Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi


Capítulo 49
Capítulo 49




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/528977/chapter/49

– Tens a certeza que estás bem? – perguntou Elpída, pela enésima vez a Hisui.

– Sim, estou – confirmou Hisui, tentando controlar o tom de voz, antes que acabasse aos gritos – E ficaria ainda melhor se parasses de me perguntar isso.

– Oh, claro, desculpa – murmurou Elpída, baixando a cabeça enquanto torcia leve e nervosamente as mãos.

– Hisui? – chamou a voz de Ouro atrás das duas raparigas, fazendo-as virar-se para encarar o seu rosto preocupado – Estás bem?

Hisui inspirou fundo, tentando controlar-se uma última vez.

– Sim, estou bem – repetiu ela – E se souberes de algum espertinho que esteja para me perguntar isso novamente, diz-lhe que estou bem!

– Não brinques com este assunto, Hisui – ralhou Ouro, aproximando-se mais um passo e colocando-se mesmo na frente da rapariga – Não teve piada nenhuma o que aconteceu! As Parcas cortaram o teu fio da vida, Hisui! Tremo só de pensar o que aconteceria se a Gina não estivesse lá para te aguentar até os gémeos se lembrarem que podia usar os poderes deles. Ver-te naquele estado… Pensei… pensei que me fosses morrer nos braços… – murmurou ele, virando o rosto para o lado, os olhos brilhantes com algo que Hisui se recusava a acreditar serem lágrimas. Seria possível?

– Está claro que a Hisui não ia morrer! – negou Elpída, intrometendo-se na conversa – Eu estava lá para a salvar!

– Não fizeste grande coisa nesse sentido – disse Ouro, num tom ácido, sem sequer a olhar.

Elpída lançou um olhar ameaçador a Ouro, rangendo os dentes.

– A Hisui já respondeu à tua pergunta – notou ela, num tom agreste – Portanto, deixa-nos em paz! – ordenou, antes de pegar no pulso de Hisui e a puxar a correr para longe de Ouro.

– Elpída… Elpída, pára! – ordenou Hisui, fincando os calcanhares no chão para obrigar a rapariga a parar de correr.

Elpída parou, lançando um olhar admirado e confuso à sua Suprema.

– Tens de parar com isso! – ralhou Hisui – Eu não sou nenhuma boneca que tu podes puxar de um lado para o outro! Além disso, não sou tua propriedade privada, pelo que eu decido onde, quando e com quem converso. Tenho esse direito! Assim como tenho o direito de abandonar a conversa por minha vontade. Não porque tu decidiste puxar-me sabe-se lá para onde!

Elpída encolheu-se visivelmente, os lábios curvando-se num beicinho.

– Desculpa, Vara’lia – murmurou Elpída – Desagrado-te pela segunda vez no mesmo dia… Sou uma pessoa horrível!

Elpída enterrou o rosto nas mãos, parecendo estar a conter o choro. Hisui ficou a olhar para ela, chocada. Aquela rapariga tinha graves problemas. Os quinhentos anos de cativeiro com certeza que lhe tinham feito muito mal à cabeça. Mas não era para menos, afinal, quinhentos anos eram quinhentos anos.

Hisui inspirou fundo, decidindo que deveria ter mais paciência com Elpída. A pobrezinha merecia isso.

– Não és nada uma pessoa horrível. Fico-te muito grata por me quereres defender. Mas tens de perceber que eu sei defender-me sozinha e que prefiro fazê-lo.

Elpída acenou e depois aproximou-se timidamente de Hisui. Abriu levemente os braços e inclinou ligeiramente a cabeça para o lado, com uma expressão interrogativa, como se estivesse a pedir autorização para a abraçar. Hisui, por seu lado, fez uma expressão surpreendida e, apesar de hesitante, cedeu a permitir que Elpída a abraçasse. Deu-lhe umas quantas palmadinhas desajeitadas nas costas enquanto Elpída poisava a cabeça no seu ombro, fungando levemente.

– Não te quero mais desagradar, Hisui – murmurou Elpída – Nunca, nunca mais. Quero ser perfeita para ti. Portanto… por favor, fica com o meu primeiro nome.

