Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi
– Hey, que barulho é este? – perguntou Shark de repente, no segundo em que Yngrid terminou de falar, erguendo a cabeça para ouvir melhor.
– Está alguém a… gritar? – admirou-se Saya, levantando-se da relva, adivinhando que vinham aí problemas.
Levantaram-se todos quando notaram que os gritos se estavam a aproximar, vindo na sua direção. Não demorou até verem Circe surgir de entre as árvores, gritando, completamente alucinada, toda suada, arranhada e esfarrapada, sugerindo várias quedas no caminho até ali. Apressaram-se todos a correr até à rapariga, que se deixou cair nos braços de Hisui e Saya, quando elas a tentaram agarrar.
– Não – gemeu Circe, numa voz desesperada que até metia aflição, o rosto completamente alagado em lágrimas, os olhos inchados pelo choro, de tal modo que ela mal conseguia abri-los. No entanto, a mudança do usual castanho-escuro para um sinistro e brilhante castanho claro era tão gritante que todos a notaram.
– Ela está a ter uma visão – murmurou Hisui – Ou uma alucinação, não sei dizer…
– Agora? – admirou-se Saya, lutando para segurar Circe de pé, que continuava a deixar-se cair para o chão, chorando e gemendo “não” sem parar e cada vez mais alto, até voltar aos gritos que eles já tinham ouvido.
– Algo desencadeou esta reação – disse Hisui, confusa.
– Que horror – murmurou Yngrid, encolhendo-se, assustadíssima com o som dos gritos de Circe.
– Ela parece que está a morrer – concordou Shark, num igual murmúrio, tentando controlar-se mas sem conseguir também ele esconder o medo que estava a sentir – Os gritos dela… parece que lhe estão a arrancar as entranhas…
– Ela está bem – negou Hisui, puxando Circe com mais força, uma vez que ela estava quase caída no chão – Circe… Vá lá, levanta-te…! O que é que se passou?! O que é que vês?!
– Não! Eu não quero ver! Eu não quero ver! – gritou ela, abanando a cabeça veemente, os cabelos castanhos voando com os movimentos do seu rosto, colando-se ao rosto molhado e alguns entrando-lhe para a boca, contribuindo para ficar com um aspeto ainda mais sinistro – Não quero ver, não quero ver, não quero, não quero, não quero…
– Conta-me, Circe! – insistiu Hisui, abanando-a levemente, para logo depois a tornar a puxar, uma vez que ela se deixava cair novamente no chão. Hisui e Saya soltaram um grunhido de esforço antes de a conseguirem prender entre os seus braços, de modo que ela agora não cairia de certeza.
– A morte – sussurrou Circe, de olhos arregalados, o brilho dos seus olhos lançando sombras sobre o seu rosto – Ela está aqui. Ela está aqui, Hisui, está aqui.
– Ah… – fez Hisui, sem saber como mais haveria de reagir – E que está a fazer?
– A morte! – gritou Circe, tornando a debater-se e a deixar-se cair no chão – Ela está aqui, escondido por detrás da face e da voz de um anjo! Mas os olhos… os olhos denunciam-na. E o toque… o toque é frio! Frio como gelo! É a morte que está aqui! Ela está aqui!
– Au! – gritou Saya, quando um dos movimentos descoordenado de Circe resultou num soco na sua cara. Saya cambaleou para o lado, os seus braços acabando por libertar Circe. Hisui não a conseguiu segurar a tempo e a Deusa Adepta do Saber caiu finalmente no chão, desmaiando antes mesmo de o tocar.
Ficaram todos a olhar para o corpo inconsciente de Circe, chocados, ouvindo-se algumas respiração ofegantes.
Hisui, que já estava acostumada àquele tipo de acontecimento, foi a primeira a recuperar, gritando:
– Mas que raios de passou aqui?!
– Malta! – gritou outra voz, logo de seguida, enquanto Bella e Dest apareciam a correr, de mãos dadas – As Parcas – gritou o rapaz, ainda a correr – Elas estão na escola!
* * *
– Quem vamos eliminar primeiro? – perguntou Axinite – A miúda das alucinações ou a Deusa da Criação?
– Não importa – disse Esmeralda – Eles são para matar todos, seja de maneira for.
– Não se precipitem – disse a voz de uma das gémeas, na mente das três Parcas – A Circe é o menor dos vossos problemas agora. No estado alucinado em que se encontrava, ela não conseguiu avisar os amigos da vossa presença na escola.
– Mas uma rapariga da guarda, Bella, conseguiu libertar-se das nossas ordens e contou ao namorado que vocês estão em Atlantis – disse a outra – Os deuses da profecia estão alerta.
– Exceto a Deusa da Criação, que está trancada no quarto – constatou Obsidiana – Portanto, vamos começar por ela.
– Mas ela é que tem o poder menos ofensivo – lembrou Axinite – Deveríamos começar pela Destruição e pelo Destino, que são os únicos que têm modo de responder ao nosso ataque. Se os deixarmos vivos, eles terão tempo de criar uma estratégia que poderá trazer a nossa derrota.
– É impossível derrotarem-nos – disse Esmeralda, com um olhar assassino – Matá-los-emos a todos.
– Não sejam idiotas! – exclamou Obsidiana – Vocês sabem perfeitamente que nós não somos poderosas o suficiente para os atacar se estiverem em conjunto. Temos de os separar primeiro. E a Deusa da Criação está trancada no interior do quarto, completamente sozinha. Indefesa. Vamos começar por ela.
– Não se precipitem – repetiram as gémeas, ao mesmo tempo, na mente das Parcas.
– A Deusa da Criação está no quarto sem saber de nada, e com um pouco de sorte, nunca saberá – disse, agora só uma delas a falar.
– Mas um dos Deuses do Destino – disse a outra gémea – Aquele de cabelo azul de que vocês se livraram na sala comum, saberá em breve do que se passa. O seu gémeo está já a caminho de o avisar e, se os dois se juntarem, teremos muitos problemas. Matem esse primeiro. Incapacitem o Destino.
– Sim – confirmou Obsidiana, pensativa – Se matarmos um dos gémeos, o poder do outro será gravemente afetado. Para não falar na parte mental. Com certeza que a morte do irmão irá ser um golpe muito duro para o outro rapaz.
– Talvez consigamos enlouquecê-lo – notou Axinite.
– E quanto à Deusa da Destruição? – perguntaram as gémeas.
– Eu lido com ela – disse Esmeralda, com um sorriso cruel – Agora, vamos dar cabo do Destino.
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