Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi


Capítulo 58
Capítulo 58




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L bocejou e espreguiçou-se longamente antes de abrir os olhos.

Gina estava deitada a seu lado, adormecida, ainda com uma mão poisada na sua testa. E com uma data de borboletas coloridas poisadas nos cabelos, batendo ocasionalmente as asas.

Era óbvio que o poder de criação de Gina lhe dava uma grande proximidade aos animais, à natureza. Mas era sinistro ver a forma como todas as formas de vida pareciam curvar-se diante de si. Humanos incluídos. Isso deveria sobrecarregar Gina com uma data de responsabilidades que L não teria sequer capacidade para começar a compreender.

“Como é que ela aguenta?”

Talvez não aguentasse. Talvez fosse por isso que ela se fechava naquele casulo frio e impenetrável. Isso fez L questionar-se sobre a rapariga que Gina seria, no interior desse casulo. Pelo modo como ela tratava os seus animais e pelo modo como cuidara dela durante a noite, tinha a certeza de que era uma pessoa incrível.

Fazendo um pequeno sorriso na direção do rosto adormecido de Gina, L preparou-se para se levantar. No entanto, quando o fez e a mão de Gina escorregou da sua testa, a dor voltou com tamanha com força que a cegou. Só conseguiu cair de joelhos, com as mãos a pressionar a testa, gritando enquanto a sua cabeça parecia prestes a explodir. Não via, sentia ou ouvia nada. Parecia que tinha um martelo a bater-lhe na cabeça, fazendo as suas têmporas latejar e os seus ouvidos retinir.

Quando voltou a si, percebeu que estava de novo deitada, mas não na cama de Gina. Estava no seu quarto, com uma data de gente em seu redor, a discutir aos gritos. A sua visão estava turva, pelo que só conseguia distinguir vultos difusos, exceto a silhueta de Gina que, por estar sentada mesmo a seu lado, via melhor que as restantes, embora também desfocada. Sentia a mão fria da Deusa Suprema da Criação de novo na sua testa, acalmando a sua dor mas sem conseguir afastar os ecos desta.

– Tu não fizeste nada pela L até agora e estás aí a ralhar-me por não ter ainda terminado a poção para abrir o selo?! Mas quem é que tu pensas que és?!

– Tu tomaste a responsabilidade de fazer a poção o mais rapidamente possível! Bem, parece que não foste rápida o suficiente!

– Cala a boca, Shark! Já te passou pela cabeça que, se não estivesses para aí a atacar a Saya, eu e ela já estaríamos no laboratório a terminar a poção?!

– Não te metas, Lilás, este assunto não é contigo!

– Não, não te metas tu! A Saya tem razão, tu não fizeste nada para ajudar a L! Não te ofereceste para nos ajudar com a poção, pois não?! Deixaste tudo ao cargo da Saya, que não era obrigada a fazer rigorosamente nada! Mas agora vens com essa conversa, como se ela tivesse o dever de já ter terminado a poção?! Por favor, Shark…!

– Se estás assim com tanta pressa, vai tu acabar a poção!

– Parem! Mas que raio de coisas, Shark! Está calado, deixa a Saya e o Lilás irem-se embora. Eles precisam de terminar aquela poção!

– Vão – cuspiu a voz de Shark, enquanto a sua silhueta se aproximava mais da cama de L – E despachem-se.

De seguida só se ouviu o bater da porta do quarto, que trouxe o abençoado silêncio à divisão.

– L? – chamou Shark, pegando rapidamente na mão da rapariga, ao reparar que ela tinha os olhos semiabertos, tentando focar a vista – Estás bem, meu amor? Assustaste-me tanto…

– O que…? – tentou L balbuciar.

– Parece que a dor de cabeça só piorou durante a noite – disse a voz de Softhe, enquanto L sentia a amiga subir para cima da cama, para se colocar ao seu lado – Desataste aos gritos e desmaiaste, quando a Gina tirou a mão de ti.

– Acordou-me aos gritos – resmungou a voz de Gina, parecendo muito mal-humorada.

L conseguiu ergueu uma mão até aos olhos, esfregando-os e tentando focá-los novamente, desta vez com sucesso. Os seus amigos estavam todos em redor da cama, com exceção de Saya e Lilás, que tinham saído poucos segundos antes.

– Como te sentes agora? – perguntou Hisui.

– Bem – disse L, ensaiando um pequeno sorriso – Obrigada, Gina.

A rapariga simplesmente grunhiu.

– Vamos abrir-te esse selo hoje – garantiu Shark, beijando os nós dos dedos de L – Prometo-te, L.

L acenou nervosamente, sem saber como mais haveria de reagir.

Queria livrar-se daquele selo, é claro. Queria saber o que estaria ele a prender no seu corpo. Mas, por outro lado, tinha medo. Tinha medo que o processo corresse mal. Ou que estivessem a libertar algo que não deviam. Seria mesmo aquilo o correto? Abrir o selo? Não teriam as gémeas razão ao recusar-se a abri-lo?

Era tarde demais para estar a pensar nisso. Os seus amigos não a deixariam recuar.

* * *

– Saya, tem calma – pediu Lilás, enquanto a via poisar furiosamente, na bancada, os últimos ingredientes da poção, por pouco não partindo os frasquinhos de vidro.

A rapariga ignorou-o, continuando a sua silenciosa manifestação de raiva para com Shark. Até já lhe estavam a crescer pequenos espigões de gelo entre os dedos, enquanto ela cerrava os punhos ao andar de um lado para o outro.

Soltando um suave estalido de desagrado com a língua, Lilás levantou-se e abraçou Saya com força contra o seu corpo, fazendo-a parar de repente e arregalar os olhos.

– Calma – murmurou ele junto do ouvido dela, acariciando longamente as suas costas – Não é estando furiosa que vais ajudar a L. Ou que a poção ficará pronta mais depressa. Acalma-te, Saya. Por favor…

Saya acenou com a cabeça, tentando afastar-se de Lilás para continuar a trabalhar, mas ele apertou-a com mais força. Hesitante, Saya acabou por poisar as mãos nos flancos de Lilás, numa fraca retribuição do abraço.

Ele riu-se suavemente, fazendo Saya arrepiar-se com aquele riso tão próximo do seu ouvido.

– Podes abraçar-me – murmurou ele, uma das mãos subindo das costas de Saya até ao pescoço e, daí, enterrando-se nos cabelos da sua nuca.

Engolindo em seco, Saya cedeu, fazendo os seus braços deslizar em redor do tronco sólido de Lilás. Ele soltou um pequeno suspiro pelo nariz, satisfeito. Ficaram por mais alguns segundos abraçados, até Lilás depositar um beijo muito rápido e suave no pescoço de Saya e se afastar, dando-lhe tempo e espaço para pensar.

– Vamos acabar a poção – convidou ele, fazendo um pequeno sorriso.

Saya acenou, ainda confundida com o que acabara de acontecer, mas forçando-se a concentrar. Virou-se para os últimos ingredientes que estivera a organizar e meteu mãos à obra.

Ainda levou algum tempo até a poção ficar finalmente pronta, altura em que Saya, com a ajuda de Lilás, fez escorrer o espesso líquido de um azul-claro transparente para dentro de um frasco. Depois, Lilás pegou na mão de Saya, entrelaçando os seus dedos, e correram os dois de volta ao quarto de L.


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