– O quê? – admirou-se Hisui, agarrando Elpída pelos ombros e afastando-a de si para a poder olhar.

Elpída dirigiu-lhe um pequeno sorriso antes de poisar uma mão nos olhos de Hisui, forçando a fechá-los. Depois chegou a sua boca ao ouvido da Suprema, onde sussurrou:

– Katastrofic…

* * *

Yngrid correu até ao gabinete de Darkness, onde entrou sequer sem bater. Fechou a porta e encostou-se a ela de costas, mantendo os olhos fechados enquanto inspirava fundo. Quando por fim os abriu, constatou que o gabinete estava vazio. Soltando um suspiro, Yngrid dirigiu-se para uma das cadeiras na frente da secretária de Darkness e sentou-se, com as mãos no colo e a cabeça baixa, brincando com os dedos enquanto esperava.

Ainda demorou algum tempo até ouvir a porta abrir-se atrás de si, dando passagem a Darkness.

– Yngrid! – constatou ele, surpreso – Que se passa? Há algo de errado?

Quando Yngrid acenou, Darknesse sentou-se na cadeira a seu lado, pegando ternamente nas mãos que ela tinha poisadas no colo e apertando-as entre as suas.

– Conta-me – pediu ele, com um pequeno sorriso de incentivo.

Yngrid inspirou fundo tremulamente e contou-lhe do fiasco que fora a reunião dentro da Bolha, em especial o quanto os seus amigos tinham ficado zangados por ter descoberto que ela revelara tudo aquilo a Darkness e as consequências que isso havia trazido para Hisui, Dest, Tech e Gina.

– Estão coisas más a acontecer, Darkness – notou Yngrid, assustada – E o pior é que… nem sequer sei se posso confiar em ti.

– Mas é claro que podes confiar em mim, Yngrid – confirmou Darkness, fazendo um pequeno sorriso terno enquanto empurrava uma madeixa do cabelo vermelho da rapariga para trás da sua orelha – Não te quero mal a ti, nem aos teus amigos. Quero que a profecia se concretize tanto ou mais do que tu.

– O que é que eu faço, Darkness? – perguntou Yngrid, desesperada, à beira das lágrimas.

– Oh, minha querida – murmurou ele, puxando Yngrid para mais perto de si e abraçando-a ternamente enquanto lhe acariciava os cabelos – Na verdade, não há nada que tu possas fazer. Só te resta esperar. Esperar para saber se a L é realmente a Protetora.

– E se for? – perguntou Yngrid, com o rosto poisado no ombro de Darkness – E se não for?

– Se for, como já disse, tirei de agir. Há algo que preciso fazer. E se não for… estaremos em maus lençóis.

– Porquê? – perguntou Yngrid, erguendo a cabeça do ombro de Darkness, alarmada.

– Shh… – fez Darkness, em tom calmante, empurrando de novo a cabeça da rapariga para o seu ombro – A profecia não se realizará enquanto a Protetora não se revelar. E enquanto a profecia não se realizar… a Hisui, a Gina, o Tech e o Dest estarão vulneráveis. Só nos resta fazer figas para que não percamos nenhum deles.

– Não quero que isso aconteça – soluçou Yngrid, cedendo por fim ao choro.

– Nem eu, Yngrid – murmurou Darkness, antes de dar um pequeno beijo na testa da rapariga – Nem eu…

* * *

Saya permaneceu alguns segundos na frente do espelho, admirando a flor que Lilás lhe colocara no cabelo. Não fazia muito sentido para ela receber um presente daquele género, mas… algo naquele gesto tocara uma parte de si, uma parte que ela julgara há muito estar congelada. Acariciou as pétalas da flor de lótus com a ponta dos dedos, sentindo a sua suavidade deslizar de forma agradável contra a sua pele.

Depois sentou-se na borda da sua cama, sobre a qual o seu computador portátil já estava poisado. Pesquisou rapidamente o significado da flor de lótus e susteve a respiração quando leu aquelas duas palavrinhas.

Amor e proteção.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Candidatos a Deuses" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.