Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi


Capítulo 95
Capítulo 95




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– Já chega! – exclamou Hisui, batendo com o punho na mesa com tanta força que a madeira rachou – Eu já estou farta de vos ouvir defender as gémeas! Completamente farta! Vocês sabem todos quais eram os planos das Parcas, assim como todos sabem que as gémeas estavam de conluio com elas. Portanto, não nos venham dizer que as deveríamos libertar!

– É certo que elas erraram – disse um deus qualquer – Mas todos cometem erros e têm o direito de ser perdoados pelo que fizeram com uma nova oportunidade.

– Não por mim – rosnou Hisui, lançando um olhar ameaçador em redor que rapidamente impôs o respeito – As gémeas sabiam perfeitamente o que estavam a fazer, não era ineptas nenhumas. Elas escolheram de sua livre vontade virar-se contra a profecia!

– Tanto quanto sei, a profecia também não é nada de mais – atirou outro deus – Porque estão tão revoltados por alguém ter tentado impedir a sua realização? A verdade é que eu ainda não vi nada de bom, provocado por essa nova organização do universo.

– Não é a questão de elas estarem contra a profecia que importa! – negou Gina, levantando-se – O que realmente importa foi os métodos que elas utilizaram para tentar evitar a realização da profecia. As Parcas mataram, indiscriminadamente, homens, mulheres e crianças, tudo para saciar a sua sede de poder. E isso não está certo!

– Mas estás só a falar nas Parcas – constatou uma deusa, inclinando-se para a frente para poder apoiar os cotovelos na mesa – Não nas gémeas.

– As gémeas estavam a ajudar as Parcas a localizar os deuses da profecia – disse Dest – Permitiram e camuflaram a entrada das Parcas na escola, esconderam de todos o verdadeiro propósito das Parcas estarem aqui e, o pior: deram ordem à guarda da escola para proteger as Parcas. Deram ordem sob o primeiro nome.

Alguns deuses sustiveram a respiração, outros engoliram em seco.

– Todos nós sabemos que isso vai contra as regras da escola – lembrou Dest – Aliás, vem contra as regras do mundo dos deuses. Ou não é beber o sangue de alguém, sem que seja essa a vontade de ambas as partes, o maior crime que poderá ser cometido por um deus? As gémeas cometeram-no, e em grande escala. Não foi uma pessoa que elas forçaram a doar o seu sangue: foram dezenas, perto de uma centena. Portanto, não me parece que, depois disto, elas possam continuar a ser as diretoras de Atlantis.

Dest cruzou os braços na frente do peito, deixando a sala mergulhada num silêncio desconfortável enquanto os deuses trocavam olhares entre si, sem ter como refutar aquele argumento.

– Não teremos nenhuma outra diretora tão competente quanto elas – disse, por fim, um deus qualquer – Elas são as Deuses Suprema do Saber, elas sabiam de tudo o que acontecia nestes corredores…

– Bem, talvez seja também altura de dar alguma privacidade aos alunos – disse Tech, cruzando as mãos atrás da cabeça – Acho que eles merecem.

Os deuses trocaram de novo olhares entre si, até que viraram todos o olhar para L.

– A Protetora tem alguma sugestão de quem deverá ser a diretora, ou diretor, de Atlantis? – perguntou o Deus Supremo da Guerra.

L entrou em pânico por lhe pedirem uma opinião. Aliás: para lhe pedirem para eleger alguém. Com as pontas dos dedos, apalpou o Livro dos Nomes, que tinha poisado no colo. Sabia que devia encontrar um lugar seguro para o esconder, mas, de momento, não lhe parecia que houvesse um lugar mais seguro para ter o livro do que junto de si.

Soltou um pequeno suspiro de alívio ao sentir o livro reagir ao seu toque, acalmando-a e ajudando-a a pensar. O rubi na cama brilhou levemente quando ouviu um nome ser sussurrado no interior da sua mente. Um primeiro nome que a fez estremecer levemente antes de erguer os olhos para aquele que sabia chamar-se Dimitry.

– Darkness – disse L – O diretor será o professor Darkness.

