Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi


Capítulo 51
Capítulo 51




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Quando L desceu para ir tomar o pequeno-almoço, tentou ignorar os olhares que Saya lhe estava sempre a lançar, fixando as olheiras que estavam de novo bem vincadas por baixo dos seus olhos, em parceria com as tatuagens. No entanto, tornou-se impossível ignorá-la quando ela poisou a mão enluvada no ombro da Sobrinha.

– Eu vou tirar-te esse selo, L – garantiu ela – Fica descansada.

L acenou levemente enquanto lhe dirigia um pequeno sorriso.

Quando chegaram à sala comum, encontraram um cenário muito estranho. Elpída estava com os punhos apoiados no tampo da mesa, inclinada na direção de Burn, lançando-lhe um olhar muito ameaçador enquanto protegia, sob o seu corpo, uma grande quantidade de comida.

– Hisui! – exclamou Elpída, o seu rosto iluminando com um grande sorriso mal viu a sua Suprema atrás de L e Saya – Olha, guardei esta comida toda para ti! – informou ela, apostando para a comida que estivera a proteger.

– Ah… – fez Hisui, admirada e algo chocada – Obrigada, Elpída.

Elpída saltitou de contente, correndo na direção de Hisui e abraçando-a enquanto lhe espetava um beijo sonoro na bochecha.

– O-onde está a Circe? – perguntou Hisui, movendo-se desconfortavelmente e tentando desviar as atenções para o facto de Elpída estar agarrada a ela como uma lapa à rocha.

– Não sei – respondeu Ouro – O Snow também não está aqui… devem ter-se deixado dormir.

– Não, não deixaram. Eu fui ao quarto da Circe e ela não estava lá – disse Hisui, afastando Elpída do seu corpo para conseguir avançar para a mesa. No entanto, a Adepta rapidamente se abraçou ao braço de Hisui.

– Estranho – comentou Ouro, pensativo.

– Vocês despachem-se a comer – resmungou Burn – Vocês não vão comer isto tudo e eu ainda tenho fome, quero comer os restos.

– Os cães é que comem restos – comentou Softhe, num tom de voz suave e baixo mas perfeitamente audível, sem sequer se dignar a olhar para Burn.

O rosto do rapaz corou de raiva enquanto cerrava os punhos e os maxilares. Mas depois fez um quase impercetível sorriso maldoso.

– Pareceu-me ouvir uma cabra balir – disse Burn a Niko, sentando a seu lado – Não te pareceu?

Softhe ergueu por fim o olhar para Burn, olhando-o ameaçadoramente através das pestanas.

– Vai chamar cabra à tua mãe! – gritou.

– Não te atrevas a puxar a minha mãe para a conversa – avisou Burn de imediato, o sorriso desaparecendo do seu rosto enquanto apontava um dedo ameaçador à rapariga – Ou nem cinzas irão restar de ti!

– Gostava de te ver tentar isso, Alexandre – cuspiu Softhe.

– Estás morta! – rugiu Burn, levantando-se de repente, ao mesmo que Softhe, a rapariga fugindo a gargalhar maleficamente enquanto o rapaz corria atrás dela, furibundo.

– Parece que eles se estão a entender outra vez – comentou Tech, sorrindo, fazendo os outros rir à gargalhada.

* * *

A primeira perceção que Circe teve da realidade foi o sussurrar de tecido por trás de si, como se alguém estivesse a trocar de roupa. Pretendia ignorar o som e continuar a dormir, mas os seus sentidos insistiram em despertar, pelo que não demorou até ela se aperceber que a macieza da cama não era aquela a que estava habituada, para não falar na textura e no cheiro dos lençóis, que lhe eram completamente estranhos. Ainda assim, o cheiro era estranhamente inebriante, viciante… masculino.

“Mas onde raio é que eu estou?”, começou Circe a raciocinar, abrindo as pálpebras pesadas pelo cansaço. Como era de esperar, a primeira coisa que viu era-lhe completamente estranha, uma mesinha de cabeceira com um candeeiro e uns finos e elegantes óculos dobrados. Virando-se na cama, congelou ao ver Snow na frente da cómoda, verificando o seu reflexo enquanto ajeitava a t-shirt do uniforme.

– Já acordaste – constatou ele, olhando para ela através do espelho.

