Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi


Capítulo 43
Capítulo 43




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– Sabes? – perguntou Darkness, admirado, os olhos brilhando de curiosidade – E podes dizer-me quem são?

Yngrid mordeu nervosamente o lábio inferior e desviou o olhar para o lado, parando de fixar aqueles hipnóticos olhos avermelhados. Não deveria dizer… não deveria…

– Yngrid? – chamou Darkness, num tom de voz suave, o seu dedo indicador deslizando suavemente pelo osso do maxilar da rapariga, empurrando o seu rosto para ela olhar para ele. Yngrid estremeceu violentamente com as sensações que aquela carícia lhe provocou e, quando o dedo de Darkness parou sobre o seu queixo, com aqueles incríveis olhos fixos nos dela, não conseguiu fazer mais do que ficar a ofegar levemente, ansiosa como uma criança – Não me queres dizer quem são os deuses? – continuou Darkness.

– E-eu… eu não devo – negou Yngrid, tentando virar de novo o rosto mas o dedo de Darkness poisado no seu queixo segurando-a.

– Ora essa, Yngrid, sabes que podes confiar em mim – disse Darkness, puxando ternamente uma madeixa dos longos cabelos vermelhos da rapariga, em jeito de brincadeira, enquanto lhe lançava mais um daqueles seus sorrisos amorosos que a derretiam toda.

Yngrid recusou-se a falar abanando a cabeça.

– Okay, então – cedeu ele – Diz-me só se estou certo ou errado. Pode ser?

Hesitante, Yngrid acenou.

– Julgo que a Destruição… é o poder da Hisui – arriscou Darkness, olhando Yngrid atentamente, para ver a sua reação. E a rapariga não conseguiu evitar que os olhos se lhe arregalassem de espanto, a respiração suspensa.

– Como…? – começou ela a perguntar.

– A Hisui nunca foi uma Adepta como as outras e, quando ela me contou que estava a descobrir ter novos poderes… enfim, foi o que me fez lembrar da profecia.

Yngrid engoliu em seco e Darkness tornou a dirigir-lhe um sorriso.

– E, por exclusão de partes, a Gina terá o poder da Criação – continuou Darkness.

A rapariga simplesmente acenou com a cabeça, levemente.

– Mas o Destino e a Protetora não sei quem são – admitiu Darkness – Tu sabes?

– Sei – murmurou Yngrid – O Destino… são o Dest e o Tech. A Protetora… nós achamos que é a… a L.

Darkness fez uma expressão pensativa, recostando na sua cadeira e afastando-se por fim de Yngrid.

– Dest, hã? Deveria ter desconfiado – murmurou ele, mais para si do que para Yngrid.

– O-o que vai fazer, Darkness? – perguntou Yngrid, preocupada.

– Nada, minha querida – garantiu ele, dirigindo-lhe um sorriso tranquilizador enquanto lhe acariciava a face com os nós dos dedos – Nada por agora. Mas se a L realmente for a Protetora… terei de agir.

* * *

Aina e Aino surgiram com duas explosões de pó brilhante naquilo que anteriormente teria sido o corredor das masmorras. Agora parecia somente a ruina de um corredor, com as paredes, o chão e o teto rachados, tudo sujo de poeira e pedras do tamanho de cabeças. Havia uma imensa cratera na parede na frente das gémeas, parede essa que anteriormente segurara uma porta de aço que impedia quem quer que fosse de sair da sela que aquela divisão fora. Essa porta estava agora no chão, arrancada das dobradiças e amolgada como se uma manada de elegantes em fúria lhe tivesse passado por cima.

– Isto está um caos – notou uma das gémeas.

A outra ignorou o comentário da irmã, o olhar fixo numa figurinha que estava enrolada numa bola no canto mais afastado da sela, com as costas contra a parede, abraçando os joelhos contra o peito e com a testa poisada neles. Os longos cabelos loiros estavam espalhados em seu redor, como um véu dourado mal tratado, a precisar de uma lavagem e uma escovadela. A pele nua dos braços que se via por entre as madeixas de cabelo era tão pálida que se viam as linhas azuladas das veias.

– Elpída! – chamou a gémea que a estivera a olhar – O que é que fizeste, criatura?

A figura mexeu-se levemente, parecendo estar a acordar de um sono profundo, e depois ergueu lentamente a cabeça, os olhos cor de barro esbugalhados, como se não acreditasse que estivessem a falar para ela.

