Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi


Capítulo 60
Capítulo 60




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– Desmaiou – constatou Yngrid, num murmúrio, enquanto todos fixavam o corpo imóvel e inconsciente de L.

– O que diabos aconteceu? – perguntou Ouro, num murmúrio.

Saya encolheu os ombros, sabendo tanto quanto os outros.

– Acordamo-la? – perguntou Softhe, indecisa.

– Não – negou Gina, subitamente – A L precisa de tempo. O seu corpo e a sua mente precisam de recuperar do que quer que tenha acontecido. Talvez a inconsciência seja o único meio que ela tem de se impedir a si mesma de enlouquecer.

– É, deves ter razão – concordou Saya.

– Estou morta para saber o que raio tinha aquele selo – disse Hisui.

– Não és a única – garantiu Ouro.

– Será que ela vai demorar muito tempo a acordar? – perguntou Shark, preocupado.

– Depois daquilo? É provável – confirmou Gina.

– Vamos deixá-la sozinha – decidiu Hisui – Basta ficar aqui alguém para a ajudar quando ela acordar. O resto de nós pode ir embora.

– Eu fico – aprontou-se Saya, sentando-se na borda da cama de L.

– Eu também – disse Shark.

– E já chega – interrompeu Hisui, quando viu também Softhe abrir a boca para falar – Vamos embora.

Viraram-se todos para sair do quarto, alguns mais hesitantes. Hisui engoliu em seco quando viu Elpída mesmo atrás de si, lançando-lhe um olhar magoado quando os seus olhos se cruzaram. No entanto, não disse nada. Virou costas e saiu com os restantes, deixando Hisui a sentir-se terrivelmente culpada.

– Que se passa entre ti e a Elpída? – perguntou Ouro, colocando-se subitamente a seu lado.

– É… uma longa história – suspirou Hisui, saindo do quarto.

– Podes desabafar comigo – ofereceu-se Ouro.

Hisui não respondeu de imediato. Estavam já a sair do Átrio e Ouro acreditava que a rapariga o iria simplesmente ignorar quando ela soltou um suspiro e deixou descair a cabeça para o peito.

– O que é que é suposto eu fazer – começou Hisui a perguntar – quando uma rapariga diz que está apaixonada por mim?

Ouro ficou a olhar para Hisui, chocado.

– O que é que é suposto eu fazer com uma Adepta que não quero ver magoada mas à qual não consigo retribuir o que ela sente? – continuou ela a questionar-se.

– Bem… é uma situação difícil – disse Ouro, ainda abananado.

– Obrigada por constatares o óbvio – desdenhou Hisui.

– Mas acho que não devias ser tu a preocupar-te com isso – continuou a rapaz – Quer dizer, se fosse para tu gostares da Elpída, tu já te terias sentido atraída por ela de um modo mais… enfim, especial.

– Isso não quer dizer nada – negou Hisui, abanando a cabeça – Olha o Burn e a Softhe. Eles não se podem ver um ao outro, apesar de serem “almas gémeas”.

– A culpa foi do Burn, que tentou resistir àquilo que sente.

– Não estarei também eu a resistir, de modo inconsciente, àquilo que sinto? – questionou-se Hisui – Será que é o meu futuro apaixonar-me por uma rapariga?

– Hisui, para – pediu Ouro, colocando-se na frente da rapariga e segurando-a pelos ombros – Estás a pensar demasiado. Estás a tornar difícil o que é fácil. Não podes resistir a algo que não sentes, portanto, não estás a resistir inconscientemente ao que sentes pela Elpída. Tu simplesmente não sentes nada por ela. Só isso.

– Então porque é que me sinto tão agoniada? – perguntou Hisui, desesperada.

– Porque estás a procurar na amizade que lhe tens um amor que não existe – disse Ouro – Tu estás quase a pedir para te apaixonar por ela, mas não consegues. É isso que te está a agoniar.

Hisui ficou alguns momentos de cabeça baixa, pensativa.

Ouro empurrou ternamente uma madeixa de cabelo negro para trás da orelha da rapariga e depois poisou-lhe a mão no queixo, fazendo-a olhar para si.

– O que te preocupa? – perguntou, num tom de voz suave.

– E se não for a Elpída, mas outra rapariga? – perguntou ela, baixinho.

– Estás preocupada com o facto de te poderes apaixonar por uma rapariga? – perguntou ele, sem conseguir evitar um sorriso.

– Bem… sim – confirmou ela, corando levemente – Eu acho que prefiro rapazes, mas não posso ter verdadeiramente a certeza. Ninguém pode ter a certeza de nada, não é?

Ouro não conseguiu evitar e riu-se levemente.

– Bem – disse ele, cortando Hisui no momento em que ela pretendia mandá-lo calar-se – Se tens medo de gostar de raparigas, nós podemos fazer já um pequeno teste e ficar a saber.

Hisui lançou um olhar desconfiado ao sorriso de Ouro.

– O que é que sugeres? – perguntou cautelosamente.

Ele riu-se de novo antes de segurar a cabeça de Hisui entre as mãos, impedindo-a de se afastar, e lhe espetou um beijo carinhoso nos lábios. Hisui começou por esmurrar os ombros de Ouro, tentando que ele se afastasse, mas não foi capaz de continuar a resistir à suavidade dos seus lábios ou às carícias que os dedos dele lhe teciam nos cabelos, massajando a pele sensível da sua nuca.

– Bom ou mau? – perguntou ele, afastando-se dos seus lábios apenas o suficiente para falar.

Hisui mordeu suavemente o lábio, sem coragem para dizer a verdade. O beijo não fora bom. Fora ótimo, uma coisa do outro mundo. Os lábios de Ouro eram frescos, doces… masculinos. E ela mal podia esperar por um novo beijo.

– Pela tua cara, diria… bom – constatou Ouro, chegando perigosamente os seus lábios aos de Hisui, mas não os tocando, obrigado a rapariga a esticar-se na sua direção, à procura de um novo beijo – Bom, definitivamente – murmurou ele, triunfante.

E depois decidiu terminar com o sofrimento de ambos, voltando a beijar Hisui. Um beijo quente e exigente, que os deixou sem fôlego, de corpos colados e a ferver. Foi quando se afastaram que, por acidente, uma das presas de Hisui arranhou o lábio de Ouro, fazendo com que uma minúscula bota de sangue lhe escorresse para a língua.

Hisui afastou-se de repente, como se a tivessem puxado para trás, com uma mão sobre a boca. Ouro ficou a olhar para ela, chocado, petrificado, sem saber como haveria de reagir, a respiração suspensa. Aquela gota de sangue fora o bastante para Hisui ficar a saber tudo sobre ele. O seu estatuto. Os seus poderes. O seu primeiro nome. Em especial o seu primeiro nome.

– Nathaniel – murmurou ela.


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