Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi


Capítulo 52
Capítulo 52




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/528977/chapter/52

Softhe encostou-se de costas à estante de livros, olhando nervosamente de um lado para o outro do corredor. Não havia sinal de Burn, mas não se atrevia a pensar que o tinha despistado. Afinal, despistar um Deus Supremo era quase impossível. Portanto, Softhe avançou lentamente pelo corredor formado pelas estantes da biblioteca, tentando distinguir o som dos passos pesados e rápidos de Burn. Não ouviu nada.

Chegando ao fim do corredor, tinha apenas duas hipóteses: seguir para o corredor em frente ou escolher outro, com o risco de encontrar Burn ao virar da esquina. Mas, fosse como fosse, teria de espreitar para ambos os lados do corredor mais largo, para ter a certeza de que o podia atravessar e continuar em frente. Portanto, inspirou fundo e preparou-se, para depois espreitar, à procura de Burn.

Não o viu. Em vez disso, sentiu uns braços de ferro enrolar-se à volta da sua cintura enquanto alguém a puxava para trás, para um canto mais escuro e abandonado, as suas costas esmagando-se dolorosamente contra a parede quando Burn a empurrou.

– Apanhei-te – sussurrou ele, triunfante e ameaçador – E agora, vou fazer-te pagar.

Softhe ofegou.

Sentia saudades da proximidade de Burn e o modo como eles estavam agora fazia-a desejar um novo beijo, como o dado no corredor. No entanto, uma parte de si queria apenas empurrar e socar Burn, por tudo o que a fizera sofrer.

– Vais? – provocou Softhe, erguendo o queixo em desafio, apesar de isso não a ajudar a parecer mais altiva, dado que Burn era uma cabeça mais alto que ela.

No entanto, fê-la ficar ainda mais próxima dele e Softhe bem viu a fome violenta que brilhou nos olhos de Burn.

– Podes crer – murmurou ele, segundos antes de segurar a cabeça de Softhe entre as mãos fortes e a beijar intensamente.

“Ah, não, nem penses…! Nem penses que me podes beijar depois de tudo o que me fizeste!”

– Larga-me…! – tentou Softhe gritar contra a boca ávida do rapaz.

– Não queres que te largue – disse ele, com um sorriso malandro, seguindo com os beijos para o pescoço de Softhe.

– Quero, sim – disse ela, tentando empurrá-lo ao mesmo tempo que estremecia com os seus lábios húmidos em contacto com a sua pele. Deu um soco no ombro Burn, ainda a tentar afastá-lo, e, apesar de a pancada não ter surtido efeito nenhum nele, o rapaz cedeu a afastar-se, apenas o suficiente para os deixar respirar.

– Queres bater-me? – perguntou ele, ofegando levemente – Queres bater-me para que pare? Então força. Bate-me.

Softhe ficou a olhar para o rosto de Burn, desejando poder bater-lhe, mas sem coragem para o fazer. Como poderia ela bater-lhe deliberadamente, atingir o seu rosto belo e perfeito? Como poderia ela bater no homem que amava?!

– Vamos, Softhe! – desafiou-a Burn, chegando-se de novo à frente, soterrando a rapariga com a sua presença sedutora – Queres que pare, não queres? Então bate-me.

Softhe fechou os olhos, inspirando profundamente para aclarar as ideias. Não resultou. Tendo Burn tão perto dela, a única coisa que conseguia inspirar era o seu odor quente e arrebatador.

Sentiu o rosto de Burn descer sobre o seu, procurando os seus lábios para um novo beijo. Porém, antes disso, Softhe levou a mão atrás e, antes que pudesse pensar no que estava a fazer, lançou-a contra o rosto de Burn.

O estalo ecoou no espaço vazio, seguindo-se de um silêncio denso e negro, como um vácuo que sugava tudo para si.

Softhe não olhou para Burn, que estava imóvel e de respiração suspensa. Mantendo a cabeça baixa, os cabelos na frente do rosto para esconder os olhos cheios de lágrimas, saiu do aperto entre o corpo de Burn e a parede e foi-se embora.

