Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi


Capítulo 65
Capítulo 65




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Quando Hisui, Ouro, Yngrid e Darkness entraram no quarto de L, a Protetora já os esperava, sentada na borda da cama com Shark e Saya a seu lado. Gina e Niko estavam de pé num canto mais afastado e Dest estava sentado na cadeira na frente da secretária, com Bella sentada num joelho e Tech sentado no tampo da mesa atrás de si.

– Onde estão os outros? – perguntou Yngrid, olhando em volta.

– A Circe levou-os para a biblioteca – disse Saya – Achei que seria melhor se ficássemos só nós no quarto.

– E mais alguns – resmungou Gina, lançando um olhar reprovador a Niko.

– Não te vou deixar sozinha com ele – defendeu Niko de imediato, lançando um olhar hostil a Darkness.

– E que tal deixarem o Darkness falar? – intrometeu-se Hisui, cruzando os braços na frente do peito.

Os olhares viraram-se todos para o Deus Supremo da Morte, que permanecia quieto e calado ao lado de Yngrid.

– O que tens para nos dizer? – perguntou L, curiosa.

Darkness não respondeu de imediato. Continuou a olhar para os jovens na sua frente, em especial os deuses da profecia, parecendo completamente fascinado.

– Antes de mais nada, queria dizer-vos que é uma honra estar na presença dos deuses da profecia – disse ele, baixando respeitosamente a cabeça.

Os jovens fizeram expressões admiradas.

– Obrigada… acho – disse L, confusa.

– Estou à vossa espera há alguns anos, desde que um velho amigo meu me entregou esta caixa – disse Darkness, retirando a caixa de madeira que escondera no casaco – Ele pedira-me antes para o acompanhar numa viagem ao mundo humano, para vos procurar, mas eu recusei-me a ir. Portanto, no dia em que partiu, ele veio até mim para me entregar isto, dizendo que, para o caso de algo correr mal, eu guardar a caixa num lugar seguro. Disse-me que a caixa deveria ser entregue aos deuses da profecia, que continha no seu interior várias cartas de despedida, mas com informações importantes e preciosas que deveriam ser guardadas a todo o custo. Admito que ao início não levei muito a sério, mas quando senti a morte desse meu amigo, sabia que estava de facto a lidar com algo muito importante. Portanto, mantive a caixa até agora.

– Há quanto tempo foi isso? – perguntou Saya, sem fôlego, os olhos arregalados em choque.

– Perto de seis anos atrás – disse Darkness, pensativo.

– Foi… foi o Deus Supremo da Luz a entregar-te essa caixa?! – perguntou Saya, erguendo-se de repente, os olhos cheios de lágrimas – Foi o meu pai?!

– Saya, acalma-te, por favor – implorou L, segurando o braço da Madrinha.

– Eu li qualquer coisa semelhante no diário do meu pai – disse Saya, apertando a cabeça entre as mãos, desesperada – Li algo, nas últimas anotações, sobre uma caixa com informações muito importantes para os deuses da profecia, uma caixa que lhe tinha sido entregue para ele proteger…!

– Saya – insistiu L, fazendo a rapariga calar-se e olhar para si – Senta-te, por favor. Deixa o Darkness terminar.

Saya ficou alguns momentos a olhar para L, até que por fim se tornou a sentar.

– Sim, Saya, quem me entregou isto foi o Deus Supremo da Luz. Mas não sabia que ele era teu pai. Lamento. Senti-me culpado, e agora ainda mais sinto, por não ter ido com ele. Talvez se tivesse ido com ele ao mundo humano, ele pudesse estar ainda vivo.

Saya apenas abanou a cabeça de um lado para o outro, controlando-se para não chorar.

– Dakness, importaste de parar com isso e nos dar a porra da caixa? – perguntou Hisui, prestes a explodir.

– Claro – confirmou Darkness, apressadamente – Desculpem…

E depois estendeu a caixa, sem saber a quem a deveria entregar primeiro. Shark foi quem se levantou de um pulo para pegar na caixa e a entregar a L. A rapariga engoliu em seco, segurando a caixa com cuidado, mas não tendo coragem de a abrir.

– Estou aqui, L – murmurou Shark, poisando uma mão encorajadora no braço de L.

A rapariga dirigiu-lhe um pequeno sorriso e depois abriu a caixa. Estava realmente cheia com uma data de envelopes em papel amarelado, grosso e macio como veludo. Ela retirou o primeiro da pilha, lendo o que estava escrito na frente do envelope.

– Chris e Damien – murmurou, olhando para os gémeos.

Tech e Dest trocaram um olhar cheio de significados, engoliram em seco, mas depois levantaram-se e pegaram no envelope. Dest abriu-o, retirou um pequeno maço de folhas de papel e entregou-o a Tech, que começou a ler em voz alta.