Olharam todos para Darkness, que estava com os olhos arregalados pela surpresa.

– Bem – murmurou ele, inseguro – Isso é… é uma honra. Acho eu…

– Não podemos ter alguém tão inseguro a cuidar de Atlantis – disse uma deusa mal-encarada, lançando um olhar ameaçador a L.

– O diretor será Darkness – cortou Tech – E espero que todos saibam que, depois de eu pronunciar algo, o que eu disse realiza-se, quer vocês queiram, quer não.

Os deuses suspiraram, mas não disseram mais nada.

– Assim seja, então.

* * *

Lilás e Saya caminhavam lentamente na direção do jardim, de mãos dadas e dedos entrelaçados.

Era algo estranho, a relação que existe entre os dois. No fundo, ambos sabiam que eram já namorados há algum tempo, mas, de um certo e estranho modo, ignoravam esse facto, como se isso quisesse dizer que o compromisso não estava “oficialmente” assumido, que eles não eram verdadeiros namorados.

A única peça que ainda faltava, para a relação ser “oficial”, era a declaração dos seus sentimentos um ao outro. Já o tinham feito por olhares e pequenos gestos, como as mãos dadas, mas isso eram sempre coisas que podiam ser mal interpretadas. Seriam as palavras que consolidariam o que havia entre eles.

E Lilás não pretendia arrastar aquilo por mais tempo. De que valeria? A relação deles evoluíra de um modo tão simples que adiar a “oficialização” apenas os frustraria a ambos e arruinaria o que nascera entre eles. Adiar a verdadeira declaração seria ir contra o curso natural das coisas, seria como desistir de subir a escada que era a sua vida, apenas porque o degrau seguinte era ligeiramente mais alto que os outros. Uma total estupidez. Dizer a Saya que a amava, beijá-la, seria tão natural e fácil quanto respirar.

Mas então, porque é que ele sentia o coração apertado dentro do peito? Porque é que as palavras hesitavam em sair-lhe da boca? Porque tinha as palmas das mãos suadas? Porque estava a corar?

– Diz de uma vez – disse Saya, olhando para ele e dirigindo-lhe um sorriso que quase o lançou por terra.

– Dizer o quê? – perguntou, ainda mais nervoso.

Aquilo – disse Saya, num tom sugestivo – Estás tenso como um cabo de aço e a suar como um urso polar no deserto. Estás a preparar-te para dizê-lo.

Lilás soltou um risinho nervoso, completamente desconcertado pela facilidade com que Saya o lia.

– Okay – murmurou ele, mais para si do que para ela, respirando fundo para se preparar – Saya, eu… – Saya olhou para ele, expectante e ainda com um pequeno sorriso nos lábios, que fez os joelhos dele tremerem – Eu… ah – suspirou Lilás, deixando o fôlego sair-lhe dos pulmões ao perceber que não conseguiria dizer uma só palavra com Saya a olhá-lo daquela forma.

– Amo-te – murmurou ela, depois de alguns segundos de silêncio.

Lilás olhou para ela, admirado por ela ter tomado a iniciativa.

– Também te amo – murmurou, por fim.

Saya riu-se e depois agarrou a t-shirt de Lilás pelo peito, empurrando-o até o fazer embater contra a parede do corredor. Sem dar tempo ao rapaz de reagir, poisou os seus lábios nos dele.

Lilás permaneceu com os olhos arregalados por um segundo. Mas depois fechou-os e envolveu Saya com os braços, puxando-a mais para si, enterrando uma das mãos nos seus cabelos.

– Mas não penses que me esqueci de que te andaste a babar todo pelas Parcas disfarçadas – disse Saya, afastando a sua boca da dele de repente.

Lilás riu-se, fazendo uma carícia no rosto da namorada.

– Elas estão mortas, já não tens de te preocupar com isso.

Saya lançou-lhe um olhar de aviso, mas acabou a sorrir quando Lilás a puxou para um novo beijo.

Beijaram-se lenta e ternamente, as suas bocas movendo-se ao mesmo ritmo e com a maior das facilidades, sem precisar de Tech ali para saberem que, de facto, tinham sido feitos um para o outro.


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