Quanto a Burn, ficou alguns segundos a olhar para a parede na sua frente, chocado, ouvindo o som dos passos de Softhe afastar-se lenta e deliberadamente. Apenas se moveu quando deixou de a ouvir. Levou a mão à face atingida, poisando nela as pontas dos dedos.

Ainda não conseguia acreditar que Softhe fora capaz de resistir à sua sedução e de aceitar o seu desafio para lhe bater. Não fazia sentido, ele sabia que a rapariga o amava, como é que era possível ela ter-lhe resistido?

“Seria capaz de te resistir… se ela já não te amasse e, em vez disso, te odiasse”, notou uma vozinha escarninha na sua mente.

Sentiu uma pontada gelada no peito ao compreender. Softhe odiava-o, sim. Desde o dia em que ele lhe atirara aquelas palavras como facas que ela o odiava. Como poderia não odiar? Ele esmagara o coração dela debaixo do pé, cuspira nos seus sentimentos.

Tivera sorte por Softhe se ter controlado o suficiente para lhe dar apenas um estalo.

* * *

– Acho que a Softhe não virá à próxima aula – disse Shark, rindo, com o queixo poisando no topo da cabeça de L e os braços enrolados na sua cintura enquanto esperavam pela rapariga – O Burn deve estar a deixá-la muito ocupada.

– Bem, espero que seja num bom sentindo – disse L – E a Circe? Onde é que ela anda?

– Estou aqui mesmo – disse Circe, chegando a correr, ainda a ajeitar os longos cabelos castanhos.

– Por onde é que tens andado? – perguntou L – A Hisui estava a ficar completamente passada, sem saber de ti. Até a Elpída se ofereceu para ir à tua procura.

– Tive um pequeno acidente de percurso, nada de grave – garantiu Circe – E quanto à Softhe? Onde está?

– Enrolada com o Burn – disse Shark, rindo.

– Pois, parece que sim – disse L, torcendo a boca.

– Ali – disse a voz suave e profunda de Gina, olhando na outra direção do corredor.

Lá vinha Softhe, de cabeça baixa.

– Algo correu mal – constatou L, soltando-se suavemente de Shark e correu para a amiga.

– Softhe? O que é que se passa? – perguntou L, segurando a rapariga pelos ombros.

– Nada – negou Softhe, com voz chorosa, nem se dando ao trabalho de erguer a cabeça.

L fez um olhar triste e poisou uma mão no queixo de Softhe, para a fazer olhar para si. Ficou chocada ao sentir a mão ficar imediatamente molhada, apressando a puxar o rosto de Softhe para cima, para verificar o estado lastimoso em que ela se encontrava. Os olhos de Softhe estavam vermelhos e inchados, enquanto deles escorriam ininterruptas e silenciosas lágrimas.

– Oh, Softhe, olha só para mim – ralhou L, num tom suave, apressando-se a abraçar a amiga.

Softhe apertou-a também e só então começou a soluçar, chorando livremente.

– Acho que ela não está em condições de ir a aula nenhuma – disse Circe, ao que Gina acenou a sua concordância.

– Eu levo-a para o quarto – ofereceu-se Shark – Assim vocês não chegam atrasadas.

– Eu posso ir sozinha – negou Softhe, afastando-se suavemente de L enquanto tentava, sem sucesso, limpar as lágrimas.

– Não sejas tonta – negou L – O Shark vai contigo.

Shark acenou e passou um braço sobre os ombros da rapariga, segurando-a contra si em jeito de consolação.

– Obrigada, Shark – agradeceu L, esticando-se para dar um beijinho de agradecimento nos lábios do namorado.

– Gosto de ajudar – disse ele, com um pequeno sorriso – Agora despacha-te para a tua aula.

L dirigiu-lhe um pequeno sorriso, acenou uma despedida e depois ela, Gina e Circe seguiram para a primeira aula do dia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Candidatos a Deuses" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.