Nossos queridos filhos, Chris e Damien,

O facto de vocês estarem a ler esta carta é sinónimo de muitas coisas. É sinónimo da nossa morte, mas sinónimo da vossa sobrevivência. É sinónimo de uma infância difícil, vivida entre humanos, sem saber quem vocês realmente eram. Provavelmente vocês odeiam-nos por isso, por vos termos abandonado no mundo humano, deixados por vossa conta e risco. Mas não tínhamos outra opção. As Parcas já sabiam que o Destino tinha nascido e era apenas uma questão de tempo até elas virem aqui. Foi difícil tomar uma decisão, não porque houvesse muitas outras opções, mas porque não queríamos separar-nos de vocês. Tínhamos de escolher entre morrer e trazer-vos connosco para a morte ou morrer ao tentar dar-vos uma chance de viver. Preferimos não ser egoístas e cruéis, preferimos pensar primeiro em vocês, dois bebés inocentes e indefesos que ainda nem os olhos conseguem abrir.

Não vos poderíamos entregar para outros deuses, não seria seguro o suficiente, facilmente seriam descobertos pelas Parcas. O mundo humano era a única hipótese. Portanto, respirámos fundo, pegámos em vocês, e deixámos-vos à porta do orfanato em que com certeza se lembram de ter estado. Ou talvez não, talvez tenham sido adotados a tempo de não guardarem lembrança nenhuma daquele sítio. Afinal, quem não haveria de querer cuidar de dois bebés lindos como vocês são?

Mas o resto da história vocês sabem melhor do que nós. Não nos deve restar muito mais tempo de vida, quando as Parcas descobrirem que nós vos “atirámos” para o mundo humano. Matar-nos-ão, com toda a certeza. Portanto, para o caso de estarem a ler isto antes de terem concretizado a profecia, leiam as nossas palavras com atenção: as Parcas são umas garotinhas frias e sem coração que apenas pretendem manter o seu lugar no topo do universo. Farão tudo ao seu alcance para vos destruir, não terão qualquer tipo de misericórdia. É por isso que vocês também não deverão ter misericórdia delas quando chegar a altura de se enfrentarem. Não hesitem. Façam o que tem de ser feito; vocês sabem o que é. Matem-nas. Não há outro modo de resolver o problema. Infelizmente, não há. Outros antes de nós tentaram fazê-lo, arranjar uma solução que fosse benéfica para todos. Apenas conseguiram morrer. Não há espaço no mundo para a Destruição, o Destino, a Criação e a Protetora coexistirem com as Parcas. Portanto, repetimos: não hesitem.

Apesar de tudo, do ódio que vocês talvez sintam por nós, esperamos que ouçam este nosso último e único conselho. Gostaríamos de ter tipo a oportunidade de vos dar outros. Gostaríamos de ter tido a oportunidade de vos aconselhar a usar a camisa azul e não a negra, de vos ter feito desistir de usar calças de ganga rasgas, de vos ter impedido de fazer tatuagens ou de colocarem argolas no nariz. Gostaríamos de vos ter dito que aquela rapariga loira e bonita só vos irá partir o coração e aquela rapariga gorducha e com borbulhas tem um coração de ouro que vos amará para toda a eternidade. O vosso pai até gostaria de, por uma vez, vos sentir fazer xixi para cima dele quando vos mudasse a fralda. Mas só uma vez, duas já seria abusar da paciência dele.

Todavia, infelizmente, até isso as Parcas nos tiraram.

Queríamos deixar este pequeno registo para vocês, uma explicação para aquilo que nós fizemos, um pedido de desculpas por o termos feito e um outro pedido, para que não nos odeiem. Estávamos apenas a pensar no vosso bem, queridos.

Esperamos que nos possam perdoar, que consigam concretizar a profecia (se não a concretizaram já) e que sejam muito felizes no mundo que vocês têm o poder para criar. Saibam que, não importa onde estejamos, continuamos a amar-vos muito, imenso, infinitamente, e que estarão para sempre nos nossos corações.

Apesar de doer e de não querermos… despedimo-nos.

Beijinhos saudosos e abraços apertados,

Da mamã e do papá

Tech baixou as mãos em que segurava a carta, mas manteve a cabeça baixa, para esconder as grossas lágrimas que lhe caiam dos olhos cor-de-rosa. Dest, por seu lado, olhava para o teto do quarto, com lágrimas silenciosas a escorrer-lhe pelo rosto, como se conseguisse ver os rostos dos pais.

– Oh, Dest – gemeu Bella, também ela com os olhos cheios de lágrimas, antes de correr a abraçar o namorado. Dest abraçou-a com força, desviando por fim o olhar do teto e enterrando o rosto nos cabelos da rapariga. Foi só quando Tech soltou o primeiro soluço, o seu corpo estremecendo e ameaçando desmoronar-se a qualquer momento, que Dest chegou Bella mais para um lado, abraçando-a somente com um braço, enquanto puxava o gémeo com o outro.

Tech agarrou-se a Dest como se fosse uma boia salva-vidas no meio do mar tempestuoso, começando a chorar aos gritos, soluçando tão violentamente que quase não se sustinha de pé.

Os outros trocaram olhares, sabendo agora o que esperava Hisui, Gina e L dentro dos restantes envelopes.


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