir ao resto das colheitas. O apresentador, Marion, fez um breve discurso animado sobre os tributos desse ano, afirmando que todos eram interessantes e que aquela edição seria concorrida.
Do Distrito 1, o tributo feminino escolhido era uma bela mulher de 24 anos chamada Bela Talbot, que possuía uma expressão convencida e tinha olhos verde-água e cabelos claros.
Bobby soltou um muxoxo.
– Você a conhece? – Dean perguntou, reparando.
– Muita gente a conhece – ele respondeu. – É bem famosa entre os caçadores.
– É uma caçadora também?
– Está bem longe de ser caçadora. É mais uma ladra de objetos raros e poderosos. Quando os consegue, vende aos interessados.
Dean não perguntou o que mais ela fazia, mas se conhecia tanto sobre o mundo sobrenatural poderia representar uma ameaça. Uma da qual ele daria conta.
O tributo masculino foi um garoto de treze anos chamado Mike. Os distritos 1, 2 e 4 eram conhecidos por formarem os Carreiristas, mas o menino não parecia ansioso para entrar na Arena; pelo contrário, parecia apavorado.
Do 2, havia um voluntário: Gordon Walker. Aquele, infelizmente, Dean conhecia. Haviam cruzado caminhos certa vez junto a Sam em uma caça a vampiros, e a interação não fora nada boa. Então, teremos mais um caçador, pensou sombriamente. Ao ver que não conhecia a mulher escolhida, Erin, achou que Gordon e Bela seriam os únicos a chamar sua atenção.
Contudo, estava errado. Daquela vez, ficou decepcionado com a escolha do 3. Cassie Robinson subiu ao palco, tentando encobrir o medo. Eles tiveram um caso em uma das ocasiões que Dean conseguira sair do distrito para uma caçada, na época em que John não estava sumido e Sam não queria ter nada a ver com aquela vida.
Ao final da colheita, quando o hino voltou a tocar, os quatro sentados no sofá suspiraram. Outro caçador, um do Distrito 8, fora escolhido - Garth Fitzgerald. Bobby o conhecia, um homem magrelo e excêntrico com uma forma de caçar no mínimo duvidosa. Costumava se perguntar como ele ainda estava vivo até agora.
Dean estava verdadeiramente surpreso com as escolhas. Havia mais conhecidos ali do que ele vira em todas as outras edições dos Jogos Vorazes juntas.
– Bem – disse Bobby, conformado. – Pelo menos Marion tinha razão. Essa edição será bem concorrida.

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O desfile estava prestes a começar. Os tributos foram encaminhados ao térreo, onde as carruagens estavam alinhadas em ordem dos distritos; o 12 seria o último a desfilar. Dean e Jo subiram com a ajuda dos estilistas e firmaram-se em seus lugares para não caírem no caminho.
O ambiente estava tenso. Naquele momento, todos se preparavam emocionalmente para estampar seus melhores sorrisos. Qualquer emoção que fosse diferente de confiança era desprezível. A plateia clamava pela entrada dos personagens de seu programa de entretenimento, gritavam a ponto de se conseguir ouvir dentro do prédio. Dean não pôde evitar um breve riso; até podia imaginar-se como um astro em meio a tantos fãs.
– Ache graça enquanto não percebe onde se meteu, Dean Winchester - disse Jo em seu tom irritado pelas vozes que comemoravam o massacre daqueles jovens.
– Pareço mais conformado que você, princesa - retrucou Dean, com seu tom caçoador de sempre.
– Você esconde seus medos muito bem atrás de suas brincadeiras, não é? As vezes até de si mesmo. Vamos ver se isso vai durar até o final dos jogos. - Foram as últimas palavras dela antes que abrissem as portas.
A carruagem do Distrito 1 começou a se mover e as demais a seguiram, exibindo seus cumprimentos. Roupas de luxo extravagantes e joias em primeiro, depois armaduras de ouro com elmos dourados, fios de cobre e placas de metal para tecnologia, faixas azuis como água e tatuagens prateadas para ondas...
