Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi
– Isso faz algum sentido? – questionou-se Yngrid, com dificuldade em acreditar que fossem as Parcas a estar na posse do Livro dos Nomes – Aliás, se era com elas que estava o livro, de certeza que já o destruíram, para impedir a profecia.
– Não me parece, o livro é demasiado importante, concede demasiado poder, para que elas o destruam. Se elas realmente o têm, estará muito protegido. E ainda pode dar-se o caso de elas nem sequer saberem que o têm.
– Como assim? – perguntou Yngrid, confusa.
Darkness fez um gesto para que Yngrid se sentasse num pequeno sofá na frente da lareira apagada e ele sentou-se a seu lado, bem pertinho de si, agarrando-lhe nas mãos.
– Sabes como funciona o poder das Parcas? – perguntou ele.
Lentamente, Yngrid negou com a cabeça. Darkness suspirou e ficou silencioso por alguns momentos, com ar pensativo, enquanto tentava organizar os seus pensamentos para melhor explicar à rapariga como as Parcas exerciam o seu poder.
– Bem, mas deves saber que a vida de cada um nós é representada por um fuso – disse ele, ao que Yngrid acenou – Ou seja, a nossa vida é como uma linha. Uma linha que a Obsidiana, a Parca do Nascimento, trata de criar. Ao lado dela estará a Axinite, a Parca da Vida, a enrolar o fio da nossa vida num fuso, que será o nosso passado, as nossas memórias. E entre elas está a Esmeralda, a Parca da Morte, de tesoura na mão, pronta a cortar o nosso fio da vida a qualquer momento.
Yngrid acenou, compreendendo o que Darkness lhe explicara mas não compreendo a importância dessa informação para aquilo de que estavam a falar.
– Mas o que é que isso tem a…? – tentou ela perguntar.
– Ouve-me – pediu Darkness, poisando suavemente os seus dedos sobre os lábios de Yngrid – A Obsidiana é quem trata simplesmente de iniciar a nossa vida, ela não cria, como a Gina. Portanto, para ela fazer o fio da vida, precisa de material para o fazer. Eu não sei que material é esse, ninguém sabe, mas sei que é ele que faz de nós quem somos, que nos dá o nosso aspeto e personalidade, os nossos poderes… o nosso primeiro nome. E apesar de todos acharem que assim é, eu sei que não é às Parcas que compete decidir isso. Nós nascemos do jeito que temos de nascer. É por isso que os deuses da profecia estão sempre a renascer. Achas que, se as Parcas pudessem impedir os poderes deles de reencarnar, já não o teriam feito? Mas elas não podem e muitas vezes nem sequer têm consciência de quem estão a fazer nascer. Só depois a Axinite é capaz de fazer corresponder cada fuso a uma pessoa. Não me perguntes como ela o faz, porque não faço ideia. Mas, por exemplo, se a Esmeralda agora quisesse matar-me, teria de perguntar à Axinite qual era o meu fuso, porque não consegue saber isso.
– Mas ainda não entendo como é que isso se vai ligar com o livro – admitiu Yngrid.
– A culpa é minha, avancei na explicação mais do que queria – desculpou-se Darkness, fazendo uma pequena carícia no rosto de Yngrid – As Parcas ligam-se ao Livro dos Nomes através desse material de que são feitos os nossos fios da vida. Tenho quase a certeza. Não poderá haver outra maneira.
– Então… o Livro estará escondido no meio desse material – concluiu Yngrid, ao que Darkness acenou – Então temos de ir buscá-lo!
– Têm de o ir buscar ao antro das Parcas – notou Darkness – Que ninguém sabe onde fica.
– Elas não têm um Templo no Firmamento? – admirou-se Yngrid, ao que Darkness negou.
– Não. Por alguma razão elas são consideradas as Deusas dos Deuses. Elas estão acima até de nós, Deuses Supremos. Elas fiam a vida de todos nós, sem distinção entre humanos e deuses. Portanto, não vivem connosco no Firmamento.