– Foste tu que fizeste isto? – insistiu a gémea, apontando para a destruição em redor – Responde-me, rapariga!

Lentamente, depois de engolir forçosamente em seco, a rapariga acenou com a cabeça.

– O meu poder despertou – disse ela, com a voz rouca de quem não falava há imenso tempo – O meu poder despertou. E vocês prometeram. Vocês prometeram que me tirariam daqui quando ele despertasse!

As gémeas olharam com frieza para Elpída, altivas e desdenhosas.

– Vocês prometeram, suas ordinárias! – gritou Elpída, desenrolando-se da bola em que se colocara e tentando levantar-se apoiada na parede. As pernas falharam e ela caiu dolorosamente de joelhos na pedra. Ainda assim, o olhar ardente de ódio não abandonou as gémeas, enquanto ela se apoiava de gatas no chão – Tirem-me daqui! Ou eu juro que destruo o que resta destas paredes! Mando Atlantis para o fundo do mar, onde já em tempos esteve!

– Silêncio! – bradou uma das gémeas – Olha bem para quem estás a falar antes de começares a gritar ameaças!

– Não tenho medo de vocês – rosnou Elpída – Não tenho medo de vocês, agora que o meu poder despertou! Se vocês soubessem a facilidade com que destruí estas paredes. Se soubessem a facilidade com que eu amassei aquela maldita porta de aço que até em pesadelos me assombrava! Vocês não me poderão manter presa. Eu destruirei tudo aquilo com que tentarem prender. Não há nada que vocês possam fazer!

As gémeas olharam uma para a outra e depois uma delas suspirou, deixando descair os ombros.

– Assim seja – disse a que suspirara – Deixar-te-emos sair, tal como foi acordado.

Elpída soltou um grande suspiro de alívio que reverberou nas paredes, deixando a cabeça descair, sem conseguir acreditar que estava livre. Finalmente livre.

– Voltarás ao teu anterior quarto – disse a outra gémea.

– E não voltes a fazer asneiras – continuou a outra.

– Não daremos segundas oportunidades, Elpída! – exclamaram elas, antes de desaparecer nas típicas nuvens de pó brilhante.

Elpída esperou até a última cintilação de pó desaparecer para se deixar cair no chão, exausta. Ficou a olhar o teto, um sorriso desenhando-se lentamente nos seus lábios, até que as risadas começaram a sacudir o seu corpo, subindo de tom, até as suas gargalhadas de regozijo preencherem o corredor.

* * *

Saya fechou a porta do quarto lentamente atrás de si e soltou um suspiro que libertou toda a tensão dos seus ombros. Despiu o sobretudo sem mangas que normalmente usava (tirando aos dias da semana, em que era forçada a usar o uniforme da escola) e poisou-o sobre a cama antes de se dirigir ao seu guarda-roupa. Ajoelhou-se no chão para chegar mais facilmente a umas pequenas gavetas que existiam no vão do guarda-roupa e abriu a gaveta mais à esquerda. Lá dentro estava um embrulho de veludo azul-escuro que Saya retirou com cuidado. Sentou-se na borda da cama e poisou o embrulho nos joelhos. Lenta e solenemente afastou o tecido, até revelar uma caixa de madeira clara e talha de ouro, cuidadosamente esculpida com plantas, linhas onduladas e espirais. Bem no centro da caixa estava o mesmo símbolo que Saya tinha gravado nas costas da mão da sua luva, um símbolo que só para ela e para seu pai tivera significado.

Sentiu as lágrimas subirem-lhe aos olhos enquanto pensava no seu pai, mas limpou-as rapidamente com as mãos, respirando fundo. Não eram as lágrimas que iriam ajudá-la, eram uma pura perda de tempo e de energia. Além disso, ela já tinha cicatrizes suficientes.

Tornou a respirar fundo antes de abrir a caixa. Lá dentro estava somente um livro fino, com uma capa dura num bonito verde-escuro. Não tinha título nem nada semelhante e fora a desconfiança de que aquilo seria um diário que impedira Saya de ler aquele livro durante tantos anos. No entanto, se Hisui estava certa e o seu pai morrera no mundo humano a tentar encontrar os deuses da profecia, ela teria de sabê-lo. Ela merecia sabê-lo.

– Vamos a isto – murmurou Saya, tirando o livro da caixa, colocando a caixa de lado e começando a ler.


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