Jo usava um vestido sem mangas, o chamado tomara que caia. Em seu tronco ele fora feito justo de modo a marcar sua cintura, a saia cobria apenas um terço da coxa e da perna direita pelo seu corte diagonal. Sua coloração, de cima para baixo, era um verde exuberante das folhas das árvores no verão e descia clareando até chegar no tom amarelado e terminar com a cor bege das madeiras. Conforme o bater das luzes as folhas se movimentavam simulando sua queda no outono. O brilho que havia no tecido era radiante. Seus cabelos estavam presos em uma trança lateral com fios em um tom marrom que lembrava a terra onde as raízes se fortificam. Jo ansiava o término do desfile para descer do salto exageradamente alto e doloroso.
Dean acenava com um sorriso um tanto convencido e piscava para as damas, divertia-se ao ver câmeras e telões com sua imagem por todo o lado. Ele usava um colete justo com uma coloração forte proveniente de uma mistura de verde e marrom, um machado estava estampado em baixo relevo no centro de seu abdômen. Uma calça escura com detalhes que a faziam parecer desgastada e botas. Em sua cintura foi presa uma capa de dimensão grande que a partir da cor do colete de Dean ia clareando até chegar ao branco das folhas de papéis. Seu cabelo estava perfeitamente penteado para cima, sustentando a coroa de galhos. Só o que incomodara foi a maquiagem marrom em torno e um tom amarelado no canto interno de seus olhos.
Vinte minutos até a chegada ao pátio central, onde todas as carruagens se alinharam novamente em um círculo, todas de frente para o palanque em que o presidente Snow e os idealizadores estavam.
Dean trocou olhares com Gordon Walker. O outro sustentou o olhar, sem dúvidas o reconhecendo. Teve uma leve suspeita de quem teria que enfrentar primeiro, ou melhor, matar primeiro.
O presidente Snow levantou-se e iniciou seu discurso dando as boas-vindas e usando belas palavras.
– Então, que tenham um bom Jogos Vorazes e que a sorte esteja sempre a seu favor!
Mais fácil Lúcifer estar a meu favor, pensou Dean consigo mesmo.
As carruagens se retiraram na mesma ordem em que chegaram, em fila. Os estilistas deram parabéns a todos, e os guiaram de volta até os apartamentos.
Bobby aguardava na sala com Jody quando Dean e Jo entraram.
– Mandaram bem, garotos - disse Bobby um tanto feliz.
– Valeu, Bobby. Até que não foi tão ruim, as moças me adoraram! - disse Dean, fazendo com que todos rissem.
– Jo, você estava deslumbrante! Parabéns.
– Obrigada, Jody. Espero que esse desfile tenha me ajudado a conseguir patrocinadores, ouvir aquele discurso idiota em cima desse sapato insuportável é pior do que ser arrastado por um cão do inferno!
– Falar essas coisas pode atrair – avisou Dean.
– Está certo, vão se arrumar, tirar essa roupa, e espero vocês na sala daqui uma hora para jantar e assistir a reprise do desfile.
Atendendo os comandos de Bobby, Dean e Jo caminharam juntos até o corredor de seus quartos. Pararam por um momento em frente as portas.
– Ei, me desculpe pelo que falei mais cedo – começou Jo, um pouco hesitante. - Tudo isso me deixa...
– Eu entendo o que sente – Dean assentiu. - Também deixei Sam para trás.
– Como consegue se controlar desse jeito? – ela perguntou. - Fazer tudo parecer tão natural?
– E quem garante que eu me controlo? – ele rebateu em voz baixa, sem dar explicações. Um silêncio tomou conta do ambiente por alguns segundos, em que os dois apenas se encararam. Então, Dean entrou no quarto e bateu a porta, deixando Jo a fazer o mesmo.