Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi


Capítulo 62
Capítulo 62




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Ainda não acabara. Para sua grande deceção, ainda não acabara.

Quando achara que finalmente a sua mente se poderia entregar ao vazio (que se calhar até se entregara sem que ela se desse conta), os pensamentos desconhecidos, não oriundos da sua mente, voltaram a invadi-la.

Desta vez viu-se sentada numa cadeira, no centro do que parecia ser uma sala redonda. O chão era de mármore branco e as paredes pareciam feitas de nuvens, com várias imagens a passar por elas, tão rápidas que L não as conseguia acompanhar. Sentia uma leve pressão nas têmporas de cada vez que tentava concentrar-se nas imagens, mas algo a impedia de desistir. Havia algo que ela tinha de fazer.

Tinha uma pequena mesa redonda na sua frente, com um suporte para livros prateado, muito bonito. Mas não havia livro nenhum no suporte e ela sabia que devia haver.

L tornou a olhar para as imagens que estavam a passar, tentando perceber o que eram. O latejar das têmporas intensificou-se mas, finalmente, conseguiu distinguir alguma coisa.

Parecia que estava a ver uma reportagem nas notícias sobre um qualquer temporal, com a diferença de que via claramente pessoas a serem arrastadas pelas cheias, a afogarem-se no interior das suas próprias casas. O horror da situação fez L desviar rapidamente o olhar, apertando a cabeça entre as mãos. Mas, ainda assim, as imagens recusavam-se a abandonar a sua mente, gerando nela um sentimento de revolta para com as vidas desnecessariamente perdidas. Queria mudar aquilo, queria que fosse dada uma oportunidade de sobreviver àquelas pessoas. Mas como?

Onde estava o livro? Ela sabia que o livro em falta era a chave para acabar com aquela sua angústia. Faltava ali o livro. Mas onde estava o livro?!

Tentou levantar-se para procurar o livro, mas a sensação de se colocar de pé misturou-se com uma outra sensação: a de se sentar, estando antes deitada. As duas sensações contraditórias criaram uma sensação de vertigem e tontura que a obrigou a fechar os olhos. Ficou alguns segundos imóvel, até sentir que voltava verdadeiramente à realidade, ouvindo pequenos sons que lhe eram mais conhecidos: o ondular do mar, os gritos das gaivotas… Sentia mesmo a presença de mais alguém junto de si, presenças estranhamente conhecidas.

Os seus amigos. Mas não eram tantos como antes, a divisão estava demasiado silenciosa e sentia o ar demasiado frio e espalhado, esticado para cobrir os lugares onde anteriormente haviam estado corpos.

– L? – chamou uma voz sua conhecida.

L abriu lentamente os olhos, verificando que estava sentada na sua cama, de cabeça atirada para trás, o rosto virado para o teto. Olhou lentamente para o lado, vendo Saya e Shark a olhar para si, com expressões muito assustadas estampadas no rosto.

– Estás bem? – perguntou Shark.

L engoliu em seco, endireitando a cabeça e passando lentamente as mãos pelo rosto e pelos cabelos.

– Não tenho bem certeza – murmurou ela.

– Que se passa, meu amor? – perguntou Shark, levantando-se rapidamente da cadeira em que estivera sentado e sentando-se na cama ao lado de L, envolvendo os seus ombros com um braço enquanto a puxava na direção do seu peito. L aceitou o conforto, poisando a cabeça no ombro do namorado e abraçando a sua cintura.

– O que tinha o selo, L? – perguntou Saya, ansiosa.

L engoliu em seco enquanto erguia a cabeça do ombro de Shark para olhar a sua Madrinha.

– Dado que as Parcas já sabem quem são os deuses da profecia, penso que não fará diferença revelar já que… sim, sou a Protetora.

O silêncio abateu-se no quarto durante alguns instantes, enquanto Saya e Shark trocavam olhares arregalados.

– Como é que sabes? – perguntou Saya, baixinho.

– Eu não sei – gemeu L, apertando a cabeça entre as mãos, as lágrimas de desesperado chegando-lhe aos olhos – Eu não sei! Simplesmente sei. Há tanta coisa na minha cabeça… e eu não entendo nada, eu não consigo entender nada!

– Shhh – fez Shark, em tom tranquilizador, poisando uma mão na cabeça de L, acariciando-lhe os cabelos ternamente enquanto a puxava de novo para o seu ombro – Calma, querida… tem calma.

L tornou a abraçar a cintura de Shark enquanto permitia que as primeiras lágrimas lhe brotassem dos olhos, silenciosas e não completamente compreendidas.

Saya lançou um olhar triste a Shark e apontou para a porta do quarto, desenhando com os lábios as palavras “vou embora”.

L não reagiu nem sequer quando ouviu a porta bater atrás da sua Madrinha. Continuou abraçada a Shark, deixando que ele acariciasse os seus cabelos enquanto a apertava contra si.

– Dá um jeitinho, querida – murmurou ele, afastando L apenas o suficiente para se conseguir deitar ao lado dela, numa posição mais confortável para a abraçar. Abraço esse que foi dado com força e carinho, dando tempo a L de se acalmar e refletir sobre tudo o que acontecera.

* * *

– A L acordou? – perguntou Softhe, segurando Saya pelos ombros mal viu a rapariga entrar na sala comum.

– Sim – confirmou Saya, sentando-se no sofá ao lado de Lilás.

– Que disse ela? – perguntou Bella, curiosa.

Saya soltou um suspiro cansado, esfregando o rosto enquanto os outros morriam de curiosidade.

– Ela diz que é a Protetora – revelou Saya.

Ficaram todos em silêncio por alguns momentos, digerindo a informação, até que Yngrid engoliu em seco e disse:

– Então… a profecia está completa.

– Parece que sim – confirmou Saya.

– E o que é suposto acontecer agora? – perguntou Dest.

– Tu é que és o Destino, responde-me tu – atirou Saya.

– Calma – pediu Lilás, baixinho, poisando uma mão no antebraço de Saya – O Dest tem poder para alterar o rumo dos acontecimentos, mas não tem poder para os prever. Somente a Circe consegue prever o futuro.

E olharam todos para Circe, que se colocou de imediato em posição defensiva.

– Não olhem assim para mim, eu sou um Oráculo mas não adivinho tudo.

– Não podias ao menos esforçar-te para saber o que irá acontecer? – perguntou Saya.

– Não me parece – negou Circe – Não estaria a tentar prever somente o futuro de uma pessoa ou algo do género. Estaria a tentar prever algo completamente diferente. Vocês sabem que, para prever o futuro, eu acesso às energias que regem o universo para saber o rumo que cada decisão tomada irá seguir. Mas a Hisui, os gémeos, a Gina e a L são aqueles que nasceram para reorganizar essas mesmas forças, moldá-las de forma diferente e completamente nova. Portanto, como poderia eu prever algo? Estaria a tentar aceder a forças que ainda não existem. A tentar prever o futuro do próprio futuro.


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