– Este é o teu quarto? – perguntou Circe, olhando rapidamente em volta.

– Sim – confirmou ele – Não sabia a senha do teu quarto para te levar para lá, portanto… trouxe-te para o meu.

– Mas… porquê? – perguntou Circe, sentando-se na cama com alguma dificuldade, o seu corpo ainda semiadormecido – Eu não me lembro…

– Claro que não – cortou Snow, deixando o espelho e dirigindo-se para a secretária ao lado da cómoda – Estavas a sonambular pelos corredores – explicou ele enquanto escolhia alguns cadernos de um pequeno monte que tinha sobre a secretária.

– Se me tivesses deixado, eu teria voltado para o meu quarto – disse Circe, franzindo levemente o sobrolho.

– Não sei se terias – negou Snow, virando-se por fim para ela, com os cadernos que escolhera debaixo do braço – Deixaste-te cair nos meus braços quando te tentei guiar para lá. Não te ia deixar a dormir no meio do corredor, pois não?

– Não me deverias ter tocado sequer – ralhou Circe – Poderias ter-me acordado e não é nada fixe quando me acordam a meio de uma visão.

– Porquê? – perguntou Snow, curioso.

Circe olhou para o lado, questionando-se se deveria ou não contar-lhe. Mas tendo em conta que ele a ajudara, talvez merecesse saber.

– Perco a noção do que é realidade e do que é sonho – explicou ela – A minha consciência entra em colapso e começo a ter alucinações. Tenho tendência para me tornar violenta nessas alturas.

– Já aconteceu? – perguntou Snow.

– Sim – confirmou Circe – A Hisui teve de me amarrar.

Snow tentou permanecer sério, mas terminou a rir baixinho, entredentes.

– Mas agora… – continuou Circe, olhando em volta com o sobrolho franzido de preocupação – Como é que me vou vestir? Não posso fazer o caminho todo do teu quarto até ao meu em pijama! Seria uma vergonha!

– Podes vestir alguma roupa minha – cedeu Snow, encolhendo levemente os ombros.

– Roupa tua – repetiu Circe, descrente.

– Não te agrada? – perguntou Snow, erguendo uma sobrancelha – Nesse caso, podes ir de pijama.

Circe respirou fundo para manter a cabeça fria.

– O que sugeres? – perguntou ela, forçando um sorriso muito pouco convincente. Mais parecia um esgar ameaçador.

Snow tornou a encolher os ombros, indicando depois o seu guarda-fatos com um gesto do queixo.

– Escolhe o que quiseres. Tu é que sabes aquilo que não te importarás de vestir. Oh, e já agora…

Snow poisou de novo os cadernos em cima da secretária, rasgando um pedaço de uma página de um deles e escrevendo rapidamente algo. Olhou o que escrevera alguns segundos, como se a verificar se estava tudo correto, e depois estendeu o pedaço de papel a Circe.

– Aí tens a senha do meu quarto. Para aqui poderes vir devolver-me a roupa.

Circe ficou a olhar a senha do quarto de Snow, admirada por ele lhe ter revelado aquela informação. Tornou a olhar para ele.

– Não tens medo que eu te venha aqui depois roubar qualquer coisa? – perguntou ela, erguendo uma sobrancelha.

– E roubar-me-ias o quê? Os boxers? – perguntou Snow – Podes vasculhar o quarto à tua vontade, Circe, não tenho nada que te possa interessar. A não ser que tenhas algum fetiche com a minha roupa.

E desatou à gargalhada, quando viu a cara escandalizada que Circe fizera.

– Oh, não, já sei – negou ele, tentando controlar o riso – Tu tens é um fetiche com a minha cama…

– ‘Tá calado, okay?! – guinchou Circe, corada, saindo da cama de Snow – Não quero nada de ti!

– Claro – confirmou Snow, sarcástico, antes de sair do quarto, ainda a rir à gargalhada.

Circe resistiu à tentação de correr atrás dele para lhe bater, preferindo antes dirigir-se para o guarda-fatos. Escolheu uma t-shirt simples e umas calças de fato treino, ambas as peças tão grandes que cabiam lá duas dela. Vestiu a roupa de Snow por cima do seu pijama e, penteando os cabelos com os dedos, correu furtivamente até ao seu quarto, ignorando os olhares admirados das pessoas com quem se cruzava.


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