Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi


Capítulo 59
Capítulo 59




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– Temos a poção – anunciou Saya, assim que entrou no quarto, aproximando-se de imediato da cama de L.

– Ótimo – disse Shark, levantando-se – Já está mais do que na altura de esse selo ser aberto.

– De… de certeza que devemos abrir o selo? – perguntou L, nervosa.

– Temos de abrir o selo – disse Shark – Tu não podes continuar nesse estado, L! Não consegues sequer aguentar-te consciente sem a Gina para te aliviar a dor.

– Ele tem razão – concordou Softhe.

– Mas… e as gémeas? – perguntou L – As gémeas ficarão furiosas se souberem…

– Elas já sabem – negou Circe, de braços cruzados – Elas sempre souberam que nós estávamos a tentar abrir esse selo. Mas aposto em como também elas estão curiosas para saber o que ele prende.

– Então porque não o abriram? – perguntou Snow.

– Estão a salvaguardar a imagem delas – disse Circe, encolhendo os ombros – Se o selo da L libertar algo de “mau”, elas terão simplesmente de nos castigar. Não serão responsabilizadas pelo que acontecer.

– Que cabr…! – começou Softhe a barafustar.

– Não queres dizer isso em voz alta – cortou-a Hisui.

– É – disse Circe, olhando para o teto do quarto com ar sonhador – Elas estão a ouvir.

– Ouçam, a conversa está agradável – disse Shark – Mas a minha namorada ainda continua com aquele selo asqueroso na testa. Podem fazer o favor de lho tirar?

Saya respirou fundo, de olhos fechados, preparando-se.

– Okay – disse ela, em tom decidido, voltando a abrir os olhos – Para começar, preciso de espaço. Será melhor, tanto para mim como para a L, se não tivermos no meio de uma multidão.

Os amigos afastaram-se prontamente da cama de L, exceto Gina, que lhe lançou um olhar interrogativo.

– Eu também? – perguntou.

– Sim, tu também – confirmou Saya.

– Tens noção de que a L vai desatar aos gritos assim que eu tirar a mão da testa dela, não tens? – perguntou a rapariga dos cabelos negros, erguendo suavemente uma sobrancelha.

– Sim, tenho – disse Saya – Por favor, Gina, afasta-te.

Gina respirou fundo, mas acenou. Levantou-se, retirando a mão da testa de L e encolhendo-se levemente ao ouvir L gritar de dor atrás de si.

– Okay, L, vamos lá – murmurou Saya, chegando rapidamente o frasco com a poção à boca de L.

Cega pelas dores, a rapariga nem se apercebeu de que Saya a estava a tentar fazer beber a poção. Não teve noção da sua própria garganta a engolir o líquido de um só trago, não se chegando a queixar da textura espessa e pegajosa ou do sabor ácido que lhe queimou o esófago.

Depois, Saya hesitou. Não sabia quanto tempo levaria a poção a fazer efeito, nem sequer saberia como é que esse efeito se manifestaria. Como é que ela poderia saber em que momento o selo já estava enfraquecido?

– Fá-lo, Saya! – ordenou Shark, por cima dos gritos da namorada – Estás à espera de quê?!

– Mas… o efeito da poção… – balbuciou ela.

Calou-se quando notou que os gritos de L estavam a diminuir de intensidade, passando gradualmente a pequenos queixumes de dor.

– Já está a fazer efeito – notou Lilás, num murmúrio.

– Quebra o selo, Saya – rosnou Shark.

Saya tornou a respirar fundo antes de poisar os dedos médios e indicadores sobre as têmporas tatuadas de L. Não retirou a luva da sua mão direita, desejando que aquilo funcionasse sem que ela tivesse de o fazer. Tocar em L diretamente com a sua mão direita não traria bons resultados à sua Sobrinha.

– Tem cuidado, Saya – apelou a voz de Shark atrás de si, num tom ameaçador.

– Eu sei! – estalou ela, irritada e stressada com tudo aquilo. Ela precisava de se concentrar, de se concentrar muito bem.

“Não pode ser a mais… nem a menos. Tem de ser a quantidade certa.”

Começou por chamar lentamente o poder do gelo aos seus dedos, tentando reuni-lo na quantidade que ela julgava ser a aceitável. Quando finalmente a obteve… libertou o seu poder contra o selo.

A tatuagem pareceu rachar como vidro, partindo-se em vários pedacinhos que em breve se separaram e começaram a cair, desfazendo-se num pó brilhante quando entrarem em contacto com a cama de L.

– Resultou – constatou Ouro, chocado.

– Resultou! – guinchou Bella, feliz.

– Resultou, L! – anunciou Softhe, correndo para a amiga – Como te sentes?

L não respondeu, continuando a fixar o teto de olhos arregalados, parecendo prestes a saltar-lhe das órbitas, os lábios entreabertos no que só poderia ser choque.

– L? – chamou Shark, aproximando-se.

L inspirou fundo lenta e profundamente, para depois libertar todo o ar num só grito que fez todos saltar de susto. A rapariga levou rapidamente as mãos à cabeça, apertando-a enquanto era preenchida por uma data de pensamentos que, para ela, ainda não faziam muito sentido.

Começou com um vulto difuso, cujas feições ela não era capaz de distinguir, mas que o seu instinto lhe disse estar a sorrir para si. Também foi o seu instinto que captou a sensação de proteção e amor que vinha daquele vulto, que a informou de que tudo estava bem enquanto pudesse olhar para aquela pessoa. Porque aquela era a sua mãe. E logo atrás dela, com o cabelo de um vermelho vivo que até a vista de um bebé acabado de nascer conseguia captar, estava outro vulto, masculino. O seu pai.

L queria desesperadamente agarrar-se àquelas memórias, as únicas que ela alguma vez teria dos seus pais, mas outros pensamentos rapidamente se seguiram. Todos juntos formavam um grande amontoado de informações que ela nem imaginava que poderiam existir e que ela teria de saber. Parecia impossível que tudo aquilo fossem ensinamentos dados pelo seu instinto, pelo seu subconsciência, coisas que ela era suposto saber desde que tinha nascido, com as quais era suposto ela ter crescido a lidar, mas que o selo mantivera longe de si e que agora a soterravam de uma só vez. Não conseguia evitar tentar fixar tudo aquilo, sabendo que era importante, a sua parte racional ignorando o facto de ela já saber aquilo, de aquelas informações fazerem parte do seu ser, da pessoa que ela era. Ou que deveria ter crescido para ser.

No entanto, não eram as informações em si que importavam. O mais importante era o que aquelas informações revelavam sobre si, sobre a sua verdadeira identidade. Algo que ela se recusara a acreditar e que agora via ser a sua realidade. Algo que estava entrelaçado com a palavra que existia em cada pulsar do seu coração, em cada inspiração dos seus pulmões, em cada gota do seu sangue. Uma palavra com a qual ela não saberia como lidar, devido ao choque brutal da sua revelação. A palavra que lhe martelava os ouvidos e que fazia o seu corpo estremecer a cada eco. A palavra cujo verdadeiro significado ela sempre ignorara, apesar de ser uma palavra que ouvira com frequência. Como era possível ela ter ouvido aquela palavra tanta vez e nunca antes ter sentido aquilo? Porque estava o seu corpo a reagir daquela maneira àquela simples palavra?

A explicação era óbvia.

Aquele era o seu primeiro nome.

Alexandra.

A Protetora da Humanidade.


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