As Parcas ficaram alguns instantes a olhar para Burn, de alto a baixo, como se o estivessem a avaliar.

– Tu não és um dos nossos alvos, Deus do Fogo – disse Obsidiana – Portanto, se não quiseres conhecer a morte às nossas mãos, é melhor não te meteres. Recua e serás poupado.

Burn alargou o seu sorriso de desprezo.

– Se eu me for embora, vocês matam a Hisui. E, querem saber? Eu não pretendo viver num mundo sem ela, que é a primeira pessoa que encontro com um poder minimamente semelhante ao meu.

As Parcas ergueram uma sobrancelha admirada.

– Escolhes morrer, então – constatou Axinite.

Burn atirou a cabeça para trás, rindo à gargalhada.

– Eu não vou morrer – garantiu ele – Hisui. Eu trato delas. Vai.

– Mas… – tentou Hisui protestar.

– Pega no Ouro e na Circe e saí daqui! – ordenou Burn, sem a olhar, vigiando as Parcas – Tens outros compromissos. Os outros dir-te-ão do que se trata.

As Parcas fizeram expressões desconfiadas, tentando alcançar o significado das palavras de Burn. Hisui, por seu lado, fez uma expressão confusa. Mas decidiu não discutir, agarrando em Ouro e Circe, um por baixo de cada braço, levando-os em segurança através do fogo.

Os seus amigos estavam todos reunidos junto da porta que levava ao interior da escola, olhando com ares preocupados para as chamas que continuavam a devorar o jardim. Saya, L e Elpída seguravam Gina, que era quem estava a gritar e a chorar como se não houvesse amanhã. Niko e Lilás estavam ajoelhados ao lado dela, também a chorar, mas imóveis e em silêncio, parecendo completamente petrificados enquanto observavam as chamas.

– Hisui! – notou Elpída, o rosto transparecendo o seu alívio enquanto ela largava Gina e corria a abraçar o pescoço da sua Suprema.

– O que é que se passa ali? – perguntou Shark, aproximando-se.

– As Parcas – cuspiu Hisui – Estavam a tentar matar-me…

– E o Burn?! – perguntou Softhe, preocupada.

– Ficou lá – disse Hisui, atirando um gesto de cabeça na direção das chamas.

– O quê…? Não! Burn! – gritou Softhe, parecendo pronta para começar a correr na direção do fogo. Felizmente, Tech agarrou-a.

– Não sejas idiota, ainda és humana. Um incêndio destes será fatal para ti.

– Mas o Burn…

– Ele ficará bem – cortou Hisui, poisando Ouro e Circe no chão – Mas ele disse-me que eu tinha um outro compromisso…

– Nós já sabemos como chegar ao esconderijo das Parcas, e pretendemos ir buscá-lo. Agora – disse Yngrid – Aproveitar enquanto as Parcas estão distraídas com o Burn.

– Então estamos à espera de quê? – perguntou Hisui – Vamos logo!

– Mas e a Circe?! E o Ouro?! – perguntou Snow, que se ajoelhara ao lado da jovem Deusa Adepta do Saber e lhe segurava uma mão enquanto afastava os longos cabelos castanhos da rapariga do seu rosto.

– Os outros professores devem estar a chegar não tarda, tratarão deles – disse Saya.

– Bem, eu fico – disse Snow, zangado – Não vou deixar a Circe sozinha neste estado.

– A Softhe devia ficar contigo – opinou L, lançando um olhar preocupado à amiga.

– Quê?! – revoltou-se Softhe.

– A L tem razão, tu ainda és humana – lembrou Shark.

– Ainda sou humana, ainda sou humana – repetiu Softhe, irritada – Já não posso fazer nada porque sou humana… Sabem o que se chama a isso? Discriminação!

– Não sejas tonta, Softhe – pediu L – Estamos só a pensar no teu…

Calou-se quando se ouviu uma explosão no meio das chamas que devoravam o jardim, fazendo Gina carpir ainda mais alto.

– Vamos embora daqui – murmurou Ónix, chocado.

Darkness acenou e começou a correr pelos corredores da escola, guiando-os até à antiga Casa do Repouso, em que Hisui e Elpída já antes tinham estado. Saya e L tiveram de pedir ajuda a Shark para conseguir arrastar Gina atrás deles. Lilás e Niko seguiram-na como robôs.

– Este é o fresco de que falei – disse Elpída, apontando para um fresco já muito desbotado mas do qual ainda se distinguia uma comprida escada de mármore branco, estendendo-se pelo céu acima até chegar a uma montanha suspensa no ar, coroada por três estrelas: uma branca, uma prateada e uma negra.

– Deve ser isto – murmurou Darkness, fascinado – Mas como vamos passar a parede e…

Darkness saltou de susto quando Elpída simplesmente fez a parede explodir em vários e grandes pedaços, provocando uma onda de poeira que fez todos esconder o rosto nos braços, alguns não o fazendo suficientemente depressa e acabando a tossir.

Quando a poeira finalmente assentou, todos puderam ver o pequeno túnel que se estendia do outro lado, com uma entrada em arco e umas escadas de mármore no final.

No entanto, antes de terem tempo de se aproximar e atravessar a passagem, as gémeas surgiram na sua frente.

– Vão a algum lado? – perguntaram, com expressões idênticas.

– Nós? Não – negou Elpída – Vocês é que vão desta para melhor.

As gémeas franziram os sobrolhos.

– Elpída…

– Mas será que vocês ainda não perceberam que não têm autoridade nenhuma aqui?! – perguntou Elpída, furiosa – Vocês são podres e não prestam.

– Hey – disse Ónix, de repente, chamando as atenções todas para si – Aino, Aina, vocês sabiam que há modos de bloquear o primeiro nome para que ele não possa ser usado por certas e determinadas pessoas?

As gémeas arregalaram os olhos, de surpresa e choque, por Ónix se ter atrevido a fazer-lhes uma pergunta e por ter conhecimento daquela informação.

– Tive de dar o meu primeiro nome a uma rapariga, mas valeu a pena – disse ele, retirando de debaixo da camisola um afiado punhal – Quando o dia de hoje terminar, será só ela a saber o meu nome.

– És completamente louco! – gritaram as gémeas, recuando diante do punhal que Ónix empunhava.

– Serei? Se sou louco por querer vingar os meus amigos e a minha própria dignidade, então prefiro a demência à sanidade!

Ónix lançou-se contra as gémeas, de arma em punho, e Bella tentou fazer-lhe companhia. Porém, antes disso, Dest agarrou-lhe um pulso. Envolveu depois o rosto da rapariga com as mãos, depositou-lhe um beijo na testa e sussurrou, muito baixinho:

– Ordeno-te que ignores todas as ordens futuras das gémeas, Kathe.

Bella estremeceu levemente ao sentir a ordem entranhar-se em si, mas ficou aliviada por a receber. Estava completamente livre do domínio das gémeas agora.

– Vocês fizeram mal ao tentar meter-se com o meu namorado – disse ela às gémeas, juntando-se a Ónix na luta.