Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi


Capítulo 45
Capítulo 45




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– Mas onde é que aquela assombração vai com a minha Madrinha? – resmungou Circe, de mãos na cintura, parecendo querer ir atrás das duas mas sem se atrever a fazê-lo.

– Terei sido eu a única a reparar que a rapariga disse que estava à espera da Hisui há quinhentos anos? – questionou Saya.

– Isso é muito tempo – comentou Bella.

– O que é que a Elpída chamou à Hisui? – questionou L.

– Vara’lia – disse Yngrid – É um termo honorífico que os Adeptos antes usavam com os seus Supremos. Foi caindo em desuso ao longo dos tempos e são poucos os que sequer conhecem esse título. A Elpída não devia estar a mentir, quando disse que esperou quinhentos anos.

– Mas não tem uma tradução? – insistiu L.

– Traduzindo literalmente, quer dizer “Mãe mestra” – disse Yngrid.

– Coitada da Hisui, com a outra a chamar-me mãe! – gargalhou Softhe.

Riram-se todas, mas depois Yngrid fez um gesto para se acalmarem e continuar a sua explicação.

– Mas essa é a tradução literal das runas que compõem o nome. O verdadeiro significado é simplesmente… – Yngrid calou-se olhando para o teto com ar pensativo enquanto procurava as melhores palavras – é uma forma de mostrar respeito para com aquele que “partilhou” o seu poder contigo. Aquele que te irá ensinar as pequenas nuances sobre o poder que partilham que mais ninguém sabe. Enfim, acaba por ter mais o significado de “mestra” do que de “mãe”.

– A rapariga esperou quinhentos anos – intrometeu-se Gina – Isso quer dizer que bebeu Néctar?

– Sim – confirmou Saya – As gémeas devem ter autorizado…

– Se autorizaram, porque disse ela que esteve presa os quinhentos anos em que esperou pela Hisui? – continuou Gina.

– Ah, bem… – disse Saya, pensativa, notando que realmente estava ali a falhar qualquer coisa.

– Era impossível ela ter bebido Néctar sem a autorização das gémeas – disse Bella.

– Nunca se sabe – disse Saya, encolhendo os ombros – Mas e que tal pararmos de pensar nisto e irmos para as aulas? Se estão assim tão curiosas com a rapariga, perguntem-lhe depois, quando a voltarem a ver.

– Eu pergunto à Hisui – decidiu Circe.

– Isso não é muito digno – disse Saya, lançando-lhe um olhar reprovador – Se queres saber coisas sobre a rapariga, vai-lhe perguntar e dá-lhe o direito de te responder ou não. Não perguntes aos outros.

* * *

– Então… tu esperaste quinhentos anos por mim – começou Hisui, tentando fazer com que a sua Adepta parasse de a puxar pelos corredores de Atlantis e começasse a falar. Afinal, ela merecia uma explicação.­

Elpída parou de andar e virou-se de frente para Hisui, segurando as mãos de Hisui entre as suas.

– Sim – confirmou ela, com um pequeno suspiro – E, se me permitires, gostaria imenso de te contar tudo.

– Tens a obrigação de me contar tudo, depois do espetáculo que fizeste – disse Hisui, sem pensar.

Elpída encolheu-se levemente.

– Peço desculpa, Vara’lia – murmurou ela – Não pretendia ofender-te ou desagradar-te…

Hisui ficou a olhar para a rapariga, chocada com a sua atitude submissa. Iria aquela rapariga servi-la como se de um cachorrinho se tratasse?

– Conta-me o que tens a contar – disse Hisui, tentando passar à frente.

Elpída acenou e puxou levemente pela mão de Hisui, chamando:

– Estamos quase lá.

– Quase lá onde? – resmungou Hisui, baixinho, só para si.

Elpída não ouviu e continuou a guiar Hisui, puxando-a mais de devagar, dando-lhe a oportunidade de mudar de rumo, se assim o entendesse.

Chegaram por fim a uma porta trancada, com um sinal pendurado a dizer “Proibida a Entrada”.

– Ora esta! – resmungou Elpída, ao ver o sinal – Porque raio trancaram a porta?

– Não sei, mas parece que não podemos ir para aí, portanto…

Hisui calou-se, dando um salto para trás quando Elpída encostou a mão à porta, fazendo com que a fechadura explodisse e a porta se abrisse de par em par.