– Como é que vamos descobrir onde vivem? – perguntou Yngrid.
– Bem, de certeza que essa informação estará num sítio qualquer, algures. Afinal, houve um tempo em que todos reverenciavam as Parcas, faziam-lhes oferendas e coisas do género, pelo que a localização delas deveria ser minimamente conhecida. É uma questão de procurar.
* * *
Quando Circe saiu da sua aula e se juntou aos seus amigos na biblioteca, estranhou não estarem ali todos.
– Onde está o Snow? – perguntou, ao sentar-se – E o Niko, o Burn…
– O Snow, o Tech e o Ónix devem estar ainda a babar-se com as três miúdas novas – resmungou Saya, de braços cruzados na frente do peito.
– O Dest foi salvo pela Bella – informou ainda L.
– O Niko e o Burn não os vemos desde que saíram do refeitório – acrescentou Hisui.
– E a Yngrid? – insistiu Circe.
– Foi falar com o Darkness – informou Softhe.
– Para quê? – admirou-se a Adepta do Saber.
– Estamos à procura do Livro dos Nomes da L – disse Saya, apontando com o polegar para a Sobrinha – É a única peça que falta para concretizar a profecia.
– Como a Yngrid e o Darkness andavam a pesquisar sobre a profecia, talvez tenham encontrado alguma coisa – opinou Hisui, encolhendo os ombros.
Circe acenou e depois olhou em volta, para os rapazes presentes, que estavam todos de braços cruzados na frente do peito e expressões muito chateadas e aborrecidas.
– O que é que se passa com eles? – perguntou Circe, apontando para Shark, Ouro e Lilás.
– Estão amuados, porque os obrigámos a largar as três miúdas novas – disse Hisui, com cara de poucos amigos, não deixando dúvidas quanto ao destino que as três raparigas teriam se voltassem a meter-se com o seu namorado.
– Bem, eu só estive fora de órbita algumas horas, mas sinto-me como se tivessem passado milénios – admitiu Circe – A sério que perdi tanta coisa?
As amigas acenaram veemente com a cabeça.
– Okay – murmurou ela, ainda pouco convencida – Então e por quanto mais tempo ficaremos aqui?
Elpída encolheu os ombros, também ela querendo saber.
– Até termos a certeza de que é seguro levar os nossos namorados lá para fora sem que uma data de miúdas ranhosas lhes caia em cima – rosnou Hisui, os seus olhos vermelhos brilhando perigosamente.
Ouro olhou finalmente para ela, mas não disse nada.
– Ai, os ciúmes – provocou Shark, fazendo finalmente um pequeno sorriso, mas sem olhar para Hisui.
– A sério, vocês parecem donas de casa, com vassouras nas mãos, a “incutir” respeito aos maridos – disse Lilás, bufando.
– Isso quer dizer que Saya é tua mulher? – perguntou L, lançando um olhar maroto de Lilás para Saya.
Os dois coraram intensamente enquanto negavam:
– Claro que não! – exclamou Lilás.
– Não digas parvoíces, L! – ralhou Saya.
– Somos só amigos – acrescentou Lilás.
– Exatamente, só amigos – concordou Saya.
– Hum-humm – fez L, escondendo um sorriso – Sei…
Instalou-se um silêncio muito desconfortável para Saya e Lilás, que continuavam muito corados.
– B-bem! – exclamou Saya, batendo com a mão na mesa e levantando-se – Já chega de estarmos aqui trancados na biblioteca. Porque não vamos para o jardim? Talvez a Gina e o Niko estejam lá.
– ‘Bora – aprontou-se Lilás, mais alegre com a perspetiva de voltar para junto da sua Suprema.
Levantaram-se todos e seguiram para o jardim.
– Tenho fome – disse Circe, a meio do caminho, parando de andar – Eu vou dar um salto à sala comum e já vou ter convosco, okay?
– Okay – cederam as raparigas.
Circe acenou uma despedida e depois afastou-se por outro caminho, na direção da sala comum.
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