Hisui saltou de susto quando sentiu uns braços finos enrolar-se no seu pescoço, uma cortina de cabelo loiro despenhando-se sobre ela.

– Elpída! – exclamou Hisui, em tom reprovador, enquanto largava o livro sobre os joelhos para tentar libertar-se do abraço da rapariga – Estou a tentar ler!

– Estava só a tentar dar-te um miminho – defendeu-se Elpída, com um pequeno beicinho, dando um beijo na bochecha de Hisui antes de se afastar e dar a volta ao sofá para se sentar ao lado da sua Suprema – Que estás a ler?

Hisui encolheu os ombros e não respondeu.

– Olá, Hisui – cumprimentou Ouro, surgindo sabe-se lá de onde e sentando-se do outro lado da rapariga – Tudo bem?

Hisui limitou-se a acenar, dirigindo um pequeno sorriso ao rapaz.

Elpída ficou de trombas.

– Hisui – chamou ela – Porque é que não vamos para outro sítio?

– Estou bem aqui – respondeu Hisui, confusa.

– Sim, mas porque não vamos para um lugar mais… nosso? – sugeriu ela, lançando um olhar extremamente hostil a Ouro.

– Se queres que me vá embora, só tens de o dizer – atirou Ouro – E, de qualquer modo, não estou aqui para falar contigo. Estou aqui por causa da Hisui.

– Tu queres tirar a minha Suprema de mim – constatou Elpída, os olhos arregalando-se de horror.

– Elpída, mas que raio de conversa é essa?! – ralhou Hisui.

– Não vais conseguir – disse Elpíada, baixinho e ameaçadoramente a Ouro – Não vais conseguir tirar a minha Suprema de mim, ouviste bem?!

– Elpíada! – exclamou Hisui.

– Vamos embora daqui – rosnou Elpíada, ainda a olhar ameaçadoramente para Ouro, pegando no pulso da sua Suprema e puxando-a atrás de si, a correr.

Ouro ficou a vê-las afastar-se, pegando depois numa pequena almofada sobre o sofá e atirando-a violentamente contra a televisão, que por pouco não caiu.

– Uau, o Ouro a ter um ataque de fúria! – constatou Shark, entrando nesse momento na sala comum com Snow e Ónix.

– Estou tão cheio daquela miúda! – rosnou Ouro, fazendo um gesto na direção da porta.

– Que miúda? – perguntou Snow, deixando-se cair num sofá ao lado daquele em que Ouro estava sentado.

– A Adepta da Hisui. Aquela Elpída. Raios, ela não me deixa estar dois míseros minutos com a Hisui! Começa logo a dizer que eu lhe quero roubar a Suprema e não sei que mais…

– Porque se calhar ela vê o que todos nós vemos – disse Ónix, com um sorriso malandro – Vê-te a comer a Hisui com os olhos!

– Uhh! – fizeram os três rapazes ao mesmo tempo, deixando Ouro ainda mais zangado.

– Importam-se de se calar?! – gritou Ouro – O que é que eu faço para me ver livre dela? Quero ter cinco minutos de uma conversa decente com a Hisui, será pedir muito?!

– Para ela, sim – disse Shark, pegando no comando da televisão – Porque ela sabe que depois desses cinco minutos virão mais cinco minutos. Depois dez. Meia hora. Uma manhã. Um dia inteiro!

– Uma noite inteira – acrescentou Ónix, com um sorriso maroto.

Ele, Shark e Snow riram-se à gargalhada.

– Vocês não têm piada – negou Ouro, irritado.

– Hey, desculpa, meu, mas do nosso ponto de vista, tem uma piada brutal – defendeu-se Snow.

– Yah, teres de disputar com uma miúda com outra miúda não é algo que aconteça com frequência – disse Ónix.

– Olha, porque é que em vez de disputares a Hisui com a Elpída, não tentas conquistar as duas? – sugeriu Shark – Dá mais trabalho, é verdade, mas depois tens o dobro do gozo!

– ‘Tá calado! – berrou Ouro, atirando-se para cima de Shark, que morria a rir com os outros dois.

* * *

– Katastrofic! – gritou Hisui, quando estavam já a meio do corredor que levava à antiga sala comum e tinha a certeza de que mais ninguém a ouviria pronunciar o nome por acidente.

Elpída parou de imediato de correr, deixando-se cair contra a parede do corredor, todo o seu corpo tremendo em reação ao primeiro nome. Olhou para Hisui por cima do ombro, os olhos arregalados, a parte branca completamente visível e as pupilas dilatadas.

– Vara’lia – murmurou Elpída, baixinho e miseravelmente, quase como se implorasse para que Hisui largasse o seu nome verdadeiro e não lhe desse nenhuma ordem que ela teria forçosamente de cumprir.

Hisui olhou Elpída por alguns segundos, ainda com o nome dela estalando na sua boca. Tinha consciência do poder que tinha sobre a rapariga naquele momento. E foi essa consciência que a assustou. Por um lado, estava suficientemente irritada para querer dar uma ordem a Katastrofic. Por outro lado, não tinha coragem de ser cruel a esse ponto.

Portanto, limitou-se a deixar cair os ombros, libertando o ar dos seus pulmões com um suspiro e o primeiro nome de Elpída.

A outra rapariga soltou um suspiro de alívio e deixou-se cair de joelhos no chão, sem força nas pernas, o seu corpo enchendo-se de suores frios.

– Eu disse-te para não fazeres aquilo novamente – começou Hisui – Disse-te que não sou nenhuma boneca que tu podes manusear.

– Desculpa, Vara’lia – meio gemeu, meio soluçou Elpída, gatinhando timidamente até Hisui e estendendo as mãos para tocar os pés da sua Suprema, mas parecendo pensar melhor no último segundo e recolhendo os dedos, apesar de deixar as mãos ainda suspensas sobre os seus pés – Eu lamento muito, Vara’lia, eu não me consegui controlar… Por favor, perdoa-me! Eu farei tudo o que for preciso! Por favor, não me odeies!

Elpída começou a chorar, com grandes soluços, baixando a cabeça até ela tocar o chão, numa espécie de vénia a Hisui.

Com pena da rapariga, Hisui ajoelhou-se na frente de Elpída e ajudou-a a endireitar-se. Porém, assim que sentiu as mãos de Hisui e sentiu que a sua Suprema a aceitava de novo, Elpída lançou os braços em redor do pescoço de Hisui, abraçando-a.

– Não me odeias, Vara’lia, por favor – gemeu ela, junto do ouvido de Hisui – Eu amo-te!