– N-não podes usar os teus poderes na escola – balbuciou Hisui, chocada. Apesar de ela ser a Deusa Suprema da Destruição, nunca usara verdadeiramente os seus poderes e era um choque ver alguém usá-los. Fazia-a sentir-se um pouco desprotegida, mesmo assustada, o que era uma estupidez, já que aquele poder era seu e ela seria sempre mais poderosa do que Elpída.

– Ah, não? – admirou-se Elpída, virando-se para Hisui.

– As gémeas não o permitem – confirmou Hisui, acenando.

O olhar de Elpída escureceu perigosamente, numa expressão ainda mais ameaçadora do que aquela que dirigira a Circe.

– Estou-me pouco lixando para o que as gémeas permitem ou não. Descansa, Vara’lia. Poderás usar o teu poder sem ter medo de represálias da parte delas. Destrui-las-ei se tentarem chegar a ti.

Hisui engoliu em seco, mas acenou.

Elpída pegou de novo na mão de Hisui e puxou-a para entrarem no corredor que se estendia para lá da porta escancarada. Era frio e húmido, com o cheiro pesado da velhice e da decadência flutuando no ar. Era obviamente muito antigo, pois o branco imaculado das pedras que constituíam a escola dera lugar ao cinzento, com os espaços entre elas cheias de musgo e líquenes.

– Que lugar é este? – perguntou Hisui, enquanto Elpída fechava a porta atrás delas e as mergulhava na escuridão.

Ouviu-se um novo estoiro quando Elpída ergueu a mão para o teto e fez explodir uma pequena parte dele, criando um buraco por onde entrava a pálida luz solar.

– No meu tempo, este corredor levava à Casa do Repouso.

– Casa do Repouso? – perguntou Hisui, confusa.

– Sim, é como aquela sala arrepiante onde têm pessoas presas dentro de caixas de metal. Acho que lhe chamam sala comum.

– Ah, sim…

– Mas a nossa sala comum era um pouco diferente da vossa. Não tínhamos aquelas caixas com pessoas dentro, a que chamam televisão. Tínhamos frescos lindos nas paredes e muitos livros para ler. Jogos de raciocínio para jogar, instrumentos para tocar…

– Então, porque é que fecharam a sala? – perguntou Hisui.

– Não faço ideia – disse Elpída, encolhendo os ombros antes de erguer de novo a mão para o teto e explodir com mais uma parte dele, para deixar a luz entrar.

– A sério, tu não devias usar assim o teu poder – disse Hisui – E vamos chegar atrasadas à aula…

– Já te disse, não quero saber das gémeas – disse Elpída, a voz tornando-se de novo dura e ameaçadora – Ainda não reparaste que o poder que partilhamos supera em muito o poder delas?

– Mas não supera o das Parcas – negou Hisui – E eu sei que só é dado o Néctar, a Ambrósia e o Templo a quem as gémeas e as Parcas acharem que merecem.

Elpída parou de andar e olhou para Hisui por cima do ombro, com um brilho perigoso no olhar.

– Ora… é aí que tu te enganas.

– O que é que tu queres dizer com isso? – perguntou Hisui, desconfiada.

– Vamos por partes, sim? Primeiro quero contar-te a minha história.

– Okay – cedeu Hisui, ainda desconfiada.

Chegaram por fim a uma sala espaçosa, com paredes altas e uma só grande janela na parede à esquerda da abertura. Para chegarem propriamente ao chão da sala ainda tiveram de descer três pequenos degraus, poisando por fim os pés no chão alcatifado. Como Elpída dissera, as paredes ostentavam frescos que teriam sido lindos no seu tempo, mas cuja tinta já se encontrava desgastada. Havia poltronas, cadeiras e mesas por todo o lado e estantes carregadas de livros e de algumas pequenas esculturas.

Elpída bateu com a mão no acento de uma poltrona, fazendo libertar-se uma nuvem de pó que a fez espirrar violentamente. Num canto da sala, um rato fugiu apressadamente, assustado com o barulho.

– Isto está em péssimo estado – constatou Elpída, esfregando o nariz – Vamos escolher antes uma cadeira, então.

Sentaram-se cada uma numa cadeira, com uma mesa a separá-las, e Elpída tornou a segurar as mãos de Hisui sobre o tampo da mesa.

– Preparada? – perguntou, ao que Hisui acenou.


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